sábado, 18 de maio de 2024

CELEBRANDO O QUINZE

 


Meu artigo no mais recente número do quinzenário cultural As Artes entre as Letras, que hoje celebra no Porto os seus 15 anos:

O número quinze tem significado religioso por ser o produto de dois números sagrados (3 x 5), que na matemática constituem o primeiro par de gémeos de números primos (primos separados por duas unidades). Se somarmos os cinco primeiros números naturais, 1 + 2 + 3 + 4 + 5, também obtemos 15.  É um número importante na ciência, para além da matemática: é o número atómico do fósforo, o elemento químico cujo nome significa luz brilhante, e é o número da galáxia M15, um dos agregados de estrelas mais notáveis da nossa galáxia.

Mas é também um número relevante na nossa vida. Nos Estados Unidos é a idade mínima para poder obter carta de condução. Na América latina, há a tradição da festa das quinceaneras, celebrando a transição para a maturidade. Em França é a idade mínima para o consentimento sexual. Na cultura judaica, é o número mínimo de casas para poder ter uma sinagoga. E várias datas festivas ocorrem no dia 15. Ainda nessa cultura, uma particularidade curiosa: o número não se escreve com 10 (yodh) e 5 (heh) porque a junção daria um dos nomes de Deus, escrevendo-se antes com 9 (teth)  e 6 (vav).

Quinze é um número que entra de várias formas na cultura. É o número de categorias na Ordem dos Templários. E é ainda o número de mortos num poema cantado por piratas na Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson («Fifteen me non the dead man’s chest»). E é o número de jogadores de uma equipa de rugby.

Mas, hoje e aqui, quinze é sobretudo o número de anos do magazine cultural As Artes entre as Letras.  É uma festa para todos, a começar na equipa que o faz com regularidade desde o primeiro número em Maio de 2009, encabeçada pela sempre jovem Nassalete Miranda, e a acabar no colaborador permanente e membro do Conselho Editorial desde a primeira hora que assina estas linhas. Como a revista é quinzenal, o número quinze está inscrito no seu calendário desde o início. Portanto, foram quinze anos, de quinze em quinze dias, com várias e boas leituras sobre os mais variados temas de filosofia, história e património, artes plásticas e arquitectura, literatura, música, teatro, cinema, ciência, educação, etc., com uma atenção especial dada à lusofonia e à região Norte. Assinados por uma plêiade de autores das nossas letras e artes, infelizmente alguns deles já falecidos.  É só fazer as contas para ver o número de exemplares acumulados cujo rico conteúdo se foi acumulando em nós. Falo por mim, mas arrisco pensar que este sentimento é partilhado por muitos outros autores: estamos bem mais ricos ao fim destes quinze anos. Estou grato ao Artes e a quem o tem feito.

Os quinze anos correram muito rápidos, porque é assim que corre o tempo. Lembro-me que 2009 foi o Ano Internacional da Astronomia, por determinação das nações Unidas, para comemorar os 400 anos das primeiras observações que Galileu fez com o telescópio. Mas, com o auxílio da Internet (que é um excelente auxiliar de memória), lembro-me de alguns feitos da ciência nesses anos.  A começar pelo espaço, a ESA, a agência espacial europeia, lançou em Maio duas missões de satélites que tiveram impressionante êxito, os telescópios espaciais Planck e Herschel, o primeiro de raios X e o segundo de infravermelhos. A NASA lançou a sonda Kepler, que detectou centenas de exoplanetas. Foi encontrada água no pólo Sul da Lua e um lago subterrâneo de água em Marte. O eclipse solar total mais longo do século XXI ocorreu na China e na Índia, os países mais populosos do planeta (foi, portanto, o mais visto de sempre). Já era bem visível o aquecimento global, com uma onda de calor na Austrália, tendo havido no final do ano uma Conferência Internacional das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas em Copenhaga. Na informática a Microsoft lançou o Windows 7 e a Apple o Iphone 3GS (o Windows já vai no 11 e o Iphone no... 15). Foram feitas as primeiras transmissões de televisão de alta-definição.

Na política, o Prémio Nobel da Paz foi dado inesperadamente a Barack Obama, presidente dos Estados Unidos há relativamente pouco tempo. A Rússia e a Ucrânia estavam em disputa pelo gás natural. E o primeiro-ministro então eleito de Israel era… Benjamin Netanyahu.

Foi também um ano de algumas desgraças: caiu um avião francês (voo 447 da Air France do Rio de Janeiro para Paris) no meio do Atlântico (pouco antes tinha escapado, com uma aterragem forçada no Hudson, um avião norte-americano), houve um grande terramoto em Áquila, no centro de Itália. E houve a primeira pandemia do século XXI, a da gripe A (estava-se longe em 2009 de se imaginar a da COVID-19, dez anos depois).

Nas artes, o Nobel da literatura foi dado à alemã Herta Mueller. A Disney comprou a Marvel, a companhia dos super-heróis. E foi o ano da morte de Michael Jackson, provocando enorme comoção em todo o mundo.

Hoje, 15 anos depois, a ciência e a tecnologia progrediram; veja-se, por exemplo, o caso espantoso da inteligência artificial. Mas o mundo, continua convulso com disputas e desastres. Valem-nos, como sempre nos tem valido, as artes e as letras. O As Artes entre as Letras tem-nos valido nos últimos 15 anos. Que nos continue a valer por muitos anos!

Carlos Fiolhais

 

 

 

 

 

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