quarta-feira, 6 de junho de 2018

Partidos Políticos e Juventudes Partidárias


Meu artigo de opinião saído hoje no “Diário As Beiras”, tendo por base um meu artigo publicado neste blogue  intitulado: “Ainda há lágrimas espremidas...” (01/06/2018):
“A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento” (Milan Kundera, escritor expulso do Partido Comunista Checo).

Evoco a memória de meu avô materno José Pereira da Silva, presidente da Câmara Municipal do Porto (1925) num tempo em que esse honroso desempenho estava, apenas, ao alcance de personalidades da sociedade portuguesa com destaque cultural, social e ético  e hoje se fica a dever, sem pretender, de forma alguma generalizar (“vade rertro Satanas!”),  ao agitar frenético de bandeiras partidárias por parte de uma juventude que vê nisso uma forma de subir na vida perante o espectro do desemprego ou empregos mal remunerados.
Pela sua participação fracassada na Revolução do Porto (1927) foi ele deportado político para uma inóspita Angola em que as doenças tropicais e o mau clima ceifavam vidas como quem ceifa searas de trigo em terra lusitana, apenas com a roupa que vestia no corpo e com as algibeiras vazias de dinheiro, obviamente, das modernices dos actuais “offshores”, “em que se esconde o equivalente a um quinto da riqueza produzida” (“Jornal de Economia”, 19/09/2017) . 

Faleceu, este meu antepassado, nessa terra africana com escassos bens materiais por ter sacrificado, em nome dos seus ideários políticos, família, posição social, fortuna. Na actualidade, para perpetuar a sua gente no poder, através de votos nas eleições que se avizinham para conseguir uma maioria que permita governar sem uma “geringonça” a desconjuntar-se e a chiar por todos os lados, António Costa, no Congresso do Partido Socialista do mês passado, desfez-se em promessas para com os jovens, sintomaticamente, sem uma só palavra que seja de esperança para com os velhos, talvez, por este estrato populacional, apelidado de “peste grisalha” pelo deputado do PSD Carlos Peixoto, nem sempre poder votar por dificuldade em se deslocar às mesas de voto!
Na sua prédica vibrante sobre o futuro que diz esperar para juventude socialista, foi ele calorosa e longamente aplaudido pela mensagem de que, num futuro próximo, radioso de alvoradas de esperança, esses jovens futuros profissionais da política, tomem em suas mãos o leme do destino deste país através de uma profissão bem remunerada e  de altas reformas que os recompense de uma vida de “ascetismo”, trazida do hemiciclo de S. Bento em nome do povo e em aparente  lutas diárias contra tentações demoníacas, nem sempre vencidas, em que mais do que servirem o país  dele se serviram nem que seja à custa desonrosa de escândalos que enchem de manchetes os jornais diários. Bem dita e salutar liberdade de imprensa!
Mesmo sem pretender tomar a nuvem por Juno, vive-se hoje, sem generalizar, mais um vez o escrevo, uma época  da política portuguesa que dá razão a palavras premonitórias de Ruy Barbosa, membro fundador da Academia de Letras do Brasil (1849-1923) que perpassaram os anos e atravessaram o Atlântico: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha em ser honesto”.
Pelo andar da carruagem, tempo virá em que os cidadãos honestos serão apontados a dedo (se é que o não são já!) com palavras de espanto ou mesmo reprovativas: “Olha vai ali um tanso honesto!” Pobre país e pobres portugueses em que a desonestidade, substituindo-se a um hábito enraizado, assume um papel normativo que escapa às teias da lei!

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