Minha comunicação ontem no Encontro de História da Ciência no Ensino em Coimbra:
António Gião (Reguengos de Monsaraz 1906 - Lisboa 1969) foi um meteorologista e físico teórico português do século com carreira feita em grande parte no estrangeiro. Após ter frequentado o 1.º ano na Universidade de Coimbra, foi para Estrasburgo, onde se formou em Engenharia Geofísica e Física (Meteorologia) em 1927. Foi o primeiro português a publicar na Nature (uma carta em 1926, tinha ele 20 anos, sobre nuvens).
Trabalhou nas Universidades de Bergen, Florença, Génova e Dublin, no Real Instituto Meteorológico da Bélgica, nos institutos Nacional Meteorológico e Poincaré, de Paris. Atingiu notoriedade internacional, o que se revela na recepção de um convite para professor no MIT e de ouro para participar numa expedição internacional aérea ao pólo Norte em 1928.
Regressado a Portugal devido à guerra, passou a interessar‑se pela Física de Partículas e Cosmologia. No início de 1946 enviou a Einstein, então em Princeton, uma carta endereçada de Reguengos de Monsaraz, onde propunha uma teoria das forças fundamentais. Na volta do correio, veio a resposta de Einstein, contendo alguns cálculos, que exprimiam dificuldades técnicas da proposta de Gião, que replicou.
Em 1960, Gião foi nomeado, após convite, Professor Catedrático da Faculdade de Ciências de Lisboa, onde teve problemas pedagógicos. Na década de 60, foi director do Centro de Cálculo Científico do Instituto Gulbenkian de Ciência, então emergente. Como director desse Centro organizou em 1963 um encontro de Cosmologia em Lisboa, com a presença do alemão Pascual Jordan e do britânico Hermann Bondi, um dos autores da teoria do estado estacionário.
Além de livros de referência em Meteorologia, publicou mais de 150 artigos, quase sempre sozinho, muitos deles em revistas conceituadas como a Physical Review, a Comptes Rendus (apresentados por Louis de Broglie), o Journal de Physique, etc. Em Portugal, publicou na Portugaliae Physica, revista da SPF criada em 1943 (um artigo sobre Meteorologia e outro sobre Teoria Quântica Relativista), na Portugaliae Mathematica e na Técnica (revista dos estudantes do IST).
Neste trabalho analisa-se em particular a produção científica de Gião nos seus últimos anos, publicada essencialmente nos Arquivos do Instituto Gulbenkian de Ciência, que dirigia.
Contam-se 16 artigos, 11 dos quais sozinho, em francês e em inglês. Os assuntos (física estatística, meteorologia teórica, cosmologia defesa do estado estacionário, física-matemática, e física de partículas) reflectem a pluralidade dos seus interesses.
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