segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"Escrevemos mal?" As semelhanças de um queixume

Há uma frase popular que diz "o mal de muitos é o conforto de todos". Não sei se, neste caso, o mal de muitos nos confortará, mas os professores portugueses parece que não estão sozinhos nos seus queixumes. A conclusão pode tirar-se do artigo do jornalista italiano Gennaro Malgieri, in Blitz de 6 de Fevereiro de 2017 (ver aqui ) que começa deste modo: "Por que razão os estudantes universitários italianos escrevem mal? A resposta é simples: lêem pouco".

Não é isso que, entre nós, ouvimos constantemente? A falta de leitura, a falta de concentração parece ser um mal dos nossos tempos. E, por outro lado, se olharmos para as estantes das livrarias, se atentarmos em todos os espaços onde se vendem livros e publicações periódicas, concluímos que nunca se publicou tanto como agora. No entanto, parece que isso não se reflecte em mais leitura, não nos leva a concluir que os jovens lêem mais.

Nesta era da rapidez, da velocidade, da procura do imediato, tudo o que exige tempo, reflexão, tende a ser posto de parte. O desenvolvimento da competência linguística necessita de tempo, de disponibilidade, de leitura dos bons autores, mas igualmente de um estudo apurado das regras da língua, exige um bom conhecimento da gramática da língua e da gramática do texto.

Voltando ao exemplo italiano, o autor do artigo citado refere uma carta-apelo de professores universitários, denunciando as dificuldades dos seus alunos ao nível da gramática, da sintaxe e do léxico, afirmando depois que a língua italiana está morrendo aos poucos e que "o seu funeral está a ser celebrado nos jornais, na televisão...". Soa estranho?!...

Mas as tecnologias não podem ser apontadas como as causadoras de todos os males. A isso se refere o linguista Giuseppe Antonelli num livro recente, chamando a atenção para o facto de que, mesmo usando WhatsApp e todas as aplicações informáticas se pode aplicar correctamente a língua-mãe.
"Digito ergo sum" não significa, diremos em bom português, "mandar às urtigas" o conjuntivo e o condicional, escrever em abreviaturas incompreensíveis e misturando inglês com não sei que outras línguas, de modo a transformar o texto numa sequência de sinais sem qualquer lógica ou sentido.
Antonelli insiste na afirmação de que a nossa língua "educa os nossos pensamentos e os nossos sentimentos, plasma a nossa visão do mundo".

Daí a importância de conhecer as origens, a língua-mãe, o latim. E isso nos leva, de novo, à obra de Nicola Gardini "Viva il latino", citada em post anterior, na qual o autor afirma com entusiasmo:
"Graças ao latim não estive só. A minha vida estendeu-se a séculos e abraçou mais continentes. Se fiz alguma coisa de bom pelos outros, fi-lo graças ao latim. O bom que dei a mim mesmo, esse, não há dúvida, trouxe-o do latim."

Será que o novo "Perfil do aluno do século XXI",  as novas "Aprendizagens essenciais", a flexibilização do curriculum irão dar um contributo decisivo para a resolução deste mal de que todos nos queixamos?

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