Forças de pressões, tanto a nível internacional como nacional, querem fazer crer que sim, que isso é possível: que podem ser as crianças e os jovens a determinarem o currículo, desde a sua concepção à sua concretização, e que podem aprender sozinhos e/ou uns com os outros com o método milagroso da aprendizagem baseada (e sublinho "baseada") em projecto, sobretudo se apoiados nas super novas tecnologias ditas da informação e da comunicação.
Deixo de lado, a tónica posta pelo autor do artigo na actualização salarial, não por falta de importância mas porque, na continuação de textos anteriores, interessa-me destacar o que se segue:
... o que questiono é se a Educação seria possível sem professores e se há quem leve mesmo a sério aquelas teorias neo-construtivistas que estão na origem de algumas das reformas promovidas pelo secretário de Estado João Costa e alguns micro-feudos associativos e académicos e que afirmam que o conhecimento é algo que pode ser construído pelos alunos ab nihilo, apenas com uma espécie de orientação que não carece de especial qualificação académica.
A sério que acreditam que os professores são seres menores no sistema educativo (...)?
(...) sem eles não há Educação, por muito que seja o deslumbramento com as novas tecnologias.
3 comentários:
Entre afirmar que os professores não são necessários no sistema de ensino, e afirmar que são necessários tantos professores como há atualmente em Portugal, situa-se o bom senso de dizer que metade dos docentes liceais chegariam e sobrariam para transmitir aos alunos o pequeno conjunto de noções triviais que as autoridades ministeriais consideram essenciais para dar um mínimo de significado aos diplomas emitidos pelas escolas.
Concordo com Arendt quando afirma que o sistema educativo não deveria andar a reboque das decisões políticas. Cada partido político pensa a sociedade de determinada forma, tentando institucionalizar esse pensamento para que seja cumprido o ideal que preconiza. Para que serve a política com o seu mapeamento de ação governativa? Também instrumentalizar mentalidades de forma a que os detentores de poder se perpetuem no tempo. Que lugar melhor do que a Escola para o fazer?
A democracia, com o seu princípio de rotatividade e equidade, por bem e por mal, permite a desconstrução permanente, impondo o novo pelo novo, talvez não tanto pela qualidade. Assim, temos um sistema educativo desarticulado, compacto, remendado e cansado. Os alunos não gostam e não querem estar na escola e este não querer dificulta a ação educativa. O que querem os alunos? Qual o fim? Que parte deve ser dada a esse querer? De que forma se integra a concretização desse querer no âmbito social? Tem dimensão institucional? Prepara-os exatamente para quê? O professor está ao serviço de que ideais (políticos, infantis, juvenis, diretivos, não diretivos)? O professor tem escolha como o aluno ou apenas cumpre o que lhe mandam fazer?
Passando pela História, verificamos que a Educação sempre foi exaustivamente pensada e repensada. Exemplos disso são os factos e as reflexões que se leem em qualquer livro de História da Educação sobre a antiguidade oriental, Grécia, Roma, Cristianismo (período apostólico, patrístico, Idade Média), Idade Moderna, Escola Nova, tipos de pedagogia, influência da psicologia na educação, reformas educativas no mundo e em Portugal e por aí fora até chegarmos a este ponto isento de singularidade... Parece que já tudo foi tentado. A esmagadora maioria das escolas alternativas independentes que pululam em vários países servem apenas o interesse de algumas comunidades (principalmente espirituais e religiosas), as quais pagam taxas elevadíssimas ao Estado tornando essas escolas elitistas e pouco viáveis para todos.
Em termos globais, o que se pretende exatamente que a Escola seja? Na minha humilde opinião, deve assentar em duas fortes vertentes: a académica e a prática. Há um legado humano, histórico e científico que deve ser transmitido às gerações vindouras para conhecimento do passado, compreensão do presente e, consequentemente, dotação de uma capacidade de ação prospetiva que possibilite a planificação da melhoria do futuro. A vertente prática deveria incidir no desenvolvimento de capacidades técnicas/tecnológicas, de acordo com as aptidões ou interesses dos alunos que os dotassem de destrezas passíveis de aplicabilidade numa profissão desse teor. A escola não tem de formar apenas doutores e intelectuais.
O atual espaço concedido à voz das crianças/adolescentes deve ser auscultador do seu sentir, mas filtrado por um olhar científico de exequibilidade, pertinência, adequabilidade, congruência com o que se pretende num quadro educativo mais amplo que, não sendo os políticos a defini-lo, quem o definirá? Comissões de ética, a nível europeu e/ou nacional, formada por intelectuais, artistas, ecologistas, desportistas, economistas, médicos, políticos e outros fazendo programas curriculares/projetos educativos que garantam o cumprimento do Homem em todas as dimensões e direitos universais?
Defendo uma Escola de memória que não esquece o percurso humano, plataforma sustentada do saber; uma Escola de criatividade que leve à criação e à inovação; uma Escola de aprender o respeito, que saiba construir um espaço físico e mental onde valha a pena viver.
Das inúmeras variáveis que é necessário sopesar e ponderar para um conhecimento do sistema de ensino/educação, que existe, mormente com alunos e professores no centro das pressões, a aguentar forças centrípetas e centrífugas, assim muito esquematicamente, refiro os decisores políticos, que se assumem, inquestionavelmente, como os senhores disto tudo. E nada há de mais errado no sistema de ensino/educação.
Este tem condições para estar, e deveria estar, emancipado, há muito, dessa tutela tão perniciosa quão perversa.
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