Em 2006 foi estreado um filme que arrepiou muitos nos Estados Unidos da América. A sinopse do filme Jesus Camp, indica que «Um número crescente de cristãos evangélicos acredita que está a decorrer um renascimento da América em que a juventude cristã tem de assumir a liferança do movimento conservador cristão. O filme Jesus Camp segue Levi, Rachael, Tory e mais algumas crianças no campo de verão Kids on Fire em Devil’s Lake, North Dakota, dirigido por Becky Fischer, em que crianças tão novas quanto 6 anos são ensinados a tornarem-se dedicados soldados cristãos do exército de deus.
O filme segue as crianças no campo à medida que estas aperfeiçoam os seus dotes proféticos e são ensinadas em como retomar a América para Cristo. O filme dá uma visão inédita sobre o intensivo campo de treino que recruta crianças cristãs renascidas para tomarem um papel activo no futuro político dos Estados Unidos».
O filme foi visualizado por David Byrne, que partilha no seu blog as impressões sobre o mesmo. Como refere, no campo Fischer diz às crianças que devem estar dispostas a morrer por Cristo e estas concordam obedientemente. Byrne, que indica ter Fischer usado o termo mártir, consegue imaginar as crianças assim doutrinadas a transformarem-se em bombistas suicidas em tudo análogos aos correspondentes fundamentalistas islâmicos.
Como referiu na altura PZ Myers, apenas o trailer do filme é arrepiante mas mais arrepiante é o que soube ontem no post «Be afraid». Neste, PZ Myers recomenda a todos a leitura do artigo «Theocratic Sect Prays for Real Armageddon» do jornalista Casey Sanchez, que deixou o ano passado o Chicago Reporter para se juntar ao Southern Poverty Law Center.
No artigo, Sanchez aborda o Exército de Joel, um ramo dominionista que pretende estabelecer o «reino do céu» na Terra. A maioria dos grupos dominionistas norte-americanos tem tentado isso através da infiltração no Supremo Tribunal, formado por juízes de nomeação vitalícia, de gente como Janice Rogers Brown. Esta, numa reunião de advogados católicos, afirmou que «as pessoas de fé estão envolvidas numa guerra contra os humanistas seculares que querem separar a América das suas raízes religiosas», guerra que deveria ser travada com as armas da lei, por exemplo, por aprovação de leis mais «divinas» que aplicassem castigos «bíblicos» a crimes também «bíblicos» como «sodomia», adultério, apostasia, heresia ou aborto. E o castigo «bíblico» nestes casos é uma sentença de morte. Ou então com a aprovação do «Acto da Restauração» de que já falei.
Mas o Exército de Joel parece mais apostado a recorrer a outras armas, que recordam o jogo cristão que fez e faz furor nos Estados Unidos, «Left Behind: Eternal Forces». Neste, o jogador é «um soldado de um grupo paramilitar cujo objectivo é transformar a América numa teocracia cristã e estabelecer a visão mundana do domínio de Cristo sobre todos os aspectos da vida» que tem como missão «converter ou matar católicos, judeus, muçulmanos, budistas, homossexuais, todos os que advoguem a separação do estado e da Igreja, especialmente cristãos moderados 'de café'».
O Exército de Joel, para além de subscrever a missão do «Left Behind», postula algumas crenças espantosas reveladas por Ernie Gruen, um ex-membro do movimento:
«According to Gruen's report, students at the school were taught that they were a 'super-race' of the 'elected seed' of all the best bloodlines of all generations -- foreknown, predestined, and hand-selected from billions of others to be part of the 'end-time Omega generation.'Esta crença na «super-raça» parece beber as suas raízes no anti-intelectualismo e postura anti-ciência do movimento, que pensa que todos os intelectuais e todas as pessoas inteligentes e instruídas são fruto da «semente do Diabo»:
Though he'd once promoted these doctrines himself, Gruen became convinced that the movement was turning into an end-times cult, marked by what he summarized as 'spiritual threats, fears, and warnings of death,' 'warning followers to beware of other Christians' and exhibiting a 'super-race' mentality toward the training of their children.»
«Michael Barkun, a leading scholar of radical religion, notes that in 1958, Branham began teaching 'Serpent Seed' doctrine, the belief that Satan had sex with Eve, resulting in Cain and his descendants. 'Through Cain came all the smart, educated people down to the antediluvian flood -- the intellectuals, bible colleges,' Branham wrote in the kind of anti-mainstream religion, anti-intellectual spirit that pervades the Joel's Army movement to this day. 'They know all their creeds but know nothing about God.'»A parte mais preocupante nesta história não é facto deste exército apocalíptico estar a recrutar seguidores aos milhares mas sim a revelação de que Sarah Palin, a governadora do Alasca escolhida recentemente por McCain para vice-presidente da candidatura republicana à eleição de Novembro, pertence a uma igreja dominionista com ligações ao Exército de Joel.
Sobre a posição assumidamente anti-ciência da criacionista Palin não há quaisquer dúvidas mas podemos apenas esperar que este membro vitalício da National Rifle Association (NRA) e grande amante da caça ao lobo não subscreva as ideias mais «radicais» da igreja a que pertence ou que no caso de as subscrever pelo menos não as transponha para a política se a candidatura republicana vencer as eleições de Novembro.