Tal como precisamos de todas as peças de um puzzle para podermos
entender na sua plenitude a imagem que compõe, em investigação
científica precisamos conhecer muitos detalhes bioquímicos dos processos
para podermos dizer, com rigor, que determinados genes têm funções
específicas.
Foi o que fizeram os investigadores do Laboratório de Fisiologia Celular e Ressonância Magnética, do ITQB NOVA, que
descobriram uma nova via para a síntese de fosfolípidos, componentes
fundamentais das membranas celulares, e os genes responsáveis, com resultados publicados em julho de 2015,na Environmental Microbiology.
Hoje às 12h, no auditório do ITQB NOVA, em Oeiras, a investigadora Carla Jorge conta-nos sobre o processo
desta descoberta. A entrada é livre.
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quarta-feira, 9 de março de 2016
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
A DESCOBERTA DO ADN
A sigla ADN é hoje usada em vários
contextos. Ultrapassou as fronteiras da genética e da biologia molecular e é
vulgar ouvir-se em vários órgãos de comunicação social que fulano e sicrano têm
ADN, como se fosse possível a vida sem ele.
O ADN, sigla do ácido
desoxirribonucleico, molécula da hereditariedade, imprime iconicamente uma
dupla hélice no nosso olhar. É assim desde que Watson e Crick propuseram, em
1953, esse modelo helicoidal para a biomolécula dos genes. Como acontece com
tudo na vida, a forma estrutural tem em si mesma significado funcional. A
revolução científica que esta descoberta causou na biologia e na medicina, faz
com que ela se confunda com a descoberta da molécula ADN.
De facto, a substância ADN foi descoberta muito
antes. Em 1869, o suíço
Johann Friedrich Miescher (1844
– 1895) identificou uma nova substância ao analisar o conteúdo dos núcleos
celulares dos glóbulos brancos. Essa substância era ácida e continha na sua
composição fósforo, um elemento ausente nas proteínas. À nova substância, que
não tinha propriedades proteicas, Miescher deu o nome de nucleína.
Bioquímico alemão Johann Friedrich Miescher (1844 – 1895)
Note-se que esta descoberta é efectuada numa época rica em revoluções na Biologia: em 1859, Darwin publica "A Origem das Espécies"; em 1865, Schwann e Scheiden postulam a teoria celular; ainda em 1865, Mendel publica o seu artigo sobre a hereditariedade, apesar de o mesmo ter tido pouca divulgação ou consideração.
Há alguns factos curiosos ao redor
da descoberta do ADN e sobre o seu descobridor.
Miescher formou-se em medicina na
Universidade de Basileia. Contudo, uma surdez impediu-o de exercer medicina e
optou por seguir uma carreira científica, influenciado pelo seu tio, professor
de química fisiológica (hoje diríamos bioquímica) naquela universidade. A sua
incapacidade auditiva não o impediu de ser um investigador com uma visão
acutilante para os problemas científicos na sua área. De facto a sua descoberta
teve implicações na biologia, na genética, na medicina, muito além daquilo que
ele poderia suspeitar na época em que viveu.
Friedrich Miescher começou a sua carreira de
investigação no laboratório de Felix Hoppe-Seyler (1825 – 1895) um
dos mais prestigiados bioquímicos da época - identificou e caracterizou a
hemoglobina, entre outras proteínas. Situado no castelo de Tubinga, o
laboratório ocupava as instalações de uma antiga lavandaria. A investigação
nesse laboratório envolvia identificar e caracterizar o conteúdo proteico das
células. Pensava-se que, uma vez identificadas todas as proteínas, se poderia
compreender o funcionamento molecular da vida assim como a sua hereditariedade.
Miescher começou, assim, a explorar
as proteínas no citoplasma de glóbulos brancos que obtinha a partir do pus
retido em ligaduras de feridas provenientes de um hospital vizinho. Para que o
material biológico não se degradasse, mantinha a janela do laboratório aberta o
que fazia com que a temperatura de trabalho rondasse os 5 graus Celsius durante
o Inverno!
Apesar da sua persistência
metodológica, cedo percebeu que existiam muitas mais proteínas no citoplasma
dos glóbulos brancos do que aquelas que a técnicas analíticas de então
permitiam identificar. Influenciado pelo eventual papel do núcleo na
hereditariedade, uma ideia nova para a época, desenvolveu os protocolos
necessários para isolar esse organelo celular e proceder à análise da sua
composição.
É então que Miescher verifica que
está perante uma substância desconhecida à época, como já se disse. A estranheza
em o núcleo não ser constituído maioritariamente por proteínas, levou a que o Hoppe-Seyler duvidasse dos resultados e obrigasse Miescher e outros
investigadores a repetir a caracterização inúmeras vezes. Só em 1871, dois anos
após a descoberta, é que Miescher publicaria os seus resultados numa revista
científica.
Ao longo da sua carreira científica, Miescher convenceu-se de que a nucleína não poderia ser a molécula responsável pela transmissão de caracteres hereditários nem que estava envolvida na fecundação. Ademais, considerava que a nucleína deveria ser, devido ao seu enorme peso molecular, um repositório de matéria para a síntese de outras moléculas necessárias à vida.
A composição
aparentemente monótona da nucleína (mais tarde rebaptizada por ácido
desorribonucleico, ou ADN) contrastava com a diversidade incontável das
proteínas. E à falta de outras evidências experimentais, os genes não
poderiam ser feitos de uma substância tão pouco diversa, teriam de ser
constituídos por proteínas. Esta ideia persistiu durante mais de 70 anos, até a
meados da década de 40 do século XX, altura em que ficou demonstrada experimentalmente
que o ADN é a molécula dos genes.
António Piedade
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
A DESCOBERTA DO ADN
O ADN foi descoberto em 1869, mas a sua identificação como a "matéria" dos genes só foi demonstrada cerca de 75 anos depois!! Porquê?
Primeira palestra do ciclo "Conversas com ADN", coordenado por António Piedade.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
DUPLA HÉLICE SEXAGENÁRIA
Texto publicado na revista Papel
O avô Jaime faz
anos. Sessenta anos de vida cumpridos no dia 25 de Abril, dia de festa e de
grandes revoluções. Francisco e Rosália, os seus netos gêmeos, estavam
radiantes como qualquer petiz o está quando alguém que lhes é querido faz anos.
Também eles tinham feito 10 anos no passado dia 14 do mesmo mês de Abril. A
coincidência de todos fazerem anos no mesmo mês aumentava a sensação de uma
cumplicidade entusiasta entre avô e netos.
Rosália observa
as duas velas de aniversário espetadas no topo do bolo. Tinham uma forma
helicoidal e o número 60 construído pelo 6 e o 0 impressos em cada uma delas.
As duas faziam lembrar uma dupla hélice o que fez recordar a Rosália algo que
tinha lido num jornal na biblioteca da escola: a forma da molécula dos genes
também tinha sido descoberta havia 60 anos.
- Avô! –
pergunta Rosália – é interessante teres nascido no mesmo ano em que uns
cientistas descobriram a dupla hélice…
- De ADN –
completou o Avô perante a hesitação de Rosália. – Sim é uma coincidência que me
agrada, mas não passa disso. De uma coincidência. De facto nasci no dia em que
uma revista científica muito importante, que se chama Nature, publicou o artigo
de James Watson e Francis Crick sobre a estrutura em dupla hélice do ácido
desoxirribonucleico, que diminuímos para a sigla ADN. Foi uma publicação que
fez nascer uma nova era na biologia e outras disciplinas afins…
- Como a
química e a física? – questiona Francisco até ai pouco interessado.
- Essas foram
necessárias para a descoberta da dupla hélice do ADN. Outras nunca mais foram
as mesmas. Estou a falar da compreensão da vida através das moléculas e átomos
que a constituem. Biologia molecular, bioquímica, genética entre outras
disciplinas. Vocês já falaram de moléculas e átomos na escola, não falaram? –
questiona o avô Jaime com as sobrancelhas pacientes.
- Já! –
respondem os gêmeos em uníssono. – E também na internet.
- Pois a
internet… - suspira o avô pensativo. – Querem que vos conte a história do ADN?
- Queremos –
respondem Rosalia e Francisco com as vozes entrelaçadas.
- Apesar de eu
ter nascido a 25 de Abril, fui na realidade concebido uns 9 meses antes.
Poderíamos celebrar em vez do nascimento, o dia da concepção, quando um
espermatozoide do meu pai fecundou um oócito da minha mãe. Mas a tradição da
nossa cultura secular só podia celebrar o que via acontecer como coisa concreta
e definida. Mas ao longo daqueles 9 meses, os genes que eu recebi dos meus pais
celebraram um plano para fazer desenvolver, célula a célula, tecido a tecido,
órgão a órgão, primeiro o embrião, depois o feto, e por fim o meu organismo
completo nascido bebé.
- Não consigo
imaginar o avô bebé – riu a Rosalia.
- Bom. O que eu
vos quero dizer é que as coisas da ciência, assim como as da vida, não surgem
do nada. Têm uma história de desenvolvimento, passo a passo e com muito
trabalho e esforço. Cada descoberta acrescentando mais um pouco de conhecimento
ao nosso entendimento científico do mundo, neste caso.
- Queres dizer
que a dupla hélice também esteve grávida? – pergunta Rosália com ar de malandra.
- Fazes-me rir.
Não esteve grávida, não teve mãe. Apesar de ter sido uma senhora que se chamava
Rosalind Franklin que fez as experiências fundamentais com cristais de sais de
ADN e cujos resultados permitiram a Watson e Crick desvendar a estrutura. Sabem
como é que ela fez as experiências?
- Não!! – disse
a curiosidade dos dois netos.
- Como se
tirasse radiografias com raios x a pequenos cristais de sais de ADN. O modo
como os raios x são desviados pelo ADN foram registados numa imagem que depois
foi analisada com o conhecimento físico e matemático desenvolvido pelo físico
Bragg e outros colegas. A técnica chama-se em rigor cristalografia por difracção
de raios x e foi, e é, muito usada para estudar a estrutura regular e a
disposição espacial tridimensional como os átomos e algumas moléculas se
organizam quando são cristalizadas, quando estão na forma de cristais.
- Como os
cristais de neve? – pergunta Rosália sorridente.
- Sim. Só que
em vez de água, imprescindível para a vida, estamos a falar de ADN – diz o avô
Jaime contextualizando.
- O ADN foi
descoberto pelo químico alemão Friedrich Miescher, em 1869. Ou seja 84 anos
antes da desboberta da sua estrutura. Miescher descobriu que todas as células
tinham uma substância ácida no núcleo. Mas não foi logo que os cientistas
associaram o ADN com a hereditariedade, com os genes que os pais passam aos
filhos.
-
Hereditariedade?! O que é? – pergunta Francisco com os braços abertos.
- É a forma como as características que nos
tornam seres vivos individuais são transmitidas de geração em geração – explica
o avô. - Foi trazida à luz pelas famosas experiências com ervilhas de Gregor
Johann Mendel, um monge e botânico austríaco, em meados do Séc. XIX.
- As minhas
experiências com ervilhas são sempre más – resmunga Francisco.
- Mas tens de
as comer, assim como a outros vegetais se queres crescer e perceber estas
coisas da hereditariedade – aconselha Rosália fraternal. - Não é verdade avô?
- Bem o dizes
minha neta. Mas voltemos à história. Mendel não sabia nada acerca de ADN nem
precisou desse conhecimento para estabelecer as suas leis da hereditariedade
que ainda hoje são estudadas e válidas para explicar a transmissão de
determinadas características de pais para filhos, como sejam a cor dos olhos,
pro exemplo.
- Mas o que é
que o ADN tem a ver com a hereditariedade? – pergunta Francisco ainda meio
horrorizado com a ideia de ter de comer ervilhas.
- Os genes são
feitos de ADN – afirma categórico Jaime.
- Então os
genes estão no núcleo das células! – exclama Rosália vitoriosa.
- Sim. No
núcleo das células como as que nos constituem – confirma o avô. - Mas a
identificação do ADN como a molécula responsável pela hereditariedade genética
demorou muito tempo, não foi imediata.
- Porquê? –
soltou Francisco com os sobrolhos carregados.
- É que a
composição química do ADN parecia aos químicos, biólogos e geneticistas muito
pobre e repetitiva para poder conter em si a informação necessária para gerar a
imensa complexidade de um ser vivo, para além da enorme biodiversidade que vive
no planeta Terra. Cada unidade do ADN, chamado nucleótido, é composto por um açúcar
(a desoxirribose) um parte inorgânica constituída por um grupo ortofosfato, e por
uma de quatro substâncias azotadas a que chamamos bases: a guanina, a adenina,
a citosina e a timina. Para simplificar referimo-nos a elas pelas letras G, A,
C e T respectivamente.
O avô Jaime faz
uma pausa para dar tempo a que Francisco e Rosália desfaçam qualquer dúvida com
o olhar. E continua.
- Até aos anos
quarenta do século XX muitos cientistas estavam mais inclinados para atribuir
esse papel às proteínas. Estas eram constituídas por muitas mais unidades
diferentes e apresentavam-se em incontáveis combinações e estruturas distintas.
Os diferentes genes necessários para construir um organismo tinham de ser
compostos por proteínas e nunca pelo monótono ADN. Assim, durante cerca de 60
anos o material dos genes era considerado de natureza proteica.
- E como é que
se descobriu que não eram? – pergunta Francisco armado em detective.
- Através de
uma experiência muito elegante planeada e executada por Avery e seus
colaboradores. Usando um vírus chamado bacteriófago e umas bactérias, estes
investigadores mostraram sistematicamente e sem deixar qualquer dúvida que o
que era passado de geração em geração era o ADN e não as proteínas. Ou seja,
que o material dos genes era o ADN. Este conhecimento só foi divulgado em 1944,
e foi uma peça decisiva do puzzle que iria ser progressivamente resolvido até
aos nossos dias.
- Ainda não tinhas nascido avô –
recorda Rosália abraçando-o.
- Pois não. Mas no ano em que nasci, 1953, começou a entender-se como é
que a molécula de ADN cumpria o seu papel de molécula dos genes e da
hereditariedade – Jaime faz uma pausa de suspense. - Depois dos trabalhos
experimentais e resultados obtidos por Rosalind Franklin, como disse há bocado,
Watson e Crick criam, em fevereiro de 1953, um modelo estrutural para o ADN que
respondia àquelas e outras perguntas. O seu modelo apresentava uma estrutura em
duas fitas de ADN entrelaçadas uma na outra formando uma dupla hélice. No
artigo da Nature que publicaram no dia do meu nascimento, 25 de Abril,
escreveram que esta estrutura tinha grande significado biológico. De facto,
permitiu explicar como a informação genética é armazenada e transmitida entre
gerações.
- A famosa dupla hélice de ADN cujo aniversário também hoje comemoramos
nas velas helicoidais no teu bolo e que vais soprar daqui a nada – comenta
Rosalia enrolando com os seus dedos meninos os seus cabelos ondulados.
- Mas conhecer a estrutura abriu uma enorme janela para novos horizontes de
conhecimentos. Watson, Crick e o Wilkins ganharam o prémio Nobel em 1962 por
esta descoberta.
- Rosalind não?! – diz Rosália surpreendida.
- Ela tinha entretanto falecido, provavelmente devido a doença causada
pela sua exposição prolongada aos raios x com que trabalhara para nos desvendar
o conhecimento do mundo biomolecular – responde Jaime com um olhar perturbado com
injustiça. – Mas continuemos. Nesse ano de 1962 descobriu-se mais uma peça do
puzzle genético: Marshall W. Nirenberg e colaboradores decifraram o código
genético.
- Código genético?! Os genes estão codificados?! – questiona Francisco
cada vez mais curioso.
- Sim. Niremberg e seus colegas mostraram que cada um dos aminoácidos que
constroem as proteínas são codificados por sequências de três bases no ADN.
Tinham aprendido a ler a linguagem genética e entendido como é que ela é
traduzida para que as proteínas que nos compõem sejam construídas. No fundo,
tinham descodificado o manual da vida e verificado que ele era universal!
- Isso foi em 1962 – assenta Rosália. – Mas então o que é que aconteceu
com o genoma humano que foi conhecido totalmente no ano em que eu e o meu irmão
nascemos, em 2003?
- Estás a referir-te à sequenciação completa do genoma humano. Ou seja,
sabermos em que sequência é que estão, em cada uma das duplas hélices, as 3 mil
milhões de bases que as constituem em cada núcleo de cada uma das nossas
células o nosso genoma.
- Saber a ordem em que estão 3 mil milhões daquelas letras G, A, C e T? –
questiona Francisco perdido entre as letras.
- É verdade. Esse feito, anunciado ao mundo no dia 14 de Abril de 2003, é
um dos mais impressionantes da história da ciência. O Projeto de Sequenciação
para descodificação do Genoma Humano teve início em 1990 e no dia 23 de Outubro
de 1998 foram publicados na revista científica Science, os objetivos para
o Projeto do Genoma Humano, por Francis Collins e colaboradores. Neste artigo
os cientistas apontavam uma meta para a descodificação total do genoma humano
para 2013, no 60º aniversário do conhecimento da estrutura em dupla hélice do
ADN.
- Então conseguiram acabar essa tarefa 10 anos mais cedo do que o
planeado – observa Rosália.
- Sim querida neta. Fruto do trabalho de um enorme grupo interdisciplinar
internacional, e também pelo avanço da informática, do desenvolvimento de
computadores e de equipamentos de sequenciação cada vez mais rápidos e
eficientes. Digo-vos que o trabalho foi feito por várias aproximações. E de
facto os primeiros dados provisórios foram publicados em 15 de Fevereiro de
2001, na revista científica Nature, pelo Consórcio Internacional para a
Sequenciação do Genoma Humano, e no dia seguinte na Science, por J.
Craig Venter e colaboradores.
O avô Jaime refresca-se com uma limonada antes de retomar algo que
parecia ter-se esquecido antes.
- Mas deixem-me voltar umas
décadas atrás. É que esta sequenciação não teria sido possível sem que duas
técnicas bioquímicas decisivas tivessem sido inventadas antes.
- Um microscópio e uma máquina de fotografar ultra rápida… para
fotografar todas as bases no ADN – sugere Francisco.
- Não querido neto. As bases do ADN são muito mais pequenas do que aquilo
que o mais potente microscópio alguma vez construído consegue ampliar. O que
estou a recordar foi a incontornável contribuição de Sanger e Coulson, que
descreveram, em 1975, um método que permitia conhecer em detalhe todas as
letras de uma sequência de ADN.
- E a outra descoberta? – pergunta Rosália.
- A outra descoberta, também decisiva, foi a invenção da PCR, que quer
dizer “reação da polimerase em cadeia”, por Kary Mullis, na primavera de 1983.
Ou seja há 30 anos. Outra efeméride deste ano. A invenção desta ferramenta bioquímica
foi uma autêntica revolução na área da Genética, uma vez que possibilita a
síntese muito rápida das cadeias de ADN, a partir de uma pequena amostra, o que
permitiu avanços notáveis na análise dos genomas dos seres vivos. Recorrendo à
PCR, é possível sintetizar um bilião de cópias de uma única cadeia de ADN em
poucas horas. Atualmente existem no mercado máquinas que realizam o processo de
forma automática e muito rapidamente. A tal ponto que é possível sequenciar o
nosso genoma a partir do ADN existente numa pequena gota de sangue ou mesmo a
partir da nossa saliva.
- Acho que já tinha ouvido falar dessa PCR na fantástica série CSI… -
recorda Rosália entusiasmada.
- Sim. A sequenciação do genoma de cada um de nós já é uma realidade e
abre novas perspectivas para o desenvolvimento de tratamentos para doenças
antes julgadas incuráveis.
- Assim como descobrir o autor de um dado crime, descobrir os
extraterrestres que vivem escondidos entre nós e também fazer renascer animais
extintos como os dinossauros… - diz Francisco entusiasmado. – Como no Jurassic
Park.
- Em parte, Francisco. Identificar uma pessoa através do seu perfil
genético, sim. O resto que dizes ainda é um pouco do domínio da ficção
científica. Mas lá chegaremos – diz o avô sorrindo e afagando a cabeça de
Francisco. - Já agora uma curiosidade para acabar.
- Qual é?!
- Se fosse possível colocar o genoma Humano que existe em cada uma das
nossas células, em forma de uma “fita” estendida, o seu comprimento seria de aproximadamente
8.636 Km. Ou seja três quartos do diâmetro do equador terrestre.
- Tão comprido?! – pergunta com espanto Rosália. – Como é que cabe dentro
das nossas células?
- Boa pergunta. A dupla hélice de ADN está por sua vez enrolada
compactamente em supra estruturas que são os cromossomas. Possuímos 23 pares de
cromossomas. Cada par proveniente de cada um dos nossos pais. A forma como os
genes estão dispostos nos cromossomas dava para outra grande conversa. Mas
agora vamos ao bolo e celebrar os meus 60 anos e, já agora, da dupla hélice de
ADN sexagenária.
António Piedade
quinta-feira, 25 de abril de 2013
60º ANIVERSÁRIO DA DUPLA HÉLICE DO ADN
Comemora-se hoje, 25 de Abril, o 60.º aniversário da publicação do artigo seminal de Watson e Crick na Nature sobre a estrutura em dupla hélice para o ADN.
A estrutura tinha sido desvendada a 7 de Março de 1953, a partir dos trabalhos experimentais de Rosalind Franklin de difracção de raios x sobre em sais cristalizados do ácido desoxiribonucleico (ADN).
Este acontecimento deu início a uma das maiores revoluções científicas dos tempos modernos, influenciando decisivamente a nossa compreensão mais íntima sobre a vida.
António Piedade
terça-feira, 31 de julho de 2012
"A ESPIRAL DA VIDA"
Recensão crítica publicada primeiramente na imprensa regional.
“A Espiral da Vida - As Dez Mais Notáveis Invenções
da Evolução”, da autoria do eminente Bioquímico e divulgador científico Nick
Lane, é o novo título, nº 194, da incontornável colecção “Ciência Aberta” da
editora Gradiva. É a 1ª edição portuguesa (Julho de 2012) de “Life
Ascending—The Ten Great Inventions of Evolution” (publicado em 2009 – ano do
bicentenário de Darwin), que venceu em 2010 o prémio para livros de ciência
atribuído pela Royal Society.
Realce para a tradução para o português do original
inglês efectuada por Alexandra Nobre, do Departamento de Biologia da
Universidade do Minho, que conseguiu manter a linguagem acessível mesclada com a
frontalidade, o humor e a ironia que caracterizam a escrita de Nick Lane. Mas
talvez o aspecto mais positivo da tradução seja o ter mantido a beleza da
escrita recorrentemente poética de Nick Lane, que nos oferece inúmeras sínteses
poéticas de aspectos da evolução da vida. Frases para mais tarde recordar. De
facto, muitas das frases originais que preenchem o livro sobre fenómenos
essenciais à vida permanecerão na memória do leitor que revisitará este livro
como fonte de informação e inspiração futura.
“Se Charles
Darwin saísse do túmulo, eu dar-lhe-ia este livro fabuloso para o animar” disse sobre este
livro Matt Riddley, autor de “Genoma” e “A
Rainha de Copas” (também
publicados pela Gradiva). De facto, se
a vida é só por si uma realidade fascinante, enveredar pela aventura espantosa
de apreender como é que ela evoluiu desde as primeiras moléculas até à
complexidade da consciência, torna-a ainda mais deslumbrante. É este um dos
aspectos mais cativantes deste terceiro livro de divulgação científica de Nick
Lane, que nos oferece uma admirável compreensão da relação entre a história da
vida e do planeta em que evoluiu. A componente animadora reside na perspectiva
de que há válidas razões para esperarmos que através do método científico possamos
revelar e compreender o longínquo desconhecido berço da vida.
Nick Lane surpreende-nos magistralmente numa síntese
original, rigorosa mas acessível, do conhecimento acumulado nos últimos 150
anos sobre a evolução da vida que permitiu que hoje estejamos aqui a ler este
texto.
Ao
longo de 10 capítulos dedicados a outros tantos marcos evolutivos substanciais à vida, Nick Lane
problematiza e actualiza-nos o conhecimento sobre a sua evolução. “Começamos
com a origem da vida em si e terminamos com a nossa própria morte e procura de
imortalidade, passando por pontos altos como o ADN, a fotossíntese, as células
complexas, o sexo, o movimento, a visão, o sangue quente e a consciência”,
resume o autor na Introdução.
Nick Lane, Bioquímico, escritor e divulgador científico
Nick Lane transmite, de forma original, questões complexas com uma facilidade cativante. Com coragem intelectual confronta teorias concorrentes, relata episódios de como a ciência se processa e produz conhecimento, pelo que acresce a este livro uma dimensão didáctica sobre como a ciência funciona. Ao longo da leitura do livro, sentimo-nos em cima do promontório do conhecimento actual, sentados na sua fronteira a contemplar o desconhecido no horizonte que se espraia em todas as direcções do tempo (passado, presente e futuro), e sentimos a vertigem do abismo que nos atrai para o erro, que evitamos e minimizamos, nesta humanidade conscientemente falível.
“A
Espiral da Vida” que recebeu as melhores críticas internacionais,
é por tudo o que se disse, de leitura aconselhável e agradável para todos, mas
imprescindível para todos os que se interessam pela aventura da vida no
Universo.
António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência
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