sexta-feira, 26 de novembro de 2021

QUATRO NOVAS HISTÓRIAS DAS EPIDEMIAS


Meu artigo no último As Artes entre as Letras:

A pandemia de COVID-19 já dura há mais de ano e meio e, enquanto ela dura, vai crescendo nas livrarias o número de livros sobre epidemias, não apenas a actual, mas também as muitas que a precederam ao longo da história. De início fui coleccionando os livros que saíam, mas, a partir de certa altura, tornou-se impossível continuar, pois a conta excedia os limites do razoável. Mas mantenho um canto na estante para a história das epidemias, que é um assunto tão fascinante quanto inesgotável. Esta última afirmação é comprovada pelo recente aparecimento, na língua portuguesa, de quatro novos livros que resultam de traduções de edições anglo-americanas. As quatro obras apresentam um visão da história global das epidemias. Tentando ajudar leitores interessados, recenseio-os aqui brevemente, resumindo os pergaminhos dos seus autores e as principais mensagens que eles transmitem. Estou certo alguns deles, pela profundidade da sua visão, merecem recensões mais extensas. A ordem é alfabética do apelido do autor:

-  Niall Ferguson, Condenação. A Política da Catástrofe, Temas e Debates – Círculo de Leitores.

Ferguson (n. 1964), escocês naturalizado norte-americano, é um dos historiadores mais conhecidos da actualidade, sendo vários os seus livros já publicados em português. Nomeio, entre outros e por ordem cronológica inversa, A Guerra do Mundo (Relógio d’Água, 2021), A Ascensão do Dinheiro (Relógio d’Água, 2021), A Praça e a Torre (Temas e Debates, 2018), O Declínio do Ocidente (Dom Quixote, 2014) e Império (Civilização, 2013). O autor ensina na Universidade de Stanford e está associado a um centro da Universidade da Harvard, nas duas costas opostas dos Estados Unidos, depois de ter ensinado e investigado noutras prestigiadas escolas. Especialista em história internacional, em especial os impérios inglês e norte-americano, tem-se preocupado mais com os aspectos económico-financeiros da evolução das sociedades. Com aparições frequentes nos média, tem visto o seu nome ficar envolvido em várias polémicas. Recebeu vários prémios e distinções.

O seu último livro, de mais de 550 páginas, debruça-se sobre a história do desastres a e resposta dos líderes a eles. O autor mostra o seu domínio de temas normalmente fora da expertise dos historiadores como a epidemiologia, a história da medicina, a teoria das probabilidades e a teoria das redes. O autor dedica um largo espaço à COVID-19. A conclusão é que não podemos prever epidemias, mas podemos aprender com a história, analisando as epidemias passadas, para que possamos estar mais bem preparados para os próximos eventos do mesmo género.

- Mark Honigsbaum, O Século das Pandemias. Uma história de contágios globais, da gripe espanhola à covid-19. Vogais (do grupo 2020).

O autor (n. 1960) é escritor e jornalista inglês que, tendo estudado na Universidade de Oxford, se especializou em história e ciência das doenças infeciosas. O presente volume é o primeiro dos seus livros a ser traduzido em português, mas publicou um livro sobre a malária (The Fever Trail. In search of the cure for malaria) e outro sobre a gripe espanhola, entre nós conhecida por pneumónica, que grassou em 1918-1919 (Living with Enza. The forgotten story of Britain and the Great Flui Pandemic of 1918).

No novo livro trata as pandemias do século XX, começando precisamente com a gripe espanhola e terminando, já no presente século, com a COVID-19, num acrescento que o autor fez à primeira edição, passando pela SIDA e pelo ébola. Escrito de uma maneira que prende o leitor, esta é, como a anterior, uma obra de fôlego, que se estende por mais de 500 páginas.

- Charles Kenny, A Verdadeira História das Pandemias.  Uma abordagem histórica fundamental para compreender o progresso da nossa civilização. A luta global pela saúde ao longo da história, Clube do Autor.

Kenny (n. 1970) é um economista norte-americano, doutorado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que trabalhou no Banco Mundial e trabalha hoje no Center for Global Development, um think tank em Washington DC. Autor de outros livros (Getting Better: Why Global Development is succeddingand how we can improve the world even more e The Upside of Down. Wht the rise of the rest is good for the West) tem marcado presença em vários média. Os seus interesses centram-se em questões do desenvolvimento, globalização e felicidade.

Este livro, com mais de 300 páginas, põe a tónica nos processos de globalização, como foram as viagens dos Descobrimentos marítimos e a posterior colonização, que possibilitaram a transmissão de doenças infeciosas em larga escala. Apesar das sucessivas tragédias que têm marcado a humanidade, o autor, que discute a COVID-19, termina com uma nota de optimismo sobre a possibilidade de intervenções humanas redentoras.  

- William H. McNeill, Peste e Povos. Um relato impressionante sobre o impacto das pandemias na ascensão e queda das civilizações, Casa das Letras (grupo Leya).

McNeill (1917-2016) foi um notável historiador norte-americano, professor na Universidade de Chicago, que publicou ao longo da sua vida mais de duas dezenas de obras, incluindo The Rise of the West. A History of the Human Community, e Pursuit of Power. Technology, armed forces and society since 1000 AD. Presidiu à Associação de História Americana e recebeu o prémio holandês Erasmus, que enaltece contribuições à cultura europeia.

Com mais de 400 páginas, este é outro grande livro de história, na qual MvNeill analisa a evolução da humanidade em linhas muito gerais. O autor não viveu o suficiente para assistir à pandemia que nos aflige, mas esta obra é hoje muito útil por integrar as pandemias no contexto da história do mundo, a uma larga escala temporal.

É bom não esquecer quê sempre tivemos epidemias. Agora estamos é mais bem preparados para as enfrentar. Boas leituras!

 

 

 

1 comentário:

Jonas disse...

Caro, por quanto saiu o valor do livro PESTES E POVOS?

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...