sexta-feira, 25 de outubro de 2024

PASSADO O DESLUMBRAMENTO, É PRECISO DECIDIR

Por Cátia Delgado
 
Vemos chegada a hora de avaliar o impacto dos telemóveis na vida escolar de crianças e jovens para tomar decisões: permitir ou não o seu uso. E Portugal não é excepção. 
 
Foi notícia recente no Diário de Coimbra que, no seguimento de recomendações do Governo, só uma escola da cidade restringiu o uso do telemóvel e só nos espaços de refeição. Os diretores entrevistados alegam estar em processo de auscultação da comunidade escolar; não discordando da retirada dos aparelhos do recinto escolar, não arriscam decidir a restrição e a proibição. Dão a entender que isso seria ir longe demais e que do Ministério vieram apenas recomendações, não normas ou leis. Colocam a responsabilidade do lado das famílias, argumentando ser dever dos pais limitar o uso dos dispositivos. Assim se vai protelando a tomada de uma posição clara por parte destas escolas.
 
Mas é isto mesmo que uma encarregada de educação, também professora, que foi entrevistada, entende ser necessário: é inequivocamente a favor da proibição do telemóvel no recreio, alegando que:
"(...) os pais gostam de estar em constante contacto com os filhos, o que nem os deixa crescer. (...) Todos se queixam que o uso é exagerado, contudo, do que me apercebo é que não há grande controlo parental.

(...) nos intervalos os alunos estão mais ocupados a jogar do que a falar e quando entram na sala sentem a necessidade de conversar o que não conversaram no tempo disponível no exterior.

Deixariam de ter bengalas sociais e teriam de olhar uns para os outros, comunicar, exprimir o que sentem.

Em caso de necessidade, haverá sempre forma de comunicação com os pais.

É de todo errado que os professores utilizem o telemóvel como ferramenta de pesquisa ou testes (...) até porque todos os alunos têm acesso a computadores."
Em suma, como é notado pela jornalista, Margarida Alvarinhas, além de uma divergência de opiniões, há também uma considerável “falta de coragem no assumir de posição”, mal do seguidismo do século XXI, que leva a crer que ter uma opinião condizente com a realidade do século passado é andar para trás ou ser resistente à mudança. Pois, nem tudo o que é “inovador” favorece o desenvolvimento humano, fim último da educação escolar, nem tudo o que é “tradicional” nos atrasa. 
 
Sendo a escola, por natureza e por excelência, um contexto de ensino, importa mantê-lo alheado de tudo o que prejudique a sua finalidade última: a aprendizagem. E, sim, temos evidências científicas suficientes para saber que os telemóveis a prejudicam.

Sem comentários:

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...