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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

“PERCURSOS PARALELOS, CIÊNCIA, FOTOGRAFIA E HISTÓRIA NO CONHECIMENTO”




Na próxima 4ª feira, dia 13 de Fevereiro de 2019, pelas 18h00, vai ocorrer no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra “Percursos Paralelos, Ciência, Fotografia e História no Conhecimento”, por Alexandre Ramires, conhecido e importante historiador e coleccionador da fotografia portuguesa.

Esta palestra integra-se no ciclo "Ciência às Seis - Terceira temporada"*..

Sinopse da palestra:
"A Fotografia - e a inovação que representa - foi desde os seus primórdios considerada como uma invenção fundamental para o aprofundamento do conhecimento científico. Sendo vista como uma nova forma de medição e registo na investigação, foi, portanto, natural que os locais de apresentação da sua descoberta, divulgação e progressivo melhoramento tenham sido as mais importantes Academias Científicas mundiais.

O acesso a estas imagens produzidas pela luz possibilitou um crescimento exponencial do número de registos visuais, o que revolucionou a relação da humanidade com a sua memória, alargando horizontes aos historiadores do futuro. 

Serão mostrados exemplos de autênticas viagens no tempo a lugares que hoje ocupamos e que julgávamos serem de visualização impossível, mas que voltaram a revelar-se com o auxílio de fotografias com mais de um século. Este recurso à fotografia antiga funciona como uma poderosa máquina do tempo, abrindo caminho a descodificações inesperadas que alimentam as narrativas da História.

Rómulo de Carvalho publicou em Coimbra, em 1952, na Atlântida Editora, um livrinho com o título “História da Fotografia”, na coleção “Ciência para gente nova”, onde assinalava os momentos mais importantes desta área de conhecimento. Nos últimos setenta anos vários investigadores trouxeram a público novos dados que complementam esta obra do patrono deste centro de “Ciência Viva”.

Nesta comunicação serão identificadas as que se julgam ser as primeiras imagens fotográficas produzidas em vários países, tais como em França, Estados Unidos, Espanha, Brasil, Uruguai, Austrália e Portugal. No caso português serão abordados os casos de Lisboa, Coimbra e Porto.

No que concerne ao recurso à fotografia pela atividade científica, serão referidos vários exemplos nacionais e estrangeiros. Têm como base o território nacional e mostram os grandes avanços da fotografia no que respeita ao relevo ou estereoscopia, à cor, ao instantâneo, ao movimento e ao invisível. Alguns desses progressos estiveram na origem da atribuição de prémios Nobel, nomeadamente a Gabriel Lippmann pela fotografia a cores e a Roentgen pelos Raios X, tendo estas inovações sido aplicadas de imediato em Coimbra por António dos Santos Viegas e Henrique Teixeira Bastos."




Sobre Alexandre Ramires:
É professor de Ciências Físico-Químicas na Escola Secundária de Infanta D.Maria em Coimbra.
Leccionou as cadeiras “História da Fotografia” e “Géneros Fotográficos” da Licenciatura em Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Dirigiu a Imagoteca Municipal de Coimbra.
Foi coordenador do Arquivo de Fotografia do Porto do Centro Português de Fotografia.
Concebeu e executou, entre outras, as exposições:
“Memória das Oposições”, sobre a atividade das oposições ao Estado Novo;
“Há horas que são de todos” e “25 por 25 | Em Abril, um Quartel Depois”, sobre o 25 de Abril de 1974 em Coimbra”;
“Revelar Coimbra” e “Passado ao Espelho”, sobre os primórdios da fotografia em Coimbra;
“Ver a República”, sobre a relação da Universidade de Coimbra com a implantação de República em Portugal.
É membro do Ceis20-Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX.
Desenvolve investigação sobre a História da Fotografia em Portugal e especialmente em Coimbra, área em que tem sido autor de várias publicações.

*Este ciclo de palestras é coordenado por António Piedade, Bioquímico, escritor e Divulgador de Ciência.

ENTRADA LIVRE

Público-Alvo: Público em geral
Link para o evento no facebook

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CIÊNCIA E FOTOGRAFIA NO CICLO DE TERTÚLIAS "CIÊNCIA AO LUAR"



No âmbito do programa CIÊNCIA VIVA NO VERÃO EM REDE, no dia 13 de Setembro pelas 21h, realiza-se a quarta tertúlia do ciclo "Ciência ao Luar", na esplanada do Café Santa Cruz (Praça 8 de Maio, Coimbra), dedicada ao tema F​OTOGRAFIAcom as participações de Alexandre Ramires e Paulo Mendes e moderação de Carlos Fiolhais.


ENTRADA LIVRE
Público-alvo: Público em geral


domingo, 19 de agosto de 2012

No dia mundial da fotografia...

[Não toques nos objectos imediatos]

Não toques nos objectos imediatos.

A harmonia queima.
Por mais leve que seja um bule ou uma chavena,
são loucos todos os objectos. 
Uma jarra com um crisântemo transparente
tem um tremor oculto.
É terrível no escuro.
Mesmo o seu nome, só a medo o podes dizer.
A boca fica em chaga.

Herberto Helder [1]

As feiras de antiguidades e de velharias ou dos dois tipos estão na moda - isto digo eu, que não conheço nem a sua origem, nem a sua evolução, nem a sua expressão. Falo apenas do que me é dado ver, que não é muito: sei que tínhamos no país uma feira regular, grande e famosa na capital, duas ou três outras mais modestas e, penso ser por isso, que se ia a feiras pela Europa em busca de objectos em segunda, terceira, quarta mão. Agora temos por cá muitas feiras com cobres, roupas de enxoval, imagens e pias de pedra, candeeiros, azulejos, ouro e prata, lavatórios, mobílias inteiras ou em peças soltas, vidros e louças, armas e armaduras, instrumentos de lavoura, de sapateiro, máquinas de costura, de café e outras, brinquedos, livros, cartas, postais e... fotografias.

Detenho-me sobretudo nas fotografias: a sépia e a preto e branco quase todas. Um bebé pousado num cenário florido: os cuidados a mãe teria para o vestir daquela maneira, porque era assim que queria recordá-lo, consciente da devastação de que a memória é capaz. Uma família alinhada com o melhor dos fatos, uns sentados outros de pé, adivinham-se os ensaios necessários à pose sincronizada, as indicações milimétricas do fotógrafo. O mesmo para o casal que só passada a boda registou a solenidade junto a uma floreira: ambos saberiam que aquele não tinha sido o momento do enlace, mas passariam a fingir que tinha sido. E o mesmo para o jovem ligeiramente inclinado, de bengala numa mão e cotovelo apoiado numa parte de móvel com entalhes, ou para a rapariga enfeitada com uma gola de peles, sentada num maple, com os olhos ligeiramente desviados da objectiva e mãos com anéis no regaço.

Ainda se encontram as fotografias tipo-passe, as de guerra mas em ambiente sereno, também as de viagem, as de ruas e de casas, de turmas da escola primária e de liceu com meninos ou meninas e professores de bata...

As fotografias podem aparecer avulsas, em montinhos de diversa origem, em quadros e criteriosamente arrumadas em albúns. Os albúns completos e anotados não são fáceis de folhear: as imagens contam uma história pessoal e/ou duma família que provavelmente se extinguiu. Impossível não pensar que tanto aprumo redunda em Nada.

Conheço investigadores e coleccionadores que percorrem regularmente feiras à procura do que querem ou passam a querer, com sorte encontram o tal albúm que conta um percurso de vida ou uma viagem... negoceiam o preço, pagam e correm a deter-se no material, como se fosse um material como outro qualquer: reconstituem o passado, modos de vestir, espaços, edifícios... Tão pouco os tenho visto a perguntarem-se que pessoas eram aquelas ou, então, guardam essa pergunta tão delicada para si próprios...

É evidente que tudo o que acima disse acontece em certas casas comerciais como os alfarrabistas, mas aí parece que as imagens estão mais resguardas, há ainda paredes a protegerem o que resta dos seres que representam. Impressão minha, certamente. Mas usando as palavras de Herberto Helder não consigo afastar a ideia de que as fotografias guardam "um tremor oculto".

[1] In Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, de Eugénio de Andrade (Campos das Letras, página 521).

sexta-feira, 13 de abril de 2012

quinta-feira, 21 de abril de 2011

PROJECTO MERCADORIA HUMANA



Cartazes patentes na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra no quadro do projecto "Mercadoria Humana" contra o tráfico de seres humanos (fotos de Pedro Medeiros).

quinta-feira, 10 de março de 2011

No reino d' aquém e d' além dor

Vídeo da Escola Superior de Educação de Coimbra sobre a Exposição de Fotografia "No reino d' aquém e d' além dor. À procura da alma da anestesia" sobre Anestesia que está patente no hall dos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde passam todos os dias milhares de pessoas. Há um excelente catálogo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

UM FOTÓGRAFO EXTRAORDINÁRIO




Morreu Gérard Castello-Lopes: um dos mais extraordinários fotógrafo português do século passado. Ficam as suas fotografias, como, por exemplo, as três de cima.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

momentos felizes e distantes


Na semana em que soubemos que a mítica sonda Voyager 1 atingiu já domínios bem mais distantes da sua casa, a uns "meros" 17,4 mil milhões de quilómetros da Terra, trago aqui este pequeno momento "ponto azul claro". O seu conta-quilómetro mostrava ainda o número 4 mil milhões quando decidiu deliciar-nos com este mosaico de alguns planetas do sistema solar enroscados no negro manto do Cosmos.

Romantismos...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Zoom científico


Sou um frequente visitante do excelente blog dedicado à Ciência da revista Wired. O Wired Science tem uma equipa que sabe escrever divulgação científica, com rigor, com clareza e com uma enorme capacidade sedutora. Desta vez, a beleza está não só texto mas também na imagem. Aliar a arte da fotografia de altíssima resolução com o que a Ciência daí pode extrair foi o grande objectivo do Fine International Conference on Gigapixel Imaging for Science e o resultado foram 8 mosaicos plenos de sofisticação técnica e científica.
Uma maneira diferente de olhar a Ciência. Literalmente!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

BIBLIOTECA JOANINA: TESOURO PÚBLICO


Reportagem fotográfica de Ana Baião, com legendas de Christiana Martins, sobre a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra que saiu na última revista"Única" do "Expresso" pode ser vista aqui. Pequenas correcções ao texto: os outros Roteiros da Índia de D. João de Castro também são ilustrados. A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra não vai ser Património Europeu: já é (ver aqui).

terça-feira, 20 de abril de 2010

EXPOSIÇÃO NAS PRISÕES ACADÉMICAS


Cartaz recebido da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra sobre uma exposição fotográfica que inaugura hoje. Clicar para ver melhor.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Lugares de Carolina e Joaquim


Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra:

A seguir à abertura da exposição "Joaquim de Vasconcelos. Um homem de cultura" segue-se a abertura da exposição fotográfica "Lugares de Carolina Michaleis e Joaquim Vasconcelos" no espaço das Prisoes Académicas, por baixo da Biblioteca Joanina. Recorde-se que Carolina Michaelis frequentou essa Biblioteca, já que foi, em Coimbra e em Portugal, a primeira professora catedrática.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

MARILYN EINSTEIN


Por detrás de cada grande homem há uma grande mulher. Imagem preparada por Aude OLiva, do MIT, para o "New Scientist" de 31 de Março 2007. Ao perto vê-se Albert Einstein, ao longe (pode-se semicerrar os olhos, em vez de recuar) vê-se Marilyn Monroe.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vidas a Descobrir - Mulheres Cientistas


Informação recebida da Associação Viver a Ciência:

A Associação Viver a Ciência e a Livraria Ler Devagar têm o prazer de a/o convidar para a inauguração da exposição de fotografia «Vidas a Descobrir – Mulheres Cientistas do Mundo Lusófono», agendada para o dia 4 de Fevereiro, às 19h, na Ler Devagar, Lx Factory, em Lisboa.

As fotografias apresentadas fazem parte do livro que dá nome à exposição e foram captadas em 2007 e 2008 por Joana Barros e pelo premiado fotógrafo brasileiro Juliano Gouveia, na Guiné-Bissau e no estado brasileiro do Piauí, respectivamente.

sábado, 16 de janeiro de 2010

NOVA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA 2




aqui mostrámos a nova Biblioteca de Alexandria, no Egipto, por fora. Por amabilidade do Dr. Víctor Lobo, a quem agradecemos, partilhamos com os leitores imagens que ele próprio tirou recentemente do interior dessa Biblioteca. Em cima um dos rolos do tempo da antiga biblioteca.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Templos do saber


Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra:

As fotografias de 30 bibliotecas históricas europeias que estiveram expostas em Paris, em 2009, na exposição “Temples du savoir”, converteram-se num magnífico livro acabado de publicar pela editora Ertug & Kocabiyik (Istambul).

A Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e a Biblioteca do Palácio de Mafra são as únicas bibliotecas portuguesas fotografadas por Ahmet Ertug. A Joanina aí representada com quatro fotos em grande formato. De origem turca e a trabalhar em Londres, Ahmet Ertug estudou arquitectura e, depois de se começar a interessar por fotografia tornou-se um dos mais importantes fotógrafos de arquitectura actuais.

A apresentação do livro é de Bruno Racine, Presidente da Bibliothèque nationale de France (BnF) e a introdução de Robert S. Nelson, professor de História de Arte na Universidade de Yale, EUA. O livro tem apresentação na Internet disponível aqui. A edição normal está disponível no distribuidor, pelo preço de 650,00 Euros, assim como noutros revendedores por todo o mundo. Foi feita também uma tiragem especial, de 400 exemplares, numerada e assinada pelo fotógrafo, ao preço de $7,500.00 dólares americanos!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"O arquivo de Babel"

Informação recebida no De Rerum Natura

No próximo sábado, dia 16 de Janeiro, às 18 horas o fotógrafo Renato Roque apresentará na Casa da Esquina, em Coimbra, a conferência fotográfica "O arquivo de Babel" a partir do seu projecto fotográfico de retrato "Espelhos Matriciais".

A iniciativa, que cruza ciência e arte, gratuita e aberta ao público é da responsabilidade do THE PORTFOLIO PROJECT.


Do retrato como processo de reconhecimento da identidade e dissolução do sujeito
Texto de João Fernandes

"Todos nós já vivemos momentos em que julgamos reconhecer um rosto familiar e nos enganamos. Estamos na rua, num restaurante, num transporte público, e o rosto de alguém associa-se a um rosto que conhecemos, quando, de súbito, concluímos que, afinal, essa não era a pessoa que julgávamos poder identificar. Desfeito o engano, esquecemos esse instante em que um conjunto de complexas operações de percepção e associação cognitiva nos confrontou com as semelhanças e as diferenças detectáveis entre o rosto desconhecido e esse retrato que pensáramos reconhecer dentro da biblioteca mental dos retratos das pessoas nossas conhecidas.

Qualquer retrato pressupõe uma identidade ou um processo de identificação. Na história da arte, o retrato foi praticado durante séculos como uma técnica ao serviço do reconhecimento da identidade ou da legitimação de quem tinha o poder para se fazer retratar ou para encomendar o retrato de outra pessoa. De faraós a deuses, dos reis e príncipes a papas e a burgueses abastados, os museus de todo o mundo ilustram uma história de poderes políticos e económicos cuja dimensão simbólica converge nos retratos que conservam.

No entanto, os artistas que executavam esses retratos sempre aplicaram também a sua competência técnica de execução a figuras mais ou menos anónimas que não tinham o poder da encomenda, mas que lhes permitiam exercitar a radicalidade de um programa artístico onde a arte sempre se deixou contaminar pela vida, seja a partir da sua representação, seja a partir da sua interpretação e transformação. A par da família real espanhola, Velasquez deixa-nos uma galeria impressionante de retratos dos anões e bufões que povoavam a corte filipina. Flamengos e italianos tinham retratado camponeses nas figuras de santos que acompanhavam frequentes vezes os retratos dos encomendadores de um quadro.

O auto-retrato foi igualmente um género praticado como expressão dessa relação com a vida, com as suas mudanças e a sua fugacidade que parecem contradizer a própria natureza de registo que esse auto-retrato poderá documentar. Rembrandt, com os seus auto-retratos realizados ao longo de toda uma vida, será de tal um claro exemplo.

Com o aparecimento da fotografia, surge uma real democratização do retrato. Ao mesmo tempo que todos passam a ter a possibilidade de terem o seu retrato, também todos passarão a ser identificáveis por um retrato. Surgem os arquivos de identificação através dos quais todos os países irão cadastrar os seus cidadãos. Estes arquivos são uma evidência do retrato enquanto condição da identidade no seu confronto com a alteridade. Todos são um no conjunto de todos os outros. A similitude do retrato em relação ao retratado é a condição do processo de identificação.

No entanto, a arte do século XX, logo a partir dos primeiros Modernismos, nos anos 10 e 20, assumirá como condição da sua revolução estética e conceptual o desmentido da condição aristotélica da representação. Uma grande parte da história da arte do século XX ocupa-se da dissolução do sujeito e da crise da representação que a interrogação da realidade e da condição desse mesmo sujeito poderão pressupor, a partir do momento em que qualquer retrato não será mais do que um espelho superficial, quando conhecida a relevância do inconsciente que a investigação psicanalítica irá revelar. A heteronímia pessoana ou os versos de Mário de Sá-Carneiro “Eu não sou eu nem sou o outro,/Sou qualquer coisa de intermédio” (…) são exemplo dessa dissolução do sujeito que caracterizará a arte moderna. Marcel Duchamp compreenderá que a própria fotografia poderá ser a condição de um labirinto de identidades que confundirá a condição de verdade pressuposta pela sua condição de identificação, quando se faz fotografar por Man Ray enquanto Rrose Scélavy, o seu célebre “alter ego” feminino.

Toda uma história prolífica do retrato fotográfico vê-se por sua vez radicalmente revolucionada pelo desenvolvimento da informática e das linguagens computacionais. A fotografia assumirá claramente a possibilidade da representação icónica de uma realidade inexistente, provocadora de uma diferente relação com a percepção e a interpretação da realidade que conhecemos. Pretensas fotografias realistas passam a ser representações de realidades artificialmente encenadas e construídas como num filme, como acontece no caso da obra de Jeff Wall ou retocadas através de programas informáticos que as tornam “mais reais do que o real”, como acontece no caso da obra de Thomas Ruff .

Em Espelhos Matriciais, Renato Roque, no contexto do seu projecto de pós-graduação no domínio da engenharia informática, utiliza novas possibilidades gráficas de composição e decomposição da imagem que o computador lhe oferece. O fotógrafo parte de retratos por ele obtidos num universo académico de estudantes e professores para os decompor em componentes cuja recombinação lhe permitirá obter como ponto de chegada exactamente o mesmo retrato que é o seu ponto de partida. Um tão quanto complexo quanto laborioso processo de computação gráfica permite-lhe a decomposição e a recomposição da imagem de modo a encontrar as correspondências que possibilitam a percepção da identidade. A reconstrução dessa imagem anteriormente dissolvida em componentes cuja associação será o princípio do processo da sua reconstrução especular constituirá o ponto de chegada de todo este processo.

O que parece ser o mesmo não o é, assim como o que parece ser diferente tão pouco o é. Uma curiosa antropomorfização dos processos informáticos materializa o exercício da percepção e do reconhecimento visuais que é condição ontológica desse “deus ex machina” que também é o ser humano. Identidade e alteridade confundem-se e redefinem-se neste processo combinatório. Cada imagem recomposta a partir de uma imagem inicial surge como o resultado de um processo análogo àquele que na literatura replica a história bíblica da criação do homem à imagem de deus em cada narrativa de um autómato construído à imagem do homem, seja o Pinóquio de Carlo Collodi, sejam o Frankenstein de Mary Shelley, a criatura de Hoffman, ou os robôs de Karel Capek , aliás o inventor da palavra “robot”, e de Isaac Asimov.

Renato Roque apresenta a sua investigação em dois formatos: o formato académico de uma tese de pós-graduação e uma exposição que se apresenta pela primeira vez na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Na arte do nosso tempo, a exposição ou a obra de arte é muitas vezes a evidência do seu processo de realização, apresentado através de suportes documentais que fazem parte da sua própria natureza. As fotografias e as imagens que Renato Roque nos apresenta são registos documentais de uma narrativa específica que é a sua própria investigação científica. Importa diferenciar a fotografia da imagem? Serão fotografias os resultados da captura de uma imagem realizada por uma máquina accionada pelo fotógrafo e “imagens” os resultados dos processos gráficos realizados pelo computador? Serão ambas imagens de diferente natureza? Como articular a diferença dos seus processos de construção com a semelhança dos seus resultados? Como confrontar as possibilidades de falsificação do real que estes mesmos processos informáticos possibilitam, hoje facilmente praticáveis através dos vários programas de “morphing” existentes?

Ciência e arte cruzam-se nos processos técnicos que materializam estas imagens e que nos propõem um confronto com a percepção dos retratos que reproduzem, descaracterizando-os e recaracterizando-os em operações que nos confrontam com a própria natureza da percepção inerente a qualquer operação de identificação visual. A redundância é extrema, a ponto de nos deixar a interrogação do porquê de uma investigação que replica um retrato num outro retrato exactamente igual. No entanto, essa redundância torna-se paradoxal quando confrontada com a diversidade das imagens que encontramos nas componentes obtidas de cada retrato. Extrair o universal do particular sempre foi característico dos processos científicos. Indistinguir o particular do universal sempre foi característico dos processos de criação artística. Em ambos os processos, a finalidade ou o objectivo prático da construção da percepção ou do conhecimento são matérias irrelevantes.

Esta é a ambiguidade que Renato Roque nos oferece, a mesma ambiguidade geradora da obra de arte que fará parte da nossa natureza humana (Joseph Beuys assumia que cada homem era um artista…) e que assumimos no dia a dia, entre a percepção e o conhecimento, como em cada momento desse conflito entre o conhecido e o desconhecido que sucede quando pensamos reconhecer um rosto na multidão que se vem a revelar muitas vezes a expressão de uma decepção das nossas expectativas prévias ou a reconfiguração do desejo de outros rostos que ambicionaríamos reconhecer."

Pode o leitor ver aqui uma reportagem televisiva sobre o projecto.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma imagem da Nebulosa de Orion

Informação recebida pelo De Rerum Natura:

PORTUGUÊS VENCE CONCURSO MUNDIAL COM FOTOGRAFIA DE UM BERÇO DE ESTRELAS

Uma imagem da Nebulosa de Orion (ao lado), que está entre 1300 a 1500 anos-luz da Terra e é conhecida por ser uma zona próspera na criação de estrelas, valeu ao engenheiro electrotécnico Luís Miguel Santo, de 34 anos, o primeiro prémio do concurso mundial de astrofotografia das Galilean Nights, um dos projectos-chave do Ano Internacional da Astronomia.

A fotografia, captada em finais de Outubro na Atalaia (Montijo), venceu a competição Beyond Earth (Para além da Terra), que reuniu imagens do Universo captadas por todo o globo. Os participantes foram desafiados a obter imagens dos objectos astronómicos estudados por Galileu Galilei, o cientista que há 400 anos protagonizou as primeiras observações do céu realizadas através de um telescópio.

"O objecto que Galileu observou e que escolhi foi a nebulosa de Orion, também conhecida como o objecto de Messier 42 (M42) e que está enquadrada com outra nebulosa (NGC1977), denominada na gíria Running Man (olhando na zona azul, e com alguma imaginação, vemos um indivíduo a correr, tal como o nome em inglês sugere). Existe ainda uma zona de concentração de estrelas denominada trapézio, pela sua disposição, que foi objecto de estudo de Galileu", explica Luís Miguel Santo.

"A Nebulosa de Orion (zona avermelhada em baixo na fotografia), pertence à constelação de Orion, e é denominada uma nebulosa de emissão (nuvem de gás ionizado que emite luz de várias cores) dada a presença, entre outros, de enormes quantidades de hidrogénio, a principal matéria-prima das estrelas. É uma zona conhecida como profícua na criação de estrelas. A nebulosa NGC1977 é uma nebulosa de reflexão; nuvens de poeira que simplesmente reflectem a luz de uma ou mais estrelas vizinhas, e como tal apresenta uma coloração azulada", revela o astrónomo amador.

Luís Miguel Santo foi um dos numerosos entusiastas que participaram em Portugal nas Noites de Galileu, entre 22 a 24 de Outubro de 2009. No total, 18 cidades desenvolveram perto de 50 actividades muito espaciais, transformando, uma vez mais, o país num dos mais dinâmicos.

Para o engenheiro electrotécnico, o prémio foi uma cereja no topo do bolo uma vez que captar uma fotografia dos astros para além da Terra não é fácil requerendo uma árdua aprendizagem. "O ritual de preparação e obtenção de uma astrofotografia tem algo que se lhe diga. Começa por preparar de antemão os objectos a fotografar, bem como definir os principais parâmetros de exposição, enquadramento, e montar o equipamento... Uma sessão normal inicia-se pelas 22h e pode terminar quando a estrela mais perto da terra dá a volta", frisa.

Ao contrário da fotografia tradicional, cada imagem em astrofotografia é composta por vários fotogramas (podendo durar tipicamente até 15 minutos por fotograma), incluindo a cor que tipicamente é obtida através de filtros distintos para o vermelho, o verde e o azul. Posteriormente, toda a informação contida nos diferentes fotogramas (luz e cor) é alinhada e calibrada de forma a obter apenas uma imagem a cores de maior detalhe, explica Luís Miguel Santo.

"A Astronomia é para mim um desafio que reúne duas paixões: fotografia e ciência. A Astronomia... tem um pouco de filosofia e é um exemplo importante na eterna procura do conhecimento, em especial o de olhar o Universo, cada vez mais longe, para perceber algo bem próximo... a própria Humanidade e a sua história", sublinha.

A imagem está aqui.

domingo, 3 de janeiro de 2010

5.ª de imagens - Cinema e Fotografia

Informação recebida na caixa de correio do De Rerum Natura:

Ao longo de 2010 o THE PORTFOLIO PROJECT e a Casa da Esquina apresentarão, durante 45 semanas, o ciclo de Cinema e Fotografia “5ª de imagens” que abordará as diferentes formas de interacção entre imagem fotográfica e cinematográfica no grande ecrã.

No primeiro trimestre do ano o ciclo revela quatro fotógrafos que também são cineastas – William Klein, Raymond Depardon, Agnès Varda e David LaChapelle – que constituirão o ponto de partida para a reflexão sobre a cumplicidade entre as duas práticas artísticas.

Nos meses seguintes a programação apresentará documentários sobre consagrados fotógrafos internacionais entre os quais Henri-Cartier Bresson, Robert Doisneau, Annie Leibovitz, Leni Riefenstahl, Nobuyoshi Araki e James Nachtwey bem como filmes de ficção em que o papel da fotografia ou do fotógrafo tenha um relevo especial.

O acesso à referida programação será totalmente gratuito para os membros do THE PORTFOLIO PROJECT e todas as projecções serão seguidas de uma conversa informal entre os espectadores.

As sessões terão lugar todas as 5ªs feiras, exceptuando durante o mês de Agosto, às 22h, na Casa da Esquina, em Coimbra.

Janeiro 2010 Ciclo William Klein (em versão original, não legendados)
Filmes (sessões às 22h)
dia 7 de Janeiro, “Le Messie”
dia 14 de Janeiro, “Muhammad Ali the Greatest”
dia 21 de Janeiro, “Grands soirs et petits Matins”
dia 28 de Janeiro, “The French”

Fevereiro 2010 Ciclo Raymond Depardon (em versão original, não legendados)
Filmes (sessões às 22h)
dia 4 de Fevereiro, “La vie moderne”
dia 11 de Fevereiro, “San Clemente”
dia 18 de Fevereiro, “Urgences”
dia 25 Fevereiro, “Reporters”

Março 2010 (sessões às 22h)
Sobre David LaChapelle
Filme (em versão original, não legendado)
dia 4 de Março, “Rize”

Filmes Ciclo Agnès Varda (sessões às 22h)
dia 11 de Março “Os respigadores e a respigadora”
dia 18 de Março, “Varda Tous Courts” (Ydessa, les ours, et etc… Ulysse Salut les Cubains) (filmes em versão original, não legendados)
dia 25 de Março, “Daguerréotypes” (versão original, não legendada)

Mais informações aqui.

Contatos Casa da Esquina Rua Aires de Campos nº 6, 3000-014 Coimbra (ao lado do Convento das Carmelitas) Tel.: 239041397/ Tlm:962732563, Email: geral@casadaesquina.pt

Autocarros
: 103, 04, 06.

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...