... o ensino é, por excelência, uma profissão intelectual, não estou a dizer que todos os professores sejam intelectuais, estou a dizer que o ensino é uma profissão intelectual, os professores têm de ter autonomia, não podem ser permanentemente vigiados, controlados, terem de justificar cada coisa que fazem...É neste registo, ora negligenciado ora recusado, que os políticos, os encarregados de educação, os directores, as autarquias, as empresas, os investigadores, os formadores de professores, os avaliadores das escolas e do desempenho docente, quem quer que seja, mas cada vez mais gente, têm de encarar os professores.
Mas, antes de mais, é neste registo, de profissionais intelectuais, que os professores têm de se encarar a si mesmos. É nesse registo que têm de articular a sua responsabilidade e autonomia. Penso que há aqui uma consciencialização que há-de levar o seu tempo a ser conseguida.
2 comentários:
Ainda há quatro ou cinco décadas atrás, quem eram os doutores em Portugal?
Eram os médicos, os advogados e os professores do liceu, quando devidamente licenciados. Agora, já em plena época de desvalorização dos títulos académicos, é mais fácil tropeçar num doutor do que numa pedra da calçada. Entre os numerosos novos doutores, incluindo os que nunca entraram numa Universidade, refiro, a título de exemplo, o doutor Bruno de Carvalho, o doutor Fernando Madureira, o Macaco, os educadores de infância, os jornalistas, os professores primários, os contabilistas, os assistentes sociais, o doutor Armando Vara, vários chefes da proteção civil, antigos formandos do programa Novas Oportunidades, vários gestores indiferenciados, muitos caixas dos hipermercados, etc.
O ensino já foi uma profissão intelectual, constituindo então os professores um Corpo Especial da Função Pública. Agora, o Estado já não nos pode tratar como intelectuais, que somos, senão essa malta dos novos doutores por equivalência mostravam os seus diplomas acabados de imprimir e faziam greve até que o Governo os reconhecesse como novos intelectuais, o que, evidentemente, nos conduziria a uma nova banca rota!
Um dia, recebi um rapaz vazio.
Os movimentos entrecortados dos braços e das pernas do rapaz vazio contrastavam com a viscosidade de uma língua verde e espessa. Pontapeava portas, mesas e pessoas e tinha dificuldade em segurar o tempo na cadeira. Aguçava-se a partia-se frequentemente. Às vezes, apagava-se.
Consegui que me olhasse por causa das palavras. Daquelas que sobem como balões e ficam a pairar acima das coisas. Tinha de me meter dentro delas para poder falar-lhe. Lá, nesse espaço gasoso, as asas eram cheias de penas.
Vi o pai duas vezes...
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