Imagem do Museu
de História atural de Berlin, obtida no site pictures and words
As colecções biológicas são a fundação de um museu de
história natural. Estas contam histórias de expedições e trabalhos científicos
passados, sendo locais privilegiados para comunicação da ciência, mas também
servem como repositórios de informação. No março passado, o museu de História
Natural da Universidade de Louisiana recebeu a notificação do quadro da
universidade que teriam 48 horas para realocar as suas colecções biológicas -
uma “mera” colecção de 6 milhões de espécimes de peixes e 500.000 plantas para ceder o espaço à
equipa de atletismo da universidade*. Esta semana, plantas do tipo nomenclatural (type specimen) com cerca de 200
anos foram destruídas após uma falha de comunicação entre o Museu de História
Natural de Paris e autoridades alfandegárias Australianas**. Isto reacendeu um dos grandes debates na biologia: Qual é o valor das
colecções biológicas e dos museus de história natural?
O estudo das colecções biológicas tem ganho popularidade nos
últimos anos. Por um lado, os espécimes guardados servem como coordenada temporal,
geográfica ou exemplar físico, assim permitindo caracterizar mudanças
geográficas ao longo do tempo, alterações num órgão ou tecido específico, ou
estudar o impacto de lesões e doenças - informação preciosa considerando as
ameaças e perdas de biodiversidade e as mudanças geográficas das espécies
causadas pelas alterações climáticas. Por outro lado, os avanços na área de ADN
antigo (Ancient DNA) têm permitido o estudo da informação genética destes
repositórios (museomics) onde a extração de DNA de plantas de herbário com centenas
de anos e de exemplares embalsamados de espécies já extintas tem sido conduzida
com sucesso***. Por exemplo, o estudo de lesões em exemplares de herbário de plantas da
batata causadas pelo infame requeima-do-tomateiro (Phytophthora infestans), o agente responsável pelo período da
grande fome Irlandesa (1845-49), permitiu a determinação das estirpes genéticas
ligadas a este evento. Ademais, o estudo da presença do DDT em cascas de museus
colectadas em diferentes locais, durante diferentes anos permitiu a
determinação do período de vida do DDT nos ecossistemas (o DTT, outrora tomado
como inócuo, é um químico altamente tóxico utilizado como pesticida. No passado
foi utilizado directamente na comida e em pessoas****).
As colecções também assumem um papel prominente na comunicação de ciência. Muitos exemplares foram colectados em expedições onde a visão humana do mundo era radicalmente diferente da visão actual. Outras, contam aventuras daqueles que ansiavam fama ou apenas desmistificar lendas e rumores. Outros, contam histórias do impacto dos humanos - como o famoso Pombo-Passageiro cujos bandos de milhões de indivíduos, por ventura da sua passagem, eclipsavam a luz solar por horas ou dias.
Apesar disto, as colecções biológicas não recebem o
devido valor, sendo frequentemente o primeiro alvo de cortes financeiros nas instituições superiores. Casos como
a colecção do Museu de Louisiana ou de Paris estão longe de serem casos
isolados. O desinvestimento geral na taxonomia (a ciência que caracteriza e agrupa
os seres vivos) e o desinteresse na manutenção destas colecções constituem
sérias ameaças aos repositórios. As colecções têm valor, não haja dúvida, o
problema é que este valor nem sempre é instantâneo ou óbvio.
* http://gizmodo.com/university-threatens-destruction-of-millions-of-specime-1793745389
** https://www.nytimes.com/2017/05/12/world/australia/rare-plants-destroyed.html?smid=fb-nytimes&smtyp=cur
*** http://www.molecularecologist.com/2017/04/unusual-sources-of-ancient-dna/
**** https://www.youtube.com/watch?v=gtcXXbuR244 ; https://www.youtube.com/watch?v=v2EtxYxEKww
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