quinta-feira, 17 de novembro de 2016

DECLARAÇÃO DE PARIS PARA A FILOSOFIA

No dia mundial da Filosofia, que se comemora hoje, é importante lembrar a importância desta disciplina no currículo escolar e de o seu ensino ser assegurado de uma forma competente.

DECLARAÇÃO DE PARIS PARA A FILOSOFIA  
Nós, participantes das jornadas internacionais de estudo Filosofia e Democracia no Mundo, organizadas pela UNESCO, que ocorreram em Paris, nos dias 15 e 16 de fevereiro de 1995, 
Constatamos que os problemas de que trata a filosofia são os da vida e da existência dos homens considerados universalmente, 
Estimamos que a reflexão filosófica pode e deve contribuir para a compreensão e conduta dos afazeres humanos, 
Consideramos que a atividade filosófica, que não subtrai nenhuma ideia à livre discussão, que se esforça em precisar as definições exatas das noções utilizadas, em verificar a validade dos raciocínios, em examinar com atenção os argumentos dos outros, permite a cada um aprender a pensar por si mesmo, 
Sublinhamos que o ensino de filosofia favorece a abertura do espírito, a responsabilidade cívica, a compreensão e a tolerância entre os indivíduos e entre os grupos, 
Reafirmamos que a educação filosófica, formando espíritos livres e reflexivos - capazes de resistir às diversas formas de propaganda, de fanatismo, de exclusão e de intolerância - contribui para a paz e prepara cada um a assumir suas responsabilidades face às grandes interrogações contemporâneas, notadamente no domínio da ética, 
Julgamos que o desenvolvimento da reflexão filosófica, no ensino e na vida cultural, contribui de maneira importante para a formação de cidadãos, no exercício de sua capacidade de julgamento, elemento fundamental de toda democracia. 
É por isso que, empenhando-nos em fazer tudo o que esteja ao nosso alcance - nas nossas instituições e nos nossos respectivos países - para realizar tais objetivos, declaramos que: 
Uma atividade filosófica livre deve ser garantida por toda parte - sob todas as formas e em todos os lugares onde ela possa se exercer - a todos os indivíduos; 
O ensino de filosofia deve ser preservado ou estendido onde já existe, criado onde ainda não exista, e denominado explicitamente "filosofia"; 
O ensino de filosofia deve ser assegurado por professores competentes, especialmente formados para esse fim, e não pode estar subordinado a nenhum imperativo econômico, técnico, religioso, político ou ideológico; 
Permanecendo totalmente autónomo, o ensino de filosofia deve ser, em toda parte onde isto é possível , efetivamente associado - e não simplesmente justaposto - às formações universitárias ou profissionais, em todos os domínios; 
A difusão de livros acessíveis a um largo público, tanto por sua linguagem quanto por seu preço de venda, a geração de emissões de rádio ou de televisão, de audiocassetes ou videocassetes, a utilização pedagógica de todos os meios audiovisuais e informáticos, a criação de múltiplos espaços de debates livres, e todas as iniciativas susceptíveis de fazer aceder um maior número a uma primeira compreensão das questões e dos métodos filosóficos devem ser encorajadas, a fim de constituir uma educação filosófica de adultos; 
O conhecimento das reflexões filosóficas das diferentes culturas, a comparação de seus contributos respectivos e a análise daquilo que os aproxima e daquilo que os opõe, devem ser perseguidos e sustentados pelas instituições de pesquisa e de ensino; 
A atividade filosófica, como prática livre da reflexão, não pode considerar alguma verdade como definitivamente alcançada, e incita a respeitar as convicções de cada um; mas ela não deve, em nenhum caso, sob pena de negar-se a si mesma, aceitar doutrinas que neguem a liberdade de outrem, injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie. 
In UNESCO. Philosophie et Démocratie dans le Monde - Une enquête de l'UNESCO. Librairie Génerale Française, 1995, p. 13-14

2 comentários:

Anónimo disse...

Deixando de lado que a quase totalidade do texto podia referir-se à História ou à Cultura, o último parágrafo não deixa de ser muito curioso. É que dada a natureza do neoliberalismo, essa máscara contemporânea do capitalismo, que não tem feito senão negar "a liberdade de outrem, injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie", o que tem feito a filosofia para combater esta doutrina e com isso não "negar-se a si mesma"?
Miguel Cunha

Helena Damião disse...

Concordo com o leitor Miguel Cunha: as palavras do texto podem e devem ser alargada às mais diversas áreas do saber. Na verdade, é o saber das diversas disciplinas (dignas desse nome) que concorrem para a formação da pessoa, que lhe acrescentam a humanidade.
Porém, o que fazem muitos dos representantes dessas disciplinas, os que dão a cara por elas (investigadores, professores...) quando elas são afastam do currículo escolar? Indignam-se alguns mas outros conformam-se ou mudam de área.
Será preciso criar uma nova consciência relativamente ao saber. Penso que será esse um dos propósitos desta declaração.
Maria Helena Damião

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...