domingo, 31 de dezembro de 2017
2018
Em 2018 passam 100 anos do nascimento de Richard Feynman (na foto), o físico americano que recebeu o Nobel e foi o autor das "Feynman Lectures on Physics" e "Está a brincar Sr. Feynman" (nasceu a 11 de Maio de 1918). Passam também os 100 anos do físico Abraham Pais, o biógrafo de Einstein ("Subtil é o Senhor"). Passam 100 anos do Nobel da Física de Max Planck e do Nobel da Química de Fritz Haber.
Passam 100 anos do nascimento do político Nelson Mandela e do músico Leonard Bernstein. Passam 100 anos do fim da 1.ª Guerra Mundial, 100 anos da morte do czar Nicolau II e família e, entre nós, 100 anos da morte de Sidónio Pais. Passam 100 anos do nascimento dos historiadores Vitorino Magalhães Godinho e Armando de Castro e da escritora Odette de Saint-Maurice.
Passam 150 anos do nascimento do inventor Padre Himalaia e do compositor Viana da Mota.
Passam 200 anos do nascimento do sociólogo e filósofo Karl Marx e também do nascimento do físico James Prescott Joule. Passam 200 anos da publicação de "Frankenstein", a obra prima de Mary Shelley.
Passam 250 anos do nascimento do médico português Bernardino António Gomes, que estudou o quino para curar a malária e foi pioneiro da vacinação. Passam 250 anos da fundação do primeiro jardim botânico português, na Ajuda, em Lisboa, e da Imprensa Rágia, também em Lisboa.
2018 vai ser o Ano Europeu do Património Cultural e o Ano da Biologia Matemática. Em 2018 as Olimpíadas Internacionais da Física vão decorrer em Lisboa os Jogos Universitários Europeus vão ser em Coimbra.
Feliz 2018!
sábado, 30 de dezembro de 2017
Opinião: Íris Científica 4
Faz já doze
anos que António Piedade publicou o seu primeiro livro Íris Científica (2005), pela
editora Mar da Palavra. Foi preciso esperar seis anos para o leitor conhecer o
seu segundo livro, Caminhos de Ciência (2011). A partir daí, o autor já não
mais parou, apresentando ao público um novo livro ao ritmo de quase um por ano.
Entretanto, poderíamos ir acompanhando a sua escrita sobre ciência nas crónicas
que publica regularmente na imprensa regional. Têm sido, aliás, esses os textos
que têm alimentado a coleção Íris Científica, que já vai no quarto volume. Este
novo livro é constituído por trinta e três textos, divididos em duas partes: “Além
no Espaço” e “Aqui na Terra”.
A coleção
Íris Científica é muito mais do que uma coletânea de textos publicados na Imprensa
Regional. Trata-se de uma seleção de temas, que nos dá a conhecer as mais
recentes descobertas e avanços científicos, e que vai sendo atualizada
anualmente. Para quem, por motivos profissionais ou por falta de tempo, não
consegue acompanhar o conhecimento produzido em várias áreas da ciência, pode
encontrar neste livro um resumo de uma parte da investigação realizada tanto a
nível nacional como internacional. Além disso, por estar escrito de um modo
claro para diversos públicos, tanto pode ser lido por jovens alunos como por
adultos interessados na ciência. Estou certo que este livro ainda servirá para aqueles
que, no futuro, tenham curiosidade em conhecer que ciência fora produzida no
passado – o nosso presente. Porventura, ainda poderá servir de ponto de partida
a futuros historiadores da ciência. Trata-se, pois, de uma coleção útil a ter
por perto, em qualquer biblioteca pessoal. Que o ano 2018 traga o quinto número
desta coleção.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
RECOMEÇAR
Meus desejos de Ano Novo no Público de hoje:
Em cada novo ano lembro-me do poema “Receita de Ano Novo” do brasileiro Carlos Drummond de Andrade: “Para ganhar um Ano Novo / que mereça este nome,/ você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo./ mas tente, experimente, consciente./ É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”
O grande desafio em cada novo ano é fazê-lo verdadeiramente novo. O que é que eu gostaria que fosse novo, nestes tempos de grande incerteza? No plano internacional que as trumpices parassem de nos abespinhar. No plano nacional que a confiança, que começou já a despontar, se instalasse na economia e na vida, o que passa por uma definição mais clara de um futuro comum europeu.
Na ciência, espero que no novo ano haja em Portugal uma avaliação nova das unidades de investigação, ultrapassando a última de má memória. Espero ainda que as instituições de ensino superior, fontes permanentes de ciência, acelerem o processo de renovação dos seus quadros de docência e investigação. E, se não for pedir muito, que as empresas nacionais comecem a contratar doutorados de modo a melhor aproveitar em benefício do país o enorme potencial de criatividade que reside na mais recente geração.
Volto a Drummond, citando outro,poema, “Recomeçar”: “Se pensarmos pequeno, / coisas pequenas teremos. / Já se desejarmos fortemente o melhor / e principalmente lutarmos pelo melhor, / o melhor vai se instalar na nossa vida. / E é hoje o dia da Faxina Mental…“
Em cada novo ano lembro-me do poema “Receita de Ano Novo” do brasileiro Carlos Drummond de Andrade: “Para ganhar um Ano Novo / que mereça este nome,/ você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo./ mas tente, experimente, consciente./ É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”
O grande desafio em cada novo ano é fazê-lo verdadeiramente novo. O que é que eu gostaria que fosse novo, nestes tempos de grande incerteza? No plano internacional que as trumpices parassem de nos abespinhar. No plano nacional que a confiança, que começou já a despontar, se instalasse na economia e na vida, o que passa por uma definição mais clara de um futuro comum europeu.
Na ciência, espero que no novo ano haja em Portugal uma avaliação nova das unidades de investigação, ultrapassando a última de má memória. Espero ainda que as instituições de ensino superior, fontes permanentes de ciência, acelerem o processo de renovação dos seus quadros de docência e investigação. E, se não for pedir muito, que as empresas nacionais comecem a contratar doutorados de modo a melhor aproveitar em benefício do país o enorme potencial de criatividade que reside na mais recente geração.
Volto a Drummond, citando outro,poema, “Recomeçar”: “Se pensarmos pequeno, / coisas pequenas teremos. / Já se desejarmos fortemente o melhor / e principalmente lutarmos pelo melhor, / o melhor vai se instalar na nossa vida. / E é hoje o dia da Faxina Mental…“
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Fascínio pela Ciência
Meu depoimento prestado a Carlos Eugénio Augusto e publicado na última revista "Prevenir":
Descobri a ciência no tempo da escola, principalmente através de livros de divulgação científica, que me revelaram que é um empreendimento humano que dá origem a projetos extraordinários. O que aprendi, em colecções como Ciência para Gente Nova, de Rómulo de Carvalho, mudou a minha vida. Ler sobre o átomo fazia-me ver a ciência a acontecer, sentir os seus problemas, dificuldades, hesitações e dúvidas permanentes. Mais tarde, abracei o curso de Física e a paixão cresceu. À medida que a ciência se revelava, mais vontade e “obrigação” senti de a partilhar. E, de uma forma inesperada, até consegui ter algum sucesso, nomeadamente através de Física Divertida, um livro que escrevi na década de 1990, baseado em palestras que fiz nas escolas, cujas reações demonstraram que a ciência pode ser uma fonte de prazer e partilha intelectual. Mas a ciência é também liberdade, democracia e um caminho para o desenvolvimento e bem-estar social, levando a viver de uma forma mais positiva, de olhos no futuro. A tecnologia, por exemplo, um fruto da ciência, tornou mais fácil comunicar, viajar, ter melhores cuidados de saúde. Como professor, tento transmitir esse entusiasmo e deslumbramento continuados. O mundo vai ter sempre mistérios e a ciência é um processo de interrogação cativante, devendo hoje desempenhar o papel que outrora a filosofia teve na procura do saber. Acredito que a ciência é o método por excelência para adquirir conhecimento, para despertar o sentido crítico, e uma das mais ricas dimensões humanas, a par da arte, religião e ética, que nos permite conhecer e viver melhor no mundo. E, ao segui-lo, vamos entender que muito do nosso quotidiano resulta do seu conhecimento e que está nas nossas mãos tentar transformar o mundo num sítio melhor.»
EM NOME DA FÍSICA Doutorado em Física Teórica, professor catedrático da Universidade de Coimbra e diretor do Rómulo Centro Ciência Viva, Carlos Fiolhais é um dos cientistas mais (re)conhecidos em Portugal, tendo já arrecadado prémios e distinções como um Globo de Ouro da SIC, a Ordem do Infante D. Henrique e, mais recentemente, o Grande Prémio Ciência Viva Montepio 2017. No seu mais recente livro, A Ciência e os Seus Inimigos (Gradiva), escrito em parceria com o bioquímico David Marçal, reforça a ideia de uma ciência que se assume como «um aliado essencial de uma sociedade livre e aberta».
Descobri a ciência no tempo da escola, principalmente através de livros de divulgação científica, que me revelaram que é um empreendimento humano que dá origem a projetos extraordinários. O que aprendi, em colecções como Ciência para Gente Nova, de Rómulo de Carvalho, mudou a minha vida. Ler sobre o átomo fazia-me ver a ciência a acontecer, sentir os seus problemas, dificuldades, hesitações e dúvidas permanentes. Mais tarde, abracei o curso de Física e a paixão cresceu. À medida que a ciência se revelava, mais vontade e “obrigação” senti de a partilhar. E, de uma forma inesperada, até consegui ter algum sucesso, nomeadamente através de Física Divertida, um livro que escrevi na década de 1990, baseado em palestras que fiz nas escolas, cujas reações demonstraram que a ciência pode ser uma fonte de prazer e partilha intelectual. Mas a ciência é também liberdade, democracia e um caminho para o desenvolvimento e bem-estar social, levando a viver de uma forma mais positiva, de olhos no futuro. A tecnologia, por exemplo, um fruto da ciência, tornou mais fácil comunicar, viajar, ter melhores cuidados de saúde. Como professor, tento transmitir esse entusiasmo e deslumbramento continuados. O mundo vai ter sempre mistérios e a ciência é um processo de interrogação cativante, devendo hoje desempenhar o papel que outrora a filosofia teve na procura do saber. Acredito que a ciência é o método por excelência para adquirir conhecimento, para despertar o sentido crítico, e uma das mais ricas dimensões humanas, a par da arte, religião e ética, que nos permite conhecer e viver melhor no mundo. E, ao segui-lo, vamos entender que muito do nosso quotidiano resulta do seu conhecimento e que está nas nossas mãos tentar transformar o mundo num sítio melhor.»
EM NOME DA FÍSICA Doutorado em Física Teórica, professor catedrático da Universidade de Coimbra e diretor do Rómulo Centro Ciência Viva, Carlos Fiolhais é um dos cientistas mais (re)conhecidos em Portugal, tendo já arrecadado prémios e distinções como um Globo de Ouro da SIC, a Ordem do Infante D. Henrique e, mais recentemente, o Grande Prémio Ciência Viva Montepio 2017. No seu mais recente livro, A Ciência e os Seus Inimigos (Gradiva), escrito em parceria com o bioquímico David Marçal, reforça a ideia de uma ciência que se assume como «um aliado essencial de uma sociedade livre e aberta».
domingo, 24 de dezembro de 2017
PODCASTS PARA OUVIR NAS FÉRIAS
José Pimentel é o autor de um conjunto de podcasts que vale a pena ouvir. Acabei de gravar um que sairá daqui por umas semanas: Ver
https://itunes.apple.com/pt/podcast/quarenta-e-cinco-graus/id1292782109?l=en
https://itunes.apple.com/pt/podcast/quarenta-e-cinco-graus/id1292782109?l=en
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
LIVROS DE CIÊNCIA PARA O SAPATINHO
Há nos escaparates bons livros de ciência saídos recentemente mas, tirando um caso ou outro, dificilmente encontram local nos sítios de maior visibilidade, que mostram os livros do costume. Apresento aqui dez livros de ciência em português, que são óptimas prendas de Natal. Ao contrário por exemplo de uma garrafa de vinho, um livro é um presente com futuro. A ordem é alfabética do apelido do autor:
1- António Damásio, A Estranha Ordem das Coisas. A vida, os sentimentos e as culturas humanas, Temas e Debates e Círculo de Leitores, Novembro de 2017
O próprio autor, neurocientista de prestígio internacional, veio a Lisboa apresentar a Lisboa na escola dos Olivais que ostenta o sue nome. Mais um grande livro de um grande autor português, emigrado nos Estados Umidos, que nos faz reflectir sobre as relações entre a mente e o corpo. É assaz sedutora a forma como Damásio mistura a ciência com a filosofia.
2- Yuval Noah Harari, Homo Deus. História Breve do Amanhã, Elsinore, Abril de 2017.
Este livro é um best-seller em muitos países do m mundo. Para os jornais britânicos Guardian e Evening Standard foi o livro do ano. O historiador israelita, depois do grande sucesso que foi Homo sapiens, faz uma incursão sobre um futuro que pode não ser humano, se as máquinas tomarem conta de tudo. Será que o fim do ser humano está à vista?
3- Museu Calouste Gulbenkian, Do outro lado do espelho, Outubro de 2017
Belo catálogo da exposição sobre espelhos, sob a curadoria de Rosa Figueiredo, que estará de portas abertas até Fevereiro de 2018 na Galeria Principal da Fundação Gulbenkian em Lisboa. Sendo uma exposição sobre arte, o tema unificador é o espelho, um instrumento da óptica. Inclui peças do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e um dos textos, precisamente sobre a matemática dos espelhos, é do historiador de ciência Henrique Leitão.
4- António Piedade, Íris Científica 4, Edição do autor, Novembro 2017
Colectânea de textos publicados na imprensa por um conhecido bioquímico e divulgador de ciência de Coimbra, que coordena um projeto Ciência Viva na Imprensa Regional. Um olhar inteligente, por vezes poético (o autor lançou recentemente o seu primeiro livro de versos, Fonte de Coretos, em edição de autor como esta), convida-nos a entrar na ciência através de crónicas.
5- Natália Bebiano da Providência, Luís de Albuquerque. Um cientista português, Gradiva, Outubro de 2017
A autora, professora de Matemática da Universidade de Coimbra e de certo modo discípula do matemático daquela Universidade e historiador que foi Luís Albuquerque, escreveu uma biografia ilustrada do grande mestre, que teria feito 100 anos em 2017 se não tivesse morrido com 76 anos após ter publicado extensa obra, designadamente sobre história da náutica..
6- Martin Rees, Para o Infinito. Horizontes da Ciência, Gradiva, 2.ª edição, Novembro de 2017
O astrónomo real da Grã-Bretanha e ex presidente da Royal Society, que esteve recentemente entre nós, apresenta-nos os principais desafios da ciência, em quatro palestras populares que preparou para os microfones da BBC. Traz-nos matéria para pensar neste tempo em que a ciência está ameaçada por perigos vários, que incluem Trump e o Brexit. A edição tem a colaboração da Fundação Francisco Manuel dos Santos..
7- Oliver Sacks, O Rio da Consciência, Relógio de Água, Outubro de 2017
Esta é o último livro do médico americano que faleceu em 2015 que é o autor de O homem que confundiu a mulher com um chapéu. Textos muito bem escritos que saíram, pelo menos alguns, na insubstituível The New York Review of Books.
8- Neil de Grasse Tyson. Astrofísica para gente com pressa. Uma viagem rápida e iluminante ao cosmos, Gradiva, , Julho de 2017
Aquele que é hoje o maior divulgado de ciência nos Estados Unidos, legítimo herdeiro de Carl Sagan, apresenta-nos neste livro da colecção Ciência Aberta uma breve introdução dos grandes problemas da cosmologia actual: do Big Bang aos buracos negros, da matéria negra à energia escura.
9- A.J. Barros Veloso (coord), Médicos e Sociedade. Para uma história da medicina em Portugal no século XX, By the Book, Outubro 2017
Um médico e historiador de ciência coordenou um volume escrito a muitas mãos que faz a história da medicina em Portugal no século XX em 862 páginas, num volume muito bem produzido pela editora By the Book..Imperdível para médicos e não só.
10- David Wootton, A Invenção da Ciência. Nova história da Revolução Científica, Temas e Debates, e Círculo de Leitores, Setembro de 23017
Este é um dos extraordinários livros do ano em Portugal. Um historiador britânico traz-nos num espesso volume (823 páginas) uma síntese magistral sobre a Revolução Científica: Copérnico, Vesálio, Tycho Brahe, Kepler, Galileu, Harvey, Newton e vários outros grandes nomes dos séculos XVI e XVII são aqui colocados em contexto. Imprescindível para quem se interesse por ciência ou por história.
Para além deste não posso deixar de recomendar o livro que Davoid Marçal que escreveu comigo, acabado de sair na Gradiva, A Ciência e os seus Inimigos, e a colecção exclusiva do Círculo de Leitores que José Eduardo Franco coordena comigo, Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, das quais já saíram o primeiro tratado de física e o primeiro livro de engenharia.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Querido Monsieur Germain
O que ouve e o que lê sobre o ensino e a aprendizagem, sobre os professores e os alunos, para o futuro, para o século XXI, numa sociedade da informação, do conhecimento, tendo em vista o sucesso, o mercado de trabalho, a competitividade, a produção de capital humano... constituem uma amálgama de palavras que enviesa o sentido daquilo que é, que tem de ser, o educar em contexto escolar. Para não se perder de vista esse sentido é preciso voltar-se ao essencial, ao fundamental: às pessoas e ao conhecimento, ao valor que a educação tem e aos valores que a devem guiar. A relação entre Albert Camus e um dos seus professores Louis Germain ilustra esta breve nota.
Albert Camus, ensaísta, jornalista, filósofo e escritor, entra para a escola em 1918. É uma escola pública de um bairro argelino habitado por um operariado pobre.
Passados quatro ou cinco anos chega ao fim do que poderia ter sido a sua primeira e única etapa académica. A mãe entende que não vale a pena ele fazer o exame para entrar no liceu, pois além de não poder pagar as despesas não é do agrado da família mais alargada. Albert, apesar dos poucos anos que tem de vida, sente-se dividido entre o gosto de aprender na escola e o gosto de aprender uma profissão manual, como a do tio, e de ajudar a família.
Louis Germain, seu professor, vai falar com a mãe e convence-a a dar autorização, ter-lhe-á falado na possibilidade de uma bolsa de estudo. Ela cede; Albert passa de forma brilhante e continua até à universidade, faz doutoramento. Depois de receber o Prémio Nobel da Literatura escreve a Germain a carta que abaixo se transcreve, dedicando-lhe também os Discursos da Suécia [1].
[1] Camus, A. (1983). O avesso e o direito seguido de Discursos da Suécia. Lisboa: Livros do Brasil.
Albert Camus em criança (imagem encontrada aqui). |
Passados quatro ou cinco anos chega ao fim do que poderia ter sido a sua primeira e única etapa académica. A mãe entende que não vale a pena ele fazer o exame para entrar no liceu, pois além de não poder pagar as despesas não é do agrado da família mais alargada. Albert, apesar dos poucos anos que tem de vida, sente-se dividido entre o gosto de aprender na escola e o gosto de aprender uma profissão manual, como a do tio, e de ajudar a família.
Louis Germain, seu professor, vai falar com a mãe e convence-a a dar autorização, ter-lhe-á falado na possibilidade de uma bolsa de estudo. Ela cede; Albert passa de forma brilhante e continua até à universidade, faz doutoramento. Depois de receber o Prémio Nobel da Literatura escreve a Germain a carta que abaixo se transcreve, dedicando-lhe também os Discursos da Suécia [1].
19 de novembro de 1957
Querido Monsieur Germain
Deixei que o ruído que me rodeou nestes dias diminuísse antes de lhe falar um pouco do fundo do meu coração. Acabam de me conceder uma grande honra, que não procurei nem solicitei. Mas quando recebi a notícia, o meu primeiro pensamento, depois da minha mãe, foi para o senhor. Sem si, sem a mão afectuosa que estendeu ao pobre garoto que eu era, sem os seus ensinamentos e exemplo, nada disso teria acontecido. Não imagino um mundo com esta espécie de honra mas constitui uma ocasião para lhe dizer o que foi, e será sempre para mim, e para lhe assegurar que os seus esforços, o seu trabalho e o seu coração generoso, que sempre fazia valer, ainda se encontram vivos num dos seus pequenos pupilos que, apesar da idade, não deixou de ser um reconhecido aluno.
Abraço-o com todas as minhas forças._____________________________
Albert Camus
[1] Camus, A. (1983). O avesso e o direito seguido de Discursos da Suécia. Lisboa: Livros do Brasil.
Os Kapas ou a supervigilância electrónica
Imagem recolhida aqui |
Equipados com laseres, câmaras de vídeo, sensores térmicos, GPS e microfone detectam "actividades suspeitas" e alertam a polícia.
Obviamente captam imagem e som por onde vão passando, registos que são analisados por alguém e guardados algures. Os seus olhos e ouvidos "super-humanos" e um elevado grau de autonomia, permitem-lhe vigiar parques de estacionamento, passeios, recintos desportivos, associações, prédios de escritórios... com sucesso. Além disso, podem ser alugados por um custo inferior ao pagamento de um guarda de segurança. Desta maneira, a empresa não se queixa de falta de clientes.
Acontece que uma das clientes é a Sociedade para a Prevenção de Crueldade Contra Animais (Society for the Prevention of Cruelty to Animals), que dá abrigo a animais sem dono. Não gostando de ter à porta pessoas sem-abrigo, decidiu alugar o robot K5, que rebaptizou como K9, para patrulhar as suas imediações e deixá-las "limpas" de quem chama todo o tipo de problemas.
Houve queixas junto da câmara de São Francisco (foi lá que isso aconteceu), sobretudo pelo contra-senso (uma entidade protectora de animais sem abrigo, além de não fazer nada em prol das pessoas sem abrigo, expulsa-as de uma zona pública) e pelo expansão do big-brother (que já se move à velocidade de uma pessoa, podendo acompanhar literalmente os seus passos). Em sequência, essa sociedade foi advertida de que não pode continuar a fazer vigilância em espaços que não sejam privados e que tem de pedir as devidas autorizações.
Nada de extraordinário, portanto. Assim, os Kapas (5, 9 ou outro número qualquer) continuarão a circular lá onde foram pioneiros e depressa chegarão a outras paragens. O mesmo aconteceu com as câmaras de vigilância e outros mecanismos de “segurança do futuro”. Além disso, "a grande maioria dos cães, assim como as pessoas, são curiosas ou indiferentes quando vêem o robô". Isto foi o que disse alguém que foi ouvido no caso. E tem razão. O que é bastante assustador!
Mais informações aqui, aqui, aqui, aqui.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
NOVOS CLASSICA DIGITALIA
Informação recebida no blogue:
Os Classica Digitalia têm o gosto de anunciar 4 novas publicações, com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume (São Paulo).
Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. O eBook correspondente encontra-se disponível em Acesso Aberto. Além do usual circuito de distribuição da IUC, a versão impressa das novas publicações encontra-se disponível em todas as lojas Amazon.
NOVIDADES EDITORIAIS Série “Autores Gregos e Latinos” [monografias breves]
- Gregory Nagy, O Herói Épico (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017). 84 p. [trad. de Félix Jácome Neto] Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119642 [As palavras “épica” e “herói” resistem a generalizações, especialmente as universalizantes. Mesmo como conceitos gerais, “épico” e “herói” não estão necessariamente relacionados. Reconhecendo dificuldades desta natureza, a presente exposição explora os exemplos mais representativos dos constructos da poética antiga conhecidos comumente como “heróis épicos”, ao se concentrar sobre Aquiles e Odisseu na Ilíada e na Odisseia de Homero. Pontos de comparação com estas figuras homéricas incluem: Gilgamesh e Enkidu nos registros cuneiformes sumérios, acadianos e hititas; Arjuna e os outros Pāṇḍava-s no épico indiano Mahābhārata; e Eneias na Eneida do poeta romano Virgílio.] Série “Autores Gregos e Latinos" [Textos]
- Renan Marques Liparotti: Plutarco. A Fortuna ou a Virtude de Alexandre Magno. Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017). 147 p. Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119341 [Os discursos A Fortuna ou a Virtude de Alexandre Magno, integrantes das Obras Morais de Plutarco, são um retrato de Alexandre como modelo pedagógico de rei-filósofo. Plutarco apetrecha-o de virtudes como a temperança, a humanidade, a generosidade com que Alexandre põe em prática o ideal de unir toda a “terra habitada”. Direcionam-se assim a todos os que se interessem pelo retrato humano.]
- Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas Vários (livros IV, XIII, XIV, XV). Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017). 161 p. Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119590 [O presente volume da série Antologia Grega reúne, sob o título possível Epigramas Vários, os livros IV, XIII, XIV e XV da coleção. Em primeiro lugar, os Prefácios que os três antologistas primordiais escreveram (Meleagro, Filipo e Agátias). Em seguida, os restantes livros, ausentes ao que parece da recolha de Céfalas, consistem na sua maioria em textos lúdicos, exercícios poéticos sobre a métrica (livro XIII), a aritmética, as adivinhas e trocadilhos e os oráculos (livro XIV). Quanto ao livro XV, há de ler-se como um autêntico locus spurius de epigramas para o copista do Palatinus, onde copiou peças de cujo valor poético e semântico ele mesmo duvidava. Caso digno de menção é o dos sete (na verdade oito) technopaignia, exemplo antigo de poesia visual.]
- Maria de Fátima Silva: Cáriton. Quéreas e Calírroe. Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017). 229 p. Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119588 [O romance de Cáriton, Quéreas e Calírroe, pertence ao género ‘romance de amor’, um modelo com grande difusão na literatura grega da época helenística. Apesar de todas as dificuldades de datação, há algum consenso sobre a ideia de que se trata do mais antigo dos textos conservados do mesmo género. Além da sobriedade de estilo e da importância de um texto que repercute toda uma tradição literária anterior, o romance de Cáriton tem, como sua particularidade, uma falsa patine histórica, que resulta da menção de alguns acontecimentos e personagens paradigmáticos.]
Votos de boas leituras e de Festas Felizes.
Delfim Leão
(Classica Digitalia)
Os Classica Digitalia têm o gosto de anunciar 4 novas publicações, com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume (São Paulo).
Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. O eBook correspondente encontra-se disponível em Acesso Aberto. Além do usual circuito de distribuição da IUC, a versão impressa das novas publicações encontra-se disponível em todas as lojas Amazon.
NOVIDADES EDITORIAIS Série “Autores Gregos e Latinos” [monografias breves]
- Gregory Nagy, O Herói Épico (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017). 84 p. [trad. de Félix Jácome Neto] Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119642 [As palavras “épica” e “herói” resistem a generalizações, especialmente as universalizantes. Mesmo como conceitos gerais, “épico” e “herói” não estão necessariamente relacionados. Reconhecendo dificuldades desta natureza, a presente exposição explora os exemplos mais representativos dos constructos da poética antiga conhecidos comumente como “heróis épicos”, ao se concentrar sobre Aquiles e Odisseu na Ilíada e na Odisseia de Homero. Pontos de comparação com estas figuras homéricas incluem: Gilgamesh e Enkidu nos registros cuneiformes sumérios, acadianos e hititas; Arjuna e os outros Pāṇḍava-s no épico indiano Mahābhārata; e Eneias na Eneida do poeta romano Virgílio.] Série “Autores Gregos e Latinos" [Textos]
- Renan Marques Liparotti: Plutarco. A Fortuna ou a Virtude de Alexandre Magno. Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017). 147 p. Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119341 [Os discursos A Fortuna ou a Virtude de Alexandre Magno, integrantes das Obras Morais de Plutarco, são um retrato de Alexandre como modelo pedagógico de rei-filósofo. Plutarco apetrecha-o de virtudes como a temperança, a humanidade, a generosidade com que Alexandre põe em prática o ideal de unir toda a “terra habitada”. Direcionam-se assim a todos os que se interessem pelo retrato humano.]
- Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas Vários (livros IV, XIII, XIV, XV). Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017). 161 p. Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119590 [O presente volume da série Antologia Grega reúne, sob o título possível Epigramas Vários, os livros IV, XIII, XIV e XV da coleção. Em primeiro lugar, os Prefácios que os três antologistas primordiais escreveram (Meleagro, Filipo e Agátias). Em seguida, os restantes livros, ausentes ao que parece da recolha de Céfalas, consistem na sua maioria em textos lúdicos, exercícios poéticos sobre a métrica (livro XIII), a aritmética, as adivinhas e trocadilhos e os oráculos (livro XIV). Quanto ao livro XV, há de ler-se como um autêntico locus spurius de epigramas para o copista do Palatinus, onde copiou peças de cujo valor poético e semântico ele mesmo duvidava. Caso digno de menção é o dos sete (na verdade oito) technopaignia, exemplo antigo de poesia visual.]
- Maria de Fátima Silva: Cáriton. Quéreas e Calírroe. Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017). 229 p. Link: https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/119588 [O romance de Cáriton, Quéreas e Calírroe, pertence ao género ‘romance de amor’, um modelo com grande difusão na literatura grega da época helenística. Apesar de todas as dificuldades de datação, há algum consenso sobre a ideia de que se trata do mais antigo dos textos conservados do mesmo género. Além da sobriedade de estilo e da importância de um texto que repercute toda uma tradição literária anterior, o romance de Cáriton tem, como sua particularidade, uma falsa patine histórica, que resulta da menção de alguns acontecimentos e personagens paradigmáticos.]
Votos de boas leituras e de Festas Felizes.
Delfim Leão
(Classica Digitalia)
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
A Ciência e o Milagre do Sol
Segunda parte do meu artigo que saiu na revista "Fátima XXI" cuja primeira parte está aqui:
http://dererummundi.blogspot.pt/2017/10/a-ciencia-e-o-milagre-do-sol_12.html
http://dererummundi.blogspot.pt/2017/10/a-ciencia-e-o-milagre-do-sol_12.html
A
voz dos cépticos
Vejamos o que disse o já
referido padre Jaki, autor de livros que tentam conciliar a ciência e
o catolicismo. De facto, ele propôs uma teoria meteorológica explicativa
do “milagre”. Jaki,
que só muito mais tarde visitou Fátima, estudou o assunto com bastante cuidado
(por exemplo, não confundiu os dois Almeida Garrett, como muitos antes e depois
dele fizeram) descreveu assim o fenómeno [ 14] :
“... Como muitos presentes sentiram
subitamente um aumento acentuado de temperatura deve ter ocorrido uma repentina
inversão de temperatura. As massas de ar frio e quente poderiam propulsionar
aquela lente de ar rotativa numa órbita elíptica primeiro em direcção à Terra,
e depois empurrá-la, como se fosse um boomerang, de volta à sua posição
original. Enquanto isso, os cristais de gelo agiam como tantos outros meios de
refracção em relação aos raios solares (...) Apenas um observador, um advogado,
afirmou três décadas depois que o caminho da descida e ascensão era elíptico
com pequenos círculos sobrepostos. Tal observação faria um sentido eminente
para qualquer pessoa familiarizada com a dinâmica dos fluidos ou mesmo com o
funcionamento de um boomerang. Há, na verdade, muita informação científica
disponível para abordar cientificamente o milagre do Sol (...) A interacção
cuidadosamente coordenada de tantos factores físicos seria, por si só, um
milagre, mesmo que não se queira ver mais do que aquilo que realmente aconteceu.
Claramente, o "milagre" do sol não foi mais do que um mero fenómeno
meteorológico, ainda que raro. Caso contrário, teria sido observado antes e
depois, independentemente da presença de multidões devotas ou não. Eu
simplesmente considero, o que fiz nos meus outros escritos sobre milagres, que,
ao produzir milagres, Deus geralmente faz uso de um substracto natural
aumentando muito os seus componentes físicos e as suas interações. “
Mas, para ele, se o fenómeno foi natural,
o facto de ter ocorrido no exacto dia prenunciado constituía um milagre. Na
mesma linha vai Diogo Pacheco de Amorim (1918-2013) , professor de Matemática
da Universidade de Coimbra, que em 1962 apresenta um relato bem sistematizado
dos vários testemunhos, na revista O
Instituto [22] e, no final, conclui, comparando-o com um milagre de Cristo
em que tinha havido um vaticínio confirmado, que se estava em presença de um
milagre.
É particularmente interessante por ser
bem informado o artigo do professor Auguste Meessen, que sua análise de aparições
e "milagres do sol" que apresentou no Simpósio Internacional Ciência, Religião e Consciência
realizado no Porto em 2003 [23] afirmou que, sem duvidar da veracidade dos
vários depoimentos, os “milagres do sol” não podiam ser aceites e que as observações
relatadas foram efeitos ópticos causados pela prolongada observação directa do
disco solar. Meessen alega que as imagens residuais na retina, produzidas após
breves períodos de olhar fixo no Sol, são a causa mais provável dos efeitos
observados de dança. Deve notar-se que o próprio José de Almeida Garrett
revelou ter realizado com êxito experiência de alterações visuais ao olhar
fixamente para uma luz branca. Meesen cita um artigo do British Journal of Ophthalmology [24] que discute alguns “milagres
do Sol” posteriores. De facto, ele chama a atenção para o facto de que milagres
do Sol têm sido testemunhados em muitos locais onde peregrinos têm olhado para
o Sol. Ele refere, por exemplo, as aparições em Heroldsbach, na Alemanha, em 1949, onde efeitos ópticos
semelhantes foram testemunhados por mais de dez mil pessoas.
Stuart Campbell, num artigo do Journal of Meteorology de 1989
[25], colocou a hipótese de uma poeira estratosférica que mudou o aspecto do
sol, tornando mais fácil olhar para ele e fazendo com que ele aparecesse amarelo,
azul e violeta e rodasse. Para isso referiu um fenómeno semelhante observado
recentemente na China. Na mesma linha Paul Simons, fala de alguns efeitos
ópticos podem ter sido causados por uma nuvem de poeira vinda do deserto do Sahara [26]. Não me parece plausível essa ideia da nuvem de
poeira pela necessidade de ter tido efeitos numa região maior do país.
Existe
nos Estados Unidos e noutros países uma comunidade céptica, que investiga e
discute fenómenos milagrosos e paranormais. Sobre Fátima, argumentam à partida
como não podia deixar de ser, que não há notícia de qualquer movimento anómalo
do Sol no referido dia que de resto teriam consequências catastróficas:
qualquer variação da distância Terra-Sol acarretaria consequências climáticas
globais. Benjamin Radford, escritor céptico do Committee for the Scientific Investigation of Claims
of the Paranormal (CSICOP), que tem
discutido milagres e OVNI defendeu que "o sol de facto não dançou no céu.
Sabemos isso, evidentemente, porque toda a gente da Terra está sujeita à acção
do sol e se as estrela mais próxima de nos subitamente começa a fazer alguma
ginástica celeste milhares de milhões de pessoas seguramente teriam dado conta
disso.“ [22] Este é também o argumento do biólogo inglês Richard Dawkins,
conhecido opositor da religião, que nos seus livros Decompondo o Arco Íris [27] e a Desilusão
de Deus [28] aborda o fenómeno de Fátima, baseado na posição sobre milagres
do filósofo escocês David Hume: se 70 mil pessoas têm razão que pensar dos
milhares de milhões que não viram nada de anormal acontecer ao mesmo Sol?
Radford sustenta que fenómenos solares ou efeitos psicológicos podem dar conta
do fenómeno. Segundo ele: "Ninguém sugere que as pessoas que disseram que
viram o milagre do Sol – ou outros milagres em Fátima ou noutro sítio estão a
mentir ou a enganar. Em vez disso muito provavelmente experimentaram o que
dizem. Mas a experiência teve lugar na sua maior parte no interior das suas
mentes.“
Uma outra voz dessa comunidade céptica
é Joe Nickel, investigador do CSICOP, que sugere que pode ter sido um parélio , um
fenómeno atmosférico relativamente comum (não parece plausível, por este ser um
efeito estático [ 29] ) ou efeitos visuais causados na retina após exposição à
luz intensa. Esse autor escreveu que o "baile do Sol" observado em
Fátima foi "uma combinação de factores, incluindo efeitos ópticos e
fenómenos meteorológicos, como o sol visto através e nuvens finas, parecendo um
disco prateado. Outras possibilidades incluem uma alteração da densidade das
nuvens que passaram fizeram com que a imagem do Sol alternadamente brilhasse e
diminuísse, aparentando assim um avanço e um retrocesso e poeira ou partículas
de água na atmosfera refractando a luz solar e causasse uma variedade de
cores." [26] Enfatizou ainda o poder de sugestão psicológica das
testemunhas oculares, referindo o caso de outras aparições com milagres do Sol
parecidos.
Um outro autor céptico é Kevin McClure
que, no seu livro The Evidence for Visions of the Virgin Mary [30], diz que a multidão na Cova de
Iria esperava o milagre que tinha sido anunciado. Para ele a multidão
simplesmente viu aquilo que esperava ver.
É
curioso referir que os “milagres do sol” são relativamente comuns. Meessen fala
de aparições e de milagres do sol em vários países. Houve até “milagres do Sol”
bno Vaticano: em 13 de Outubro de 1951, o cardeal italiano Federico Tedeschini
afirma que o Papa Pio VII, que afirmou o dogma da Assunção de Nossa Senhora,
presenciou, em 30 e 31 de Outubro, e 1 e 8 de Novembro, um milagre desse tipo
nos jardins do Vaticano. Deixou notas pessoais sobre ele [31].
Parece estranho este assunto não ter sido aprofundado, uma vez que se trata de
um testemunho do mais alto representante da Igreja Católica. Nos tempos mais
recentes, continuam os “milagres do Sol”, alguns muito parecidos com o de
Fátima, como na Colômbia (2009), na Bósnia-Herzgovina (2009-10) e no Brasil
(2011). Existem dalguns registos em vídeo feitos por amadores que foram
colocados na Internet. Em Portugal, também têm ocorrido outros milagres do Sol.
Registem-se casos recentes em Ourém e mesmo em Fátima [32]. A Igreja tem alguma
dificuldade em lidar com a repetição deste tipo de fenómenos. No caso de
Fátima, há autores que dizem que Fátima se impôs à Igreja em vez de ser a Igreja
a impor Fátima. Verifica-se que outros casos não se impuseram à Igreja.
O
físico polaco Artur Wirowski, da Universidade de Loszd, propôs recentemente em
vários artigos [33-35] uma modelação que reproduz aqueles registos, baseada no
conceito de rotação de cristais de gelo agregados existentes em nuvens. Parece
ser a primeira modelação matemática de “milagres do Sol”. Sendo uma descrição
físico-matemática não trata de questões biológicas e psicológicas.
Conclusões
Não
há dúvida de que muitas pessoas observaram um fenómeno estranho a 13 de Outubro
de 1917. Não existe, com base no que conhecemos da ciência a possibilidade
desse fenómeno ser de natureza astrofísica, Com enorme probabilidade tem uma
causa natural: condições meteorológicas muito particulares e, principalmente,
fenómenos óptico-neuronais que, tendo um padrão comum, diferem necessariamente
conforme os observadores e que têm de resto aparecido noutros sítios e lugares.
Esta última circunstância diminui o carácter extraordinário do “milagre do Sol”
de Fátima.
Nunca, que saiba, foi
reunida numa comissão incluindo crentes e não crentes, num processo
necessariamente interdisciplinar, com o intuito de tentar uma racionalização do
evento desse dia. Há visões parciais. Com ópticas diferentes. Lidos os diversos
depoimentos, uns de 1917 e outros não, percebe-se que será difícil escapar a
uma posição céptica sobre no milagre. Por vezes existe no sector crente uma
tentativa de uso de figuras de autoridade em abono do milagre, de que é exemplo
a alegada presença de um catedrático de Ciências na Cova de Iria. Ora não só
não esteve presente como não há registo de qualquer observação científica do
fenómeno. Esse tipo de erros só pode prejudicar a crença em acontecimentos
milagrosos, mesmo para quem esteja predisposto a fazê-lo. Dá de resto uma
imagem falsa da ciência pois esta não vive de autoridade mas sim de provas.
Mesmo as maiores autoridades podem cometer os maiores erros.
A posição céptica da ciência não impede obviamente que os crentes possam falar de milagres no sentido em que consideram o fenómeno, qualquer que ele seja, manifestação da divindade. Alguns autores falam do milagre da profecia de Lúcia, mas esta não foi muito específica e pode bem ter acontecido que a esperança de um milagre tenha ajudado à ocorrência do fenómeno de visão parecida a um grupo de pessoas. De resto há incongruências no depoimento de Lúcia, como a previsão, colocada na boca de Nossa Senhora, de que a Primeira Guerra Mundial acabaria nesse dia de 13 de Outubro, o que não aconteceu.
A posição céptica da ciência não impede obviamente que os crentes possam falar de milagres no sentido em que consideram o fenómeno, qualquer que ele seja, manifestação da divindade. Alguns autores falam do milagre da profecia de Lúcia, mas esta não foi muito específica e pode bem ter acontecido que a esperança de um milagre tenha ajudado à ocorrência do fenómeno de visão parecida a um grupo de pessoas. De resto há incongruências no depoimento de Lúcia, como a previsão, colocada na boca de Nossa Senhora, de que a Primeira Guerra Mundial acabaria nesse dia de 13 de Outubro, o que não aconteceu.
Historiadores
como José Eduardo Franco e José Cardoso Reis [36], reconhecendo a relevância do
“milagre do Sol” para o fenómeno religioso de Fátima, em vez de falarem
simplesmente de milagre preferem falar do milagre da interpretação de Fátima:
“É mais consistente, e menos sujeito às derivas explicativas da ciência,
situarmos a dimensão transcendente mais no processo de comunicação e
interpretação do que na mecânica invulgar dos fenómenos.”
.
Referências:
(...)
[14] Stanley L. Jaki, A Mind’s Matter: An intelectual Autobiography.
Cambridge IK, William B. Ferdmans Publishing Co., 2002, Cap. 13, “A Portuguese
Proverb” . Ver também: Stanley L. Jaki (1999). God and the Sun at Fatima, ??, Real View Books, 1999.
[15] Auguste Meessen, “Aparições Marianas e “milagres do Sol””,
in Fernando Fernandes, Joaquim Fernandes e Raul Berenguel (org.),
Fátima e Ciência. Investigação
Multidisciplinar Experiências religiosas”, Lisboa: Ésquilo, 2003, pp.
25-50; também publicado em J. Fernandes, N.L. Santos (eds.), Actas do Forum International “Science,
Religion and Conscience”, Porto, 23-25 de Outubro de 2003, Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, 2005,
Consciências, 2, pp. 199-222.
[16] Gonçalo de
Almeida Garrett, reproduzido em Documentação Crítica de
Fátima : Seleção de Documentos (1919-1930), ibidem
[17]
Lisa J. Schwebel. Apparitions, Healings, and Weeping Madonnas:
Christianity and the Paranormal, Paulist Press; 2014.
[18] Costa Brochado, (1952) As Aparições de Fátima, Lisboa:
Portugália, 1952
[19] Fina d’Armada, O
que se passou em Fátima em 1917, Amadora, Livraria Bertrand, 1980; Fina
d’Armada; e Joaquim Fernandes. Intervenção Extraterrestre em Fátima – as
aparições e o fenómeno OVNI, Amadora, Livraria Bertrand, 1982; idem,. As
aparições de Fátima e o fenómeno OVNI, Lisboa, Estampa, 1995; idem. Fátima
– nos bastidores do segredo, Lisboa, Âncora Editora, 2002.
[20]
Richard Feynman, O que é uma Lei Fisica,
Lisboa: Gradiva, 2000.
[21] Diogo Pacheco de Amorim (1960), “O
fenómeno solar de 13 de Outubro de 1917”, O
Instituto, vol. 122.º , p. 145.
[22] M. Hope-Ross, S. Travers, S. and D. Mooney, “Solar
retinopathy following religious rituals”, British
Journal of Ophthalmology (1988), vol. 72(1988): 931–34
[23] S. Campbell, “The Miracle of the Sun at Fátima,” Journal of Meteorology, Vol. 14, Nº. 142, 1989.
[24] P. Simons, “Weather Secrets of Miracle at Fátima,” Times, 17 / February /2005.
[25] Benjamin Radford, “The Lady of Fatima and the
miracle of the Sun”,
https://web.archive.org/web/20150415200520/http://m.livescience.com/29290-fatima-miracle.html
[26]
Richard Dawkins Decompondo
o Arco Íris , Lisboa:
Gradiva, 2000.
[27]
Richard Dawkins, Desilusão
de Deus, Lisboa: Casa das Letras, 2007.
[28] John Nickell, Looking for a Miracle:
Weeping Icons, Relics, Stigmata, Visions, and Healing Cures. [S.l.]:
Prometheus. 1983.
[29] M. Minaert, The
nature of light and colour in the open air, New York: Dover. 1954
[30] Kevin McClure, The Evidence for Visions of the Virgin Mary, New
York; Sterling Pub Co Inc
1984.
[32] http://www.dn.pt/portugal/centro/interior/milagre-do-sol-volta-a-emocionar-peregrinos-2515525.html
[33] A. Wirowski, “Modelling of the Phenomenon
Known as “the Miracle of the Sun” as the Reflection of Light from Ice Crystals
Oscillating Synchronously”, Journal of Modern Physics, 2012, 3, 282-289.
[34] A. Wirowski, “The Non-linear Modeling of the Rotational Vibrations of the
Electrically Charged Cloud of the Ice Crystals”, Open Journal of Mathematical Modeling, Vol. 1, No. 2 (2013), pp.
46-57.
[35] A. Wirowski, “The
Dynamic Behavior of the Electrically Charged Cloud of the Ice Crystals”, Applied
Mathematics and Physics, 2014, Vol. 2, No. 1, 19-26 http://pubs.sciepub.com/amp/2/1/6
http://www.lastampa.it/2017/05/12/vaticaninsider/eng/the-vatican/pius-xii-and-fatima-the-secret-of-the-miracle-of-the-sun-2nNKbwXFRlmkaL695iVSuO/pagina.html
[36] José
Eduardo Franco e Bruno Cardoso Reis, Fátima:
Lugar Sagrado Global, Lisboa: Círculo de Leitores, 2017.
A democratização dos textos primeiros da cultura portuguesa: O acontecimento editorial do ano
Com a devida vénia transcrevo o artigo de Beja Santos que saiu no programa "Vida Alternativa" da Rádio Zero:
Esperei até meados de Dezembro para avaliar a importância dos projetos editoriais mais relevantes. De tudo quanto apareceu no mercado livreiro nada se aproxima das “Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa”, com direção de José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais, edição do Círculo de Leitores, início em 2017, projeto de fôlego, constituído por 80 obras em 30 volumes. O que aqui se dá à estampa são textos e documentos que revelam o pioneirismo em Portugal nos domínios da arte, ciências exatas e ciências humanas, na literatura, na música e noutros domínios do conhecimento. Falamos do mesmo Círculo de Leitores que anos atrás publicou pela primeira vez em Portugal todas as obras do padre António Vieira, empreendimento grandioso que estranhamente nem uma menção ou prémio recebeu. Este projeto envolveu um grande exército, 174 elementos entre investigadores, coordenadores dos volumes, consultores nacionais e internacionais, envolveu universidades nacionais e internacionais, centros de investigação e academias. Um labor sem precedentes e com resultados surpreendentes: os textos de todas as obras foram transcritos, fixados e criteriosamente atualizados a partir das suas versões primeiras.
Trinta volumes com uma seleção dos primeiros textos em português, de história, heráldica edificação moral e crónica biográfica, viagens e descobrimento, ética social e política, geografia e ecologia, e muitíssimo mais. É um registo admirável de 800 anos de história comum, estão aqui os fundamentos que podem permitir uma maior amplitude para o conhecimento da cultura portuguesa, ao alcance do chamado leitor médio., que em circunstância alguma teria acesso a estes textos primigénios. A propósito deste projeto, Carlos Fiolhais esclareceu numa entrevista o que há de transcendente nesta articulação entre a produção cultural e a ciência na história de Portugal: “Os Descobrimentos Portugueses dos séculos XV e XVI constituíram um prelúdio da Revolução Científica, que se deu no século XVII, com Galileu, Newton e outros grandes nomes. No empreendimento marítimo dos portugueses, que pode ser considerado uma primeira globalização, estavam já presentes a observação e a experiência, fundadas na curiosidade, que haveriam de presidir à Revolução Científica. Os portugueses encontraram novas terras, novas espécies minerais, zoológicas e botânicas e novas gentes, com culturas assaz distintas, e souberam reportar o que viram e o que viveram. Alguns instrumentos científicos introduzidos por cientistas seiscentistas, como o telescópio e o relógio mecânico, foram introduzidos na Índia, na China e no Japão pelos navegadores lusos. O mesmo se passou com os conhecimentos matemáticos, astronómicos e físicos do Ocidente, que foram nalguns casos traduzidos para línguas orientais. Mais tardem, no Iluminismo, ocorreu em Portugal uma ressuscitação da Ciência. E foi nessa altura que foram escritos em português os primeiros tratados de anatomia, de física, de química e de engenharia, que não estavam muito desfasados de obras similares que então surgiram noutras línguas nacionais”. O meso investigador dirá mais adiante que “a nossa preocupação foi mesmo oferecer os originais, pedindo a especialistas uma introdução integradora e as notas explicativas necessárias. Cada época histórica tem direito a uma leitura renovada dos textos fundadores da sua cultura e estava na hora de dar aos portugueses e a outros interessados um acesso fácil a esses textos, de modo a que pudessem fazer um juízo atualizado”.
No prefácio ao primeiro livro destas obras pioneiras, e dedicado a cantigas trovadorescas, prosa literária e documentação instrumental, os coordenadores lembram a dificuldade que existe em encontrar nas livrarias edições contemporâneas das obras dos sábios do Renascimento português, que se traduzia numa perda de autoestima cultural, classificado por muitos como o “atraso português”. E esclarece a organização dos 30 volumes, para aguçar o apetite aos leitores. E não se esquecem de anunciar a contingência deste projeto, a seleção não é definitiva nem completa, nele não entraram mais obras das disciplinas aqui representadas, e deixam uma mensagem para um projeto futuro: “Seria interessante fazer uma outra série com obras pioneiras de boa parte dos séculos XIX e XX, de modo a abarcar as áreas do saber que emergiram nessa época, nomeadamente as ciências naturais, a sociologia, a psicologia, a antropologia, a ciências políticas, entre outras”.
Falando dos primeiros textos em português, constata-se a preocupação em enquadrar o leitor quanto à seleção dos textos, situando a lírica, as suas origens, os poetas, as cantigas de diferentes tipos e temas, a prosa literária e os testemunhos escritos que têm a ver com compras-vendas, permutas, doações, testamentos, arrendamentos, e algo mais. O leitor será surpreendido pela beleza das cantigas profanas, pelas cantigas de Santa Maria, pela prosa literária e por um conjunto de documentos que registam a matriz da língua. Lê-se com emoção a cantiga de amigo “Eu, velida, não dormia” onde aparece uma expressão de todo enigmática “Edoi lelia doura”, que Herberto Helder escolheu para título de uma antologia de poesia portuguesa por ele organizada, entende-se que essa expressão era proveniente do árabe e significaria “hoje é a minha vez”. E é bem português o testamento de D. Afonso II, com data de 1214, que assim começa: “Eno nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e salvo, temente o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier reina dona Urraca, e de meus filios, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz mia manda per que, depois mia morte, mia molier e meus filios e meus vassalos e meu reino e todas aquelas cosas que Deus me deu en poder sten en paz e en folgancia”.
Há muitas décadas atrás, havia um recurso para suprir, com seríssimas lacunas, estas obras pioneiras, líamos alguns dos Clássicos da Sá da Costa, de saudosa memória. Este projeto é do maior alento, é um ambicioso grande arco sobre a nossa língua e a vastidão dos nossos conhecimentos.
Para um acontecimento editorial desta grandeza, o nosso agradecimento é coisa menor, um importante é chegar à biblioteca de todos nós.
Beja Santos
~
December 15th, 2017
O QUE É IMPORTANTE DIZER SOBRE AS ROCHAS
Texto elaborado a pensar nos professores e professoras que ensinam geologia nas nossas escolas, mas que seria bom que fosse lido por todo os meus amigos no Facebook e que eles o pudessem partilhar com os amigos deles, com sinceros votos de Feliz Natal.
Qualquer pessoa, mesmo a menos letrada, dirá que as pedras:
- não são fabricadas ou feitas por gente (a ciência diz que são entidades naturais);
- que não se amolgam (a ciência diz que são rígidas);
- que geralmente não se esboroam nem se esfarela (a ciência diz que são coesas);
- que fazem mossa onde quer que batam (a ciência diz que são duras)
Para o cidadão comum, pedra (do grego “pétra”) é, pois, uma entidade natural, rígida, coesa e dura, que se apanha do chão.
Apanhamos uma pedra do chão, mas, quando estudamos, falamos quase sempre de rochas. Num modo de falar corrente, podemos dizer que as pedras são bocado de rocha.
O pior que se pode fazer no ensino das rochas ou das pedras, como toda a gente lhes chama, é apresentá-las desinseridas dos respectivos contextos prático e cultural, precisamente os que têm mais probabilidades de permanecer na formação global do cidadão, em geral, e, naturalmente também, dos estudantes.
Insistir, como tem sido uso e abuso, nas definições estereotipadas e nas listagens para “empinar” e, pior ainda, fazer de tudo isso matéria de ensino obrigatório, tendo em vista a passagem nas provas de avaliação, é um erro grave com consequências conhecidas.
Proceder assim não é ensinar, é amestrar.
Os alunos passam mas continuam a ignorar a matéria que lhes foi debitada. Matéria que lhes seria útil, em termos de bagagem cultural, como cidadãos.
Por esta via, não há formação possível, com a agravante de condenar tal aprendizagem, não só ao esquecimento, como também à sua inclusão no grupo das matérias escolares que se rejeitam ou se detestam, num sentimento que fica para a vida.
Todos falamos de rocha como sinónimo de pedra, com base num conhecimento comum, empírico, vulgar, ligado à experiência quotidiana mesmo do mais iletrado dos cidadãos. Dizemos rochedo quando o afloramento de rocha é grande e apelidamos de rochoso um terreno com a rocha à vista. Rocha é um galicismo que, entre nós, se sobrepôs ao termo “roca”, bem mais antigo, talvez pré-romano. Cabo da Roca, ou “Focinho da Roca” no dizer dos homens do mar, deve o seu nome a esta versão arcaica da palavra rocha.
O conceito actual de rocha e os vários conhecimentos com elas relacionados percorreram uma caminhada tão longa quanto a do "Homo sapiens", caminhada de que temos testemunhos na Pré-história e variadíssimos relatos escritos desde a Antiguidade.
Na sua gíria própria, entendível entre pares, os profissionais falam de rochas, dizendo que são sistemas químicos, mono ou polifásicos (ou seja, com um ou mais minerais), resultantes do equilíbrio termodinâmico atingido pelos seus constituintes em determinados ambientes. Entendendo-se por constituintes os elementos químicos incluídos nos respectivos minerais.
Por outras palavras, acessíveis ao comum das gentes, pode, então, dizer-se que as rochas são corpos naturais formados por associações mais ou menos estáveis de minerais compatíveis entre si e com o ambiente onde foram gerados e que são elas, as rochas, que constituem a capa rígida da Terra que, por essa razão, recebeu o nome de litosfera.
Antes de prosseguir esclareça-se que, no jargão próprio da mineralogia e da geoquímica, os minerais são considerados fases, no sentido físico-químico da palavra. Com efeito, neste sentido, uma fase é uma porção de matéria química e estruturalmente homogénea, e, uma qualquer espécie mineral, é isso mesmo.
Por convenção na sistemática em sedimentologia, entre as rochas sedimentares cabem certos materiais não consolidados como os barros, as areias soltas, as cascalheiras e ainda outros, de natureza não mineral, como os carvões fósseis e o petróleo (óleo de pedra). Chamar rochas ou pedras a estes materiais, às vezes tão afastados da imagem vulgar de “coisa dura, rígida e coesa”, decorre do conceito geológico de rocha, no qual se inclui o modo de ocorrência e o respectivo processo de formação (petrogénese).
A mecânica das rochas (disciplina que estuda certas propriedades das rochas como resistência ao esmagamento, à tracção, à torção, à flexão, porosidade, permeabilidade e outras) define-as como entidades sempre rígidas e coesas e duras, como também se diz, vulgarmente) com capacidade de suportar cargas e que, na eventualidade de terem de ser escavadas ou removidas, há que usar tecnologias com explosivos. Este conceito corresponde, aliás, à ideia mais divulgada de rocha, como atrás se referiu. É o "bedrock" dos autores ingleses.
Além das muitas que conhecemos na Terra, já estudámos rochas do nosso satélite natural, nomeadamente, basaltos e anortositos trazidos da sua superfície. Mercúrio, Vénus e Marte são também planetas rochosos e igualmente rochosos ou pedregosos são ainda os núcleos dos cometas e muitos dos asteróides, de que temos conhecimento pelos meteoritos caídos na Terra.
Quando se apelidam as rochas de magmáticas, sedimentares ou metamórficas não se está apenas a rotulá-las para efeitos de arrumo ou arquivo, muito menos se estão a criar novos vocábulos para sobrecarga dos estudantes ou do cidadão em geral. Estes adjectivos acrescentados à palavra rocha informam, de imediato, sobre a sua origem:
- magmática ou sedimentar, qualquer delas em resultado de processos naturais fáceis de entender;
- metamórfica, em consequência de um outro processo, muito menos ao alcance da vivência do vulgo, mas que se explica sem grandes dificuldades.
Apelidam-se de metamórficas as rochas que, posteriormente a uma primeira formação, como magmáticas ou sedimentares, foram submetidas a pressões e/ou a temperaturas, no interior da crosta, que lhes modificaram, a composição e/ou a textura.
Foi através do estudo das rochas que desvendámos o essencial dos acontecimentos geológicos que marcaram a história deste «Planeta Azul», no qual a vida encontrou condições para despertar e onde evoluiu ao ponto de se interrogar sobre essa mesma história.
Os conhecimentos directos, de que hoje dispomos, relativos às rochas da Terra limitam-se aos que se obtêm pelo estudo das que afloram à superfície, das recolhidas em dragagens nos fundos marinhos e das retiradas da profundidade, quer em minas, quer através de sondagens. Esta profundidade, que não excede 3 km, no primeiro caso, e 11 km, no segundo (na península de Kola), pode considerar-se insuficiente, se comparada com as três a quatro dezenas de quilómetros de espessura média da crosta continental.
É já muito o conhecimento que temos desta capa (a crosta ou crusta, como alguns dizem e escrevem) mais superficial do nosso planeta. Temo-lo através das rochas que constantemente vemos e pisamos, muitas delas geradas em zonas profundas, trazidas à superfície pelos enrugamentos de origem tectónica, geradores das montanhas, e, subsequentemente, postas a descoberto pela erosão.
Outras rochas próprias de muito maiores profundidades, inclusive do manto inferior, como é o caso dos xenocristais e dos xenólitos, isto é, cristais e fragmentos de materiais líticos gerados nessas regiões e que ascendem à superfície, na sequência de actividade vulcânica, englobados ou encravados nos produtos magmáticos que ali se formaram ou por ali passaram. Na ilha da Madeira, por exemplo, são frequentes os xenólitos olivínicos que ascenderam até à superfície no seio das lavas envolvidas no processo vulcânico que originou esta e muitas outras ilhas.
As rochas a que temos acesso mais ou menos directo representam uma parcela importante da diferenciação da Terra e, à semelhança da água, do ar e dos seres vivos são o resultado de imensas transformações, numa vasta e complexa rede de interrelações ocorridas ao longo dos tempos neste «planeta vivo», pleno ainda de energia interna (sob a forma de calor) a que se adiciona toda a que lhe chega do exterior, isto é, a radiação solar. Como escreveu Maurice Mattauer, "as pedras nascem, vivem e morrem; como nós; elas têm uma idade e uma história".
Petrologia e litologia são duas disciplinas que estudam as rochas ou as pedras. Se bem que os étimos petra (latim) e lithos (grego) sejam sinónimos, petrologia e litologia encerram conceitos diferentes, ainda que relacionados entre si.
- A petrologia é um ramo da geologia com dimensão de ciência, de vastos recursos nos campos da física, da química e, naturalmente, também, da matemática, em busca do conhecimento da origem, natureza, constituição e evolução da Terra no âmbito do Sistema Solar e do Universo.
- A litologia, outro ramo da geologia, é habitualmente entendida como a disciplina que estuda as rochas num campo prático. Serve a geologia de engenharia, tendo em vista a implantação de grandes edifícios e outras obras volumosas, cujas fundações exigem o conhecimento dos terrenos. A litologia dá igualmente respostas à pedologia (o estudo dos solos) e à indústria extractiva de rochas ornamentais, usadas na arquitectura, na cantaria ou na estatuária, e de rochas industriais, exploradas como importantes matérias-primas para a construção civil, a cerâmica, o vidro, o cimento, a cal e a indústria química.
A. Galopim de Carvalho
Qualquer pessoa, mesmo a menos letrada, dirá que as pedras:
- não são fabricadas ou feitas por gente (a ciência diz que são entidades naturais);
- que não se amolgam (a ciência diz que são rígidas);
- que geralmente não se esboroam nem se esfarela (a ciência diz que são coesas);
- que fazem mossa onde quer que batam (a ciência diz que são duras)
Para o cidadão comum, pedra (do grego “pétra”) é, pois, uma entidade natural, rígida, coesa e dura, que se apanha do chão.
Apanhamos uma pedra do chão, mas, quando estudamos, falamos quase sempre de rochas. Num modo de falar corrente, podemos dizer que as pedras são bocado de rocha.
O pior que se pode fazer no ensino das rochas ou das pedras, como toda a gente lhes chama, é apresentá-las desinseridas dos respectivos contextos prático e cultural, precisamente os que têm mais probabilidades de permanecer na formação global do cidadão, em geral, e, naturalmente também, dos estudantes.
Insistir, como tem sido uso e abuso, nas definições estereotipadas e nas listagens para “empinar” e, pior ainda, fazer de tudo isso matéria de ensino obrigatório, tendo em vista a passagem nas provas de avaliação, é um erro grave com consequências conhecidas.
Proceder assim não é ensinar, é amestrar.
Os alunos passam mas continuam a ignorar a matéria que lhes foi debitada. Matéria que lhes seria útil, em termos de bagagem cultural, como cidadãos.
Por esta via, não há formação possível, com a agravante de condenar tal aprendizagem, não só ao esquecimento, como também à sua inclusão no grupo das matérias escolares que se rejeitam ou se detestam, num sentimento que fica para a vida.
Todos falamos de rocha como sinónimo de pedra, com base num conhecimento comum, empírico, vulgar, ligado à experiência quotidiana mesmo do mais iletrado dos cidadãos. Dizemos rochedo quando o afloramento de rocha é grande e apelidamos de rochoso um terreno com a rocha à vista. Rocha é um galicismo que, entre nós, se sobrepôs ao termo “roca”, bem mais antigo, talvez pré-romano. Cabo da Roca, ou “Focinho da Roca” no dizer dos homens do mar, deve o seu nome a esta versão arcaica da palavra rocha.
O conceito actual de rocha e os vários conhecimentos com elas relacionados percorreram uma caminhada tão longa quanto a do "Homo sapiens", caminhada de que temos testemunhos na Pré-história e variadíssimos relatos escritos desde a Antiguidade.
Na sua gíria própria, entendível entre pares, os profissionais falam de rochas, dizendo que são sistemas químicos, mono ou polifásicos (ou seja, com um ou mais minerais), resultantes do equilíbrio termodinâmico atingido pelos seus constituintes em determinados ambientes. Entendendo-se por constituintes os elementos químicos incluídos nos respectivos minerais.
Por outras palavras, acessíveis ao comum das gentes, pode, então, dizer-se que as rochas são corpos naturais formados por associações mais ou menos estáveis de minerais compatíveis entre si e com o ambiente onde foram gerados e que são elas, as rochas, que constituem a capa rígida da Terra que, por essa razão, recebeu o nome de litosfera.
Antes de prosseguir esclareça-se que, no jargão próprio da mineralogia e da geoquímica, os minerais são considerados fases, no sentido físico-químico da palavra. Com efeito, neste sentido, uma fase é uma porção de matéria química e estruturalmente homogénea, e, uma qualquer espécie mineral, é isso mesmo.
Por convenção na sistemática em sedimentologia, entre as rochas sedimentares cabem certos materiais não consolidados como os barros, as areias soltas, as cascalheiras e ainda outros, de natureza não mineral, como os carvões fósseis e o petróleo (óleo de pedra). Chamar rochas ou pedras a estes materiais, às vezes tão afastados da imagem vulgar de “coisa dura, rígida e coesa”, decorre do conceito geológico de rocha, no qual se inclui o modo de ocorrência e o respectivo processo de formação (petrogénese).
A mecânica das rochas (disciplina que estuda certas propriedades das rochas como resistência ao esmagamento, à tracção, à torção, à flexão, porosidade, permeabilidade e outras) define-as como entidades sempre rígidas e coesas e duras, como também se diz, vulgarmente) com capacidade de suportar cargas e que, na eventualidade de terem de ser escavadas ou removidas, há que usar tecnologias com explosivos. Este conceito corresponde, aliás, à ideia mais divulgada de rocha, como atrás se referiu. É o "bedrock" dos autores ingleses.
Além das muitas que conhecemos na Terra, já estudámos rochas do nosso satélite natural, nomeadamente, basaltos e anortositos trazidos da sua superfície. Mercúrio, Vénus e Marte são também planetas rochosos e igualmente rochosos ou pedregosos são ainda os núcleos dos cometas e muitos dos asteróides, de que temos conhecimento pelos meteoritos caídos na Terra.
Quando se apelidam as rochas de magmáticas, sedimentares ou metamórficas não se está apenas a rotulá-las para efeitos de arrumo ou arquivo, muito menos se estão a criar novos vocábulos para sobrecarga dos estudantes ou do cidadão em geral. Estes adjectivos acrescentados à palavra rocha informam, de imediato, sobre a sua origem:
- magmática ou sedimentar, qualquer delas em resultado de processos naturais fáceis de entender;
- metamórfica, em consequência de um outro processo, muito menos ao alcance da vivência do vulgo, mas que se explica sem grandes dificuldades.
Apelidam-se de metamórficas as rochas que, posteriormente a uma primeira formação, como magmáticas ou sedimentares, foram submetidas a pressões e/ou a temperaturas, no interior da crosta, que lhes modificaram, a composição e/ou a textura.
Foi através do estudo das rochas que desvendámos o essencial dos acontecimentos geológicos que marcaram a história deste «Planeta Azul», no qual a vida encontrou condições para despertar e onde evoluiu ao ponto de se interrogar sobre essa mesma história.
Os conhecimentos directos, de que hoje dispomos, relativos às rochas da Terra limitam-se aos que se obtêm pelo estudo das que afloram à superfície, das recolhidas em dragagens nos fundos marinhos e das retiradas da profundidade, quer em minas, quer através de sondagens. Esta profundidade, que não excede 3 km, no primeiro caso, e 11 km, no segundo (na península de Kola), pode considerar-se insuficiente, se comparada com as três a quatro dezenas de quilómetros de espessura média da crosta continental.
É já muito o conhecimento que temos desta capa (a crosta ou crusta, como alguns dizem e escrevem) mais superficial do nosso planeta. Temo-lo através das rochas que constantemente vemos e pisamos, muitas delas geradas em zonas profundas, trazidas à superfície pelos enrugamentos de origem tectónica, geradores das montanhas, e, subsequentemente, postas a descoberto pela erosão.
Outras rochas próprias de muito maiores profundidades, inclusive do manto inferior, como é o caso dos xenocristais e dos xenólitos, isto é, cristais e fragmentos de materiais líticos gerados nessas regiões e que ascendem à superfície, na sequência de actividade vulcânica, englobados ou encravados nos produtos magmáticos que ali se formaram ou por ali passaram. Na ilha da Madeira, por exemplo, são frequentes os xenólitos olivínicos que ascenderam até à superfície no seio das lavas envolvidas no processo vulcânico que originou esta e muitas outras ilhas.
As rochas a que temos acesso mais ou menos directo representam uma parcela importante da diferenciação da Terra e, à semelhança da água, do ar e dos seres vivos são o resultado de imensas transformações, numa vasta e complexa rede de interrelações ocorridas ao longo dos tempos neste «planeta vivo», pleno ainda de energia interna (sob a forma de calor) a que se adiciona toda a que lhe chega do exterior, isto é, a radiação solar. Como escreveu Maurice Mattauer, "as pedras nascem, vivem e morrem; como nós; elas têm uma idade e uma história".
Petrologia e litologia são duas disciplinas que estudam as rochas ou as pedras. Se bem que os étimos petra (latim) e lithos (grego) sejam sinónimos, petrologia e litologia encerram conceitos diferentes, ainda que relacionados entre si.
- A petrologia é um ramo da geologia com dimensão de ciência, de vastos recursos nos campos da física, da química e, naturalmente, também, da matemática, em busca do conhecimento da origem, natureza, constituição e evolução da Terra no âmbito do Sistema Solar e do Universo.
- A litologia, outro ramo da geologia, é habitualmente entendida como a disciplina que estuda as rochas num campo prático. Serve a geologia de engenharia, tendo em vista a implantação de grandes edifícios e outras obras volumosas, cujas fundações exigem o conhecimento dos terrenos. A litologia dá igualmente respostas à pedologia (o estudo dos solos) e à indústria extractiva de rochas ornamentais, usadas na arquitectura, na cantaria ou na estatuária, e de rochas industriais, exploradas como importantes matérias-primas para a construção civil, a cerâmica, o vidro, o cimento, a cal e a indústria química.
A. Galopim de Carvalho
APRESENTAÇÂO EM COIMBRA DE "A CIÊNCIA E OS SEUS INIMIGOS"
Na segunda-feira, 18 de Dezembro de 2017, às 18h, vai ter lugar no RÓMULO Centro Ciência Viva Universidade Coimbra, a apresentação do livro "A Ciência e os seus Inimigos" da autoria de Carlos Fiolhais e David Marçal.
SINOPSE DO LIVRO
A ciência tem poderosos inimigos. Desde logo o autoritarismo e a ignorância, que muitas vezes andam de braço dado. A ciência tem-nos permitido viver cada vez mais e melhor. Mas enfrenta hoje sérios adversários, que põem em causa a nossa segurança e o nosso bem-estar. Impõe-se por isso a defesa da ciência, que é também a defesa da democracia. A ciência precisa da liberdade de pensamento que é marca das democracias. Mas as democracias também precisam da razão da ciência para assegurar prosperidade e bem-estar. A defesa da ciência é também a defesa da sociedade livre e aberta.
Um novo livro com histórias de ciência, de dois autores e divulgadores de ciência bem conhecidos do público português: Carlos Fiolhais e David Marçal. Aqui se analisam temas muito actuais à luz da ciência, com um misto de informação, interesse e humor, tornando o livro apelativo para múltiplos leitores.
NTRADA LIVRE
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
Conferência do Solstício - Física Quântica
A IV Conferência do Solstício deste ano será dedicada à 'Física Quântica'.
A oradora convidada, Patrícia Gonçalves, irá explicar de modo claro, este tema, a todos os que queiram conhecer melhor a disciplina.
A iniciativa terá lugar na Escola-Oficina nº1, no Largo da Graça, em Lisboa, no dia 16 de Dezembro, às 18h.
A Patrícia Gonçalves é investigadora do 'LIP - Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas' e docente no 'Instituto Superior Técnico'.
A entrada é gratuita, mas a inscrição é obrigatória.
Mais informações:
Local: Escola-Oficina nº1, Largo da Graça, 58, Lisboa
Data: 16 de Dezembro, 18h
Organização: COMCEPT - Comunidade Céptica Portuguesa
Ver mais: aqui.
A oradora convidada, Patrícia Gonçalves, irá explicar de modo claro, este tema, a todos os que queiram conhecer melhor a disciplina.
A iniciativa terá lugar na Escola-Oficina nº1, no Largo da Graça, em Lisboa, no dia 16 de Dezembro, às 18h.
A Patrícia Gonçalves é investigadora do 'LIP - Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas' e docente no 'Instituto Superior Técnico'.
A entrada é gratuita, mas a inscrição é obrigatória.
Mais informações:
Local: Escola-Oficina nº1, Largo da Graça, 58, Lisboa
Data: 16 de Dezembro, 18h
Organização: COMCEPT - Comunidade Céptica Portuguesa
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