sábado, 30 de setembro de 2017

A ADSE e o "soberaníssimo bom senso" preconizado por Antero


Meu artigo de opinião publicado in "Diário as Beiras" de ontem e distribuído na edição do "Expresso":
“A idade empurra-nos em direcção ao silêncio. As pessoas querem que não faças nada. Tenta evitar isso continuando em frente. A necessidade de escrever mais e mais é uma preocupação constante”.
Vidiadhar Nappaul (Prémio Nobel de Literatura, 2001)

“No uso da licença e da liberdade de quem não pede favor senão  justiça”, como foi hábito de vida do Padre António Vieira, começo por recorrer ao meus tempos de estudante liceal  em que o latim era levado muito a sério pelo “apport” trazido à nossa Língua Pátria. 
Assim, começo por citar a expressão latina “quantum mutatis ab illo”! (quão mudado do que era!) porque se o Bloco de Esquerda e/ou o Partido Comunista, em defesa da  justiça social, não andassem à boleia da “geringonça”, atrevo-me a pensar que já se teriam  pronunciado a favor do respeito que nos devem merecer os velhos e doentes vergastados pelo  látego impiedoso de uma ADSE que pretende continuar a aumentar os seus lucros  para  tapar os buracos orçamentais das contas públicas. Aliás, como já aconteceu!
Destarte”, se és jovem e cheio de saúde és benquisto pela generosa ADSE; se és velho e doente és lançado, aos 65 anos de idade, para uma espécie de antecâmera da morte em que te são retirados benefícios como cônjuge de beneficiário titular pelo simples facto de teres uma “escandalosa" reforma da Segurança Social que exceda em poucos euros metade do ordenado mínimo nacional porque neste país governado por socialistas foi partejada legislação em gestão em ventre do PSD na esperança de pegar de estaca. Se o Zé Povinho se calasse tudo O.K, mas como refila nomeiam-se comissões sem poder decisório para dividir responsabilidades de medidas anunciadas por Carlos Liberato,  director-geral da ADSE ,como seja, por exemplo, “consultas médicas mais caras.”
A ADSE em resposta a uma minha exposição (02/12/2016), redigida em português correcto comprovativo do meu exigente diploma da antiga 4.ª classe do ensino primário, remeteu, em sua opinião, a minha havida ignorância interpretativa para a legislação que a motivou com se tratasse de inamovível Rochedo de Gibraltar. Ou seja, afadigaram-se os próceres da ADSE, quais prestidigitadores que tiram pombas de uma cartola, na tentativa impossível de endireitar a sombra de uma vara  torta em vez de emendarem o erro de um legislação tortuosa que expulsou desapiedadamente do seu seio velhos e doentes num país em que os afectos merecem o desvelo do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a quem me atrevo pedir, em desespero de causa, a sua intervenção numa “humanidade em dissolução”, como já postulava Antero no século XIX.

Tenho esperança que a minha persistência em não me calar (segundo Herculano, das definições possíveis de homem uma só é verdadeira: “o homem é o animal que disputa” ) encontre forte eco público nos idosos e seus familiares atingidos pelas desumanas medidas da ADSE que correm o risco de tornarem os velhos e doentes hodiernos em personagens do drama secular de  um romance de Arnaldo Gama: “Para isto é que eu vivi? Malditos anos! Maldita velhice! ”

4 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

Vou ficar pela citação introdutória porque, quanto ao resto, sou ainda mais pessimista.
É notório que as pessoas preferem que não fales, nem escrevas, nem coloques questões. E aprendemos rapidamente que isso pode ser muito cómodo. E não te dá trabalho nenhum. E pode ser vantajoso, porque evita conflitos, hostilidades, desaguisados ou mal-entendidos, etc..
Se fores pessoa para passar despercebida, até podes ser deputado sem nunca teres de abrir a boca, mas há situações em que não podemos dar-nos a esse luxo. E também nem todos se deixam ficar calados, ou aceitam a posição passiva.
Em geral, o que noto crescentemente é uma resistência inamovível, por parte de toda a gente, para dar atenção ao que é dito e, mais ainda, para ler o que é escrito. Hoje, pagam para ler e para votar e para comprar e, se alguém quer aprender, também pagam.
Parece estar estabelecido que não pagam para escreveres, nem por escreveres, nem por pensares ou ensinares, ou iluminares...
Não apenas não há incentivos à tão proclamada cultura crítica e criatividade, como, pelo contrário, há incentivos para a passividade ou, quando muito, para uma atividade programada (a tal aprendizagem paga ou subsidiada).
Eu, que acredito em teorias da conspiração, e que vejo como ponto fraco e incorrigível da democracia, mais do que em qualquer outro regime, o serem alvo de conspirações desastrosas a coberto de legitimações eleitorais, também desconfio que não é por acaso, nem por efeito do normal e desinteressado curso da história, que vamos começar a ser pagos para não pintar, nem escrever, nem pensar, nem viver...

Rui Baptista disse...

Por avaria no computador ou aselhice minha, só hoje agradeço o seu comentário escrito numa selva de indiferença sobre os velhos e doentes deste pobre país. Bem haja!

Carlos Ricardo Soares disse...

Só para dizer-lhe que li a sua resposta, que agradeço. Mas aproveito para acrescentar que é preocupante e doentia uma certa ansiedade geral das indústrias atuais em corrida precipitada contra o tempo, numa espécie de fuga, não sei de quê, para o precipício. E, para trás, ficam os velhos, os doentes, as crianças e um planeta devastado. Um bem haja, também, para si.

Rui Baptista disse...

Habituado que estou ao desinteresse que, por vezes, recai sobre a temática da saúde ou bem-estar dos velhos e doentes foi com grande regozijo que tomei conhecimento dos seus dois comentários a este meu post, o último ontem. Estou a redigir um novo post em resposta ao seu segundo comentário que espero publicar ainda hoje. Desde já, a minha gratidão e, atrevo-me a pensar, da população idosa portuguesa escorraçada da ADSE!

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