Não é só o famoso PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes), da responsabilidade da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), que mede a aprendizagem (traduzida em literacia) dos alunos do ensino básico (mais precisamente, dos alunos de 15 anos de idade que estarão no 9.º ano de escolaridade), nas disciplinas ditas fundamentais ou essenciais. Há outros programas internacionais que também medem a literacia na leitura, matemática e ciências.
No respeitante à literacia na matemática e nas ciências, Portugal participa desde 1995 (ainda que com interrupções) no TIMMS (Trends in International Mathematics and Science Study), da responsabilidade da International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA) e aplicado de quatro em quatro anos a alunos do 4.º ano de escolaridade (aqui).
No respeitante à literacia na leitura, Portugal participa, desde a mesma altura (e também com interrupções), no PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study), da responsabilidade da mesma IEA e aplicado de cinco em cinco anos a alunos do mesmo patamar de escolaridade (aqui).
Foram divulgados nesta semana os resultados obtidos na última passagem do PIRLS, que teve lugar em 2016 e na qual participou meia centena de países. Ficámos a saber que o nosso país desceu a pique na fluência e compreensão de leitura. Estamos na trigésima posição.
O que se passou, então, se ainda há pouco tempo o PISA mostrava uma franca subida das três literacias?
Os jornais perguntaram isto mesmo a quem tem e já teve responsabilidades políticas, a representantes de várias entidades integrantes do sistema educativo, a académicos. Obtiveram-se as habituais trocas de culpas e tentativas de explicação: desvalorização, por parte dos alunos, dos testes que não contam para classificação; inconstância na obrigatoriedade de exames nacionais; mudanças frequentes no currículo e incongruências nos documentos que o compõem; extensão dos conteúdos disciplinares; falta de preparação dos professores ou preparação inadequada; metodologias tradicionais e ineficazes, etc. Em sequência, declara-se a não menos habitual necessidade de mudança, que, bem vistas as coisas, será tudo.
Devo dizer que a opinião mais prudente que vi foi dada pelo presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamento e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima (citado por Clara Viana): temos de nos orientar nesta situação “bipolar que ora nos faz dizer que somos os melhores do mundo para logo de seguida nos apresentarmos como os piores”.
Informação recolhida sobretudo nos seguintes artigos online:
- Avaliação internacional mostra que alunos do 4.º ano estão pior na leitura, de Clara Viana (Público de 5 de Novembro)
- Maus resultados nas competências de leitura no 4.º ano: a culpa é dos currículos ou dos professores? de Clara Viana (Público de 6 de Novembro)
- 4.º ano. Alunos portugueses foram os que mais pioraram resultados na leitura em cinco anos na Europa, de Marlene Carriço (Observador, de 5 de Dezembro)
- PIRLS 2016 - Évaluation internationale des élèves de CM1 en compréhension de l'écrit - Évolution des performances sur quinze ans, de Marc Colmant, Marion Le Cam
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2 comentários:
Não seremos os melhores nem os piores. A nossa educação escolar vai a par com a pujante economia que temos, mas que ainda não faz de nós os mais ricos do mundo. Se excetuarmos os judeus que, apesar de terem um país minúsculo e paupérrimo em riquezas naturais, são os mais ricos do mundo porque a sua educação religiosa prepara-os muito bem para a vida, verifica-se, com a generalidade dos povos, que a riqueza material precede a boa educação escolar. Ora, atualmente, os portugueses são tudo menos ricos, logo a sua educação escolar não pode ser a melhor do mundo.
Só quando tivermos capacidade para atirar muito dinheiro para cima do sistema de ensino, este poderá melhorar, ao contrário do que muito boa gente pensa!
As avaliações estatísticas Internacionais não provam nada! Em Portugal, como em muitos outros países, quando antigamente se queria saber se o sistema de ensino realmente funcionava, mandavam-se avançar os inspetores escolares, que iam ao terreno averiguar se os professores ensinavam e os alunos aprendiam. Agora, fazem-se provas de aferição, que mais não são do que uma grande palhaçada em que já fui obrigado a participar, no papel de corretor!
Penso que se a permissividade acabasse e se começasse a olhar para a escola como uma instituição de ensino e não como a "santa casa da misericórdia", tudo mudaria.
Mas para isso era necessário atribuir valor ao conhecimento, o que realmente não acontece.
Ele apenas tem valor no sentido em que pode proporcionar utilidade imediata, nomeadamente permitir alcançar classificações que possibilitem aos alunos entrar em cursos valorizados social e economicamente.
Esta é a triste realidade portuguesa.
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