terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
"Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória" em consulta pública
Qualquer acto de teor educativo é guiado, necessariamente, por um "perfil" de educando, o qual pode ser consciencializado e explicitado, só o ser em parte, ou não o ser.
Esse tipo de actos que têm lugar na escola - para não complexificar este texto, entendamo-la no presente - não constituem excepção, sendo esta organização, de entre todas as que têm carácter educativo, a que mais declaradamente discorre sobre tal perfil e lhe dá uma forma concreta.
Ainda assim, muitos discursos académicos e a generalidade dos políticos insistem na "neutralidade" quanto aos fins a perseguir pela escola e, na correspondente "autodeterminação" dos alunos/populações.
Expressões como "o aluno deve escolher os seus próprios valores", ou "o aluno deve construir o seu próprio conhecimento" são recorrentes, alegando-se que ninguém tem legitimidade de impor um currículo a ninguém.
Em tempos mais recentes, com a crescente afirmação das figuras de "autonomia de escola" e de "flexibilização do currículo"/gestão flexível do currículo", tem sido divulgadíssima a ideia de que na construção do currículo o Estado não pode deixar de consultar as pessoas a quem ele é, em primeira instância, destinado: os alunos. É preciso chamá-los e perguntar-lhes o que querem aprender, para que querem aprender, como querem aprender, etc."
Isso não passa, porém, de um eufemismo, pois as grandes linhas para a educação escolar encontram-se previa e inabalavelmente traçadas por instâncias que ultrapassam em muito as fronteiras nacionais ou, no nosso caso, da Europa. Quem tem o poder de decidir o currículo, decide de acordo com essas linhas e ponto final.
Até em matérias que não são, de todo, da sua alçada, por se situarem na esfera do "privado" e do "íntimo" e estarem, portanto, sob a alçada de organizações como a família, o grupo de pares, ou, até, o próprio aluno (por exemplo, a higiene pessoal, a "gestão dos afectos", ou quanto deve ser poupado de um salário), o poder político (melhor, o poder económico-financeiro que o poder político legitima) tem vindo progressivamente a imiscuir-se e a reivindicar o direito de ter prevalência nelas.
As considerações acima são a propósito do recém apresentado Perfil dos alunos para o século XXI ou Perfil dos alunos à saída da Escolaridade Obrigatória, sequela de outros, de que a maioria de nós já se esqueceu: por exemplo:
- Perfil cultural desejável do diplomado do ensino secundário, publicado em 1988 (aqui e aqui);
- Perfil desejável dos alunos à saída do Ensino Básico e Perfil desejável dos alunos à saída do Ensino Secundário, publicados em 1992 (aqui);
- Currículo nacional do ensino básico. Competências essenciais, publicado em 2001 (versão completa aqui).
O longo documento, redigido por um grupo de trabalho designado pelo Ministério da Educação (através do Despacho n.º 9311/2016, de 21 de Julho) pode ser encontrado aqui.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
AINDA AS TERRAS RARAS
Por. A. Galopim de Carvalho Em finais do século XVIII, quer para os químicos como para os mineralogistas, os óxidos da maioria dos metais ...

-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Não Entres Docilmente Nessa Noite Escura de Dylan Thomas (tradução de Fernando Guimarães) Não entres docilmente nessa noite seren...
-
Depoimento de Verão que dei ao Correio da Manhã: No Verão do ano passado, viajei, com amigos, num veleiro pelos mares do Sul da Turquia. ...
3 comentários:
São apenas as consequências da imbecilidade ser recompensada com Doutoramento e elevado estatuto social.
É preciso muita cegueira ideológica para vir falar de doutoramentos num texto sobre escolaridade OBRIGATÓRIA. Da próxima vez tente ao menos ler o texto que está a comentar.
http://www.pensarcontemporaneo.com/seja-inadequado-porque-nao-se-adequar-uma-sociedade-doente-e-uma-virtude/
Enviar um comentário