Meu artigo de opinião no Público de hoje:
Em 1994 Lisboa foi Capital
Europeia da Cultura, em 2001 foi o Porto e em 2012 Guimarães. A iniciativa da
União Europeia visa “acentuar a riqueza e diversidade de culturas na Europa,
celebrar as marcas culturais partilhadas pelos europeus, aumentar nos cidadãos o
sentido de pertença a um espaço cultural comum e fomentar o contributo da
cultura para o desenvolvimento citadino.” Começou em 1985 com Atenas, sob o
impulso da ministra grega Melina Mercouri, e prosseguiu nos anos seguintes com
Florença e Amesterdão. A experiência tem mostrado que, para além dos objectivos
atrás apontados, as capitais da cultura têm sido óptimas oportunidades para
“regenerar cidades, aumentar o seu perfil internacional, aumentar a autoimagem
dos habitantes, reanimar a cultura urbana e desenvolver o turismo.” Estes fins foram
atingidos nas três capitais portuguesas, apesar das costumadas limitações
orçamentais e dos também habituais percalços das organizações lusas. Do Porto
2001 ficou, para além da regeneração do espaço público, a Casa da Música, e de Guimarães
2012 ficou, para além de similar reabilitação urbana, a Plataforma das Artes e
da Criatividade.
É, por isso, natural, que esteja
instalada a corrida para a organização da próxima Capital da Cultura em
Portugal. Será só em 2027, mas o processo de selecção é longo e complexo,
iniciando-se seis anos antes. As regras europeias são exigentes e
pormenorizadas e a escolha entre as várias candidaturas será feita até 2023 por
um comité internacional de especialistas (o governo nacional será mero
observador). Os critérios são “a contribuição para a estratégia a longo prazo,
a dimensão europeia do projecto, o conteúdo cultural e artístico, a capacidade
de realização, o impacto e a gestão”. Várias cidades de Norte a Sul do país aceitaram
o desafio e arregaçaram as mangas: Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Coimbra, Viseu,
Guarda, Leiria, Caldas da Rainha (congregando vários sítios do Oeste), Oeiras,
Cascais, Évora e Faro. Nalguns casos há responsáveis e equipas em pleno
funcionamento: Aveiro nomeou Carlos Martins, que dirigiu a Fundação Cidade de
Guimarães, Leiria escolheu João Bonifácio Serra, que liderou Guimarães 2012, e a
Guarda optou por José Amaral Lopes, ex-secretário de Estado da Cultura. Algumas
urbes procuraram reforçar o seu perfil internacional: foi o que fez Aveiro ao
participar na Roménia numa conferência de cidades candidatas e ao anunciar que
a próxima reunião será cá, Évora ao apresentar o seu projecto no Salão
Internacional do Património Cultural em Paris, e a Guarda a propor uma ligação privilegiada
a Salamanca. O envolvimento das organizações e agentes culturais locais tem
enriquecido sobremaneira as candidaturas anunciadas: ele é bem visível em
Aveiro (a Câmara prepara mesmo um Plano Estratégico de Cultura, valorizando os
recursos regionais), Leiria e Guarda.
Eu gostava muito que a melhor candidatura
fosse a de Coimbra. Se olharmos para a história, para o património, para a
intensa actividade cultural nalguns sectores e pela presença científica e
cultural da Universidade, verificaremos que existem condições ímpares para esse
êxito. Infelizmente, por manifesta incapacidade da Câmara Municipal, o
processo, que estava atrasado, começou da pior maneira. A Câmara acaba de
anunciar, num passe de mágica, que o responsável pela candidatura será Luís de
Matos, um ilusionista com o seu mérito mas a quem não é conhecida qualquer
ideia sobre a cultura (curiosamente, integrou a comissão de honra da campanha
eleitoral do Presidente da Câmara e tem feito vários contratos com ele). Há do
lado da Câmara coimbrã, que nem sequer consegue fazer uma feira do livro
decente, um penoso vazio cultural. Não são marcas fortes da intenção ora anunciada
nem a necessária dimensão global, que deveria ser potenciada pela classificação
em 2013 da Universidade de Coimbra como Património Mundial da UNESCO, nem o imprescindível
trabalho conjunto dos agentes culturais da cidade, alguns deles com pergaminhos
reconhecidos no país e lá fora, mas feridos pelo recente despautério na pasta
da Cultura. Coimbra bem poderia ser uma lição. Mas, a continuar como começou, o
seu projecto de Capital da Cultura não passará de uma ilusão.
4 comentários:
A grande referência cultural de Coimbra é a sua Universidade.Se a Professora Teresa Lago, mulher de grande cultura científico-humanística, foi nomeada para dirigente da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, então, agora, nesta fase de candidaturas, Coimbra não pode esquecer a personalidade multifacetada do Professor Carlos Fiolhais, um homem de espírito renascentista, na senda de Galileu Galilei, que se sente como peixe na água quando se abordam quaisquer temáticas físicas ou metafísias, substituindo-o por um Luís de Matos qualquer, cujas altas manigâncias não são mais elevadas do que as facécias de um palhaço autêntico!
É que o Luís de Matos formou-se num Instituto Politécnico, o de Coimbra - Escola Superior Agrária e, por isso, tem muita qualidade, tal como toda a gente que se forma em Institutos Politécnicos. Além disso, é um bom orador, tem carisma, faz milagres e é bonito, Professor Fiolhais. Por causa dele, talvez Coimbra ganhe.
Euureka! " Luís de Matos tem muita qualidade, tal como toda a gente que se forma em Institutos Politécnicos". Ou seja, há esta regra sem excepções, contrariando a voz do povo que nos ensina não haver regras sem excepções". "Abracadabra" o sentenciou: há regras sem excepções, no que respeita aos Institutos Politécnicos.
Opinião bem diferente tem Gustave Le Bon: "Grande número de políticos ou de universitários, carregados de diplomas, possuem uma mentalidade de bárbaros e não podem, portanto, ter por guia, na vida, senão uma alma de bárbaros". Desse opróbrio se livram os diplomados pelos Institutos Politécnicos.
Não precisa de dizer mais nada!
Para a senhora Abracadabra, o Luís de Matos do politécnico é lindo como um cherne!
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