Imagem recolhida no jornal El País: aqui |
Depois de Segunda Grande Guerra, o Ocidente declarou "nunca mais": nunca mais à destruição, à perseguição, à tortura, ao medo, à iniquidade; nunca mais a tudo aquilo que atente contra a dignidade humana e o extenso rol de valores éticos que concorrem para ela. Urgia ampliar e reforçar a educação escolar: era nela que, numa recuperação de princípios iluministas caídos por terra, deveria assentar a nova Paz.
As guerras - e tudo o que abeira delas - mantiveram-se entre países, povos e regiões, ideologias e facções. Essa educação não parece, então, fazer muita diferença; algo se lhe sobrepõe e anula os que supomos serem os seus efeitos positivos.
Mas há, como sempre houve, outro lado da realidade: o da insistência, colectiva e/ou individual, na possibilidade de se estar neste mundo, de nascer, viver e morrer, de acordo com princípios decentes.
Muitos reconhecem no escritor Salman Rushdie um exemplo maior dessa insistência. Não escolheu o estatuto mas também não fugiu dele. Tendo estado há pouco tempo em Espanha, por causa da publicação do seu último livro, reconheceu, numa entrevista a Andrea Aguilar, que o presente é, à escola global, "um momento terrível”. Ainda assim, a jornalista destaca nele a sua "inteligência e a total ausência de fanatismo", a que "se soma um senso de humor que protege contra a arrogância intelectual, a obsessão ou a amargura". Extraordinário para quem tem, desde há três décadas, os passos tão limitados numa quase prisão e que, mais recentemente, sofreu um ataque que lhe deixou marcas permanentes no corpo.
Por ser um exemplo, que, no caso, toca a abnegação e a coragem, Aguilar recupera no seu texto no El País (ver aqui), o que o também escritor e tradutor Javier Cercas declarou: “proteger Salman Rushdie é proteger a civilização”.
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