domingo, 28 de maio de 2017

António Gião: os últimos anos de um meteorologista

Minha comunicação ontem no Encontro de História da Ciência no Ensino em Coimbra: 

António Gião (Reguengos de Monsaraz 1906 - Lisboa 1969) foi um meteorologista e físico teórico portu­guês do século com carreira feita em grande parte no estrangeiro. Após ter frequentado o 1.º ano na Universidade de Coimbra, foi para Es­trasburgo, onde se formou em Engenharia Geofísica e Física (Meteorologia) em 1927. Foi o primeiro português a publicar na Nature (uma carta em 1926, tinha ele 20 anos, so­bre nuvens).

Trabalhou nas Universidades de Bergen, Florença, Génova e Dublin, no Real Instituto Meteorológico da Bélgica, nos institutos Na­cional Meteorológico e Poincaré, de Paris. Atingiu notoriedade internacional, o que se revela na recepção de um convite para professor no MIT e de ouro para participar numa expedição internacional aérea ao pólo Norte em 1928.

Re­gressado a Portugal devido à guerra, passou a interessar‑se pela Física de Partículas e Cos­mologia. No início de 1946 enviou a Einstein, então em Prince­ton, uma carta endereçada de Reguengos de Monsaraz, onde propunha uma teoria das forças fundamentais. Na volta do correio, veio a resposta de Einstein, contendo alguns cál­culos, que exprimiam dificuldades técnicas da proposta de Gião, que replicou.

Em 1960, Gião foi nomeado, após convite, Professor Catedrático da Faculdade de Ciências de Lis­boa, onde teve problemas pedagógicos. Na década de 60, foi director do Centro de Cálculo Científico do Instituto Gulbenkian de Ciência, então emergente. Como di­rector desse Centro organizou em 1963 um encontro de Cosmologia em Lisboa, com a presença do alemão Pascual Jordan e do bri­tânico Hermann Bondi, um dos autores da teoria do estado estacionário.

Além de livros de referência em Me­teorologia, publicou mais de 150 artigos, quase sempre sozinho, muitos deles em revistas conceituadas como a Physical Review, a Comptes Rendus (apresentados por Louis de Broglie), o Journal de Physique, etc. Em Portugal, pu­blicou na Portugaliae Physica, revista da SPF cria­da em 1943 (um artigo sobre Meteorologia e outro sobre Teoria Quântica Relativista), na Portugaliae Mathematica e na Técnica (revista dos estudantes do IST).

Neste trabalho analisa-se em particular a produção científica de Gião nos seus últimos anos, publicada essencialmente nos Arquivos do Instituto Gulbenkian de Ciência, que dirigia.

Contam-se 16 artigos, 11 dos quais sozinho, em francês e em inglês. Os assuntos (física estatística, meteorologia teórica, cosmologia defesa do estado estacionário, física-matemática, e física de partículas) reflectem a pluralidade dos seus interesses.

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