O Ministério da Educação publicou no passado dia 13 um conjunto de "recomendações às escolas sobre uso de smartphones" (ver aqui). É um documento claro e muito completo, que traduz, substancialmente, a posição de vários países e de directores escolares que têm proibido ou restringido o uso de telemóveis pelos alunos, bem como a posição de organizações e grupos sociais que têm solicitado isso mesmo. Fundamenta a sua posição no essencial da investigação, digna de crédito, que tem sido publicada e que não deixa grande margem para dúvidas, pelo menos para já. Eis um extracto:
"A evidência internacional aponta para riscos do uso excessivo em vários domínios. Primeiro, na aprendizagem, prejudicando a capacidade de concentração das crianças e jovens. Segundo, na vida comunitária, favorecendo o isolamento em vez da partilha, da atividade física e da interação social. Terceiro, no bem-estar mental, potenciando situações de dependência, de ansiedade ou depressão, de falta de sono, entre outro tipo de problemas. São esses riscos que as recomendações propostas neste documento visam mitigar, em particular, em relação à utilização dos smartphones."
As escolas portuguesas, os directores e os professores, têm agora, nesta matéria, não só o respaldo da investigação mas também o respaldo da tutela para decidirem num determinado sentido, que terá de ser aquele que, a curto prazo, beneficia os alunos e, a mais longo prazo, beneficia o mundo.
Está, pois, nas suas mãos a decisão final quanto ao uso - particular e/ou "pedagógico" - de telemóveis em contexto escolar, sendo que daí decorre sempre uma responsabilidade.
Estendo este raciocínio aos "manuais digitais", esperando que o Ministério complemente as medidas que avançou com uma orientação semelhante a esta.
Mas não posso deixar de perguntar: ao abrigo da autonomia da escola pública, não deveriam ter sido mais as escolas, todas as escolas, a fazer essa restrição, tanto para telemóveis como para manuais digitais?
É que é impossível desconhecer perigos que lhes estão associados! Além de publicações técnicas, têm saído livros de divulgação de elevada qualidade, além de notícias e entrevistas divulgadas na comunicação social que, pelo menos, levantam a dúvida razoável.
E, na dúvida razoável, não se avança! O que está em causa - a inteligência das novas gerações - é demasiado importante para se correrem riscos. Mesmo com a pressão da "inovação tecnológica", das autarquias, das empresas e, até, de "especialistas" - sobretudo da área tecnológica e pedagógica - que, muitas vezes, andam associadas.
3 comentários:
Está na hora de interromper o processo de achincalhamento do ensino, dos professores e dos educadores de infância, levado a cabo ao longo das últimas décadas por decisores políticos transtornados e por eminências pardas da área da educação, colocados em altos cargos do Estado, com o conluio de muita gente da sociedade civil, no geral, e também de muitos professores e educadores de Infância que, apesar de humilhados e mal pagos, estão sempre disponíveis para praticarem em "contexto de sala de aula" os métodos pedagógicos mais abstrusos, desde que saibam que estão a inovar, como aconteceu recentemente com a aceitação nas escolas do projeto Maia de má memória.
Estas recomendações da tutela sobre o uso dos telemóveis nas escolas já deviam ter saído há muito tempo, mas mais vale tarde do que nunca!
Os telemóveis, quando mal usados, são um dos principais fatores do clima de indisciplina e violência diária que se vive nas nossas escolas.
As escolas EB 1, 2 , 3 + S têm de deixar de ser depósitos para crianças, adolescentes e jovens de quem os professores se limitam a tomar conta. Enquanto a frequência obrigatória implicar o sucesso obrigatório, como estava implícito no projeto MAIA, a diminuição da indisciplina nas escolas é uma miragem. Sem trabalho e sem estudo não pode haver sucesso.
Abaixo o Projeto Maia!
Abaixo!
"O Projeto MAIA constitui-se como um esforço concertado a nível nacional no sentido de desenvolver um processo que, em colaboração com os CFAE, com as direções dos Agrupamentos de Escolas/Escolas Não Agrupadas e com os docentes, crie condições para que a avaliação pedagógica seja integrada nos processos de desenvolvimento curricular e, desse modo, se articule com o ensino e com a aprendizagem."
Nada melhor que o original, já diz tudo sobre a iniquidade da coisa. Nem redigir sabem.
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