O brilho das
estrelas conta-nos a história do Universo.
Mas nem tudo o
que brilha no céu nocturno, para além da Lua, são estrelas individuais como o
nosso Sol. É possível detectar pelo menos o brilho de três galáxias a olho nu
(sem telescópios): a galáxia de Andrómeda, a Grande Nuvem de Magalhães e a
Pequena Nuvem de Magalhães. Só a primeira é visível em Portugal. As outras duas
só são visíveis no hemisfério Sul. Contudo, hoje sabemos existirem muitos
milhões de galáxias por esse Universo fora.
Mas nem sempre
foi assim. No início do século XX, os astrónomos julgavam que a nossa galáxia,
a Via Láctea, era a única no Universo. E os limites do Universo de então eram o
da nossa galáxia. Mas os astrónomos conheciam “objectos” designados por
nebulosas e nas primeiras décadas do século passado houve grande discussão
sobre a sua natureza e se estariam ou não dentro da nossa galáxia.
Devemos ao
astrónomo norte-americano Edwin Hubble (1889 – 1953) a identificação dessas
nebulosas como galáxias existentes muito para além da Via Láctea e também a
vertiginosa constatação de que estas se afastavam uma das outras a uma
velocidade tanto maior quanto a maior a distância que as separavam.
Desde então, os
avanços tecnológicos permitiram a construção de telescópios cada vez mais
sensíveis e o número de galáxias conhecidas aumentou como nunca antes teria
siso possível. E, quando foi possível colocar no espaço, fora da turbulência da
atmosfera terrestre, telescópios como o que honra Edwin Hubble por ter o seu
nome, o conhecimento sobre o campo profundo, negro a olho nu, do Universo,
apresentou-nos miríades de galáxias.
Para o estudo das
galáxias, para conhecer a sua evolução, é necessário analisar a luz que delas
nos chega e isso é feito através de técnicas de espectroscopia avançada. A luz
é proveniente principalmente das estrelas que compõem as galáxias, mas há
também uma parte que resulta da ionização do gás interestelar que existe nas
próprias galáxias. Distinguir a contribuição de cada uma das fontes não tem
sido tarefa fácil e o recurso a programas informáticos (algoritmos) de análise
de dados tem sido imprescindível.
Neste
contexto, uma nova ferramenta informática acaba de ser apresentada num artigo
recente aceite para publicação na revista científica Astronomy & Astrophysics. Este
novo algoritmo foi desenvolvido pelos astrofísicos do Instituto de Astrofísica
e Ciências do Espaço (IA) Jean Michel Gomes
e Polychronis Papaderos. FADO (acrónimo de Fitting Analysis using
Differential evolution Optimization) foi o nome que estes cientistas
atribuíram a esta nova técnica de análise, numa
homenagem ao estilo desta música património imaterial da humanidade. “Cada
galáxia tem um “fado” – uma narrativa da sua biografia, desde o nascimento das
primeiras estrelas. Este destino está escrito no seu espectro eletromagnético,
que contém os registos fósseis das múltiplas gerações de estrelas que se
formaram, ao longo de milhares de milhões de anos, bem como do gás que essas
estrelas ionizam com a sua radiação”, pode ler-se num comunicado do IA.
Uma
das características inovadoras do FADO é o uso de algoritmos genéticos, que
simulam a evolução de uma galáxia como se a de um organismo vivo se tratasse. O
tratamento dos dados permite que se reproduza a emissão observada das estrelas
e do gás na galáxia separando as duas contribuições da luz captada. Segundo o
comunicado citado, “os modelos anteriores tinham grandes incertezas, em parte
porque só tinham em conta a contribuição da luz emitida pelas estrelas. No
entanto, a contribuição do gás ionizado pode somar até 50% de toda a luz da
galáxia”.
É uma
importante contribuição desta instituição científica portuguesa, o IA, para
melhor compreendermos a formação e a evolução das galáxias.
António
Piedade
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