Eugénio Lisboa (académico e crítico literário)
“Auditoria do Tribunal de Contas acusa o Governo de financiar o Orçamento de Estado à custa da ADSE. Funcionários públicos estão a pagar mais 228 milhões do que seria necessário”.
Semanário “Expresso” (17/072015)
Começo por contar um caso passado em meio hospitalar. Um clínico chefe de serviços chamando a atenção para um médico que tinha faltado às suas obrigações para com um doente obteve esta resposta: “Esqueci-me”! Admoestando-o, retorquiu-lhe o superior hierárquico: “Quando um dia estiver com uma doença grave e não for atendido por um colega “esquecido”, só então terá a verdadeira noção da sua falta. Ou seja, obedecia este chefe de serviços a um princípio moral , preconizado por Gustave Le Bon e respeitado por si na sua prática clínica: “Pode fazer-se tudo, salvo fazer sofrer os outros”!
Recentemente, ao que penso, não por necessidade de diminuir gastos com a saúde (repare o leitor na supracitada auditoria do Tribunal de Contas) mas para sofrimento dos velhos e doentes repescando legislação de 2005, foram expulsos da ADSE cônjuges de titulares ainda que mesmo pequenos pensionistas do Centro Nacional de Pensões com descontos feitos durante 12 anos, alguns deles doentes crónicos, com percentagem de invalidez de 88%.
Entretanto, Carlos Liberato Baptista, director da ADSE, afirmou publicamente que tudo se mantém na mesma (?), embora o Governo se prepare, agora, para alargar a inscrição na ADSE aos cônjuges, trabalhadores ou pensionistas, desde que no momento da inscrição não tenham mais de 65 anos. Trata-se de uma medida discriminatória por deixar de fora os idosos acima desta idade em impiedosa avareza da ADSE por estar a financiar o Orçamento do Estado com onerosas contribuições de funcionários públicos. Ou seja, idosos, muitos deles inscritos há muitos anos na ADSE em idades bem mais jovens, hoje em sofrimento por doenças crónicas, atirados, de supetão e sem dó nem piedade, para um Serviço Nacional de Saúde a rebentar pelas costuras com listas de espera intermináveis para consultas, cirurgias e meios auxiliares de diagnóstico, pese embora a dedicação de grande parte dos seus médicos e enfermeiros.
E, ipso facto, pelo aumento da procura, pondo em risco a qualidade de um Serviço Nacional de Saúde, obra de desvelado amor ao próximo do socialista António Arnaut, agraciado, no passado dia 4 do corrente, em Coimbra, com a Medalha de Ouro da Ordem dos Médicos pelo seu importante papel na criação do Serviço Nacional de Saúde.
P.S.: Em democracia o simples cidadão tem o direito de interpelar os governantes sobre as medidas tomadas e os governantes o dever de explicar as medidas que toma. No que respeita ao Partido Socialista, estamos conversados: passados 16 anos acciona uma lei de 2005, esquecida em paredes baças não fosse ela interferir com o número de votos dos eleitores. Em nome de uma discussão que deve transpor as paredes da ADSE, gostaria de saber o que pensam desta medida os dirigentes de outros quadrantes políticos e, principalmente, os leitores que foram, ou poderão vir a ser vítimas deste drama vivido por uma personagem de Arnaldo Gama: “Para isto é que eu vivi? Malditos anos! Maldita velhice!”
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