Passados quase dez anos poderemos dizer que esta iniciativa, com respaldo na Constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases do Sistema Educativo, foi atendida pela tutela, pelas autarquias, pelas escolas e, em última instância, pelos seus directores e professores?
De modo algum.
De então até ao presente, a escola pública escancarou as suas portas, janelas e postigos a esta entidade que continua imparável na sua marcha evangelizadora, a todas as empresas que declaram querer ajudar os "mais desfavorecidos", com especial destaque para os sectores de banca e das seguradoras, que andaram muito tempo associados.
Mais uma vez, entidades não educativas e com interesses privados entram na escola pública para "dar uma aula". Ora, quem "dá aulas" são os professores!
Abrirmos a porta a alguém - "líderes empresariais" - que ocupa indevida e ilegitimamente o nosso lugar. Alguém que ainda tem a veleidade de explicar que o "objectivo é o de valorizar o trabalho dos professores!
Leia-se a notícia (os destaques são meus):
A Teach For Portugal (TFP) lançou o desafio a líderes empresariais para darem uma aula a alunos do segundo ciclo em escolas que servem contextos desfavorecidos. O objectivo é o de valorizar o trabalho dos professores que trabalham diariamente para que todos os alunos tenham a oportunidade que precisam para atingir o seu máximo potencial (...) Os líderes empresariais estão a preparar aulas em conjunto com professores e mentores TFP, adaptando o conteúdo às necessidades e perfis dos alunos (...) vão partilhar a sua experiência directamente em sala de aula, promovendo uma conexão entre o sector empresarial e o educativo. Através desta iniciativa, os alunos terão acesso a uma aprendizagem prática e colaborativa, enquanto os líderes empresariais conhecerão de perto a realidade diária das escolas públicas portuguesas.
5 comentários:
Mais do que o ouro ou a Ciência, que se podem comprar, a base da riqueza dos indivíduos e das nações são os negócios, lucrativos para nós, que celebramos com os outros. Vai daí, se queremos ficar ricos, nas escolas deve-se ensinar, sobretudo, a negociar. "O sonho comanda a vida" é poético, mas quem manda no mundo é o dinheiro! No século XV, guiados pelo antigo evangelho (boa nova), na versão católica, os portugueses descobriram novas terras e novas gentes, mas depois não souberam negociar, e agora ficaram tão "pobrezinhos" como a maioria dos alunos das nossas escolas EB + S. Como ultrapassar esta triste sina?
Desprezando o Evangelho dos católicos nas escolas EB + S e jardins de infância, e substituindo-o pelo Evangelho dos evangelistas americanos e pela filosofia ubuntu que enaltecem a posse de muito dinheiro.
Para rematar, basta substituir todos os professores por empreendedores económicos e alcançaremos a felicidade plena que só os empanturrados de dinheiro podem ter.
Talvez a melhor forma de não desejar nada seja desejar impossíveis. Talvez a melhor forma de não querer nada seja pedir tudo. Talvez a melhor forma de não fazer nada seja achar que já se fez tudo.
Os humanos são contrariados, frustrados, para não dizer traídos, por via da sua natureza peculiar de seres vivos, que praticam actos, conscientes, racionais, intencionais. Se compararmos o modo de proceder da IA, por exemplo, com o modo de actuar dos humanos, talvez seja mais fácil entender o que pretendo dizer.
No mundo da natureza “não viva”, incluindo o das máquinas e da IA, as causas e os efeitos têm uma relação mecânico-causal linear de simples precedência que faz com que seja possível conhecer, determinar e replicar essa relação. No mundo da natureza viva, mormente humana, tudo se passa de uma forma peculiar, contra-intuitiva e estranhamente “invertida”.
António Gedeão acertou na “mouche” e disse, na forma poética, “o sonho comanda a vida”, aquilo que eu digo com a minha teoria do “dever-ser” que rege o acto humano, seja numa situação de escolha lógica e científica, seja numa situação de escolha hipotética e de incerteza, mais ou menos relativa, quanto aos efeitos.
Está tudo muito bem...
Mas Vossa Excelência é mais por uma escola EB 1,2,3 + S, dirigida para o conhecimento e a inteligência, regida por professores licenciados, de preferência, por universidades, ou é mais por uma escola EB 1,2,3 +S orientada para o mundo empresarial dos negócios, onde todas as criancinhas e adolescentes, principalmente os mais pobrezinhos, não percam tempo com subtilezas escolares inúteis e recebam diretamente de capitalistas milionários o segredo de fazer fortunas?
Excelentíssimo Anónimo, entre ser saudável, rico e amado, ou ser doente, pobre e odiado, não há escolha possível.
Quer dizer, Vossa Excelência acredita que os professores devem ser substituídos por pais natais, quais autênticos nababos, para que todos os pobrezinhos, obrigados a ir à escola, fiquem obrigatoriamente ricos, no sentido de poderem vir a nadar em piscinas cheias de dinheiro vivo (notas e moedas) ?!
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