No campo da educação formal as decisões mais razoáveis são, aparentemente, as mais difíceis de tomar. E quando isso acontece, pela sua estranheza, são notícia nacional e, mesmo, internacional. É o caso da proibição do uso do telemóvel na escola. França foi um país pioneiro nesta matéria, logo esteve (ver aqui) e está hoje nos noticiários e nos jornais (pelo menos) da Europa.
Depois de o Presidente da República a ter apontado, o Ministro da Educação bateu-se por ela, levou-a à Assembleia Nacional e hoje foi traduzida em letra de lei: a partir de Setembro de 2018 nem alunos nem professores podem ter telemóveis, tanto nas aulas como nos espaços exteriores, e isto é válido para todos os níveis de ensino, incluindo o superior. Haverá excepções para casos especiais.
As razões do Ministro da Educação (cito a notícia do jornal Público) afiguram-se-me perfeitamente válidas: evitar a distracção na sala de aula e fazer face a problemas de comportamento entre alunos. São, na verdade, dois problemas de que os professores se queixam reiteradamente no nosso país.
É claro que o Ministro tem a contestação dos partidos da oposição e do sindicato de professores. A estas duas entidades hão-de associar-se outras: empresas de tecnologia, pais/encarregados de educação, investigadores que advogam a aprendizagem com este equipamento...
Ao que parece, mais ou menos como cá, cada escola pode prever (nos seus regulamentos) regras para o uso dos telemóveis, mas a complicação que isso causa e o tempo faz gastar (recolha e devolução, queixas de pais, prevaricação dos alunos, etc.) faz com que a desistência ou o aligeiramento do controle seja uma tentação quando não uma realidade. Talvez, por isso, o dito Ministro se tenha batido pela necessidade de "uma base legal muito mais forte".
É preocupante ler esta declaração pois os directores, professores e outros educadores deveriam (poder) assegurar que os alunos se focalizam na aprendizagem e que vão adquirindo um comportamento socialmente aceitável, mas as várias pressões de que são alvo têm o seu efeito. Assim, talvez esta legislação seja, para já, um mal menor, uma via para recuperar a atenção/concentração que o trabalho escolar requer e a convivência.
quinta-feira, 7 de junho de 2018
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9 comentários:
É preciso ser objectivo, prático e inteligente. Nenhum mal viria ao mundo se regras fossem impostas, a começar pelo bombardeamento wi-fi dentro da sala de aula. Só um idiota poderá convencer-se que nenhuma consequência tem sob a actividade do cérebro e a aprendizagem, isto para lá de toda a distracção associada. Porque será que um país como a Suíça afastou das escolas o wireless, e tudo passou a cabo? E não é caso único, o caso francês é hipócrita, pois em vez de afastar a causa, afasta a distracção.
É uma tendência a chegar:
Why One School In Surrey Is Banning Mobile Phones
https://www.youtube.com/watch?v=giyW9dRuw0c
Para além do exposto, sabemos que a esmagadora maioria das crianças ou adolescentes utiliza o telemóvel para fins pessoais não didáticos, muitas vezes, gravando, filmando e fotografando ilicitamente pessoas, espaços e situações, não ficando garantido o direito à imagem ou à privacidade dos visados. Já assistimos a vários exemplos desses abusos nos meios de comunicação social...
Dificilmente se vigiam movimentos escondidos de acesso ao telemóvel em turmas enormes como as nossas, a não ser que, diariamente, se verifiquem mochilas, retirando, desligando e concentrando todos os telemóveis num qualquer sítio previamente definido. Não é funcional e perde-se tempo de aula.
Concordo com a abolição total de objetos passíveis de distração e de difícil controlo que em nada contribuem para o processo de ensino/aprendizagem.
A escola está aberta. Existem telefones, emails, suportes de informação escrita e horários de atendimento personalizado que poderão ser utilizados em caso de necessidade de contacto, urgente ou não.
Exceção: caso o professor queira invocar os telemóveis para fins didáticos, deve informar os E.E. dessa intenção, controlando devidamente as movimentações com os mesmos, assumindo a inteira responsabilidade por qualquer situação que ocorra na data definida para o efeito.
A Suiça é um país do primeiro mundo. Eu arrisquei comprar um canivete "Made in China" e acabei por cortar a mão, porque o pequeno artefacto desengouçou-se todo logo na primeira utilização. Hoje, só uso canivetes que comprei em Berna, na própria Suiça!.
Portugal devia afastar o wireless do interior das escolas. Como os pais e os professores já não têm mão nos rapazes, a proibição dos telemóveis tem de ser imposta pelo Estado, de outro modo as fotos e filmagens proibidas pelo regulamento interno, como quando o explicador a quilómetros de distância responde ao seu explicando enviando-lhe as imagens do teste totalmente resolvido, vão ser cada vez mais frequentes acentuando o caráter selvagem do ambiente escolar com uma profusão avassaladora de mensagens eletromagnéticas altamente perturbadoras do regular funcionamento do processo de ensino/ aprendizagem. Convém recordar que em muitas escolas públicas dos Estados Unidos da América a segurança já é reforçada com a presença permanente de agentes de autoridade.
A Escola é um reflexo directo da sociedade. Tal como o A090, toda a gente sabe o que deve ser feito. O bom-senso deve ser restaurado sobre todo o fascínio e húbris.
Fala-se muito de distracção, mas o problema é muito mais grave. Na verdade o que estamos a criar é uma geração (tóxico)dependente, sempre à espera do próximo chuto de dopamina, que nem cão de Pavlov. Toda a estrutura cerebral, gestão e produção de neurotransmissores sai prejudicada. Hoje temos uma sociedade onde os profissionais da área nada mandam na área. Professores que não podem ensinar, médicos que não podem tratar, etc.
As microondas usadas na telecomunicação são um risco já certo, as seguradoras já tornaram isso claro, lavando as mãos de todas as responsabilidades:
Telecom and Insurance Companies Warn of Liability and Risk
Cell Phones Wireless Companies Warn Shareholders About Future Financial Risks From Electromagnetic Radiation
https://ehtrust.org/key-issues/cell-phoneswireless/telecom-insurance-companies-warn-liability-risk-go-key-issues/
Errata: onde se lê "desengouçar" deve ler-se "desengonçar".
As desculpas que peço, à cabeça, a todos os filólogos da nossa praça, estendem-se, naturalmente, ao conjunto mais alargado que constitui o povo português! Se eu tivesse poderes de administrador do blogue, completaria a minha boa ação corrigindo o erro no corpo do texto do comentário inicial!
Obrigado a todos!
Prezado Leitor Anónimo, das 10h41 certamente, por inabilidade informática não sou capaz de emendar o seu erro de ortografia. Mas ele ficou bem emendado na mensagem que teve a amabilidade de nos enviar.
MHDamião
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