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quarta-feira, 20 de março de 2013

"Passou-me ao lado"

Dois professores da universidade estadual da Pensilvânia, um médico (Michael J. Green) e um ilustrador (Ray Rieck), publicaram uma história aos quadradinhos sobre o erro médico numa prestigiada revista clínica (Annals of Internal Medicine), cujo título é Missed it (Passou-me ao lado).


O primeiro diz tratar-se de uma história autobiográfica com vinte anos, quando se encontrava ainda em a formação, mas que “iria assombrá-lo ao longo de toda a sua vida.
"Um jovem médico está de banco no hospital, à espera de conseguir dormir umas horas nessa noite, quando recebe um telefonema a dizer que tem de ir examinar um doente que acabou de dar entrada na urgência. Ao longo da noite, o doente, que sofre aparentemente de um problema pulmonar, piora apesar dos tratamentos que lhe vão sendo administrados. E acaba por morrer. A seguir, quando o médico recebe o resultado da autópsia, percebe que não soube ver um sintoma-chave do doente (um sopro cardíaco), apesar de ter estado, literalmente, à frente do seu nariz. Fez um diagnóstico errado – um erro fatal."
Falar do erro, analisar o erro, com saber e ponderação, seja em medicina seja noutra área profissional que requeira grande responsabilidade pelas pessoas, constitui um passo fundamental para a sua desocultação e, em sequência, para a sua transformação em conhecimento, para a sua superação e para a sua prevenção.

Nota: Tive conhecimento desta história através do artigo de Ana Gerschenfeld, saído no Público (em papel) de hoje, dia 20 Março, página 29.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Um século depois de Piltdown: lições da maior fraude paleoantropológica.



Com a devida vénia, transcrevo aqui a primeira crónica que a Antropóloga Forense 
Eugénia Cunha elaborou para o projecto "Ciência na Imprensa Regional - Ciência Viva", 
e que já foi publicada em vários jornais regionais.

Há cem anos, a história da evolução humana ficou marcada pelo anúncio do que terá sido a maior fraude cometida nesta ciência. Era apresentado o primeiro homem, que não só era europeu como inglês. Foi a cereja em cima do bolo para os eurocentristas que conseguiram a incrível proeza de fazer prevalecer o homem de Piltdown como o primeiro homem durante 41 anos. Efectivamente, só em 1953 a fraude foi desmascarada: tratava-se de uma mandíbula de orangotango cuidadosamente adaptada para articular num crânio humano moderno.

Os criadores da fraude conseguiram mitigar a sua responsabilidade a ponto de ainda hoje se afirmar que não se sabe exactamente quem estava por detrás daquela montagem bem orquestrada. De qualquer modo há nomes, como o de C. Dawson e A. Woodward, que ficaram irreversivelmente manchados. Piltdown é um marco indubitável da história da paleoantropologia e, talvez, uma das fraudes científicas mais duradouras.




Das várias lições que dela podemos derivar destacaria a enorme e perigosa influência das tendências nacionalistas e em como é falacioso ver nas alegadas descobertas provas de teorias concebidas sem quaisquer evidências subjacentes. Cria-se e queria-se que o primeiro homem tivesse já um grande cérebro e assim foi. Era essa a ideia dos perpetuadores da fraude: o desenvolvimento cerebral teria antecedido o bipedismo. A aceitação deste falso dogma constituiu uma barreira para a aceitação de fósseis africanos indiscutivelmente cruciais. A criança de Taung, África do Sul, anunciada à comunidade científica por R. Dart em 1925 teve que esperar décadas para ser aceite como o, à época, fóssil mais antigo da humanidade (com mais de dois milhões de anos).

Dart e o seu Australopithecus africanus, que foi efectivamente o primeiro membro dessa espécie a ser descoberto, tiveram, por causa do homem de Piltdown, que esperar décadas para ser reconhecidos. Foi também a primeira vez que se utilizou a designação de Australopithecus que hoje é um género que inclui várias espécies. Hoje o menino de Taung, que já era bípede mas com uma pequena capacidade craniana, continua a ter um papel essencial na evolução humana, provando o enorme visionarismo do seu descobridor. Inversamente, Piltdown e os seus alegados autores são mencionados como um péssimo exemplo do que pode acontecer em ciência. Não se pretende pois comemorar uma efeméride já que Piltdown é absolutamente desmerecedor (não obstante ter tido direito a um memorial, em 1938,em Inglaterra, um acto lamentável!).

O objectivo desta crónica é avivar a memória relativamente à facilidade com que acontecem fraudes. Cem anos depois, a febre de encontrar “ o primeiro”, seja o 1.º homem, seja o 1.º homem anatomicamente moderno a chegar à Europa, seja o 1.º estúdio de arte, o 1.º colchão, mencionando aqui apenas algumas das descobertas que foram consideradas o Top 10 dos achados paleoantropológicos de 2011 pela Smithsonian Institution.

A fraude!

É inegável que haverá maior notoriedade, maior divulgação se a descoberta for a primeira de qualquer coisa. Valerá por isso a pena, para alguns, correr o risco e anunciar descobertas surpreendentes mesmo numa época em que a aceitação das mesmas passa necessariamente por um crivo científico alegadamente apertado. A Nature a Science tendem a funcionar como esses crivos, mas nem sempre estarão completamente isentas de outras influências. Por isso uma boa dose de cepticismo, q.b., continua a ser fundamental quando são divulgadas as grandes notícias científicas sobre a nossa história natural.

Eugénia Cunha

(Professora Catedrática de Antropologia no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O risco aumenta, é óbvio!

Ouvi, de manhã, na rádio, a frase que dá título a este post ao Professor João Fragata. Referia-se ao facto de os médicos serem obrigados a trabalhar cada vez mais horas e sem pausas, pois sabe-se, inquivocamente, que a fadiga constitui um factor de erro.

Este, é de resto, um assunto tratado no mais recente livro que este cirurgião escreveu sobre a questão do erro e da segurança em medicina, e que tem por título Segurança dos doentes: Uma Abordagem Prática.

A sua apresentação será feita pelo Prof. Doutor Jorge Soares (Fundação Calouste Gulbenkian), no dia 14 de novembro, pelas 18h00, no Auditório B da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa.

domingo, 13 de março de 2011

EXTREME SUPER FULL MOON: THIS LOOKS REALLY SERIOUS


Destaque para a coluna semanal What's New de Robert Park, o físico que se tem distinuido em apontar o dedo a erros e disparates:

If you’re a space alien from the planet Mongo, that is. According to the Astronomy Weather Blog, on March 19 (that's a week from tomorrow) the moon will make its closest approach to Earth in 18 years. Talk about trouble. A new or full Moon at 90% or greater of its closest perigee to Earth has been named an Extreme Super Moon by astrologer Richard Nolle. This occurs when the moon is full, or new, and at its 100% greater mean perigee distance to Earth (if I got that right). The last time was on January 10, 2005 around the time of the 9.0 Indonesia earthquake. What's New explained it here . The disaster claimed more than 150,000 innocent lives. "Innocent"? Buddhists explained that seemingly innocent victims could be paying for some really bad stuff they did in previous lives. A leading Muslim cleric in Southern California says it was, "a test from God to see how human beings respond." Columnist and pretentious theologian William Safire also saw the 2005 tsunami as a test, and compared it to God' s test of Job.

Robert Park

terça-feira, 1 de março de 2011

O erro bom

Tomo a liberdade de reproduzir abaixo um texto da autoria de Henrique Madeira, vice-reitor da Universidade de Coimbra, publicado na Newsletter desta universidade, relativa ao mês de Fevereiro, por incidir num tema que me é particularmente caro: o erro no desempenho humano.

"Nunca se falou tanto em inovar, arriscar, empreender. Mesmo verbos mais timoratos como reestruturar ou reformar são conjugados sem descanso por políticos, empresários, gestores, autarcas, comentadores encartados, cientistas, fazedores de opinião... Sempre com conotação positiva, sempre exigindo mais; mais inovação, mais reformas, mais empreendedorismo. Até mesmo o ingrato verbo arriscar surge na exaltação eufónica da inovação como um acto de arrojo, um rasgo de quem arrisca e... petisca.

Mas nunca se arriscou tão pouco... A mesma sociedade que glorifica o acto de inovar tolera mal os riscos da inovação. Fazer o que nunca ninguém fez, criar novos processos, melhorar técnicas existentes, procurar formas de valorizar o conhecimento criado, empreender, nunca é isento de erros. O erro é um elemento indissociável do processo criativo. Inovar é sempre um processo de observação e de correcção de erros. “A verdade é um erro à espera de vez”.

Paradoxalmente, vivemos numa sociedade que tolera amiúde o erro quando este representa incumprimento de tarefas rotineiras, atrasos, incúria, desleixo, negligência, incompetência, má qualidade e até mesmo dolo. Mas somos severos com os erros de quem tenta inovar. As falhas de um novo sistema, os erros de um novo processo são criticados encarniçadamente e raramente são vistos como passos no caminho do progresso. Mata-se a inovação à nascença. Por vezes com deleite, sentados na confortável poltrona de quem não arrisca fazer nada de novo.

Dar licença para errar é condição essencial para a inovação e para o progresso. O erro bom, o erro que encerra toda uma lição, o erro que induz progresso, não pode ser confundido com o erro negligente. Uma Universidade tem de ser um espaço acolhedor para este erro bom. Os investigadores conhecem bem este erro e sabem do seu papel essencial na criação de conhecimento. Mas é importante que a licença para errar, para o exercício deste erro bom que sustenta a inovação, alastre a toda a Universidade e impregne toda a nossa oferta formativa. Só assim poderemos formar profissionais competentes e, simultaneamente, pessoas inovadoras e empreendedoras."

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sfumato na Dopamina de Mona Lisa!


"Uma equipa de investigadores, constituída por neurobiólogos, imagiologistas e matemáticos, estudaram durante duas semanas o rosto de Mona Lisa no famoso retrato de Leonardo da Vinci.

Os resultados foram agora divulgados em conferência de imprensa e vão ser publicados numa revista científica de elevado prestígio.

O objectivo da investigação foi o de determinar se existe ou não concordância entre o enigmático sorriso e os níveis de dopamina (o neurotransmissor mais associado ao prazer da recompensa) no encéfalo do modelo, Lisa del Giocondo, durante a pintura do retrato.

Neste estudo foram usados algoritmos que analisam o estado de contracção relaxação dos cerca de 50 músculos faciais que sustentam a arquitectura do sorriso e interpolam os níveis de actividade das vias neuronais responsáveis por tal controlo. As soluções são depois sobrepostas com os níveis de actividade das vias dopaminérgicas responsáveis por um tal sorriso e calculado o grau de verosimilhança da emoção por de trás do mesmo.

Para grande espanto de todos os envolvidos, a equipa de cientistas chegou à conclusão de que o conhecimento actual é insuficiente para interpretar os resultados obtidos: a incerteza associada aos valores determinados sustentaria qualquer conclusão!

De facto, um problema técnico impediu os cientistas de eliminar o efeito da técnica sfumato, utilizada por Leonardo, a qual causa interferência aleatória na informação medida, impedindo a distinção entre as diferentes amostragens e os respectivos valores de controlo.

Por isso, a equipa de cientistas, depois de acérrima votação de braço no ar, decidiu efectuar uma segunda visita ao Museu do Louvre, onde está exposta a obra do génio renascentista, quando o conhecimento e a tecnologia permitir repetir a experiência e obter resultados claros sobre se Mona Lisa estaria ou não a sorrir neuronalmente. Ou seja, se o sorriso corresponde de facto ao que Lisa del Giocondo estava a sentir quando foi pintada por Leonardo da Vinci entre 1503 e 1507.

A próxima visita ficou agendada para o ano de 2015."

Este é um texto de pura ficção. Mas já agora, o que é o afasta da realidade actual?

António Piedade

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Um escritor escreve sobre um erro clínico

Outras Boas Festas muito originais que recebemos vieram do escritor Cristóvão de Aguiar que as fazia acompanhar de um texto onde, com o seu inconfundível estilo literário, relatava a sua sofrida odisseia clínica, que terá a ver com um erro (um assunto recorrente neste blogue).

Já resido neste hotel de meia estrela há quase três semanas. Perfazem-se três semanas exatamente amanhã. Como muito bem sabes, fui submetido a uma cirurgia que se pressupunha simples e se complicou por mero desleixo médico. Desleixo, incompetência, arrogância de quem tira uma especialidade em Paris e julga que ficou a saber toda a medicina do Universo e cercanias...

Não há ninguém, a não ser os deuses a quem já lhe foram impostas as insígnias, que não cometa um engano ou erro. O mais pintado os comete, mas há quem não possua ou não queira possuir a humildade de reconhecer o erro ou a falta cometida. Coimbra é uma cidade de sábios. Nunca se enganam. Este privilégio pertence ao parágrafo único da sebenta. Sempre assim foi, daí o seu atraso secular. Muitos quefazeres têm os médicos deste Centro Cirúrgico, falsamente considerado como a cereja no cimo do bolo da cirurgia paroquial, coimbrinha, mas com sérias pretensões a galgar o patamar ou o patíbulo da notoriedade nacional… A narrativa desenrola-se num ápice.

Calhou ser eu a vítima de um enxerto do ilíaco para o maxilar superior, já mirrado de osso para poder suportar alguns implantes dentários. Dessa parte do ato, nada a apontar: nem um suor ou lágrima de dor em nenhuma das fases por que tem de passar uma operação cirúrgica. Serviço bem feito! A coxa direita, coitada, é que pagou todas as favas do bolo-rei da melodiosa quadra natalícia, este ano com racionamento de açúcar e muitas outras escassezes sopradas das europas do mundo… Pressupõe-se que um vaso sanguíneo na coxa direita, farto de albergar sangue, se chateou e resolveu escoar-se para a coxa. Natural para quem tem uma especialidade e exerce outra, ou, melhor duas em sincronia.

Simultânea e legalmente! Uma equimose (nódoa negra) logo se revelou, alastrante, negroide, preenchendo um círculo de cerca de vinte centímetros, das costelas até meio da coxa. O das duas especialidades nem fez caso. Tudo natural. Como a água que corre no rio e segue até à foz. Se alguém se afogar, a culpa nunca será do rio, mas de quem nele se afoitou a mergulhar, com um massagista a servir de caução… “Movimente-se, mexa-se, não se ponha parado, faça exercício, enrijeça os músculos, torne-se atleta, inscreva-se, sem pagar joia, ainda vai a tempo, o prazo só se esgota logo à noite, aliste-se num prova de corrida de muletas (perdão, canadianas), pode ter sorte, nunca se sabe, e ganhar o primeiro prémio, o gordo, encher-lhe-á a grande cloaca da conta calada da fatura que a clínica fará o especial favor de apresentar à saída, depois de descontada a caução, nunca se sabe com quem se lida, e tudo isto acontece, mesmo que a vítima tenha entrado pelo seu próprio pé e saído abraçado aos fofos roliços braços de umas muletas, perdão, canadianas, e amparado por uma ou duas pessoas, ao fim de dezassete dias de clausura doirada, adoçada com pílulas, sorrisos, visitas meteóricas do físico que tem muito mais que fazer que aturar doentes e acha tudo natural: nem sabe a situação clínica do paciente, confunde dores da coxa com dores do pé, não sabe ler uma radiografia, não admira, radiologista nunca foi, há de sê-lo quando crescer, mente muito, mas, sobretudo, manda: ande, corra, faça ginástica de aplicação militar, flexões no varão da cama, olhe que a embolia pulmonar vem aí não tarda nada, não quero que venham os mestres de Paris de França dizer que não o avisei, que deles dependo para subir, subir, Coimbra admira muito os atletas que sobem a corda para alcançar o bacalhau no topo, andar é fundamental, em França o doente começa a andar antes de ressuscitar da anestesia, e logo caminha sem muletas, perdão, canadianas, país civilizado (a França, de Robespierre), o nosso, ainda não, só quando terminar o Serviço Nacional de Saúde, aí, sim: os doentes deixarão de ficar molengões com a anestesia e, em vez de só acordarem ao terceiro dia para subir ao céu, passam a ressuscitar já com as muletas, perdão, as canadianas, postas e já apetrechadas com um aparelho de marcar o ritmo do passo muletário, ande, ande, este é o lema de Paris de França a que devemos obedecer, andar, andar, correr, ginasticar, seguir à letra os preceitos da outrora capital do Mundo e das luzes, e agora tem Sarkosy e Bruna, também fazem jogging na cama, não se pode ter tudo, sigamos os alfaiates de Paris de França, como seguimos o antigo Curso Preparatório já depois de ter sido extinto vinte e cinco anos antes, andar, andar, marchar, contra os bretões marchar, tirem as muletas, perdão, canadianas, em verdade vos digo que elas serão abolidas no reino clínico da cereja no topo do bolo de Ançã, sem que este tenha culpa nenhuma.

Coimbra, 13 de Dezembro de 2011

Cristóvão de Aguiar

(O texto foi publicadio no Expresso das Nove: aqui , onde há mais textos do autor, designadamente uma breve sequela sobre a reabilitação, com data da noite de Natal)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

AINDA as ecobolas: esclarecimento da Quercus

Para maior visibilidade, reproduzimos aqui o esclarecimento prestado por Francisco Ferreira acerca da posição da Quercus em relação às ecobolas:

Aqui segue um esclarecimento que a Quercus tem vindo a transmitr a muitas das pessoas que nos têm contactado:

A “Ecobola” é disponibilizada no mercado português através de várias marcas, nomeadamente:

Nestes links podem ser consultados os preços, que regra geral situam-se à volta dos 30 Euros. Na ausência dessa informação, deverá contactar directamente a marca.

Em Portugal, estas marcas podem ser encontradas em alguns revendedores, como o AKI, o supermercado BRIO ou a loja online PIXMANIA, sendo que em alguns o preço pode ser mais reduzido (mas julgamos que nunca tão baixo como referiu).

Na sequência do feedback positivo por parte de alguns utilizadores e da possibilidade de ser uma alternativa à utilização de detergente em algumas lavagens, a Quercus realizou um Minuto Verde (RTP1) sobre a Ecobola, no sentido, não de a promover, mas de a dar a conhecer aos consumidores como possível solução. Temos também conhecimento da referência à Ecobola no programa Desafio Verde, do qual somos parceiros, embora não tenhamos estado ligados a essa recomendação específica.

A Quercus recomenda vivamente a consulta de informação/estudos realizados recentemente por parte de algumas entidades como a DECO em Portugal e a sua equivalente espanhola OCU (Organización de Consumidores y Usuarios), que consideram a “tecnologia” por detrás da Ecobola não tão eficaz como consta nas embalagens.


Francisco Ferreira

domingo, 17 de outubro de 2010

A Mente Moral

Marc Hauser é um cientista da cognição que se dedica ao estudo da cognição em primatas, procurando uma compreensão da evolução da mente. Foi também, até agora, uma das estrelas mais cintilantes da Universidade de Harvard por se ter dedicado a abordar conceitos como a evolução da moralidade. Publicou mais de 200 artigos em revistas de muito elevado impacto, como a Science e a Nature, e recebeu Young Investigator Award da National Science Foundation americana.

Disse foi, porque Marc Hauser foi há pouco considerado culpado de falta de ética científica pela sua própria universidade. Uma comissão nomeada pelo Reitor da Universidade de Harvard, analisou e passou a pente fino a investigação de Hauser, durante três anos, analisando todos os trabalhos desde 2002 e chegou à conclusão de que Hauser violou os princípios da conduta científica em oito situações. Três correspondem a artigos publicados e as restantes cinco a material em submissão ou de relatórios internos. Um dos artigos publicados, na Cognition, foi retirado, outro foi corrigido e o terceiro, na Science, está em discussão com os editores.

Isto foi particularmente perturbador para mim que tinha Hauser em grande consideração. Era um dos grandes cientistas da cognição. Em 2003 mostrou (Proceedins of the Royal Society) que pequenos primatas tamarins, ou Saguis-de-cabeça-branca, eram capazes de ter uma atitude diferente para outros animais da mesma espécie consoante eles os tivessem ajudado antes ou não – tendiam a ajudar mais os que lhes tinham prestado ajuda antes –, levantando questões muitíssimo interessantes sobre a evolução de conceitos éticos. Este artigo não foi alvo de críticas.

Um breve parêntesis aqui:

[A ideia feita mais comum é a de que a ética será exclusivamente humana, porque apenas nós somos seres racionais capazes de ter ética. Além de que a ética seria um produto eminentemente cultural. Passemos de lado o atestado de estupidez a nós próprios ao considerar que somos os únicos animais racionais – como se os outros fossem autómatos sem pensamento (pensem nisso quando observarem o comportamento do vosso cão e já agora leiam o excelente ‘Livro da Consciência’ de Damásio). E se não for exclusiva? Se tiver bases mais profundas presentes em culturas de outros animais?]

Mas outros trabalhos foram considerados contendo erros intencionais que conduziram a conclusões incorrectas, de forma intencional.

O que apurou a investigação de facto? Que Hauser manipulou a informação em várias situações (oito), quer na codificação/interpretação dos comportamentos observados, quer no seu tratamento estatístico.

O que sucedeu? Numa das experiências para determinar se os saguis tinham respostas diferentes perante discurso humano normal ou manipulado, com o objectivo de saber se eram capazes de reconhecimento de padrões vocais, Hauser e o aluno que fez as experiências codificaram os comportamentos dos animais, a partir de vídeos gravados das experiências. Esta prática comum visa garantir que não há enviesamentos na observação do comportamento. É comum os investigadores guardarem as cassetes para posterior inspecção por outros, se solicitado. Desta vez os resultados de Hauser indicavam um efeito e os do aluno não. Este propôs que os vídeos fossem visionados por um terceiro observador independente, o que Hauser recusou. O aluno fez isso sem o seu conhecimento e os resultados entre os alunos foram idênticos. Quando abordaram o assunto no laboratório com outros alunos, ficaram a saber que esta não era a primeira vez que isso sucedia, o que os levou a denunciar a situação à Faculdade.

Hauser foi considerado o único responsável pelos enviesamentos de interpretação.

Hauser tinha a tendência para abordar assuntos difíceis e potencialmente polémicos: evolução da linguagem, evolução da moral. Esta é também uma forma de conseguir muita visibilidade. Mas a pressão para publicar resultados surpreendentes terá sido demasiada. Ou então ele convenceu-se de que estava certo. Mas os resultados ainda não concordavam com ele. E ele não tinha tempo a perder...

Recentemente Marc Hauser publicou Moral Minds: How Nature Designed Our Universal Sense of Right and Wrong. Eu, que adquiri o livro e o comecei a ler, estou agora num dilema moral: confiar ou não no pensamento dele? É caso para dizer que faltou a moral a quem tanto queria dissecá-la.

E agora? Bem, a dúvida alastra a todo o seu trabalho, apesar de apenas se terem encontrado falhas em alguns dos muitos trabalhos analisados e muitas das suas experiências terem sido replicadas por outros com resultados concordantes.

Entre os cientistas da cognição perpassa um arrepio com receio da má fama que Hauser possa trazer a uma área de estudo tão sólida e controlada experimentalmente como outras, mas mais susceptível por envolver comparações connosco.

Grandes cientistas da cognição como Gordon Gallup, ou Franz de Waal, estão furiosos com Hauser e não lhe perdoam a sua falha de conduta.

Para já a Universidade de Harvard concedeu-lhe uma licença sabática e estou convencido de será convidado a sair. Uma falha destas é demasiado grave para ser limpa por uma retractação pública.

Outros colegas estão a preparar-se para replicar algumas das suas experiências e confirmar ou não os resultados. E acho que é mesmo isso o que há a fazer.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Erro no Desempenho Profissional


CONFERÊNCIA: O Erro no Desempenho Profissional

Conferencista: José Fragata, Médico-cirurgião de cardiologia e Professor da Faculdade de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Lisboa. Interessa-se pelo erro humano na área da saúde. É co-autor do livro O erro em medicina.

No próximo dia 8 de Outubro, sexta-feira, pelas 16h30,no Auditório da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

A conferência é aberta ao público (com certificado de presença).

terça-feira, 14 de setembro de 2010

OS ERROS NOS EXAMES

Agora que os alunos candidatos ao ensino superior estão colocados, em resultado, pelo menos em parte, de exames nacionais, e que os novos exames estão a começar a ser preparados, é bom lembrar que o GAVE, o Gabinete do Ministério da Educação que é responsável pela elaboração dos ditos exames, tem deixado passar erros nas provas e, pior que tudo, tem uma dificuldade extrema em admitir erros, mesmo quando eles são de palmatória.

Um bom exemplo é o caso recente, que me foi transmitido por uma professora de Biologia e Geologia, referente à questão 2 do grupo III do exame de Biologia e Geologia (702) da 1ª fase do ano de 2010:

"2. Seleccione a única opção que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços seguintes, de modo a obter uma afirmação correcta.

No basalto da crosta oceânica, um isótopo radioactivo desintegra-se espontaneamente a uma taxa _______ ao longo do tempo e a sua percentagem, na rocha, tende a _______ com o afastamento da rocha à crista oceânica.

(A) constante ... diminuir
(B) variável ... aumentar
(C) constante ... aumentar
(D) variável ... diminuir"


(O exame e critérios de correcção podem também ser encontrados aqui )

A opção considerada correcta pelo GAVE é a opção A, isto é, julga que a taxa de decaimento radioactivo é constante. É um erro! Como muito bem diz a professora: "esta opção está em contradição com a abordagem que é feita nos manuais de 10º ano e livros da área."

De facto, a taxa de desintegração radioactiva, também chamada actividade, é variável com o tempo. É até, se assim se pode dizer, muito variável. A derivada de uma função exponencial, a função que descreve a evolução no tempo de uma amostra de núcleos radioactivos, é ainda uma função exponencial. Taxa de desintegração ou de decaimento é a medida da variação no tempo do número de isótopos radioactivos, que é proporcional ao número de isótopos radioactivos presentes. A opção correcta correcta era, portanto, (D). Assim, e cumprindo o seu dever, antes de se iniciar a correcção das provas a professora contactou o GAVE no sentido de alertar para o erro. Na véspera da afixação das notas recebeu uma resposta cheia de erros científicos. Tive acesso a esta resposta, que é um chorrilho de disparates, misturando conceitos distintos, que só pode vir de quem sabe pouco sobre processos radioactivos. Após nova argumentação pela professora citando um livro que é considerado uma referência pedagógica em todo o mundo, veio a resposta final do GAVE, pretendendo pôr uma pedra na questão. Desta vez, dizia pura e simplesmente que a argumentação "não estava no âmbito da disciplina de Biologia e Geologia" (sic). Quer dizer, o significado de taxa de desintegração seria variável: seria um em Biologia e Geologia e outro em Física! O autor de semelhante dislate não teve a coragem de assinar, escondendo o seu anonimato por detrás das iniciais GAVE. Mas deve haver um responsável nessa casa. Ou não há? Razão tem Nuno Crato e outros mais, cada vez mais, que pretendem que o GAVE saia da alçada do Ministério da Educação, para se tornar um órgão verdadeiramente independente e idóneo.

Pasme-se: os alunos que dominavam a matéria e responderam correctamente tiveram uma resposta considerada errada e, se calhar, não puderam entrar no curso que queriam. E os outros, que sabiam pouco (tão pouco como o GAVE) foram premiados com uns pontos e, quiçá, aí estão colocados. Assim vai o ensino em Portugal...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Se não se passa em Lisboa então não aconteceu!

Considero este "artigo" do Expresso INACEITÁVEL (foi publicado na página 22 do Expresso de 7 de Agosto, estando agora também no Expresso online). Lamento que um jornal como o Expresso fique pela "espuma dos dias" e não vá ao fundo das questões. E faça um "artigo" assim, na altura das candidaturas ao ensino superior, sobre inovação, em que só ouve o presidente do IST, como se não houvesse mais mundo. Muito mais mundo: para a jornalista autora deste "artigo" não há o Porto, nem o Minho, nem Coimbra, nem Aveiro, nem Algarve, nem Bragança, nem Vila Real, nem Leiria, nem Castelo-Branco, ... não, o país é só Lisboa, e uma certa Lisboa. Ainda, segundo a jornalista que assina este artigo, "Muitas outras escolas estão determinadas em seguir o exemplo do Técnico (IST)". Isto seria cómico se não fosse trágico e não revelasse uma mentalidade tacanha de um país que insiste na ideia: só existe Lisboa, se não se passa em Lisboa então não existe ou não aconteceu.

Não é aceitável. É parcial. Não presta um bom serviço a Portugal, porque esquece as boas iniciativas que por aí vão em todo o país. Confundir Portugal com Lisboa, sem sequer ver o que se passa no resto do país, é um sinal de um país doente, sem chama, que insiste no suicídio colectivo.

Para além disso, confunde inovação e capacidade de realização, com registo de patentes nacionais. Não seria melhor, digo eu, ver quantas dessas patentes foram vendidas, passaram a patentes internacionais, deram origem a novas empresas, novos negócios, novos produtos, criaram emprego, etc.?? É que registar patentes nacionais pode ser só uma forma de "mostrar" indices para as estatísticas. Até é barato!

Este "artigo" não presta um bom serviço porque é um exemplo de MAU JORNALISMO, em que a pessoa que o escreve se limita a transmitir aquilo que, provavelmente, lhe enviaram, sem fazer investigação, sem cruzar dados, sem perguntar a outros, em suma, sem levantar a cabeça e olhar à volta.

E claro, nem verifica que existem outros locais no país que têm resultados bem mais interessantes. Aqueles que de facto contam, porque têm impacto na economia e na vida das pessoas. Esquece tudo o resto. Por exemplo, que foi a Universidade do Porto (uma universidade que nem é mencionada no "artigo") que ganhou o concurso da COTEC sobre "Fomento do Empreendedorismo nos Alunos do Ensino Superior Português" no valor de 100 mil Euros. Ou que a melhor incubadora de empresas do País (considerada também a 2ª melhor do mundo) é de Coimbra (Instituto Pedro Nunes). Melhor porque tem mais empresas, e muito melhores taxas de sobrevivência, isto é, excelentes resultados na criação e sobrevivência de empresas criadas em ambiente universitário. Etc., etc.

Mas mais importante do que isso, esquece que, se calhar, o que devemos querer saber das universidades é:

1. Quantas empresas foram criadas pelos seus alunos.
2. Quantos empregos foram criados por essas empresas.
3. Qual o volume de negócios dessas empresas.
4. Quanto representam do PIB nacional.
5. Dos seus docentes e investigadores quantas patentes resultaram.
6. Quantas foram vendidas e deram lucro.
7. Quantas deram origem a spin-offs.
8. Qual o impacto da universidade nas exportações portuguesas.
9. Qual o valor acrescentado de um aluno da universidade/politécnico: custa quanto e vale quanto.
10. Qual o impacto da universidade/politécnico no cenário internacional de I&D: docentes e investigadores.
11. Quantos projectos europeus tem a universidade/politécnico.
12. Quanto valem os projectos europeus em percentagem do orçamento da Universidade.

Pois, mas obter esta informação dá muito trabalho.
E se calhar não permite obter o resultado pretendido com o "artigo"!
O melhor, como dizia recentemente Mário Soares sobre o actual jornalismo, é ficar pelos fait-divers, pela "espuma dos dias".

J. Norberto Pires

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Uma "brincadeira" ao estilo de Sokal

Não é só na ciência e na filosofia que pessoas informadas se deixam levar por encenações (veja-se, respectivamente, o "caso Sokal" e o "caso Botul", sobre os quais já se escreveu neste blogue). Na arte isso também acontece... Nesta área, em particular, um canal de televisão resolveu fazer uma "experiência" no estilo ensaiado por Alan Sokal, que pode ser vista aqui e que se descreve em breves linhas.

Pediu-se a crianças de 2 e 3 anos, que frequentavam uma creche, que pintassem um quadro como quisessem, com pincéis ou com as mãos.. Num instante, os pequenos artistas produziram uma "obra" colorida, que foi levada à sorrelfa para a ARCO, a conhecida feira de arte internacional, que é também a mais importante de Espanha. Uma entrevistadora recolheu a opinião de especialistas e pessoas comuns que se detiveram a apreciar o quadro. Eis algumas das suas apreciações:
- revela angústia, tristeza...
- há uma mensagem que se transmite através das flores, da paisagem...
- tem muitas subtilezas, correntes estéticas ...
- é quadro complexo, tem muita meditação subjacente... é de um pintor com muita experiência...
- reflecte um pouco o desespero... alguém que foi buscar um caminho novo... parece-me que é uma pessoa que procurou muito... possivelmente é de um homem com uma carga erótica muito grande, mas também com uma repressão muito grande...
- 15.000 euros não me parece caro... é arte, e a arte não tem preço...
- gosto, tem muito trabalho... é um preço razoável. ...

Curioso não é? A entrevistadora assinalou que nenhuma dos visitantes com quem falou, pareceu duvidar da origem do quadro, deixando no ar a pergunta: será porque a ARCO só expõe quadros de artistas reputados?

domingo, 11 de abril de 2010

O máximo de criatividade

A criatividade é uma capacidade humana, como o são a retenção de dados na memória, a compreensão, a elaboração de juízos, ou a invocação de conhecimentos prévios para tomar decisões ou agir. Quando nascemos, todas estas capacidades se encontram em potência e, nessa medida, para se revelarem precisam de ser ensinadas e aprendidas. Falhas nestes dois processos comprometem a inteligência, que se constitui numa articulação, ainda não completamente esclarecida, entre estas capacidades e outras não aqui referidas.

Porém, num certo discurso, que está longe de poder ser corroborado pela Pedagogia (que se rege pelo modo de pensar aceite pelas comunidades científicas), insiste-se nas seguintes ideias:
(1) certas capacidades dispensam a estimulação, porque a criança, por si só, consegue desenvolvê-las;
(2) a estimulação dessas capacidades por adultos, a ser feita, tem efeitos contraproducentes: inibe a sua livre expressão;
(3) assim sendo, certas capacidades dispensam a estimulação de outras, pois estas podem destruir aquelas.

São três ideias que emergem imediatamente quando, nesse tipo de discurso, se invoca a criatividade. Assim, no plano da educação escolar, sublinha-se que:
(1) as crianças são naturalmente criativas e, quando não constrangidas, são capazes de fazer desabrochar e concretizar essa vertente no seu maior explendor;
(2) nessa medida, os professores devem, apenas e só, criar as condições para tanto;
(3) e devem, abster-se de trabalhar a memorização, porque esta abafará todo e qualquer laivo de criatividade.

Trata-se de ideias que, além de erradas, são perigosas. A criatividade é uma capacidade abstracta e complexa, requendo, para se desenvolver, outras que lhe são propedêuticas, como é o caso da memória. Não se trata de duas capacidades antagónicas, mas de duas capacidades complementares. A falta de estimulação duma prejudica a outra.

Tais ideias não estão, infelizmente, apenas patentes em discursos teóricos, elas perpassam os doumentos curriculares vigentes. Reproduzo, de seguida, um extracto do Programa de Educação Visual e Tecnológica para o 2.º Ciclo do Ensino Básico, que ilustra na perfeição o que acima afirmei:

“A investigação deve ser orientada para a autonomia dos alunos e a criação de hábitos de pesquisa, tanto relativamente aos interesses dos alunos como às formas de registo, de exploração das respostas e de apresentação das ideias, no sentido de permitir o máximo desenvolvimento da criatividade. Ao professor caberá essencialmente estimular a procura do maior número de respostas, animar a recolha de dados, promover a reflexão…”

terça-feira, 16 de março de 2010

O botulismo

Em 1999 foi publicado em França um livro cujo título é: La Vie Sexuel de Immanuel Kant. O autor que consta na capa é Jean-Baptiste Botul. A apresentação, com duas páginas e meia, é assinada por um tal Frèdèric Pàges. Este explica ao leitor estarem reunidas, na pequena obra dada à estampa, umas certas conferências proferidas por aquele.

Tais conferências, supostamente guardadas no arquivo da Associação dos Amigos de Jean-Baptiste Botul, teriam acontecido em Maio de 1946, no Paraguai, destinando-se a uma colónia de alemães fugidos da sua cidade, quando o Exército Vermelho a conquistou.

Seriam peculiares esses alemães: por admirarem o filósofo que escreveu a Crítica da Razão Pura, deram o nome de Nova Konigsberg à sua pátria (que assemelharam à velha Konigsberg), “vestiam-se, comiam, dormiam como ele” e “davam o mesmo passeio lendário” que ele. Porém, se lhe seguissem as passadas no que respeita à vida sexual, extinguir-se-iam… Foi esse o desafio que Botul, apresentado como um obscuro "filósofo de tradição oral" do sul de França, nascido em 1896 e morto em 1947, terá aceitado, sendo que da sua reflexão dependeria o futuro dos neo-kantianos exilados.

Consta que, em 2009, o conhecido filósofo Bernard-Henry Lévy, terá citado Botul numa conferência na École Normale Supérieure, tendo, mais recentemente, reincidido num livro de peso - com 1340 páginas: De la Guerre en Philosophie.

Tudo isto faria sentido se Botul não fosse… uma figura inventada. Pois é, saiu da imaginação de um jornalista com sentido de humor e audácia, que é, nem mais nem menos, do que o tal Pagès, apresentor do livro...

Em comentário ao sucedido Lévy afirmou "Parece que me deixei enganar, como todos os críticos literários que citaram o livro quando ele foi lançado".

Todos, talvez seja um exagero, pois na recensão que eu li, em Agosto de 2004, quando o livro saiu em Portugal (na Cavalo de Ferro), da autoria de Ana Cristina Leonardo e que foi publicada no jornal Expresso, reconhecia-se a farsa: "Pelo meio das jocosas ideias acerca das relações entre a vida pessoal e sistemas de pensamento, Botul lança as raízes da desconfiança: até que ponto é sério o discurso da filosofia ou, pelo menos, até que ponto o podemos levar a sério?"

Quem diz filosofia, diz ciência... Esta "paródia", tal como a de A. Sokal, tem um mérito: levar-nos a aprodundar as fontes, questionarmo-nos acerca do que lemos, duvidarmos do que nos é apresentado. Em suma, sugere-nos que não nos acomodemos no conforto das ideias que nos chegam, que as cruzemos, que as indaguemos.

Nota: Uma entrevista recente a Bernard-Henry Lévy sobre o assunto pode ser vista aqui.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Professores: deixem os alunos em paz!

O "grito" de libertação, de emancipação cantado pelos Pink Floyd já me serviu para outro ou outros textos que publiquei no De Rerum Natura. A razão é simples: ele resume exemplarmente a concepção de ensino que se produziu e imperou no século XX, e na qual se tende a insistir.

Essa concepção é a seguinte: os professores não devem organizar as aulas com base na palavra, (sobretudo se a palavra for a sua), estruturar a relação pedagógico-didáctica (a relação com fins precisos de transmissão da informação e de desenvolvimento cognitivo), nem usar quadro de giz, livros ou outros documentos em papel (que são recursos tradicionais). E não devem fazer tudo isto porquê? Porque os alunos aprendem (ou seja, desenvolvem competências) ao trabalharem sozinhos ou uns com outros (ou seja de forma autónoma e colaborativa), através da pesquisa de assuntos do seu interesse vivencial e, muito importante, recorrendo (sempre) às novas tecnologias da informação e comunicação.

E haverá estudos que corroborem tal concepção? Sim, há. Mão amiga fez-me chegar a divulgação de um que parece ser de revisão da literatura e que inclui dados relativos ao sucesso nos níveis de escolaridade básica, secundária e superior. O título do texto que li e que apresento de seguida é sugestivo: Ensino online produz melhores resultados do que as aulas convencionais.

"Os resultados deste estudo, realizado em colaboração com o instituto de investigação SRI International, revelam que 6 de cada 10 jovens que utilizam métodos de ensino online aprovam com boas notas as provas curriculares, face a 5 de cada 10 que que recorrem unicamente ao modelo tradicional de classes presenciais.

Apesar do método online registar uma taxa de sucesso mais elevada, os investigadores constataram que o êxito foi ainda mais notório quando se combinam os dois modelos - online e presencial - mediante o sistema de Blended-learning.

Os estudantes que recebem toda ou parte da sua formação através da internet obtêm, em geral, um melhor desempenho do que aqueles que simplesmente assistem às aulas presenciais. Esta é a conclusão de um grupo de investigadores norte-americanos do Departamento de Educação dos E.U.A., que analisou 99 estudos sobre esta temática entre os anos de 1996 e 2008.

A (...) directora docente da Master.D Portugal, refere a este respeito que “as novas tecnologias de informação e comunicação oferecem enormes potencialidades ao ser humano no decurso do seu processo de aprendizagem. Entre todas as vantagens que a educação online congrega, penso que a mais importante é a criação de experiências individuais de formação que despertam o interesse e curiosidade do indivíduo e que fomentam, simultaneamente, uma maior autonomia, espírito crítico e ânsia por novos conhecimentos.”

Por outro lado, os especialistas da empresa de formação à distância Master.D, afirmam que os jovens portugueses recorrem pouco às novas tecnologias de informação como ferramenta auxiliar de estudo. “As instituições de ensino desempenham um papel fundamental na educação e formação dos alunos e devem ajudá-los a explorar as potencialidades das TIC enquanto suporte pedagógico. As novas metodologias e sistemas de ensino são fundamentais para garantir um nível de formação mais elevado e o desenvolvimento das aptidões da nossa comunidade de estudantes.”

Como David Marçal explicou em texto recente é preciso ter algum sentido crítico em relação aos estudos científicos: sendo feitos por pessoas, podem enfermar de erros. Neste que destaquei e tal como está apresentado, insinua-se pelo menos um erro de conceptualização teórica: o erro de que a aprendizagem dispensa os professores.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Descubra os ERROS!



Parece que a "Face Oculta" está para durar. Mas não era sobre isso que queria falar. Queria só que jogassem comigo ao "descubra os erros".

Armando Vara enviou um carta ao conselho superior de supervisão do BCP pedindo "suspenção"/suspensão dos seus mandatos no banco. Mas teve o cuidado de dizer: é uma "suspenção"/suspensão e não uma "renuncia"/renúncia, pois isso poderia ser interpretado como "assumpção"/assunção* de culpa.

Veja a carta aqui e descubra os erros de ortografia do administrador do BCP que pelos vistos também suspendeu o Português.

:-(

É a vida.

Isto faz-me lembrar um livrinho muito engraçado que ofereci há dias à minha filha mais nova (a Beatriz de 7 anos). Intitula-se "A menina que não gostava de livros", da autoria de uma senhora indiana a viver no Canadá (Manjusha Pawagi). Muito interessante, fácil de ler e que incentiva a ler. Pode custar no início, como ao gato Max que ficou marcado na cauda com a forma de um grande livro que lhe caiu em cima :-) Mas ajuda pela vida fora, e é uma enorme fonte de prazer.

De vez em quando ofereça um livro ao seu filho(a). E leia-o com ele(a), substituindo algum do tempo em frente à televisão. Vai fazer toda a diferença.

*assumpção é uma variante de assunção

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...