Meu artigo no último As Artes entre as Letras:
A pandemia de COVID-19 já dura há
mais de ano e meio e, enquanto ela dura, vai crescendo nas livrarias o número
de livros sobre epidemias, não apenas a actual, mas também as muitas que a
precederam ao longo da história. De início fui coleccionando os livros que
saíam, mas, a partir de certa altura, tornou-se impossível continuar, pois a
conta excedia os limites do razoável. Mas mantenho um canto na estante para a
história das epidemias, que é um assunto tão fascinante quanto inesgotável. Esta
última afirmação é comprovada pelo recente aparecimento, na língua portuguesa,
de quatro novos livros que resultam de traduções de edições anglo-americanas.
As quatro obras apresentam um visão da história global das epidemias. Tentando
ajudar leitores interessados, recenseio-os aqui brevemente, resumindo os
pergaminhos dos seus autores e as principais mensagens que eles transmitem. Estou
certo alguns deles, pela profundidade da sua visão, merecem recensões mais
extensas. A ordem é alfabética do apelido do autor:
-
Niall Ferguson, Condenação. A Política da Catástrofe, Temas e
Debates – Círculo de Leitores.
Ferguson (n. 1964), escocês naturalizado
norte-americano, é um dos historiadores mais conhecidos da actualidade, sendo vários
os seus livros já publicados em português. Nomeio, entre outros e por ordem
cronológica inversa, A Guerra do Mundo (Relógio d’Água, 2021), A Ascensão
do Dinheiro (Relógio d’Água, 2021), A Praça e a Torre (Temas e Debates,
2018), O Declínio do Ocidente (Dom Quixote, 2014) e Império (Civilização,
2013). O autor ensina na Universidade de Stanford e está associado a um centro
da Universidade da Harvard, nas duas costas opostas dos Estados Unidos, depois
de ter ensinado e investigado noutras prestigiadas escolas. Especialista em
história internacional, em especial os impérios inglês e norte-americano, tem-se
preocupado mais com os aspectos económico-financeiros da evolução das
sociedades. Com aparições frequentes nos média, tem visto o seu nome ficar envolvido
em várias polémicas. Recebeu vários prémios e distinções.
O seu último livro, de mais de
550 páginas, debruça-se sobre a história do desastres a e resposta dos líderes
a eles. O autor mostra o seu domínio de temas normalmente fora da expertise dos
historiadores como a epidemiologia, a história da medicina, a teoria das
probabilidades e a teoria das redes. O autor dedica um largo espaço à COVID-19.
A conclusão é que não podemos prever epidemias, mas podemos aprender com a
história, analisando as epidemias passadas, para que possamos estar mais bem
preparados para os próximos eventos do mesmo género.
- Mark Honigsbaum, O Século
das Pandemias. Uma história de contágios globais, da gripe espanhola à
covid-19. Vogais (do grupo 2020).
O autor (n. 1960) é escritor e
jornalista inglês que, tendo estudado na Universidade de Oxford, se especializou
em história e ciência das doenças infeciosas. O presente volume é o primeiro
dos seus livros a ser traduzido em português, mas publicou um livro sobre a malária
(The Fever Trail. In search of the cure for malaria) e outro sobre a
gripe espanhola, entre nós conhecida por pneumónica, que grassou em 1918-1919 (Living
with Enza. The forgotten story of Britain and the Great Flui Pandemic of 1918).
No novo livro trata as pandemias
do século XX, começando precisamente com a gripe espanhola e terminando, já no presente
século, com a COVID-19, num acrescento que o autor fez à primeira edição,
passando pela SIDA e pelo ébola. Escrito de uma maneira que prende o leitor, esta
é, como a anterior, uma obra de fôlego, que se estende por mais de 500 páginas.
- Charles Kenny, A Verdadeira
História das Pandemias. Uma abordagem histórica
fundamental para compreender o progresso da nossa civilização. A luta global
pela saúde ao longo da história, Clube do Autor.
Kenny (n. 1970) é um economista
norte-americano, doutorado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que trabalhou
no Banco Mundial e trabalha hoje no Center for Global Development, um think
tank em Washington DC. Autor de outros livros (Getting Better: Why
Global Development is succeddingand how we can improve the world even more e
The Upside of Down. Wht the rise of the rest is good for the West) tem marcado
presença em vários média. Os seus interesses centram-se em questões do desenvolvimento,
globalização e felicidade.
Este livro, com mais de 300
páginas, põe a tónica nos processos de globalização, como foram as viagens dos Descobrimentos
marítimos e a posterior colonização, que possibilitaram a transmissão de
doenças infeciosas em larga escala. Apesar das sucessivas tragédias que têm
marcado a humanidade, o autor, que discute a COVID-19, termina com uma nota de optimismo
sobre a possibilidade de intervenções humanas redentoras.
- William H. McNeill, Peste e
Povos. Um relato impressionante sobre o impacto das pandemias na ascensão e
queda das civilizações, Casa das Letras (grupo Leya).
McNeill (1917-2016) foi um notável
historiador norte-americano, professor na Universidade de Chicago, que publicou
ao longo da sua vida mais de duas dezenas de obras, incluindo The Rise of
the West. A History of the Human Community, e Pursuit of Power.
Technology, armed forces and society since 1000 AD. Presidiu à Associação de
História Americana e recebeu o prémio holandês Erasmus, que enaltece
contribuições à cultura europeia.
Com mais de 400 páginas, este é outro
grande livro de história, na qual MvNeill analisa a evolução da humanidade em linhas
muito gerais. O autor não viveu o suficiente para assistir à pandemia que nos
aflige, mas esta obra é hoje muito útil por integrar as pandemias no contexto
da história do mundo, a uma larga escala temporal.
É bom não esquecer quê sempre
tivemos epidemias. Agora estamos é mais bem preparados para as enfrentar. Boas
leituras!
1 comentário:
Caro, por quanto saiu o valor do livro PESTES E POVOS?
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