Não sabemos ao certo, mas podemos colocar a hipótese, muito plausível, de a censura da expressão humana, nas suas mais diversas concretizações, ser tão antiga quanto essa mesma expressão.
Por razões e/ou interesses diversos, organizações ou pessoas desaprovam, reprovam, condenam manifestações de outrem. Tendo poder para tanto, em nome da salvaguarda de valores que, num determinado contexto, se afiguram estimáveis, afastam, escondem, proíbem, destroem essas manifestações. E isso pode acontecer de diversas maneiras, menos ou mais institucionalizadas.
A arte tem sido um campo particularmente visado pela censura, estando os livros no topo das suas prioridades. Religiões e Estados, independentemente das orientações que assumem, aproximam-se nos mecanismos censórios que adoptam e na persistência com que os usam. A estas duas organizações, mais óbvias, podemos acrescentar, no presente, grupos sociais cujo cimento são ideologias bem marcadas e cujos mecanismos não são menos eficazes, nem a sua acção menos persistente.
Nas última décadas, a "censura beneficente" (evito a designação "censura do politicamente correcto"), de matriz anglo-saxónica, tem "cortado a direito" em livros que entram ou podem entrar na escola, nem Sócrates ou Kant ficam inteiros (ver, por exemplo, aqui, aqui, aqui, aqui). Os manuais escolares são delineados, em parte, pela sua bitola e, ainda assim, certas editoras têm tido sarilhos.
Contra essa censura, está a formar-se uma outra que, parecendo ir em sentido contrário, é exactamente da mesma natureza. Vem dos Estados Unidos, da presente administração político-partidária, que, em escassos dias, produziu dois memorandos a que o sistema educativo fica obrigado, sendo um deles vinculativo para os doze anos de escolaridade no que toca, em concreto, aos livros a que os alunos podem ter acesso (ver aqui e aqui).
Dizem as notícias acerca desta censura que julgo ainda não ter designação (ver, por exemplo, a do The Guardian, aqui):
O Departamento de Defesa divulgou um memorando no qual se afirma estar a examinar os livros “potencialmente relacionados com a ideologia do género ou com temas discriminatórios da ideologia da igualdade".
Um dos livros é assinado por uma famosa actriz e, tanto quanto pude perceber, pouco terá a ver com essas "ideologias". Mas, como se sabe, a censura, quando se instala, leva tudo a eito. Eis a história contada em pouco mais de um minuto:
2 comentários:
A liberdade de impor aos outros as nossas ideias tem tudo a ver com a liberdade de expressão. As liberdades podem ser amplas, como as considerava Álvaro Cunhal, mas não podem ser absolutas, no sentido de cada um poder fazer tudo aquilo que lhe dê na gana. Assim também com a liberdade de expressão: há palavras que ferem tanto como facas. Ninguém deve ter a liberdade de andar a esfaquear os outros só porque lhe apetece: se tiver má língua deve ser castigado, quer dizer, a sua liberdade deve ser coercivamente limitada, despejando-lhe na boca uma saqueta inteira de pimenta em pó, por exemplo.
Pelo o que acima fica exposto, é evidente que quem estabelece os limites das liberdades é quem pode! Em última análise, quem tem poder político é quem tem poder bélico e poder financeiro. Portanto, quem manda no nosso mundo, onde se incluem as nossas escolas EB 1,2,3 + JI + S, são os americanos do norte, os chineses e mais dois ou três endinheirados.Tal como a Igreja Oficial, dos últimos tempos do Império Romano, veio a impor a mais de meio mundo, porque teve posses para isso, as histórias que todos deviam conhecer, e os livros que deviam ser proibidos e queimados, também os atuais senhores do mundo é que decidem quais os livros, incluindo manuais escolares, que devem ser censurados ou revistos e alterados.
Resumindo, ou a Europa se liberta da canga que os Estados Unidos lhe puseram no cachaço, após a Segunda Guerra Mundial, transformando-se numa autêntica União Europeia, com forças armadas a condizer com o seu poderio económico, ou, no campo da educação e cultura, por exemplo, só lhe resta ir atrás das restrições à liberdade de expressão, a todos os níveis, que a administração americana achar mais convenientes para si, por mais absurdas que sejam, para nós.
Lema: vivam e deixem viver cada um como entender!! Também ninguém tem o direito de despejar nada na boca de outro sob pena de poder vir a ser igualmente esfaqueado. De vingança em vingança vai mal o mundo! Aceitemo-nos uns aos outros dentro da lei e do respeito.
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