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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A verdade existe?

A verdade existe? Eis uma pergunta recorrente em áreas que se pautam pelo modo de pensar objectivo, rigoroso, científico. Mais: trata-se duma pergunta que fez nascer esse modo de pensar e que não o deixar sossegar. Sem ela e sem a tendência para responder que sim, que existe verdade (ainda que esta, quando formulada, não se deva declarar como definitiva), seria impossível termos esse modo de pensar.

Deve acrescentar-se que este modo de pensar - desejavelmente presente na ciência, mas também na justiça, entre outras áreas - tem os seus critérios. Um deles é que a noção de verdade, apesar de ter sido inventada por pessoas, não decorre do entendimento contextualizado de algumas pessoas. É preciso que as conjecturas avançadas para explicar algo, além de respeitarem as regras da lógica, sofram a "prova de fogo" da realidade. Nesta prova, todas as pessoas, independentemente do contexto social, cultural, étnico ou outro a que pertencem, poderão chegar às mesmas conclusões, ou, então, duvidar delas ou mesmo refutá-las, caso os factos indiquem nesse sentido.

Ainda que muitos cientistas, epistemólogos e outros pensadores dissertem sobre este assunto, os que se pautam pelos princípios iluministas ou, na expressão do filósofo inglês T. Nagel, neo-iluministas, têm por mais ou menos pacífico o que acabei de referir. É certo que há os pós-modernos que, não abdicando da tal contextualização, afirmam a total impossibilidade de aceder a uma verdade que vá além daquela que é localizada no tempo e no espaço, e sempre por referência à subjectividade de quem a declara... E, se alguém a declara, então, passa a existir com certeza, a verdade. Ou melhor: "a verdade para..." Como qualquer argumento esbarra na opinião do outro ou de um grupo, não há muito a fazer para prosseguir qualquer raciocínio...

Este último entendimento de verdade, pelas inconsitências várias que lhe têm sido apontadas, parece não ter grande esperança de vida. Engano: quando tudo leva a crer que esmoreceu e que não transitou para o século XXI, vê-se ressuscitar neste artigo, naquela conferência, numa outra entrevista...

Foi o que percebi mais uma vez recentemente e desta vez não foi no campo da educação. Lembrei-me, naturalmente, duma passagem do Imposturas Intelectuais de Alan Sokal e Jean Bricmont, que, a seguir trancrevo, de modo que o leitor perceba melhor do que falo:
“Eis o contexto: em 1996 a Bélgica viveu o drama das crianças desaparecidas e assassinadas, no seguimento do qual foi criada uma comissão de inquérito a fim de examinar as deficiências verificadas durante a investigação policial. Duas pessoas — um polícia (Lesage) e um magistrado (Doutrèwe) — foram inquiridas para saber se a primeira tinha ou não entregue o dossier ao magistrado, que este negava ter recebido. No dia seguinte um antropólogo da comunicação, Yves Winkin, professor da Universidade de Liége, foi entrevistado por um dos principais jornais belgas (Le soir, de 20 de Dezembro de 1996). Foi-lhe colocada uma questão:

Questão: O confronto [entre Lesage e Doutrèwe] foi estimulado por uma procura drástica da verdade. A verdade existe?

Resposta: (…) penso que todo o trabalho da comissão se baseia numa espécie de pressuposto, o de que existe, não uma verdade, mas a verdade, que, se se pressionar bem, acabará por surgir. No entanto, antropologicamente, só existem verdades parciais, partilhadas por um número maior ou menor de pessoas, um grupo, uma família, uma empresa. Não existe verdade transcendente. Não penso por isso, que o juiz Doutrèwe ou o polícia Lesage estejam a esconder algo: ambos falam a sua verdade. A verdade está sempre ligada a uma organização em função dos elementos considerados importantes. Não é de estranhar que estas duas pessoas, representando cada uma universos profissionais distintos, exponham uma verdade diferente cada uma. Dito isto, no contexto de uma tal responsabilidade pública, penso que a comissão só pode prosseguir no sentido que actualmente prossegue».

Estamos perante um exemplo notável das confusões criadas pelo vocabulário relativista (…). Acima de tudo, o objecto do inquérito é um facto material, o envio de um dossier (poderá pensar-se que este foi enviado e se perdeu no caminho, mas isto também é uma questão factual bem definida). É claro que o aspecto epistemológico é complexo: como é que a comissão vai saber o que realmente se passou? Mas isto não impede que haja uma verdade: ou o dossier foi enviado ou não foi. Não se compreende muito bem o que se ganha com a redefinição do termo verdade (mesmo que seja parcial) para que passe a significar simplesmente «uma crença partilhada por um número maior ou menor de pessoas (…) estamos perante uma situação que roça o absurdo: ambas as pessoas falam a mesma língua, não moram a mais do que uma centena de quilómetros de uma comunidade belga francófona (…). O problema não é, manifestamente, o da impossibilidade de comunicação: as duas pessoas em confronto compreendem perfeitamente o que se passa e, sem dúvida, sabem qual é a verdade. Simplesmente uma delas não está interessada em revelá-la. Mesmo na hipótese de as duas falarem verdade, ou seja, no caso de o dossier se ter perdido, o que é logicamente possível (ainda que improvável), ainda assim não faz sentido dizer que «ambas falam a verdade». Quando se chega a conclusões práticas, felizmente, o antropólogo admite que a comissão «só pode conseguir», quer dizer, procurar a verdade. Tanta confusão para se chegar a esta conclusão.”
Referência completa: Sokal, A. & Bricmont, J. (1999). Imposturas intelectuais. Lisboa: Gradiva, páginas 103-104.

sábado, 10 de outubro de 2009

Romeu e a verdade

No De Rerum Natura tem-se escrito sobre a interessantíssima relação entre duas áreas de conhecimento: a arte e a ciência.

O matemático e epistemólogo Jacob Bronowski, à semelhança de outros intelectuais, dedicou muita da sua reflexão a este assunto: Como se pensa numa e noutra área? Em que se assemelham? Em que diferem?

Numa passagem da sua obra A responsabilidade dos cientistas e outros escritos, diz o seguinte:
“A ciência tal como a arte não é uma cópia da Natureza mas uma recriação da mesma. O acto criador é semelhante na arte e na ciência, mas não pode ser idêntico nas duas; tem de existir uma diferença assim como uma semelhança. Por exemplo, certamente que o artista no seu acto criador abre uma dimensão de liberdade que está vedada ao cientista (...). A sansão da verdade é um limite exacto que encerra (o cientista) de uma forma que não constrange o poeta ou o pintor.

Shakespeare pode fazer com que Romeu diga coisas acerca do olhar de Julieta que, se bem que reveladoras, não são de facto verdadeiras:

Oh, Ela ensina os fachos a arderem com mais brilho
Mas repara, que luz penetra além da janela?
É o Oriente e Julieta é o Sol.


O próprio Shakespeare está ciente de que estas afirmações diferem das que são feitas por observadores precisos. No entanto ele explora deliberadamente a diferença, por um novo feito poético, no soneto que começa mordazmente

Os olhos da minha Amada não se comparam com o Sol.

Isto tem o seu quê de pungência em não ser poético. Shakespeare, intencionalmente, desempenha neste soneto o cientista meticuloso que vai directamente ao fim,

O coral é de longe mais vermelho que os seus lábios
Se a neve é alva, quão escuros será o seu seio.


com o objectivo de afirmar, por último, de forma irresistível, que, mesmo no mero plano dos factos, o seu amor é incomparável. Sem dúvida que Shakespeare estaria disposto a aduzir noutra ocasião que a imagem poética pode ser considerada verdadeira: a parábola do Filho Pródigo é verdadeira em certo sentido, e do mesmo modo o é a perseguição de Orestes pela Fúrias, e as imagens da própria peça Romeu e Julieta (...).

Não podemos evitar a pergunta histórica - que é a verdade? (...) a civilização de que nos orgulhamos adquiriu uma nova força no dia em que foi feita a pergunta. Mais tarde, adquiriu a sua maior força através de homens do Renascimento como Leonardo, para quem a verdade em relação ao facto se tornou uma paixão. A confirmação do facto experimentado como face da verdade é um assunto profundo e a mola principal que fez mover a nossa civilização desde o Renascimento."

Referência:
- Bronowski, J. (1992). A responsabilidade dos cientistas e outros escritos. Lisboa: Dom Quixote, ps. 128-130.

Imagem:
Reprodução de uma pintura a óleo de Ford Madox Brown, de 1870
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sábado, 26 de setembro de 2009

O sexto valor

O Professor Alexandre Quintanilha, na conferência que, na passada quinta-feira, proferiu no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, enunciou cinco valores que entende serem inerentes à Ciência: (1) Exactidão preditiva, ou a capacidade de se prever aquilo que ainda é desconhecido; (2) Coerência interna, ou a exigência de os vários elementos de uma teoria não se contradizerem; (3) Consistência externa, ou a ideia de que não se devem violar princípios científicos estabelecidos que, por serem sólidos, muito dificilmente podem ser questionados; (4) Capacidade unificadora, ou a possibilidade, que infelizmente só raramente surge, de se conseguirem esclarecer, em simultâneo, vários dados; (5) Fertilidade (ou fecundidade), ou a aptidão para abrir novos domínios de pensamento.

Adicionou a estes, um sexto valor: a simplicidade ou elegância, que remete para a ideia de que uma teoria científica tem sempre qualquer coisa de esteticamente atraente ou apelativa. Trata-se de um valor que, na sua perspectiva, se afigura como problemático, pois parece estar mais ligado à Psicologia do que à Lógica.

Este valor fez-me lembrar uma entrevista a Gunther S. Stent, Físico-Químico de formação, que veio a destacar-se na área de Biologia Molecular.

"G. Stent: (...) quando trabalhei no Japão. Foi num ano sabático, em 1960. Nos laboratórios havia gente de bata branca a trabalhar com ultracentrifugadoras, fagos, mutações, etc., como qualquer outra. Mas fiquei espantado ao descobrir que eram fundamentalmente diferentes na maneira de atacar os assuntos. A opinião acerca do que estavam a fazer parecia bastante diferente da minha. Foi assim que essa experiência pessoal da diferença radical entre a ciência japonesa e aquilo que eu sei ser a ciência ocidental (...).

Entrevistador: Então qual é a diferença?
G. Stent: Tem a ver com a noção de realidade e verdade (...) o que descobri no Japão foi uma noção muito mais estética. O elemento verdade não era primordial. Para eles, escrever documentos elegantes era muito mais importante e a beleza do documento sobrepunha-se à verdade. Deparei primeiro com isto quando percebi que a noção de uma experiência controlada parecia estranha aos Japoneses. São pensadores muito mais positivos. Para eles uma experiência controlada é negativismo, bem vê, como se fosse uma tentativa para destruir coisas. Não gostam. Durante os seminários, o tipo de perguntas que faziam também não eram críticas. Primeiro julguei que se tratava só de delicadeza, porque os Japoneses são muito delicados. Mas, na realidade, existe uma base filosófica e religiosa muito mais profunda. É o budismo, por contraste com o cristianismo. Julgo que a ciência ocidental depende da noção de lei e ordem. Do ponto de vista histórico pode fazer-se remontar essa noção àquela de um Universo ordenado e criado por Deus, que fez as suas leis. Mais, ainda, Ele criou-nos à Sua imagem e, por conseguinte, é-nos permitido adivinhar as razões que teve, na Sua infinita sabedoria, para conseguir construir o mundo. E assim toda a empresa da ciência, metafisicamente — refiro-me à base metafísica da ciência ocidental — depende dessa crença: Deus, o Criador, fez as suas leis, criou-nos à Sua imagem e, por conseguinte, procuramos saber o que são as Suas ideias. Há algumas probabilidades de as descobrirmos, bem vê. Mas, para os budistas, um tal conceito é considerado o cúmulo da candidez. Porque, para eles, qualquer pessoa com o mínimo de raciocínio, sabe que o mundo é infinitamente complexo. É aí, pois, que encontramos a diferença fundamental. Porque se crê que não existem leis e que não há qualquer ordem, também não existe qualquer verdade. Não passa tudo de uma questão subjectiva, que é exactamente o que dizem agora os filósofos avant gard da ciência. Mas a opinião enraizada dos Japoneses tem sido essa, há milénios.

Entrevistador: Mas eu sempre acreditei na ordem, pura e simplesmente porque o mundo me parece ordenado (...).
G. Stent: É claro que a regularidade faz parte da nossa experiência e aprendemos isso desde o berço. Mas já não é a mesma coisa acreditar que no mundo existe a ordem. Ensinaram-nos que a ordem é o reflexo das leis subjacentes que nos é dado descobrir. Mas isso não é necessariamente o mesmo. Isso, julgo eu, é de certo modo um reflexo de uma crença deísta. E acredito que enquanto os budistas estavam errados a curto prazo, porque o mundo se revelou mais compreensível do que eles pensavam, acabaram por estar certos a longo prazo. Agora que empurrámos a ciência até aos seus limites, vemos que, afinal de contas tinham razão.”

Referência bibliográfica:
Stent, G.
(1988). Descrever a natureza. L. Wolpert & A. Richards (1988). Uma paixão pela ciência. Lisboa, Edições Salamandra, 103-112.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

"O caminho das duas verdades"

Jacob Bronowski (1908-1974) matemático e filósofo polaco, aluno de Cambridge, professor em diversas academias de mérito, divulgador entusiasta de ciência, senhor de uma prosa clara, perspicaz e envolvente.

Vale a pena ler uma passagem dum pequeno livro intitulado Magia, Ciência e Civilização, onde disserta sobre essa questão antiga que é a verdade no quadro da fé e no quadro da lógica.

“[A] cena famosa, ocorrida em 1666, num jardim de uma casa de campo, quando Newton era rapaz, foi quase casual (...) calcular o que aconteceria se a força da gravitação chegasse à Lua (...). Deu-se, em seguida, o salto muito mais ousado, em Newton, de que ela chegava ao Sol e ia mais além dele.
Ora isto era uma especulação claramente nova, mas não inteiramente nova. Porque, em 1618-1619, mais ano menos ano, Kepler publicara um livro verdadeiramente extraordinário chamado Somnium, que era uma viagem imaginária à Lua — tema assaz favorito da ficção científica em todo o século XVII. Mas Kepler foi o primeiro homem que disse que quando se viaja daqui para a Lua, a gravidade nos acompanha durante todo o percurso, mas haverá um momento em que a gravidade da terra cessará e revelará a gravidade da Lua. É uma coisa esplêndida ter-se disto isto há trezentos e cinquenta anos — especialmente se se considerar que os homens levaram quase trezentos e cinquenta anos para experimentar um fenómeno de que este engraçado astrologozinho, que vivia pacatamente de escrever livros sobre astronomia, já tinha falado em 1618 ou acerca disso.
Se lerdes o Somnium, vereis que Kepler diz que há um ponto em que a gravidade diminui, e então faz um cálculo e o cálculo está errado. O cálculo estava errado porque ele pensava que a força da gravidade variava na função inversa da distância, e não na razão inversa do quadrado da distância [o que Newton viria a esclarecer] (...).
Constitui um quebra-cabeças saber como é que Kepler chegou a esta noção. O livro só apareceu depois da sua morte, quando o seu filho o publicou. Causou a sua mãe problemas relacionados com bruxaria, porque o clero local acreditava que o livro descrevia uma autêntica viagem à Lua — o que, há trezentos e cinquenta anos, era considerado ignominioso e não, como hoje, heróico.
Não é muito claro onde é que Kepler topou com esta noção, porque ela era muito avançada para a sua época — cerca de cinquenta anos à frente de Newton e da sua época. Mas parece provável que ele tivesse andado a ler alguns escritores neoplatónicos, que na altura estavam na moda. Entre esses neoplatónicos ele leu Nicolau de Cusa, que disse algo sobre o facto de que as massas dos corpos deveriam atrair-se umas às outras. Ora Nicolau de Cusa colheu esta noção num escritor do século V chamado Dionísio de Aeropagite, e Dionísio disse que de certeza as massas dos corpos se atraem umas às outras porque todo o Universo está repleto do amor de Deus: por esta razão, cada massa está cheia de amor por todas as outras massas, e por esta razão todas as massas estão cheias de amor umas pelas outras (...)
Quando Kepler leu Nicolau de Cusa, quando Nicolau de Cusa leu Dionísio de Aeropagite, ambos acreditaram que essa pessoa existia realmente. Bem, não existia. O homem que escreveu aquele trecho sobre o amor de Deus foi um impostor do século V que pretendia ter vivido muito antes da época em que de facto viveu, a fim de que os seus escritos pudessem ser aceites pela igreja como fazendo parte da lei dos pais da igreja (...) o problema da sociedade anterior a Copérnico, Kepler e outros, era o de que o que se dizia não tinha que ser verdadeiro desde que fosse religioso. Ora isto parece ser uma coisa muito desagradável de dizer, e não é minha intenção ultrajar as sensibilidades religiosas de ninguém, mas havia naquela época uma maneira de pensar que os próprios praticantes apelidavam de o «caminho das duas verdades» — havia uma verdade pela fé e uma verdade pela lógica. É óbvio que Aquino procurava combinar as duas mas desde a época de Aquino, desde 1250, até cerca de 1500-1550, surgiram muitos documentos que tinham sido escritos como história da igreja e que não passavam de falsificações, e todavia as pessoas que os escreveram não pensavam que isto pudesse de algum modo ultrajar a dignidade da igreja (…) (páginas 16-20).
Quando Newton publicou os Principia, em 1687, foi uma sensação — não só entre os cientistas mas também entre as pessoas pensantes, que reconheceram de imediato que o Mundo tinha sido reorganizado. Alexandre Pope (...) disse: «A natureza e as leis da natureza jazem ocultas em noite. Deus disse: faça-o Newton e tudo se fez luz». E era isso que as pessoas sentiam realmente; Bentley, o Mestre de Trinity, o maior figurão da igreja de Inglaterra daquela época, disse que foi por isso que tinha pedido a Newton autorização para pregar sobre a lei da gravitação como o derradeiro e supremo exemplo da lei divina” (página 15).

Referência completa da obra citada:
- Bronowski, J. (s.d). Ciência, magia e civilização. Lisboa: Edições 70.

CENSURA E EDUCAÇÃO NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL DURANTE AS DITADURAS DE FRANCO E DE SALAZAR

A censura de livros para a infância e juventude tem um historial antiquíssimo e não há fronteiras físicas políticas, morais ou sociais que a...