segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Connecting the DOTS

The confidence to make it happen.
The only way to do great work is to love what you do.
Stay hungry, stay foolish.



We are what we learn.



How can you encourage a child?
Use your imagination.



:-)

domingo, 29 de novembro de 2009

Biblioteca Digital Camões

Na Biblioteca Digital Camões pode o leitor encontrar e descarregar inúmeros livros em PDF, entre os quais a saudosa colecção Biblioteca Breve.

Os títulos são bastante úteis, sobretudo, para alunos e professores de literatura e cultura portuguesas, mas também para todos os que se interessem por livros.

"O ensino é em si uma caricatura"

Luísa Costa Gomes apresentou neste mês o seu novo romance, intitulado Ilusão (ou o que quiserem) que se centra na "relação entre a realidade, a ilusão e o realismo". Os principais personagens são uma professora e um actor. Sobre o ensino, pode ler-se na entrevista a Maria Leonor Nunes (Jornal de Letras de 18 de Novembro, páginas 14-16) o seguinte:

JL: No seu romance, faz um fresco acutilante e irresistível do ensino, das estratégias educativas, do chamado eduquês, assim como dos bastidores e trabalhos do teatro e da Cultura. E nada, nem ninguém parece ter escapatória. Teve consciência que é uma verdadeira provocação?

LCG: Sim, diverti-me imenso a escrevê-lo. Um amigo até me disse que tinha ido hostilizar os meus leitores, que são maioritariamente actores e professores de português. Evidentemente que não se trata de hostilizar. O ensino é em si uma caricatura. Quer em termos de competitividade, quer ao nível das relações com os alunos, do manancial de despachos e regras, das estratégias e os objectivos. Admiro os professores, a capacidade de todos os dias malharem na Língua Portuguesa, na Matemática, sem desfalecerem, voltando sempre à luta.

JL: As professoras do seu romance teriam por certo uma boa classificação em qualquer avaliação pela sua extraordinária persistência...

LCG: Não sei, não sei. Porque são muitos parâmetros de avaliação. Se calhar não chega ir morar para o pé dos alunos e levantar-se aos domingos para lhes dar um Bolicao.

Ainda sobre as virtudes na vida espiritual dos romanos...

"E se Roma atingiu tão rapidamente essa espécie de invulnerabilidade que a protege dos inimigos, é porque as tradições e os costumes lhe asseguram uma superioridade de facto sobre todos os outros homens: austeridade, disciplina, fidelidade aos compromissos, uma honestidade rígida fazem dela uma cidade única entre todas as outras."
Políbio

A leitura das obras romanas recomendam-nos a deificação de três virtudes sem as quais qualquer empresa colectiva perde a resiliência. Na verdade, parecemos tão acostumados a ver a falta de valores morais nos nossos dias, que nos esquecemos que a coesão de um qualquer grupo se deveria estabelecer numa vivência semelhante.

A forma como Roma se conseguiu impor, em pouco tempo, aos povos vizinhos, e a grandeza que a cidade alcançou foram motivo de espanto para outros povos que procuravam uma explicação para este crescimento.

Se lidas com atenção as obras de autores romanos, reconhecemos extraordinárias as exigências morais dos romanos. A devoção, devotio, à Pátria e à Urbe, encarregava-se de uma preocupação constante na edificação de modelos morais de conduta. O respeito que votavam à tradição e ao costume dos antepassados, mos maiorum, e o respeito pela religião, conduzia o cidadão a pautar-se por códigos rígidos que cumpria piamente e que o conduzia numa procura da excelência que se sustentava na sabedoria.

Os Romanos obedeciam a valores morais e políticos - alguns herdados dos Gregos, mas a maior parte especificamente seus - que o mundo moderno, consciente ou inconscientemente, adopta para os padrões de comportamento actual. Virtus, Pietas e Fides constituem a tríade fundamental que dominava a vida dos romanos (a vida familiar, a economia e a sociedade). A coragem e valentia própria do vir (homem), o respeito pelos deveres religiosos, cívicos ou familiares e fidelidade aos juramentos e compromissos, revestiam o ideal de Humanitas, o comportamento próprio do homem que se concentra no que lhe é intrínseco – a cultura intelectual, a bondade de carácter, a cortesia e o dever.

Estes valores eram-no na edificação do ser a nível individual, mas resultavam na integração social e cívica plena. Uma mensagem que o mundo moderno não pode esquecer.

Imagem: António Manuel da Fonseca, 1796-1890. Eneias Salvando seu Pai Anquises do Incêndio de Tróia (1855), óleo sobre tela 304 x 214 cm. Palácio Nacional de Mafra, Portugal

Sobre a virtude...

«Haverá filósofos que pretendem induzir-nos a dar grande valor à prudência, a praticarmos a virtude da coragem, a nos aplicarmos à justiça — se for possível — com maior empenho ainda do que às restantes virtudes. Pois bem: de nada servirão estes conselhos se nós ignorarmos o que é a virtude, se ela é una ou múltipla, se as virtudes são individualizadas ou interdependentes, se quem possui uma virtude possui também as restantes ou não, qual a diferença que existe entre elas.
Um operário não precisa de investigar qual a origem ou a utilidade do seu trabalho, tal como o bailarino o não tem que fazer quanto à arte da dança: os conhecimentos relativos a todas estas artes estão circunscritos a elas mesmas, porquanto elas não têm incidência sobre a totalidade da vida.

A virtude, porém, implica tanto o conhecimento dela própria como o de tudo o mais; para aprendermos a virtude temos de começar por aprender o que ela é. Uma acção não pode ser correcta se não for correcta a vontade, pois é desta que provém a acção. Também a vontade nunca será correcta se não for correcto o carácter, porquanto é deste que provém a vontade. Finalmente, o carácter não poderá atingir a perfeição se não compreender as leis que regem a totalidade da vida nem investigar qual o juízo correcto a fazer sobre cada coisa, em suma, se não aferir todas as coisas pela verdade.

A serenidade não é apanágio senão de quem alcançou um conhecimento imutável e infalível sobre o mundo: os demais tomam agora uma decisão, depois arrependem-se e permanecem indecisos sem saber se hão-de levar ou não até ao fim os seus propósitos. A causa que os faz andar assim à deriva é eles guiarem-se pelo mais falível dos critérios: a opinião comum! Se queres que a tua vontade permaneça a mesma, terás de só desejar a verdade. Ora, à verdade não podemos chegar sem conhecermos os princípios básicos da filosofia, os quais incidem sobre a totalidade da vida.

O bem e o mal, a moralidade e a imoralidade, a justiça e a injustiça, a piedade e a impiedade, as virtudes e o emprego das virtudes, a posse de bens úteis, a reputação e a dignidade, a saúde, a prestança física, a beleza, a acuidade dos sentidos — tudo isto exige da nossa parte uma correcta capacidade de avaliação.

Há que saber quanta e qual a importância a conceder aos meios de fortuna. Tu, efectivamente, laboras em erro ao atribuir a certas coisas maior valor do que o devido, e laboras tanto mais em erro quanto é certo que coisas consideradas entre nós como especialmente valiosas (riqueza, influência, poder) não valem, na realidade, sequer um sestércio.

Ora, a isto não poderás chegar se ignorares a proposição de base através da qual acedemos à determinação do valor respectivo de cada coisa. Assim como as folhas, isoladamente, não podem estar viçosas e precisam de ramos em que se sustentem e de que recebam a seiva, assim também todos esses preceitos, desamparados, murcham; as podas só medram se plantadas!»

In Cartas a Lucílio, Séneca.

Imagem: Jacques-Louis David (1748- 1825)

A Odisseia adaptada para jovens

Frederico Lourenço prossegue o seu intuito de divulgação dos clássicos com a adaptação da Odisseia para os leitores mais jovens.
Esta obra foi publicada pela Editora Cotovia, que tem promovido nos últimos anos traduções, por especialistas, de obras clássicas.

Reveja-se o catálogo aqui.

PORTUGUESES E EXTRATERRESTRES

Informação recebida da editora Planeta:

No âmbito de um a investigação levada a cabo no CTEC, da Universidade Fernando Pessoa, acaba de ser editada a antologia “De Outros Mundos. Portugueses e Extraterrestres no século XX”,uma visão multidisciplinar que, pela primeira vez, trata do ponto de vista científico esta controversa matéria, numa revisão das crenças, leituras e interpetações das experiências insólitas alegadas por cidadãos portugueses ao longo do século XX.

São 19 trabalhos de 23 investigadores oriundos de várias universidades portuguesas e que legitimam assim uma abordagem única, pioneira, de um tema recuperado da marginalidade académica para o qual havia sido relegado. Mas, como disse Niels Bohr, Nobel da Física, “não há temas idignos de Ciências, mas métodos indignos dela”.

Da Apresentação do volume:

“Textos inéditos e fundamentais sobre “De Outros Mundos…”

Ao longo do século XX, milhares de portugueses confrontaram-se com o inesperado e o desconhecido, vindos de algures. Cerca de 800 “encontros” súbitos, por vezes traumáticos, com “luzes” e objectos voadores vindos de algures, mas também com seres insólitos, estranhos, aparentemente pouco humanos...

Dos arquivos do CTEC – Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, da Universidade Fernando Pessoa, revela-se finalmente um retrato de “corpo inteiro” do ideário extraterrestre, tal como foi sendo vivido entre nós, as suas experiências incríveis e as visões celestes” protagonizadas por cidadãos comuns.

Um estudo único participado por experimentados investigadores e teóricos nacionais que se juntaram num projecto singular. Da antropologia à física, passando pela psicologia e a religião, variadas são as propostas de leitura e interpretação destas caprichosas “observações” e dos eventuais agentes que as provocam.

Esta antologia, a primeira no seu género, em língua portuguesa, elaborada por uma vasta equipa de académicos nacionais, propõe-nos uma digressão por “outros mundos” que se atravessaram, subitamente, no quotidiano normal de pessoas normais. Uma visita guiada pela mão de especialistas, de diferentes disciplinas aos conceitos, ideias e imagens geradas em Portugal durante um século.

De onde procedem estas “aparições” de fenómenos extraordinários que, durante décadas, espantaram e muitas vezes confundiram cidadãos de todas a idades e condições sociais em toda a geografia do território nacional? Um grande inquérito a um verdadeiro “mito” vivo: a ideia do Outro além de nós. Que origens, que evolução, que modelos foi revelando esse imaginário ET como parte integrante da nossa cultura contemporânea?

Sobre o coordenador do volume:

Joaquim Fernandes - professor na Universidade Fernando Pessoa e co-fundador do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência (CTEC). É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e mestre em História Moderna. Doutorou-se em História, com a tese “O Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa – do fim da Modernidade até meados do século XIX”, a primeira no seu género a ser apresentada numa universidade portuguesa e europeia. Autor de várias obras de investigação histórica, é co-editor da revista anual Cons-Ciências, e publica na Imprensa diária centenas de artigos referentes à Cultura Científica, tendo coordenado em 2008, a série televisiva “Encontros Imediatos” para a RTP 2, a primeira realizada no nosso país sobre a Cultura ET”.

JOBS FOR THE BOYS

O cargo de "governador civil" é um fóssil vivo no sistema político português. O nome é, ele próprio, um fóssil, pois não há um "governador militar" perto dele. Remontando ao século XIX (mais precisamente ao tempo do pós-guerras liberais, em 1835), o posto de governador civil destinava-se à representação local e imediata do governo em cada distrito no tempo em que não havia as comunicações de hoje. Não havia telefones, nem faxes, nem Internet, nem auto-estradas, nem caminhos de ferro, nem aeroportos. O governador civil tem vindo, ao longo dos anos, a perder funções, sendo hoje apenas um representante não do governo como um todo(muitos ministérios têm hoje aliás representações regionais), mas apenas do ministro da administração interna, com competências muito restritas. Basicamente, não serve para nada. Eu só fui ao governo civil duas vezes em toda a minha vida para tratar de passaportes (assunto que, por qualquer razão, não é tratado pela mesma repartição que trata do BI).

Então, perguntará o leitor mais racional (e nós neste blogue temos muitos): porque não se acaba com os governadores civis? A resposta acaba de ser dada com a recente nomeação de novos (nalguns casos os mesmos) governadores civis: ver aqui. Trata-se de distribuir "jobs for the boys". Alguns políticos, aparentemente profissionais, que perderam as eleições legislativas ou autárquicas, foram agora recompensados pelo governo com estes cargos. Trata-se não de primeiras, nem de segundas ou de terceiras escolhas (e é bem conhecida a qualidade média do nosso pessoal político!), mas em vários distritos de escolhas de ordem ainda inferior, mostrando a total irrelevância do cargo. Dá simplesmente emprego às pessoas que os eleitores recusaram.

A tomada de posse dos novos governadores civis (marcada pelo acidente de um carro do ministério da administração, com passageiros sem cinto, que para lá se dirigia a velocidade excessiva) evidencia a degradação do nosso sistema político. Fala-se muito do défice. Se se acabasse imediatamente com o cargo de governador civil, poupava-se alguma coisa. Reduzia-se o défice. Mas reduzia-se também e sobretudo o défice da nossa estima pelos políticos.

ATLANTIS STS-129: uma das últimas viagens do Space Shuttle

O Space Shuttle é uma fabulosa realização de engenharia e permitiu, entre muitas outras coisas, o desenvolvimento da ISS (International Space Station). A NASA vai retirar estes veículos de serviço em 2010, tendo adoptado soluções mais baratas para a realização das missões entregues ao vaivém e das novas novas missões que se aproximam como o retorno à LUA. A missão STS-129, realizada pelo vaivém Atlantis, demorou 11 dias e terminou com a aterragem do Atlantis na sexta-feira passada no Kennedy Space Center.

A NASA realizou uma cobertura mediática desta missão como forma de mostrar os pormenores de lançamento (vejam pelo menos até ao minuto 3:16, altura em que têm uma perspectiva do piloto do shuttle vendo parte do nariz do vaivém e tendo a sensação de velocidade), entrada em órbita, processo de ligação à ISS (muito interessante a partir do minuto 9:00), operação dos vários equipamentos a bordo, realização de missões, vida no espaço, separação da ISS e retorno à terra (minuto 49:00). O vídeo foi recentemente tornado público.

Vale a pena ver: são 59 minutos de puro prazer! Cheio de detalhes e de perspectivas inéditas, este vídeo é não só instrutivo como fascinante.

A criatividade humana é verdadeiramente admirável! O que conseguimos fazer com o conhecimento que adquirimos é fabuloso. Se virmos isto em perspectiva, desde os primórdios da humanidade, é impressionante o caminho que percorremos em conjunto. E esse caminho é uma enorme fonte de esperança no nosso futuro colectivo.

:-)

sábado, 28 de novembro de 2009

Três Anos de Museu da Ciência


Informação recebida do Museu da Ciência de Coimbra:

05 DEZEMBRO 2009 - 10H00-18H00 - ENTRADA LIVRE

Dia 5 de Dezembro o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra faz três anos.

Foram anos de intenso trabalho de todos - equipa do museu e muitos colaboradores - que nos permitiu ir cimentando um projecto de divulgação da ciência e, simultaneamente, de preservação do património científico da Universidade de Coimbra.

Queremos, por isso, convidá-la(o) para a festa que realizaremos no dia 5, sábado. O programa inclui um espectáculo de novas demonstrações científicas e um recital de música por Filipa Lã (canto) e Helena Marinho (pianoforte), com composições do tempo de Darwin – Mozart, Haydn, Domingos Bomtempo e Schubert.

Esperamos por si!

Programa:

17H30 | DEMONSTRAÇÕES CIENTÍFICAS
19H00 | RECITAL DE MÚSICA

SOUTH KENSINGTON EM LONDRES


Continuo aqui a minha série de crónicas de viagem, do meu livro "Curiosidade Apaixonada" (Gradiva). Depois de Bruxelas e Frankfurt, esta é sobre Londres, tendo eu efectuado algumas ligeiras actualizações. Na imagem o Museum of Natural History.

Os voos para Londres são mais económicos do que os voos para a maior parte dos outros destinos europeus, incluindo alguns mais próximos como por exemplo Madrid. É por isso sempre tentador ir a Londres. Convém procurar a melhor tarifa porque dois passageiros que vão sentados lado a lado no mesmo avião podem ter pago preços muito diferentes pela mesmíssima viagem (as companhias aéreas têm razões que a razão desconhece!).

Londres é tão grande que o seu conhecimento exige uma estada prolongada. Se o visitante só puder estar na capital da Grã-Bretanha por escassos dois ou três dias, em vez de andar ao desatino por tudo quanto é sítio, o melhor é apontar a uma zona precisa e tentar conhecê-la bem. Mesmo assim há zonas para as quais não chegam dois ou três dias...

Qual é a melhor zona de Londres? A resposta variará conforme os interesses do visitante, mas, se me fizerem a pergunta, responderei que é, sem dúvida, South Kensington. Não é propriamente o centro de Londres, onde há na minha opinião gente demais, mas não está longe do centro. Usando o metro e partindo da estação de South Kensington são quatro estações até Westminster, pelas linhas Circle ou District, e são também quatro estações até Picadilly Circus, pela Picadilly Line. O “tube” (nome por que que é conhecido o mais antigo metro do mundo, já que remonta a 1863) é bastante profundo e estreito, mas funciona com uma eficácia e regularidade espantosas.

South Kensington começa por ser uma zona elegante e, por isso, cara para se viver. Para se ter uma ideia da qualidade do bairro bastará ao turista sair das profundezas da Terra em South Kensington e dirigir-se à Old Brompton Road. Encontra logo à entrada uma loja que vende Lamborghinis. E encontra ao longo da rua todo um conjunto de serviços de qualidade, que vão desde restaurantes com jazz ao vivo até mercearias abertas “around the clock” passando por bancos e livrarias. South Kensigton tem, como Myfair e outros bairros londrinos, bonitas residências do século XIX. É uma zona de embaixadas e consulados, facilmente reconhecíveis pela placa e bandeira à porta (algumas embaixadas junto ao Palácio de Kensington são belíssimos palacetes). South Kensington tem também o Hyde Park, que se junta harmoniosamente aos jardins do palácio de Kensington. Antiga coutada, o parque é hoje uma enorme zona de lazer, onde o visitante se pode deitar em espreguiçadeiras alugadas, alimentar os patos e outras aves que chapinam no grande pântano, andar de barco na Serpentine (lago artificial onde se afogou a mulher do poeta Percy Shelley, quando os suicídios românticos estavam na moda), ver uma exposição de arte moderna na galeria Serpentine e apreciar pavilhão do arquitectura moderna. Não longe do Hyde Park, na Brompton Road, encontra-se o Harrods, o mais espectacular armazém do mundo, onde vale a pena uma visita aos “Food Halls” embora os preços refreiem um pouco o apetite das compras. Como o palácio de Kensigton era ocupado pela princesa Diana e o Harrods era da família do seu último namorado, South Kensigton está portanto associado de perto ao mais famoso drama, para não dizer melodrama, britânico dos últimos tempos.

Mas a atracção de South Kensington está muito longe de se resumir a esse drama recente. De facto, o principal interesse de South Kensigton é cultural e bem antigo. É nessa zona que se situa o Royal Albert Hall, onde no Verão se realizam os famosos concertos Promenade. O programa pode ser comprado em qualquer quiosque e os bilhetes são relativamente fáceis de obter, excepto o do concerto final, em que a multidão canta em coro patriótico com a orquestra temas de Elgar e de outros compositores britânicos. Junto ao Royal Albert Hall, do lado do Hyde Park e no local onde em 1851 se realizou a Grande Exposição de Londres, ergue-se um grandioso monumento edificado pela rainha Vitória em memória do seu marido Albert, falecido de febre tifóide com apenas 41 anos, em 1861 (o monarca não chegou, portanto, andar de metro!). Vale a pena acrescentar, para benefício de quem não tem as datas históricas presentes, que a rainha Vitória, cujo pudor obrigava a tapar com longas toalhas as pernas das mesas, sobreviveu 40 anos ao seu consorte: ela reinou de 1837 a 1901 à frente de um vasto império, dominando o século XIX. South Kensington é também o sítio do Victoria and Albert Museum, dedicado às artes aplicadas e que é um excelente repositório da época do casal real. Tudo nessa zona de Londres nos faz lembrar a próspera época vitoriana!

Quando se fala de cultura tem também de se falar de ciência. South Kensington é um centro de cultura e é também um centro de ciência. Situam-se lá, bem ao lado do Museu Victoria and Albert, dois dos maiores e melhores museus de ciência do mundo, o Science Museum e o Museum of Natural History. Construídos na segunda metade do século XIX, são produtos da época vitoriana. Os dois são acessíveis a partir da estação de South Kensington por um longo túnel, cujo chão está gasto de tanto ser calcorreado pelos adultos e principalmente pelas crianças e jovens que demandam os museus. O Museu de História Natural consegue ser maior do que o seu vizinho Museu de Ciência, já de si grande. De resto, o seu edifício enche mais o olho: o impressionante estilo neo-gótico faz o museu parecer um mosteiro. É obrigatório referir o arquitecto Alfred Waterhouse, autor desse “mosteiro da história natural” cuja fachada está ornamentada com motivos naturais em vez de anjos e santos. O “hall” do Museu tem uma dimensão que torna anão o enorme dinossauro que ocupa o centro. Por falar em dinossauros, a ala dos dinossauros é uma das principais atracções do Museu. Pode ser vista à entrada virando logo à esquerda. Como nos outros museus públicos britânicos, a visita ao Museu não se paga (há mum contributo facultativo), excepto as exposições especiais. O Museu de História Natural tem-se modernizado incluindo hoje o Centro Darwin, que homenageia o maior naturalista de todos os tempos, contemporâneo da rainha Vitória, cuja estátua domina o "hall".

Mas, como se faz tarde, ala para o vizinho Museu de Ciência... Se por fora o edifício não é nada de especial, a grande sala de base impressiona o visitante pelo número e tamanho das máquinas, que documentam a origem da riqueza da época vitoriana: a Revolução Industrial, que começou ainda no século XVIII com as máquinas a vapor mas ganhou alento no século XIX com as máquinas eléctricas. Tal como o Museu de História Natural, o Museu de Ciência demora algum tempo a ser visto: entre os seus inúmeros tesouros sobressai a colecção do rei George de instrumentos científicos, que é semelhante mas ainda melhor que a colecção do Gabinete de Física da Universidade de Coimbra. No ano 2000, foi inaugurada um novo espaço que permitiu acrescentar cerca de 30% ao Museu. Esse novo espaço, que inclui um IMAX (cinema de grande ecrã), encontra-se no lado oposto à entrada principal, depois de atravessar quer a sala das grandes máquinas quer uma galeria dedicada à exploração espacial. No rés do chão há um café-restaurante com luzes que dão um ar de ficção científica. Na cave há um zona de brincadeiras científicas para os mais pequeninos, género “Ciência Viva”, onde eles podem mexer à vontade. Nos primeiro e segundo andares há exposições bem montadas sobre moderna ciência e tecnologia. No último andar há jogos electrónicos sobre a vida no futuro, para serem jogados colectivamente sobre mesas futuristicamente inclinadas. Os miúdos não querem sair de lá...

Muito mais haveria a dizer sobre South Kensington... “Last but not least”, tem de se referir que mesmo atrás do Museu de Ciência fica o Imperial College, uma dos melhores escolas de ciência do mundo. Aí trabalha o astrofísico português João Magueijo, que era o mais famoso português em Londres antes de lá ter chegado José Mourinho...

The Fun Theory

A ideia é bem simples. Será que conseguimos mudar o comportamento das pessoas para o melhor fazendo com que as coisas sejam (mais) divertidas?

Parece que sim, que tornar as coisas divertidas faz com que as pessoas mudem o comportamento. Se com isso aprenderem, isto é, se a mudança de comportamento não for circunstancial, parece ser uma boa solução. Mudar os comportamentos em relação à preservação do ambiente, à saúde, alimentação, exercício físico, ensino e aprendizagem, são algumas das áreas que teriam a ganhar com esta "Fun Theory".






Para ver mais visitem: http://www.thefuntheory.com/

FAITH: DO WE NEED TO HAVE ANOTHER TALK?

Extracto da habitual coluna "What's New" de fim de semana do físico norte-americano Robert Park:

"On Wednesday in the NY Times an op-ed by Nicholas Kristof remarked on a new crop of books dealing with the war between science and religion. He describes this latest crop as "less combative and more thoughtful" than those by Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris and the like. He hopes this "marks an armistice in the religious wars." I hope not. Kristof is particularly taken by Robert Wright's "The Evolution of God." I like it too. Wright is smart, and a really good writer, but he needs to be more like Dawkins, Hichens and Harris. In his latest book he explores how religion has gotten "better" over time. People are no longer burned at the stake in the name of religion. No, now they are now blown to pieces with improvised explosive devices or flown into the side of public buildings. Different religion -- same God."

Elogio Histórico da Razão


Texto de Voltaire de 1775 (na imagem a gravura de Goya sobre a razão):

Fez Erasmo, no século XVI, o elogio da Loucura. Vós me ordenais que vos faça o elogio da Razão. Essa Razão, com efeito, só costuma ser festejada duzentos ano após sua inimiga, e às vezes muito mais tarde; e existem nações onde ela ainda não foi vista.

Era tão desconhecida entre nós, no tempo do. druida, que nem sequer tinha nome em nossa língua. César não a levou nem à Suíça, nem a Autan, nem a Paris, que não passava então de uma aldeola de pescadores; e ele próprio quase a não conhecia.

Possuía tantas e tamanhas qualidades que a Razão não pode encontrar lugar em meio delas. Esse magnânimo insensato saiu de nosso país devastado para ir devastar o seu e para deixar-se mimosear com vinte e três punhaladas por vinte e três outros ilustres furiosos que estavam longe de emparelhar com ele.

O sicambro Clodvich, ou Clóvis, cerca de quinhentos anos depois, veio exterminar parte da nossa nação e subjugar a outra. Não se ouviu falar em razão, nem no seu exército nem nas nossas infelizes aldeias, a não ser na razão do mais forte.

Apodrecemos por muito tempo nessa horrível e aviltante barbárie, da qual as Cruzadas não nos tiraram. Foi essa, ao mesmo tempo a mais universal, a mais atroz, a mais ridícula e desgraçada das loucuras. A essas longínquas cruzadas, sucedeu a abominável loucura da guerra civil e sagrada que exterminou tanta gente da língua de oc e da língua de oil. A Razão não tinha como achar-se ali. Em Roma reinava então a Política, que tinha como ministras suas duas irmãs, a Velhacaria e a Avareza. Via-se a Ignorância, o Fanatismo, a Fúria, percorrerem sob suas ordens a Europa toda; a Pobreza lhes seguia o rastro; a Razão ocultava-se num poço, como a Verdade sua filha. Ninguém sabia onde ficava esse poço, e, se o farejassem, ali teriam descido para degolar mãe e filha.

Depois que os turcos tomaram Constantinopla, redobrando os espantosos males da Europa, dois ou três gregos, ao fugir, tombaram nesse poço, ou antes, nessa caverna, semimortos de fadiga, de fome e de medo.

A Razão recebeu-os com humanidade, deu-lhes de comer sem distinção de carnes (coisa que jamais haviam conhecido em Constantinopla). Receberam dela algumas instruções, em pequeno número: pois a Razão não é prolixa. Obrigou-os a jurar que não revelariam o local do seu retiro. Partiram, e chegaram, depois de muito andar, à corte de Carlos V e Francisco I.

Receberam-nos ali como a prestidigitadores que viessem fazer seus passes de mágica para distrair a ociosidade dos cortesãos e das damas, no intervalo de seus encontros galantes. Os ministros dignaram-se olhá-los nos momentos de folga que lhes pudessem permitir a lufa-lufa dos negócios. Chegaram até a ser acolhidos pelo imperador e pelo rei de França, que lhes lançaram um olhar de passagem, quando iam ter com suas amantes. Mas eles colheram melhor fruto nas pequenas cidades, onde encontraram alguns burgueses que ainda tinham, não se sabia como, algum vislumbre de senso comum.

Esses flébeis clarões se extinguiram em toda a Europa, entre as guerras civis que a assolaram. Duas ou três faíscas de razão não podiam aclarar o mundo no meio das tochas ardentes e das fogueiras que o fanatismo acendeu durante tantos anos. A Razão e sua filha ocultaram-se mais do que nunca.

Os discípulos de seus primeiros apóstolos suicidaram-se, com excepção de alguns que foram bastante desavisados para irem apregoar a Razão desarrazoadamente, e fora de tempo: isso lhes custou a vida, como a Sócrates; mas ninguém prestou atenção à coisa. Nada mais desagradável do que ser enforcado obscuramente. Por tanto tempo se havia a gente ocupado com noites de S. Bartolomeu, massacres da Holanda, cadafalsos da Hungria, e assassínios de reis, que não havia nem tempo, nem suficiente liberdade de espírito para pensar nos crimes miúdos e nas calamidades secretas que inundavam o mundo, de um extremo a outro.

A Razão, informada do que ocorria por alguns exilados que se haviam refugiado no seu retiro, sentiu-se tomada de compaixão, embora não passe por ser muito terna. Sua filha que é mais ousada do que ela, animou-a a que fosse ver o mundo e tratasse de curá-lo. Apareceram as duas, falaram mas encontraram tantos malvados interessados em contradizê-las, tantos imbecis a soldo desses malvados, tantos indiferentes apenas preocupados consigo mesmos e com o momento actual e que não se importavam nem com elas nem com seus inimigos, que resolveram ambas voltar muito sabiamente para o seu asilo.

Todavia, algumas sementes dos frutos que elas carregam sempre consigo, e que haviam espalhado, germinaram na terra; e até sem apodrecer.

Enfim, há algum tempo lhes deu vontade de ir em peregrinação a Roma, disfarçadas e anónimas, por medo da Inquisição. Logo de chegada, dirigiram-se ao cozinheiro do papa Ganganelli – Clemente XIV. Sabiam que era o menos ocupado cozinheiro de Roma. Pode-se até dizer que era, depois de vossos confessores, o homem mais folgado da sua profissão.

Esse homem, depois de ter servido às duas peregrinas uma refeição quase tão frugal quanto a do papa, levou-as à presença de Sua Santidade, a quem encontraram lendo os Pensamentos de Marco Aurélio. O papa reconheceu os disfarces e beijou-as cordialmente, apesar da etiqueta.

"— Minhas Senhoras, se eu pudesse imaginar que estavam neste mundo, ter-lhes-ia feito a primeira visita.”

Após os cumprimentos, trataram de negócios. Logo no dia seguinte, Ganganelli abulia a bula In coena Domini, um dos maiores monumentos da loucura humana, que por tanto tempo ultrajara a todos os potentados. No outro dia, tomou a resolução de destruir a companhia de Garasse, de Guiguard, de Garnet, de Busenbaum, de Malagrida, de Paulian, de Patouillet, de Nonnotte; e a Europa bateu palmas. No terceiro dia, diminuiu impostos de que o povo se queixava. Animou a agricultura e todas as artes; fez-se estimado de todos aqueles que passavam por inimigos de seu posto. Disseram então, em Roma, que não havia mais que uma nação e uma lei no mundo.

As duas peregrinas, atônitas e satisfeitas, despediram-se do papa, que lhes fez presente, não de agnus e de relíquias, mas de uma boa carruagem para continuarem a viajar. A Razão e a Verdade não tinham até então o hábito de andar a gosto.

Visitaram toda a Itália, e surpreenderam-se de encontrar, em vez do maquiavelismo, uma verdadeira emulação entre os príncipes e as repúblicas, desde Parma a Turim, para ver quem tornaria seus súbditos mais honrados, mais ricos e mais felizes.

Minha filha – dizia a Razão à Verdade, – creio que o vosso reinado bem poderia começar, após tão longa prisão. Alguns dos profetas que nos foram visitar no poço devem ter sido mesmo muito poderosos em palavras e obras, para assim mudarem a face da terra. Bem vês que tudo vem tarde. Era preciso passar pelas trevas da ignorância e da mentira antes de entrar em teu palácio de luz, de que foste escorraçada comigo durante tantos séculos. Acontecerá connosco O que aconteceu com a Natureza; esteve ela coberta de um véu, e toda desfigurada, durante inumeráveis séculos. Afinal chegou um Galileu, um Copérnico, um Newton, que a mostraram quase nua, fazendo os homens se enamorarem dela.

Assim conversando, chegaram a Veneza. O que consideraram mais atentamente foi um procurador de S. Marcos que segurava um grande par de tesouras, diante de uma mesa toda coberta de jarras, de bicos e de plumas negras.

Ah! – exclamou a Razão, – Deus me perdoe, lustrissimo Signor, mas creio que essa é uma das tesouras que levava para o meu poço, quando ali me refugiei com minha filha! Como a obteve Vossa Excelência, e que faz com ela?

— Lustrissima Signora – respondeu o procurador, – bem pode ser que a tesoura tenha pertencido outrora a Vossa Excelência; mas foi um chamado Fra Paolo que no-la trouxe há muito, e dela nos servimos para cortar as garras da Inquisição, que vedes espalhadas sobre esta mesa.

Essas plumas negras pertenciam a harpias que vinham comer o alimento da república; nós lhes aparamos todos os dias as unhas e a ponta do bico. Se não fora essa precaução, teriam acabado por devorar tudo; nada teria sobrado para os grandes, nem para os pregadi, nem para os cidadãos.

Se passardes pela França, talvez encontreis em Paris vosso outro par de tesouras, em poder de um ministro espanhol, que as empregava da mesma forma que nós em seu país, e que será um dia abençoado pelo género humano.

Depois de terem assistido à Ópera veneziana, partiram as duas viajantes para a Alemanha. Viram com satisfação esse país, que no tempo de Carlos Magno não passava de uma floresta imensa entrecortada de pântanos, coberto agora de cidades florescentes e tranquilas; esse país, povoado de soberanos outrora bárbaros e pobres, e agora todos polidos e magníficos; esse país, cujo sacerdócio, nos tempos antigos, só era constituído por feiticeiras, que então imolavam criaturas humanas sobre pedras grosseiramente talhadas; esse país que fora depois inundado por seu próprio sangue, para saber ao certo se a coisa era in, cum, sub, ou não; esse país que enfim acolhia ao seio três religiões inimigas, espantadas de viver pacificamente juntas.

“Louvado seja Deus! – disse a Razão. – Essa gente veio afinal a mim, à força de demência.”

Conduziram-nas à presença de uma imperatriz muito mais que sensata, pois era generosa. Tão contentes ficaram com ela as peregrinas, que não levaram em conta alguns costumes que as chocaram; mas ambas se enamoraram do imperador seu filho.

Redobrou-lhes o espanto ao chegarem à Suécia. “Como!” – diziam, – “uma revolução tão difícil e no entanto tão rápida! tão perigosa e no entanto tão pacifica! E, desde esse grande dia, nem um só dia perdido para a prática do bem, e tudo isso na idade que é tão raramente a da razão! Bem fizemos em sair de nosso esconderijo quando esse grande acontecimento enchia de admiração a Europa inteira!”

Dali, atravessaram às pressas a Polónia. “Ah! minha mãe, que contraste! – exclamou a Verdade. – Dá-me até vontade de voltar para o poço. Eis no que dá ter esmagado sempre a mais útil porção do gênero humano e tratado aos lavradores – pior do que eles tratam aos animais que os servem! Esse caos de anarquia só podia redundar em ruína: já o haviam predito claramente. Lamento um monarca virtuoso, sábio e humano; e ouso esperar que ele seja feliz, pois os outros reis começam a sê-lo, e as vossas luzes se comunicam gradualmente.

“Vamos ver – continuou ela – uma transformação mais favorável e surpreendente. Vamos a essa imensa região hiperbórea, tão bárbara há oitenta anos e hoje tão esclarecida e invencível. Vamos contemplar aquela que cumpriu o milagre de uma nova criação...” Lá acorreram, e confessaram que não lhes haviam exagerado.

Não cessavam de admirar o quanto mudara o mundo em alguns anos. Concluíram que talvez um dia o Chile e as Terras Centrais fossem o centro da civilização e do bom gosto e que se teria de ir ao pólo antárctico para aprender a viver.

Chegadas que foram à Inglaterra, disse a Verdade à sua mãe:

— Parece-me que a felicidade desta nação não é constituída como a das outras; foi mais louca, mais fanática, mais cruel e mais infeliz do que qualquer uma das que eu conheço; e eis que instituiu um governo único, no qual conservou tudo o que a monarquia tem de útil e tudo o que uma república tem de necessário. É superior na guerra, nas leis, nas artes, no comércio. Apenas a vejo embaraçada com a América setentrional, que conquistou num extremo do universo, e com as mais belas províncias da Índia, subjugadas no outro extremo. Como carregará ela esses dois fardos da sua felicidade?

— O peso é considerável – disse a Razão, – mas, desde que ela me escute um pouco, há de encontrar alavancas que o tornarão mais leve.

Afinal a Razão e a Verdade passaram pela França, onde já haviam feito algumas aparições, tendo sido dali escorraçadas. “Não vos lembrais – dizia a Verdade à sua mãe – do grande desejo que tivemos de nos estabelecer entre os franceses nos belos dias de Luís XIV? Mas as impertinentes querelas dos jesuítas e dos jansenistas nos obrigaram a fugir em seguida. Não mais nos chegam agora os apelos contínuos do povo. Ouço as aclamações de vinte milhões de homens que abençoam os Céus. Este acontecimento, dizem uns, é tanto mais jubiloso porquanto não nos custa nada essa alegria. Bradam outros: O luxo não é mais que vaidade. Os empregos acumulados, as despesas supérfluas, os lucros extraordinários, tudo isso vai ser cortado. E têm razão. Todo e qualquer novo imposto será abolido. E nisso não têm razão: pois cumpre que cada particular pague alguma coisa em proveito da felicidade geral.

As leis vão ser uniformes. Nada mais desejável, mas nada tão difícil. Vão ser distribuídos, aos indigentes que trabalham, e sobretudo aos pobres operários, os bens imensos de certos ociosos que fizeram voto de pobreza. Essa gente de mão-morta não mais terá, por sua vez, escravos de mão-morta. Não mais se verão esbirros de monges escorraçar da casa paterna órfãos reduzidos à mendicidade, para enriquecerem com os seus despojos a um convento no gozo de direitos senhoriais, que são os direitos dos antigos conquistadores. Não mais se verão famílias inteiras pedindo inutilmente esmola à porta do convento que as despoja. Praza aos Céus. Nada é mais digno de um rei. O rei da Sardenha acabou com esse abominável abuso, Queira Deus que esse abuso seja exterminado em França.

Não ouvis, minha mãe, todas essas vozes que dizem: Os casamentos de cem mil famílias úteis ao Estado não mais serão considerados concubinagens; e os filhos não mais serão declarados bastardos pela lei? A natureza, a justiça e vós, minha mãe, tudo reclama para esse assunto um sábio regulamento, que seja compatível com o repouso do Estado e com os direitos de todos os homens.

“Tornar-se-á a profissão de soldado tão digna que ninguém mais será tentado a desertar. A coisa é possível mas delicada".

“As pequenas faltas não serão punidas como grandes crimes, pois que em tudo é preciso proporção. Uma lei bárbara, obscuramente enunciada, mal interpretada não mais fará perecer nas barras de ferro e nas chamas a jovens indiscretos e imprudentes, como se tivessem assassinado os próprios pais."

Deveria ser este o primeiro axioma da justiça penal.

Não mais serão confiscados os bens de um pai de família, pois os filhos não devem morrer de fome por causa das faltas dos pais, e o rei não tem nenhuma necessidade desse miserável confisco. Maravilhoso! Isso é digno da magnanimidade do soberano.

“A tortura, inventada outrora pelos ladrões de estrada para forçar as vítimas a revelar seu tesouro, e empregada hoje em pequeno número de nações, para salvar o culpado robusto e perder o inocente fraco de corpo e de espírito, só será utilizada nos crimes de lesa-sociedade, na pessoa do chefe, e somente para conseguir a revelação dos cúmplices. Mas tais crimes jamais serão cometidos. Nada melhor. Eis os votos que ouço por toda parte, e escreverei todas essas grandes mudanças nos meus anais, eu que sou a Verdade."

Ouço ainda proferir em torno de mim, em todos os tribunais, estas palavras notáveis: Não citaremos jamais os dois poderes, pois só pode existir um: o do, rei, ou da lei, em uma monarquia; o da nação, em uma república. O poder divino é de natureza tão diferente, tão superior, que não deve ficar comprometido por uma mescla profana com as leis humanas. O infinito não se pode juntar ao finito. Gregório VII foi quem primeiro ousou chamar o infinito em seu auxílio, nas suas guerras, até então inauditas, contra Henrique IV, imperador demasiado finito; quero dizer: limitado. Por muito tempo essas guerras ensangüentaram a Europa; mas, afinal separaram essas entidades veneráveis, que nada têm em comum: e é o único meio de garantir a paz."

“Essas coisas, que proferem todos os ministros das leis, me parecem assaz fortes. Sei que não se reconhecem dois poderes nem na China, nem na Índia, nem na Pérsia, nem em Constantinopla, nem em Moscou, nem em Londres, etc... Mas fio-me em vós, minha mãe. Nada escreverei que não me seja ditado por vós.”

Respondeu-lhe a Razão:

— Bem vês, minha filha, que eu sinto mais ou menos as mesmas coisas, e muitas outras Tudo isso demanda tempo e reflexão. Sempre fiquei muito contente quando, em meio às minhas dores, consegui parte do alívio que desejava.

“Não te lembras do tempo em que quase todos os reis da terra, estando em completa paz, se divertiam em decifrar enigmas, e em que a bela rainha de Sabá ia em pessoa propor logogrifos a Salomão?”

— Sim, minha mãe; bom tempo aquele, mas não durou muito.

Pois bem – tornou a mãe, – este é infinitamente melhor; só se pensava então em mostrar um pouco de espírito; e vejo que há dez ou doze anos os europeus se vêm empenhando nas artes e virtudes que abrandam a amargura da vida. Parece que em geral se combinaram para pensar mais solidamente do que o haviam feito durante milhares de séculos. Tu, que nunca pudeste mentir, dize-me que tempo terias preferido ao presente para morar na França.

— Tenho a reputação – respondeu a filha – de gostar de dizer coisas assaz duras às pessoas entre as quais me encontro; mas confesso que só tenho a louvar o tempo presente, a despeito de tantos autores que só louvam o passado.

“Devo atestar à posteridade que foi nesta época que os homens aprenderam a garantir-se de uma doença terrível e mortal, tornando-a menos funesta na transmissão; a restituir à vida aqueles que a perdem por afogamento; a governar e desafiar ao raio; a prover ao ponto fixo que em vão se deseja do ocidente ao oriente. Muito mais se fez em moral. Ousou-se pedir justiça às leis contra leis que haviam, condenado a virtude ao suplício; e essa justiça foi algumas vezes obtida. 0usou-se, enfim, pronunciar o nome da tolerância.”

Pois bem, minha filha, gozemos destes belos dias; fiquemos por aqui, se durarem; e, se vierem tempestades, voltemos a nosso poço.

HUMOR: Em estágio para Copenhaga V


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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

LUTANDO COM OS CÉPTICOS

O New York Times, pela pena do médico pediatra Darshak Sanghavi, publica uma recensão do livro

DENIALISM
How Irrational Thinking Hinders Scientific Progress, Harms the Planet, and Threatens Our Lives
By Michael Specter
294 pp. The Penguin Press. $27.95

que começa assim:

"The optimistic view of science is that the theories advanced with its methods will have self-evident appeal to an educated public. Why, then, do people so often behave unscientifically? A sitting congressman claims he’s seen a U.F.O.; a former Playboy model insists, against overwhelming evidence, that childhood vaccines cause autism; Las Vegas vacationers expect to beat the casinos; former British Prime Minister Tony Blair treats his children with homeopathic remedies."

Ler o resto aqui.

TOP 5 DOS LIVROS DE CIÊNCIA NOS EUA DE 2009

O New York Times acaba de publicar a sua lista dos 100 livros mais notáveis do ano. Desses só cinco são de ciência:

'The Age of Entanglement: When Quantum Physics Was Reborn'
By LOUISA GILDER
Gilder’s book brings the reader into a mix of ideas and personalities, which she handles with verve. (Knopf, $27.50.)

'The Age of Wonder: How the Romantic Generation Discovered the Beauty and Terror of Science'

By RICHARD HOLMES
The twin energies of scientific curiosity and poetic invention pulsate through this study of “the second scientific revolution.” (Pantheon, $40.)

'Cold: Adventures in the World’s Frozen Places'

By BILL STREEVER
From the physics of absolute zero to the cold-resistant gluttony of small birds, Streever reports on the extreme regions of low temperatures and the scientists who love them. (Little, Brown, $24.99.)

'The Invention of Air: A Story of Science, Faith, Revolution, and the Birth of America'
By STEVEN JOHNSON
A satisfying genre-blending consideration of Joseph Priestley and his fertile ideas. (Riverhead, $25.95.)

'The Strangest Man: The Hidden Life of Paul Dirac, Mystic of the Atom'
By GRAHAM FARMELO
The quantum pioneer had an almost miraculous apprehension of the physical world, coupled with an innocent incomprehension of other people. (Basic Books, $29.95.)

PARA UM DEBATE SOBRE TELEMÓVEIS NA ESCOLA


Com a data do passado dia 23 de Novembro, de Tiago Videira, professor de Música e estudante de PhD em Digital Media, foi recebido um mail que, satisfazendo o pedido do seu subscritor, me foi endossado. Sem dúvida, tarefa ingrata me espera mas mãos à obra.

Começa o referido mail desta forma:

Exmos Srs., em especial Rui Baptista:

Escrevi esta reflexão que gostaria de lançar como repto, provocação, ou ponto de partida para um debate neste sentido a ser lançado no vosso blogue, se assim for entendido como pertinente.”

Claro que no Rerum considerou-se o debate “pertinente". Aliás como qualquer debate que tenha interesse público. E porque assim é transcrevo-o parcialmente (apenas, por questões espaciais). Escreveu Tiago Videira:

“Na sociedade actual é impossível escamotear a nova realidade que se vive: os meios digitais transportáveis já são um prolongamento da identidade dos jovens. Um mero telemóvel não é um mero telemóvel. Não é um acessório dispensável. Não. É um instrumento que prolonga os sentidos, as disponibilidades e a mente de quem o controla. É parte do jovem, é um órgão artificial, mas tão concreto como os outros. Indispensáveis para comunicar e partilhar. Será uma remediação de boca, de olhos, de ouvidos. E nele se contêm memórias e músicas e fotos. É também uma remediação de memória cerebral. E faz parte do indivíduo, da sua identidade, de quem ele é”. E mais adiante, acrescentou: “Por isso, a escola, a sala de aula onde os alunos deverão permanecer atentos e imóveis e destelemobilizados é um atentado à sua identidade. Se todas as razões e mais algumas haveria a levantar contra o actual sistema de ensino (claustrofóbico, sedentário), mais uma se levanta: auto-destruidor da identidade, amputador dos membros digitais dos jovens”.

Nem de propósito, dois dias depois é publicada no Correio da Manhã esta notícia:

“A carta de uma turma do último ano do secundário, no liceu Jean-Lurçat, de Paris, à respectiva professora de Inglês provocou uma mini-revolução. Os alunos contestaram a autoridade da mestre que proibia telemóveis na aula e o corpo docente reagiu em bloco e recusa dar aulas à turma rebelde. O ministro da Educação, Luc Chatel, mandou inspectores ao liceu averiguar e castigar os alunos indisciplinados. Quando eles quiseram ter palavra no caso, recusou: ‘De modo nenhum, não são os alunos que dão as aulas’”.

Como o Tiago Videira deve estar lembrado meses atrás teve lugar uma disputa violenta entre uma professora e uma aluna de uma escola secundária do Porto pela posse de um telemóvel que, na opinião daquela, estava a perturbar a disciplina da turma. O caso ocorreu no pequeno mundo português (não sei se teve o eco do caso francês) provocando uma opinião oposta à sua em grande parte da opinião e do poder públicos.

Recordo, aqui, uma situação, acontecida anos atrás, quando o telemóvel deixou de ser uma máquina pesada e dispendiosa, transportada nos automóveis, para se tornar num objecto portátil de quase ostentação social que levou o sociólogo António Barreto a escrever uma deliciosa crónica. Nela relatou-nos o caso picaresco de duas fulanas, em declarado exibicionismo, numa praia in do Algarve, com toldos tão próximos que as varetas quase se tocavam, a falarem uma com a outra por telemóvel em que a voz saída do aparelho era menos audível do que a voz humana sem essas modernices.

Para si, o uso do telemóvel “democratizou-se” como escreve no seu mail: “Na África subsariana neste momento os telemóveis disseminaram-se epidemicamente São um meio, provavelmente o único, de muitas crianças, de poderem comunicar e aprender. São uma tecnologia inclusiva delas na sociedade e absolutamente fulcral ao seu desenvolvimento”. Todavia, atrevo-me a duvidar que, dado o custo das chamadas, o seu uso se tenha disseminado, como diz, numa região do globo tão pobre ou com o dinheiro tão mal distribuído como o continente africano abaixo do deserto do Saara. Por outro lado, sabendo nós o clima de indisciplina que reina em muito das nossas escolas ponho sérias dúvidas de que se não trate de um novo motivo de indisciplina, com os alunos no decurso das aulas a enviarem e a receberem chamadas, a escreverem e a lerem mensagens, a ouvirem música, a tirarem fotografias uns aos outros, etc.

Estou muito longe de ser um especialista nesta matéria e, por outro lado, acredito no aforisma bem português e bem castiço: “Cada macaco no seu galho”. É, portanto, esta uma discussão que foge ao meu conhecimento. Assim, limito-me a satisfazer, com muito gosto, o seu pedido de repto, provocação ou mero ponto de partida. Curiosamente, e bem a propósito, ontem mesmo foi publicado um post neste blogue, intitulado “Concurso de Filmes Laboratoriais em Telemóveis”, demonstrativo de uma aplicação pedagógica dos telemóveis, o que me leva a não ter uma opinião maniqueísta sobre o assunto, quer criticando os seus defeitos, quer exaltando as suas virtudes. É tudo uma questão de conta, peso e medida. Aliás, há certas drogas cuja eficiência terapêutica depende das doses que se tomam. Em doses quantum satis curam, em doses excessivas matam.

Alea jacta est! Passo a palavra aos especialistas numa matéria que necessita de ser iluminada por possíveis e benquistos comentários.

FAMÍLIAS DESVENDAM MISTÉRIOS DA EVOLUÇÃO


Informação recebida do Museu de Ciência de Coimbra:

Dia 29 de Novembro às 11 horas no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Entre ateliers e jogos, pequenos e graúdos vão aprender com o director do Museu da Ciência da UC os segredos de uma das teorias de maior impacto para a compreensão do mundo natural.

Se, como diz a Teoria da Evolução das Espécies, todos os seres vivos descendem de antepassados comuns, por que é que há tantos animais e plantas diferentes? Por que é que os ursos polares são brancos? Por que é que os pinguins não congelam? E por que motivo é que a sardinha é branca por baixo? Entre ateliers e jogos, pequenos e graúdos vão aprender no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC) os mistérios da evolução e das adaptações dos seres vivos ao meio em que vivem.

No dia 29 de Novembro (domingo) às 11 horas, o biólogo e director do Museu da Ciência, Paulo Gama Mota, anima uma sessão dedicada por inteiro às famílias, precisamente no ano em que se comemoram os 200 anos do nascimento do naturalista Charles Darwin que, com a Teoria da Evolução das Espécies, revolucionou a forma de olharmos para o mundo.

A sessão faz parte do ciclo "Ciência em Família" do Museu da Ciência da UC, um espaço informal de divulgação dedicado a crianças e adultos, com convidados das mais diversas áreas do conhecimento científico.

"A compreensão do princípio da evolução, de que todos os seres vivos actualmente existentes descendem de antepassados comuns, altera substancialmente a nossa compreensão da natureza
", sublinha Paulo Gama Mota. Por isso, e porque no ensino básico "não se ensina praticamente evolução ou sequer a ideia de que as espécies evoluem", a sessão no Museu da Ciência permitirá abrir um novo mundo de conhecimento às crianças, através de ateliers e jogos científicos, adianta o mesmo responsável.

"Como a evolução é um processo lento, é necessário utilizar estratégias próprias para tornar compreensível o seu significado. No Museu, vamos realizar jogos que permitirão às famílias perceber como funciona a evolução e como, por seu intermédio, surgem as adaptações dos seres vivos ao meio em que vivem. E vamos ver muitos exemplos de adaptações"
, revela Paulo Gama Mota.

Com a ajuda do director do Museu da Ciência, pequenos e graúdos poderão descobrir, através de jogos, a lógica por detrás da evolução dos bicos das aves, o porquê da espectacularidade da cauda do pavão e ainda o motivo pelo qual temos características semelhantes às dos nossos pais. As famílias terão também a oportunidade de se divertirem aprendendo com o jogo da evolução do crânio e do cérebro humano.

A evolução das plantas será outro dos temas em destaque, numa sessão onde todos poderão ainda embarcar numa espécie de "viagem no tempo", observando seres unicelulares parecidos com aqueles que foram os antepassados de todos os organismos pluricelulares, isto é, dos organismos com muitas células.

Depois da sessão "Descobre a Evolução", a "Ciência em Família" regressa no dia 13 de Dezembro, com ateliers que permitirão às famílias perceber como é possível olhar o mundo apenas com as mãos.

A participação nas sessões "Ciência em Família" custa apenas três euros por pessoa. As marcações poderão ser feitas presencialmente no Museu da Ciência ou através do número de telefone 239 85 43 50. Para mais informações, os interessados poderão aceder ao site do Museu da Ciência da UC.

Portugal passeia os olhos pela superfície lunar


Informação recebida da organização do Ano Internacional da Astronomia:

Dias 27 e 28 de Novembro iniciativa decorre em Espinho, Bragança, Lisboa, Cascais, no Porto e no Funchal

Já alguma vez viu de perto a Lua? Muito antes de Neil Armonstrong a ter pisado, foi há precisamente 400 anos que um homem, Galileu Galilei, pela primeira vez passeou um olhar próximo pela superfície lunar com a ajuda de uma luneta construída por si próprio. Nos dias 27 e 28 de Novembro, o Ano Internacional da Astronomia (AIA 2009) desafia o Porto, Espinho, Bragança, Lisboa, Cascais e o Funchal a verem de perto a Lua, com a ajuda dos telescópios dos diversos nodos aderentes. A participação é livre.

Serão promovidas sessões de observação da superfície da Lua no Porto (Edifício do CAUP/Planetário do Porto), a 27 e 28 de Novembro, a partir das 21 horas, em Espinho (Centro Multimeios), na sexta-feira 27, também a partir das 21 horas, em Bragança (Centro de Ciência Viva de Bragança), nos dias 27 e 28 de Novembro (21h00), no Funchal (Universidade da Madeira), a partir das 22 horas de sexta-feira, em Cascais (Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal), a 27 de Novembro, pelas 22h30, e em Lisboa (Observatório Astronómico de Lisboa), a partir das 20 horas, também no dia 27.

A observação está integrada no projecto do Ano Internacional da Astronomia "E Agora Eu Sou Galileu", que pretende dar a conhecer as descobertas que Galileu fez há 400 anos com a sua luneta: da superfície Lunar, às fases de Vénus, de Saturno e Júpiter às manchas do Sol.

As últimas novidades do "E Agora Eu Sou Galileu" poderão ser acompanhadas através do servidor de microblogging Twitter, online na página do Facebook ou ainda na página oficial do projecto.

O Ano Internacional de Astronomia (www.astronomia2009.org) é organizado em Portugal pela Sociedade Portuguesa de Astronomia, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, da Agência Ciência Viva e da European Astronomical Society (EAS).

EPIDEMIOLOGIA EMOCIONAL


Via João Vasconcelos Costa soubemos do artigo "The Emotional Epidemiology of H1N1 Influenza Vaccination" de Danielle Ofri, M.D., Ph.D., publicado no "New England Journal of Medicine". Ler aqui. Escolhemos excerto:

"The dramatic shift in public sentiment over the course of this H1N1 epidemic is both fascinating and frustrating. It is clear that there is a distinct emotional epidemiology and that it bears only a faint connection to the actual disease epidemiology of the virus.

We cannot combat H1N1 influenza merely by ensuring adequate supplies of vaccine and oseltamivir. Unless the medical profession confronts the emotional epidemiology of H1N1 with a full-court press, we run the risk of an uncontrollable epidemic.

There is no doubt that we are far behind the curve in terms of public relations. Our science has not been dithering at all, but our articulation of that science has often seemed that way, from the unfortunate initial appellation of swine flu to our inability to clarify distinctions between vaccine-production issues and clinical-risk issues. Suspicion has its own contagion, and we have not been aggressive enough in countering it."

HUMOR: Em estágio para Copenhaga IV



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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

MEIA DÚZIA DE LIVROS PARA DAR OU RECEBER NO NATAL


Eis uma escolha pessoal de meia dúzia de livros de não ficção de publicação recente para dar ou receber no Natal. Não, nenhum deles é de ciência, pois apresentarei uma lista aparte de meia dúzia de livros de ciência. A ordem é a alfabética do apelido do autor.

1- Umberto Eco, "A Vertigem das Listas", Difel, 2009.

O famoso professor e escritor da Universidade de Bolonha, pouco depois de ter lançado entre nós um livro em que fala dos morcegos da Biblioteca Joanina ("A Obsessão do Fogo"), traz-nos este esplêndido livro ilustrado sobre listas. A motivação foi um convite da Biblioteca Nacional de França, o estilo é inequivocamente "eco" e a apresentação - magnífica - segue a linha de "História do Belo" e "História do Feio".

2- Carlos Vaz Marques (selecção e tradução), "Entrevistas da Paris Review", Tinta da China, 2009.

Numa edição muito cuidada, o que é talvez o melhor entrevistador da rádio portuguesa ("Pessoal e Transmissível" da TSF) traz-nos entrevistas com escritores como Jorge Luís Borges, Ernest Hemingway, William Faulkner e Graham Greene, que saíram numa revista americana mítica.

3- António Marujo e José Eduardo Franco (coordenação), "Dança dos Demónios. Intolerância em Portugal", Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2009.

Com prefácio do professor de Filosofia e teólogo Anselmo Borges, vários autores (como Esther Mucznik, José Eduardo Franco, Rui Ramos e Miguel Real) passam em revista várias formas de intolerância (como, respectivamente, o anti-semitismo, o antijesuitimo, o antimaçonismo, e o anticomunismo). Temos sido mais intolerantes do que devíamos e é bom que tenhamos consciência disso...

4- Maria Helena da Rocha Pereira (coordenação e tradução), "Hélade. Antologia da Cultura Grega", Guimarães Editores, 2009.

Um livro antigo (anos 50), que é já um clássico da cultura nacional, da autoria da mais consagrada das nossas classicistas. Lembro-me de ter consultado na biblioteca uma edição velhinha quando andava no liceu, mas esta é uma edição nova e bem apresentada, da responsabilidade da Guimarães.

5- Rui Ramos (coordenador) com Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, "História de Portugal", A Esfera dos Livros, 2009.

Uma nova história de Portugal num só volume, escrita a várias mãos por vários historiadores da nova geração. À medida que o tempo passa, a história surge-nos com novos olhos e, por isso, é um livro que fazia falta. Estou a lê-lo com interesse.

6- Michêle Riot-Sarcey, Thomas Bouchet e Antoine Picon, "Dicionário das Utopias", Edições Textografias, 2009.

Obra de três historiadores franceses publicada pela Larousse, em França, há um ano. Nestas páginas poderemos saber mais sobre utopia e utópicos de todos os tipos. Não é para ler seguido mas para consultar ao sabor das necessidades.

Concurso de Filmes Laboratoriais em Telemóveis


Informação recebida do Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho, em Coimbra:

O Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho e o Exploratório Infante D. Henrique de Coimbra organizam um

Concurso de vídeos de baixa resolução (preferencialmente feitos a partir de telemóvel) sobre Química.

Como funciona?
1- Individualmente ou em grupos de não mais de 3 alunos, concebam e executem vídeos simples (a partir do telemóvel) relacionados com a Química, de natureza experimental / prática.
2- Coloquem os vídeos no YouTube.

Para saber mais clique aqui.

Terra Bola de Neve

Informação recebida da Dom Quixote sobre um livro acabado de sair:

"Terra Bola de Neve", de Gabrielle Walker
Subtitulo: "A história de um cientista invulgar e da sua teoria da catástrofe global que gerou a vida tal como hoje a conhecemos."
Editor: Dom Quixote
Ano de Edição: 2009
ISBN: 9789722035545
PVP: 15,5 €

Sinopse:

«Abruptamente, de um momento para o outro, há aproximadamente 600 milhões de anos algo sacudiu a Terra e fê-la sair da sua letargia. Daí surgiu o início dos olhos, dos dentes, das pernas, das asas, das penas, do cabelo e do cérebro de cada insecto, símio e antílope, cada peixe, ave e verme. O que quer que tenha desencadeado este começo foi, afinal, responsável pela sua existência e pela de todos os que conhecemos. Então o que foi? Paul Hoffman, maratonista a meio-tempo, geólogo a tempo-inteiro e um intenso e obsessivo perseguidor da glória, acha que sabe. Acredita que encontrou, por fim, o filão de ouro da ciência. Professor catedrático na Universidade de Harvard e cientista de renome internacional, descobriu provas da maior catástrofe climática de sempre que a Terra enfrentou e, segundo ele, dessa catástrofe brotou uma notável e nova redenção.»

Gabrielle Walker

PERSPECTIVA HISTÓRICA DO ENSINO DA MATEMÁTICA


“O carácter essencial do espírito histórico não consiste na restauração do passado, mas antes numa mediação reflectida com a vida contemporânea” (Hans-Georg Gadamer, 1900-2002).

Meu Caro João Boaventura:

Se, como escreveu Jorge Luís Borges, “temos como futuro o esquecimento”, para situar a questão da docência da disciplina da Matemática nos liceus, perante o leitor que aqui chegue sem ter lido os respectivos antecedentes, começo por dizer que o motivo deste meu texto, para além do seu oportuno comentário ao meu “post “Uma Nova Reflexão Sobre o Sistema Educativo Português (2)", de 22 de Novembro último, foi um comentário anterior de um outro leitor ao meu post “Uma Nova Reflexão Sobre o Sistema Educativo Português (1)", datado de véspera e que passo a citar: “A Matemática era miseravelmente dada, nos sítios onde era dada, na província frequentemente dada por oficiais do exército que faltavam e pouco ou nada sabiam do que estavam a dar” . Ou seja, desta forma, poder-se-ia entender (eu pelo menos assim o entendi) que muito do estado lastimoso a que chegou o ensino e a aprendizagem da matemática se ficou a dever à acção “nefasta” dos oficiais do exército.

Em atitude de louvar, quis o João Boaventura ir mais ao fundo da questão, debruçando a sua atenção a anos derradeiros da monarquia quando o Ministério do Reino estabeleceu, em 1908, a regência provisória nos liceus do reino por parte de oficiais do exército (em que o adjectivo quer significar isso mesmo: exercício interino de um cargo até que seja nomeado alguém para o mesmo) por carência de professores civis formados na Universidade de Coimbra, na Escola Politécnica de Lisboa ou, ainda, na Academia Politécnica do Porto.

De certo modo, isto faz-me lembrar a fábula do cordeiro e do lobo de La Fontaine para que o desastroso e actual estado do ensino da Matemática não seja atribuído a oficiais do exército do nosso tempo nem a épocas de uma paternidade com raízes em finais da Monarquia Portuguesa. Isto porque, em meu parecer, o papel de lobo esfomeado coube ao período conturbado após o 25 de Abril e de que ainda o país não se recompôs, com reflexos evidentes no mau aproveitamento actual dos alunos.

Busco, pois, razões mais recentes que eu atribuo, em parte e com respaldo na opinião do professor universitário Eugénio Lisboa, à acção de sindicatos que “para tudo isto têm dado uma eficaz mãozinha, não raro intervindo, com desenvoltura, em áreas que não são nem da sua vocação nem da sua competência”. Reportando-me a épocas pós-25 de Abril, alturas houve em que por razões políticas eram colocados nos liceus “professores”, por vezes com habilitações académicas que os podiam recomendar para profissões outras que não o ensino. Conta-se até o caso de um desses “professores” que, na aula de apresentação, terá dito aos alunos: “Perguntem-me tudo o que quiserem sobre tudo menos sobre questões da matéria que vou leccionar porque eu dela sei tanto ou menos que vocês.”

Entretanto, os sindicatos dos professores, em reprovável atitude mercenária, aceitavam a inscrição de quem desse aulas sem qualquer habilitação em desrespeito pela dignidade da profissão docente como se, por exemplo e ainda que ab absurdo, o Sindicato dos Médicos Veterinários aceitasse a inscrição de "ferradores" para lhe aumentar a torrente de quotas de associados.

Até ao aparecimento das Escolas Superiores de Educação (a primeira criada em Viseu, em 1983), o ensino da então chamada aritmética era ministrado por professores diplomados pelas Escolas do Magistério Primário, esforçados cabouqueiros (reconhecimento que parece ter caído na penumbra do esquecimento) que se orgulhavam do facto de os alunos saídos das suas mãos saberem as quatro operações, a tabuada de cor e salteado e serem capazes de resolverem problemas com uma certa complexidade.

Posteriormente, foram criadas as Escolas Superiores de Educação em tudo quanto era sítio, inicialmente para a formação de educadores de infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico, mas logo passaram a ministrar cursos para professores do 2.º ciclo com os olhos postos na formação de professores para o 3.º ciclo, como, aliás, veio a acontecer com a publicação da Lei n.º 49/2005, de 30 de Agosto.

Corria o dia 8 de Outubro de 1996, já então a Sociedade Portuguesa de Matemática alertava o poder político e o público em geral para “as eventuais consequências negativas decorrentes da formação dos professores de Matemática nas escolas superiores de educação que não têm quadros científicos que garantam uma formação de qualidade”. Em consequência e na louvável intenção de colmatar esta deficiência tem essa sociedade organizado cursos de formação para esses docentes.

A propósito, é bom lembrar que as vagas nas Escolas Superiores de Educação para a formação de professores do 1.º ciclo estiveram durante muitos anos às moscas dando azo à situação desastrosa de deixar a formação dos alunos da antiga instrução primária ao deus-dará, ou seja, nas mãos de pessoas impreparadas ou deficientemente preparadas. Isto porque os seus alunos passaram a inscrever-se massivamente no cursos destinados à docência do 2.º ciclo devido u ao maior prestígio social (?) e à possibilidade de encontrarem colocação em terras mais próximas de casa e em centros populacionais mais populosos.

Meu caro João Boaventura, são estas algumas das razões que enumerei a eito, e provavelmente sem jeito, sobre algumas das razões do mau desempenho (com honrosas excepções, já que não há regra sem excepções) dos nossos escolares na Matemática, base de todo o conhecimento científico posterior já que nas próprias humanidades ela passou a ter lugar.

Bem sei que, segundo Marguerite Yourcenar, “toda a verdade gera um escândalo”. Mas mais escandaloso seria eu pactuar com o anátema de que o descalabro actual da Matemática se ficou a dever ao magistério dos oficiais do exército. Atrevo-me a pensar que foi essa também a sua intenção ao listar os diversos grupos disciplinares por eles ministrados em finais da Monarquia Portuguesa. Daí eu estar-lhe grato pela oportunidade do seu comentário.

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