Leia esta mensagem inquietante da escritora Lídia Jorge.
Não é exatamente assim que você se sente?
http://re-visto.com/mensagem-inquietante/
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Nobel da Química um bocadinho português!
O Prémio Nobel da Química deste ano foi atribuído a Robert J. Lefkowitz e Brian K. Kobilka pelo estudo de uma importante família de receptores implantados na membrana das células, chamados receptores acoplados a proteínas G.
As células estão separadas do exterior por uma membrana que impede a passagem da maiora das moléculas. Estes receptores são proteínas inseridas na membrana e fazem parte de um sistema de transmissão de informação, do exterior para o interior da célula. Reagem a sinais do exterior (luz, odores, iões, hormonas, neurotransmissores,…) e transmitem esse estímulos ao interior da célula.
A história é mais ou menos esta:
1. Vêm um estímulo do exterior. Por exemplo, uma hormona.
2. A hormona liga-se ao receptor, que atravessa toda membrana da célula. Do outro lado, ou seja no interior da célula, o receptor de membrana transmite a informação vinda do exterior a uma proteína (proteína G).
3. A proteína G vai-se embora e desencadeia uma resposta fisiológica ao estímulo exterior.
4. Enquanto a hormona estiver ligada, mais proteínas G podem ser activadas no interior da célula.
Imagine um mensageiro (uma hormona) que chega ao castelo (célula). Diz ao porteiro: vêem aí o inimigo. O porteiro (receptor associado a proteína G) vira-se para o interior da muralha (membrana celular) e transmite a informação a um estafeta (proteína G). Esse estafeta vai desencadear a resposta do castelo ao estímulo exterior. Repare que o mensageiro não entrou no castelo.
E este Nobel também é um bocadinho português!
David Aragão, um cristalógrafo português, doutorado em Portugal, tem um artigo, publicado na Nature em co-autoria com Brian Kobilka, um dos laureados com o Nobel da Química deste ano. O artigo descreve a determinação da estrutura, ou seja a forma em três dimensões de uma proteína de membrana, o que é muito difícil de fazer (a prova disso é que há muito poucas). E a proteína em causa é um receptor acoplado a uma proteína G, ou seja o tema que deu o Nobel a Kobilka. E a determinação da estrutura destas proteínas foi fundamental para a atribuição do Nobel. Apesar de ter feito a sua parte deste trabalho na Irlanda (e de actualmente trabalhar na Austrália), o Nobel da Química deste ano é também, um bocadinho português!
Muitos parabéns também ao David Aragão que, tal como outros portugueses, está a fazer investigação ao mais alto nível internacional!
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Professores que marcam

Os professores que nos marcam na vida não são os bonzinhos, nem aqueles porreiros que aparentemente, na altura, nos parecem professores modelo. Na verdade, aqueles de que nos lembramos e a quem recorremos mais à frente na vida são aqueles que nos irritaram, e com os quais até desenvolvemos alguma antipatia, mas que se mantiveram firmes e nos passaram ensinamentos e valores. Tenho essa experiência como professor e tive-a como aluno.
Lembro-me normalmente de três docentes, todos da fase crítica, isto é, do básico, do preparatório e primeiros anos do secundário. É aí que se forma a personalidade e se criam hábitos de trabalho.
A minha professora primária estabelecia uma relação muito direta entre cumprir tarefas com sucesso e o seu elogio. Não há para mim, ainda hoje, nenhum elogio melhor do que o da Professora Olga. E eram todos muito simples, constituídos por palavras e sorrisos, mas eram fantásticos. Nem me lembro mais da forma dura, de cara muito séria, como encarava as falhas, especialmente aquelas que resultavam de falta de estudo e de trabalho. Quer dizer, lembro-me, mas não é o que me ficou dela. Foi ela que me contou a história do “five dollar lawn”, mostrando que fazer bem, perfeito, exige talento sim senhor, mas custa muito trabalho e dedicação. Foi ela que me ensinou a não desistir. Quando saí para o ensino preparatório disse-me, com a minha mãe ao lado, que confiasse em mim e nas minhas capacidades porque tinha feito um bom trabalho.
No ensino preparatório tive uma professora muito severa que era professora de matemática e de ciências. Embirrei logo com ela, nem me lembro bem porquê: não era a Prof. Olga. E ela comigo. De maneira que tive negativa a matemática e a ciências logo no primeiro período. Devia ser um puto reguila, porque me lembro distintamente de uma vez que me colocou na rua numa aula de ciências. Mas fez-me ver, com enorme paciência, que a atitude é muito importante. Não são só as capacidades e a disponibilidade para trabalhar, mas é também fundamental desenvolver uma atitude inconformada e séria perante as dificuldades. Ficou-me na cabeça o seu exemplo, a sua teimosia e intransigência, o seu olhar trocista e um sorriso grave que metia na boca, comprimindo os lábios, quando acabava de falar. Era uma mulher muito inteligente que nos colocava desafios. E que exigia resultados.
Lembro-me ainda de um professor de Filosofia, uma disciplina da qual nunca gostei (defeito meu), e da minha professora de Biologia que era uma versão muito próxima da Professora Olga. Mas esses não me irritavam. A que me irritava solenemente era a professora de Português. Detetou a minha tendência para despachar depressa os textos, pelo que sempre que eu acelerava e desleixava, o que era frequente porque detestava aquela disciplina, gritava o meu primeiro nome numa voz estridente: Joaquim. Bolas! Mas funcionava. A leitura e a escrita precisam de tempo, ou melhor, ensinam-nos o valor do tempo. Ensinam-nos, se quisermos, a prestar atenção aos detalhes, ao pormenor. É lá, nos pormenores e no detalhe, que estão os ensinamentos: “Não é uma pena perder isso, Joaquim, só porque está com pressa?”. Ainda hoje não uso o meu primeiro nome. Mas não a esqueci e ouço muitas vezes a sua voz.
(publicado originalmente em http://re-visto.com/professores-que-marcam)
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Portugal na vanguarda da tecnologia de visualização médica
O Yscope é uma tecnologia que permite seleccionar e manipular imagens médicas no bloco operatório, ao estilo do filme Minority Report (mas sem a necessidade de luvas especiais para detectar os movimentos das mãos). Uma ideia que nasceu no Hospital de Santa Maria e cresceu na empresa YDreams.
(clique para ampliar)
É apresentado esta sexta-feira, às 11h na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, piso 3 do Hospital de Santa Maria.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Os Portugueses

O Autor é, como se sabe, correspondente da imprensa inglesa, em Portugal, há vinte e cinco anos. Aqui casou e lhe nasceram três filhos e aqui tem passado "alguns dos melhores anos da vida", como diz. A circunstância de estar bem informado sobre tudo o que aconteceu desde o 25 de Abril, de ter acesso a fontes privilegiadas, de ter estudado a nossa história e de ter lido os nossos filósofos, escritores, poetas, sociólogos, dá-lhe uma perspectiva ao mesmo tempo rica, objectiva e amigável, que o torna um livro precioso para nós. E para todos os estrangeiros que não se satisfaçam com os lugares comuns do costume ou a ignorância com que somos "esquecidos" assim que se passa Vilar Formoso.
A seus olhos o nosso povo parece ter um enigma particular, que seduz e intriga. Como, de resto, terão sentido outros autores estrangeiros.
O tempo de vida que já leva por cá, o facto de nos ter estudado e observado, e de gostar de nós, faz do livro uma mistura de crítica e de complacência, de compreensão e de objectividade, de doçura e de acidez, que a todos nos faria muito bem ler, se isso fosse possível. Como é escrito para os ingleses, a partir de uma perspectiva simultaneamente exterior e interior, tem um sabor muito particular e acaba por acertar em cheio em muitos aspetos.
Conhece a nossa história, adora a nossa gastronomia, admira as nossas paisagens e a sua variedade, ficou cativado pelo nosso gosto pela convivência, pela afabilidade, capacidade de adaptação e de inventiva. Mas é muito crítico, obviamente, em relação à nossa burocracia, à maneira como as nossas instituições são em geral ronceiras, ineficazes e permeáveis à corrupção e ao desleixo. Entristece-se com a nossa indisciplina, o gosto de complicar, o modo como encolhemos os ombros à ineficácia de muitos dos nossos políticos, à pouca capacidade de reivindicar e de exigir qualidade nos serviços e nas instituições, ao modo como muitos agentes do sistema judiciário passam por cima do segredo de justiça, e da própria justiça, ou arrastam os processos até prescreverem, ou como os responsáveis são capazes de diluir as responsabilidades, mesmo quando são evidentes e assassinas, como no desastre da Ponte de Entre-os-Rios, etc.
A partir das desgraças que nos aconteceram desde o século XVI (Inquisição, expulsão dos judeus, Alcácer Quibir, domínio espanhol, Terramoto, Invasões Francesas, Guerras Peninsulares, Guerra Civil, Ultimato, Ditadura, Guerra Colonial) tenta perceber como – mistério para muitos estrangeiros – desde os gloriosos séculos XV e XVI, que ele valoriza na sua extraordinária medida, e como factos espantosos que foram, como, desde então, não temos deixado de regredir.
Falando da actualidade do Zé-Povinho, de Rafael Bordalo Pinheiro, tem esta magnífica síntese: Ele "incarna os impulsos portugueses, por vezes difíceis de reconciliar (…). É como se qualquer observação do carácter português tivesse que ser caracterizada pelo seus oposto. São amistosos, mas também irascíveis, deferentes, mas indómitos, apáticos e humildes, duros e ousados, compassivos, mas irados, submissos e belicosos, sempre à espera que a sorte lhes sorria, boa companhia, conciliadores e diplomáticos, bem como efusivos e espontâneos, dados a perder as estribeiras, mas eminentemente sensatos, com a tristeza na alma, mas a jovialidade na sua natureza" (p.243). Ora digam lá se não é mesmo assim?
Mas, logo a seguir, acrescenta, em tom mais duro: "Embora os portugueses sejam instintivamente tolerantes e adaptáveis, não podem descartar a possibilidade de serem demasiado tolerantes e demasiado adaptáveis quando continuam a aceitar coisas que são inaceitáveis, ou a tolerar o intolerável".
João Boavida
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Quando o futuro existia

O reencontro recente com um amigo meu, Manuel Paiva, físico português que durante muitos anos ensinou e investigou em Bruxelas, leva-me a recuperar algumas páginas (78 e 79) do livro "À espera de Godinho" (não, não é Godot, é Godinho!), com o sugestivo subtítulo "Quando o futuro existia", que publicou na Bizâncio em 2009, em coautoria com Amadeu Lopes Sabino, José Morais e Jorge Oliveira Sousa. É um saboroso diálogo sobre o nosso país entre quatro "estrangeirados":
"JM – Estão a tocar à campainha. Vou abrir.
MP – Deixa lá, eu vou. São sete e meia e estou a ver o Amadeu e o Jorge no jardim. O Godinho só vem às oito e duvido que chegue a horas. Os bolinhos de bacalhau têm prioridade!
JM – Pastéis, como se diz em Lisboa.
MP – O gosto é o mesmo… Ora vivam. Chegaram à hora em ponto. Nem parecem portugueses. O José está a terminar o nosso jantar.
JOS – Olá Manel!
ALS – Ora viva!
MP – Olá! Como estão? Podem vir até à cozinha…
JM – Não, por favor, instalem-se no salão. Só preciso de mais uns minutos.
JOS – Notícias do Godinho?
MP – Não vem antes das oito, mas vocês não vão esperar por ele. Que é que vos sirvo?
ALS – Para mim é um copo de água, se fazes favor.
JOS – Para mim também, por favor. Quero aproveitar o bom vinho português que o José por certo tem, e logo tenho que guiar.
MP – Estava precisamente a dizer ao José que é curiosíssimo que nos tenhamos conhecido através de livros destinados a portugueses de Portugal. Para o José e para mim, não nos aproximaram muito do país. Imaginem que o nosso editor tinha organizado uma apresentação dos livros na lindíssima livraria Lello, no Porto. Primeiro, levou-nos a um restaurante típico onde comemos bacalhau com o melhor vinho verde tinto que jamais bebera. Depois, devia haver um debate dirigido pelo Carlos Fiolhais, intitulado “Mais educação para Portugal”. Os convites tinham sido enviados às escolas do Porto e arredores. Sabem quantas pessoas apareceram?
JOS – Pela maneira como apresentas, calculo que uma dúzia…
MP – Infinitamente menos. Não apareceu ninguém. Como se um debate sobre a educação, por estrangeirados, não interessasse nenhum professor… O José e eu voltámos para Bruxelas e o Carlos para Coimbra.
JOS – E qual é a tua explicação?
MP – Com os portugueses as coisas passam-se sempre de maneira diferente daquilo a que estou habituado. É o que lá se chama “à portuguesa”, quando não “à portuguesinha”. Talvez sejam necessários contactos pessoais para que se desloquem, ou terão receio que se diga o que não querem ouvir? Pelo que tenho lido recentemente, Portugal é o país com a maior densidade de autistas, coisa de que no meu tempo não se falava.
JOS – Eu tive mais sorte com o lançamento de Paideia. A biblioteca das Galveias estava à cunha. Foi o Mariano Gago, velho companheiro do Juvenil, que fez a apresentação. Por coincidência no próprio dia em que cessou de ser ministro com a queda do governo de Guterres.
ALS – O Mariano Gago foi um dos companheiros que, no final dos anos 60, contribuiu para abalar o poder do Partido Comunista entre os estudantes universitários. Foi então que o conheci.
JM – Que coincidência! Ele assistiu uns anos depois, no Pavilhão do Conhecimento, a uma conferência minha, da Régine e do Alexandre Ribeiro, da Faculdade de Medicina, sobre música e cérebro. Tinha justamente tomado posse pela segunda vez umas horas antes, mudara de “farda” como disse, e no período de discussão pôs questões muito interessantes...
JOS — Pois para o Paideia, veio também a viúva do Vergílio Ferreira, a Regina, a nossa antiga professora do Camões, a Marina Pestana bem como muitos amigos e antigos colegas de Lovaina que já não via há muitos anos.
MP – Deves ter dado melhores dicas ao teu editor do que eu dei ao meu. Uma das coisas que apreciei no nosso jantar da semana passada, é que havia um ambiente de boa disposição, mesmo se falámos de coisas sérias. Em geral, jantar com portugueses é triste e já tenho apanhado secas de ladainhas de lamúrias. É um povo deprimido… Vocês já repararam que quando se cruzam com um português vosso conhecido e perguntam “como está?”, é raro que a resposta seja, como na Bélgica, “bem obrigado. E você?”. A maior parte das vezes é “mais ou menos...”, “vou indo...”, ou “não tenho andado nada bem...”, o que obriga a perguntar quais as origens das desgraças anunciadas, que é o prelúdio à inumeração de catástrofes de todo o género. Nós, com percursos tão diferentes, não é por acaso que terminamos as nossas carreiras na Bélgica e foi preciso esta aparição do Godinho para nos reunir! É como se muitos portugueses vivessem atulhados num pântano, com lodo até ao nariz. Quando alguém quer mudar as coisas, eles dizem-lhe que se acalme, que se junte a eles, que estão ali muito quentinhos, muito sossegadinhos, mas sobretudo que não faça ondas… Estou mesmo curioso para ver como ele evoluiu e se pertence à categoria do chico esperto maníaco ou do fatalista imóvel e depressivo.
JOS – O Amadeu já me tinha lembrado uma vez, e bem, que os estrangeirados do século XVIII voltaram a Portugal. Não todos, porém. Por exemplo, o meu longínquo parente, o Cavaleiro de Oliveira – filho de José de Oliveira e Sousa que foi secretário do conde de Tarouca, ministro plenipotenciário na corte austríaca – nunca voltou ao país e fez ele muito bem. Com efeito, foi queimado em efígie como “pessoa ausente e relapsa” no mesmo auto da fé em que foi supliciado o padre Malagrida. Proponho pois para os que não voltam que se chamem extrangeirados! Com o “x” da exclusão… Uma das causas da perseguição foi ter escrito um Discurso patético sobre as calamidades presentes sucedidas em Portugal. Como título não está mal! E de nada lhe valeu ser cavaleiro professo da Ordem de Cristo. O último da família Cavaleiro desta ordem que viria a desaparecer pouco mais tarde foi meu trisavô, o conselheiro Olímpio Joaquim de Oliveira, que precedeu o marquês de Fronteira como governador civil de Lisboa e acolheu o rei Carlos Alberto – pai do futuro primeiro rei da Itália unificada – no seu solar de Leiria. Está tudo pronto. Quanto tempo damos ao Godinho antes de começarmos?
MP – Le quart d’heure académique est passé. O Godinho não tem o teu número de telefone?
JM – Tem, mas vou verificar se não me enviou um mail.
JOS – Eu tenho aqui o número do telemóvel.
MP – Vocês são muito bem educados. Eu começaria sem ele.
JOS – Deixa primeiro verificar se chegou algum mail, senão telefonamos.
JM – Não, não chegou nada. Dá-me o número que eu telefono.
JOS – Não, eu telefono já, tenho aqui o número pronto… Está desligado… Vou deixar-lhe uma mensagem depois do bip sonoro… Olá António, são oito e meia estamos à sua espera em casa do José. Se teve algum problema para encontrar o caminho, ligue para este número ou para casa do José. Vamos começar sem si, mas o José diz que não vamos comer tudo. Até logo."
segunda-feira, 6 de junho de 2011
A despedida dos bons

Em tempos, Agostinho da Silva escreveu o seguinte:
Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas era ele quem devia agradecer pela ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e de eliminar, se puder, os seus defeitos.
Não querendo entrar em rota de colisão com as sábias palavras do filósofo, queria apenas deixar uma pequena mensagem que é, sobretudo, pessoal e não tanto política (e gostaria que fosse interpretada dessa maneira).
Porque, muito certamente, será um rosto que não será lembrado pelo mediatismo (e por quem o produz) destes tempos de mudança política, quero deixar um abraço especial a José Mariano Gago: não me lembro de um Ministro que tanto fez por um país. Quando Guterres o chamou para o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Ciência portuguesa encontrava-se numa espécie de Idade Média. Muito fez, em obra e em mentalidades e, hoje, Portugal pode começar a orgulhar-se do que tem em instituições e em potencial humano. Aceitou o "presente envenenado" de um Ministério que junta Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e foi engolido por este último (Bolonha deu, dá, tantas dores de cabeça!). Mas, goste-se ou não, reconhecendo erros e glórias, o balanço é altamente favorável e será, pelo menos para mim, um dos Grandes Portugueses. Este, sim, deixará saudades, vaticino eu.
A ele, porque foi também com ele que cresci para o fascinante mundo da Ciência, o meu muito obrigado!
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Portugal, Poetas, Liberdade e Cidadania 2

Segunda parte da antologia de textos sobre Portugal e cidadania, escolhidos por José Cymbron da Fundação Aristides Sousa Mendes (em cima Miguel Torga):
Diário (Miguel Torga, excertos)
25 de Abril de 1975 – Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo consciente da transcendência do acto que ia praticar e ciente da ambiguidade circunstancial que o permitia. O que faz o aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder! Assim os nossos corifeus saibam tirar do facto as devidas conclusões. Mas duvido. Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promovê-la. No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade de cúmplices que não desminta a degradação deles.
25 de Abril de 1981 – Um dia de cava e de retórica, de manhã a semear batatas no quintal, de tarde a ouvir os discursos que no parlamento celebravam a data de hoje. Agora, no sossego da noite, estou a pensar se não haverá um grande equívoco em determinadas certezas. Se, na verdade, a democracia em que vivemos nos não terá sido dada sem querer pelos próprios que agora se gabam da munificência. Necessitados de credibilidade na hora subversiva, encostaram-se à palavra miraculosa. E a palavra, arbitrariamente utilizada, acabou por os obrigar à observância da sua estrita significação.
Três sílabas de sal (Manuel Alegre)
(…) Fui no verbo navegar
Para além do mar sem fim
Só nunca pude chegar
A Portugal que há em mim
(…) Ser marinheiro é dobrar
Hoje aqui o Bojador.
A Emigração (José Estêvão)
(…) Moralizar, desacumular, repartir, produzir, são quatro chaves que podem conter a população. E moralizar é educar, estabelecer igualdades justas, proclamar o código dos direitos e deveres. Desacumular é destruir monopólios nocivos, concessões usurpadoras, privilégios inadmissíveis. Repartir é dividir a população em relação à extensão do solo e à sua fertilidade. Produzir é acumular os meios que podem tornar as subsistências mais numerosas, baratas e gerais.
(…) O Indivíduo que emigra não é um nómada, um selvagem só possuidor de armas e duma tenda portátil, para quem a deslocação é fácil e a locomoção desembaraçada: é um homem que tem uma pátria, família e amigos. A partida é sempre dolorosa, e muitas vezes quase impossível. A facilidade, a indiferença em deixar o solo natal só se dá em duas classes verdadeiramente antípodas: nos filósofos e nos criminosos.
(…) Hoje a emigração é uma lamentável servidão. O colono quando mete o pé no barco, já é escravo do negociante pelo seu transporte. Levantou um crédito sobre a sua vida e força. Se tem a felicidade de resistir às intempéries do clima, às diferenças de alimentação, à saudade pungente da pátria, poderá pagar essa letra de sangue que sacaram sobre ele, e ele selou com lágrimas. Se não puder, então, perecerá, e perecerá escravo da emigração. Este recurso é falso e impotente. Na nossa emigração para o Brasil, o painel das misérias que lá vão passar os nossos emigrados contrista e envergonha um coração português. Muitos dos nossos vão lá ser vendidos como escravos a esses senhores de engenho, duros aristocratas do capital, que não vêem lágrimas, porque só vêem ouro. As emigrações são uma anomalia que envergonha a época em que vivemos, sem, de nenhuma forma, remediar os males da população.
(…) Os problemas, que nos cercam e apertam, ou nos hão-de esmagar ou hão-de ser resolvidos. O terreno é difícil e desconhecido, bem o sabemos. Mas hemos de tentá-lo e estudá-lo por todos os meios.
(…) A nossa população tem subido a quatro milhões de habitantes, e cresceria mais se se removessem os obstáculos que impedem o seu desenvolvimento. (…) Mas dirão: que ganhávamos nós com isso? Vermo-nos a braços com as dificuldades e complicações de uma população exorbitante? Devemos apagar o fogo ou lançar-lhe lenha? Sigamos o destino e o progresso, lancemos-lhe lenha, e que a fornalha arda com todo o seu brilho. A Providência velará por nós. Muito há a crer também no homem, neste Proteu de mil formas, de mil recursos, nesse vasto compêndio onde cada geração vai decifrando uma linha. Confiemos nele, e confiemos no Criador, que de certo tem mil segredos ainda para lhe revelar.
Lancemo-nos, pois, nesta cruzada do progresso; entreguemo-nos de alma e coração às suas vantagens e inconvenientes; poupemos os nossos filhos; e não vamos cometer crimes pelo desejo de evitar males. Deixemo-nos ir embalados por esta embarcação que marcha veloz para um mundo desconhecido. Aproamos ao oriente, havemos de chegar a algum porto. E tenhamos presente sempre o alcance das quatro palavras que, como quatro colunas, encerram a questão que nos tem ocupado: Moralizar, desacumular, repartir, produzir.
É Urgente Descobrir (Carlos Queiroz)
na flora da fantasia,
uma espécie de semente
que gere a pura alegria
e se possa introduzir
nas almas de toda a gente.
Portugal, Poetas, Liberdade e Cidadania 1

“Hoje em dia os novos infiéis são as pessoas que não acreditam que é possível mudar Portugal.” (Jovem da Escola Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato)
A Fundação Aristides de Sousa Mendes promoveu no Largo de Camões no dia 25 de Abril, um Encontro que visava uma reflexão sobre Portugal. Foram lidos poemas e/ou textos de Luís de Camões, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Carlos Queiroz, Sophia de Mello Breyner, Eugénio Lisboa e Manuel Alegre. A selecção dos poemas e dos textos foi de José Cymbron. Publicamos essa breve antologia em duas partes (em cima Sophia de Mello Breyner).
D. Afonso Henriques (Fernando Pessoa)
(…) Hoje a vigília é nossa. (…)
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como bênção!
Os Mortos (Eugénio Lisboa)
Os mortos mais do que os vivos, estão vivos.
Surgem, fortes, intensos, aparecem,
depurados e cheios de motivos.
Visitam-nos e acham que merecem
Todo o rigor da nossa atenção.
A morte deu-lhes, pensam, nova vida:
vê-se neles uma concentração
de virtudes - de vida reflectida.
Os mortos ensinam-nos a viver:
dão um valor novo ao que nos rodeia,
dão ao quotidiano acontecer
um brilho vivo que nos incendeia.
Os mortos acendem, em nós, a chama
de uma nova vida. Julgo que pedem
que olhemos fundo a luz que se derrama.
Exigem. Clamam. Os mortos não cedem.
Lápide (Miguel Torga)
Luís Vaz de Camões.
Poeta infortunado e tutelar.
Fez o milagre de ressuscitar
A Pátria em que nasceu.
Quando, vidente, a viu
A caminho da negra sepultura,
Num poema de amor e de aventura
Deu-lhe a vida
Perdida.
E agora,
Nesta segunda hora
De vil tristeza,
Imortal,
É ele ainda a única certeza
De Portugal.
Camões e a tença (Sophia de Mello Breyner)
Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce
Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser inteiramente
E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto
Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência
Este país te mata lentamente
Os Lusíadas (Luís de Camões, excertos)
Os mais experimentados levantai-os,
(…) pois que sabem
O como, o quando, e onde as coisas cabem. (X-149)
(…) ó vós que as famas estimais,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
Despertai já do sono do ócio ignavo,
Que o ânimo, de livre, faz escravo. (IX-92)
Sabe que há muitos anos que os antigos
Reis nossos firmemente propuseram
De vencer os trabalhos e perigos
Que sempre às grandes coisas se opuseram; (VIII-70)
(…) descobriram
Pouco e pouco, caminhos estrangeiros,
Que, uns sucedendo aos outros, prosseguiram.” (VIII-72)
(…) obrigação que lhe ficara
De seus antepassados… (IV-67)
( …) esforço e arte
Vencerão a Fortuna e o próprio Marte. (X-42)
Ousou algum a ver do mar profundo,
Por mais versos que dele se escrevessem,
Do que eu vi, a poder de esforço e de arte, (…) ?
Enfim, não houve forte Capitão
Que não fosse também douto e ciente,
Da Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão-somente. (V-97)
Assim, com firme peito e com tamanho
Propósito vencemos a Fortuna, (VIII-73)
Não eram senão prémios que reparte,
Por feitos imortais e soberanos,
O mundo cos varões que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos; (IX-91)
Apolo e as Musas, que me acompanharam,
Me dobrarão a fúria concedida,
Enquanto eu tomo alento, descansado,
Por tornar ao trabalho mais folgado. (VII – 87)
Fernando Pessoa (Miguel Torga)
(...) Foi o vidente filho universal
Dum futuro-presente Portugal,
Outra vez trovador e argonauta.
25 de Abril (Sophia de Mello Breyner)
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
As portas que Abril abriu (Ary dos Santos, excerto)
Agora que já floriu
A esperança na nossa terra
As portas que Abril abriu
Nunca mais ninguém as cerra.
Trova do mês de Abril (Manuel Alegre)
Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
Com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia.
Na esperança de um só dia.
Foram batalhas perdidas. Foram derrotas vitórias.
Foi a vida (foram vidas). Foi a História (foram histórias)
Mil encontros despedidas. Foram vidas (foi a vida)
Por um só dia vivida.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
DESIGUALDADE VS. DESCONFIANÇA: um feitio bem português.
Crónica publicada no semanário regional "O Despertar".
De surpresa em surpresa, de aparente irracionalidade em embuste maquiavélico, as notícias que nos enrouquecem os dias parecem ressoar em escritos centenários, brotando do pó dos livros como flores num deserto de objectivos. Na sua passagem ignorada por Portugal, Einstein terá escrito que lhe parecia que o povo português vivia como se não tivesse objectivos!!
Repetem-se evocações a outras esgrimas parlamentares indiferentes à cronologia histórica, como se as personagens transitassem no tempo e não no espaço, com outros disfarces mas com os mesmos feitios.
Parece que existem constantes na nossa história enquanto povo, carruagens de interrogações permanentes: como é que este povo e o seu engenho luso se acostumou, resignou, a ser pobre? Pobre não só de capital, que já existimos, antes dele, mas pobre de não sermos capazes de pensarmos enquanto comunidade, enquanto povo, de termos orgulho do bem-estar do nosso vizinho em vez coscuvilhar despeitosamente a desgraça alheia, ilusão vil, uma vez que o mal alheio rápido se transmuta em próprio.
Tropecei há dias num post de André Barata no blogue da Sedes, no qual são enumerados 10 pontos sobre o "problema português", pontos de partida para reflexão que o autor ensaia a partir de um estudo "The spirit level: why equality is better for everyone" de dois investigadores norte americanos, publicado primeiramente em 2009 e publicado em Portugal pela editora Presença em 2010 (O Espírito da Igualdade - Por que razão sociedades mais igualitárias funcionam quase sempre melhor). André Barata inicia o seu post analisando o gráfico que reproduzi acima.
Segundo a sinopse da editora portuguesa, "Richard Wilkinson e Kate Pickett, dois académicos britânicos, defendem neste livro polémico que são as desigualdades sociais, e não a pobreza em si, que mais contribuem para alguns dos problemas com que o mundo dito desenvolvido se debate actualmente. Através da análise dos indicadores presentes em relatórios publicados por diversas instituições, revelam como a violência, a toxicodependência, a obesidade, as doenças mentais ou a gravidez na adolescência são menos frequentes em comunidades onde a disparidade de rendimentos é menor, independentemente de estas serem consideradas ricas, e sugerem medidas para alcançar o equilíbrio e conceber uma sociedade mais justa. Um livro fundamental que nos obrigará a repensar a forma como nos organizamos e aquilo que valorizamos no nosso quotidiano."
Relembro o cuidado metódico que tem de haver na transposição dos resultados e conclusões de determinados estudos efectuados para fins bem específicos, noutros contextos e realidades estranhas ao mesmo. Recorrentemente, utilizar alhos para explicar bugalhos resulta no empobrecimento de alguém...seguramente no engano de muitos.
Mas não me parece que o exercício efectuado por André Barata caia neste engodo.
No post de André Barata, o qual merece uma leitura muito atenta, é identificado um "problema Português" que advém de uma marcada desigualdade de rendimento e de desconfiança interpessoal no nosso pais, a qual não é de agora, nem de ontem, mas enraiza-se num sub produto entérico da nossa diáspora descobridora que, principalmente, forjou ao longo dos séculos uma cultura de regime o qual, como o ditado "dividir para reinar", promove a desigualdade e a desconfiança entre todos.
A confiança foi trocada pela lealdade; a gestão hierárquica mas critica e participativa do bem comum substituída pela pura vassalagem acefala.
Lembram-se dos "Velhos do Restelo" que por aqui ficaram?
António Piedade
sábado, 9 de abril de 2011
Revisitando uma Opinião de H.G. Wells sobre Portugal
A propósito de uma sessão muito interessante sobre "Ficção Científica no Ensino da Ciência", que decorreu hoje dia 9 de Abril, de tarde, no Exploratório Ciência Viva, em Coimbra, Carlos Fiolhais guiou os presentes por uma breve visita á história da ficção científica.
Uma das constatações, muito curiosa, foi a de que a ciência moderna e a ficção cientifica nasceram num mesmo berço, pelas penas de um Francis Bacon (The New Atlantis, 1624), primeiro filósofo do método científico, ou de um gigante da ciência como Johannes Kepler (Somnium - Sonho - 1634).
Depois de revisitar vários autores incontornáveis (Cyrano Bergerac, JulesVerne, entre outros), Carlos Fiolhais deteve um pouco o nosso passeio em H. G. Wells (autor de "A Guerra dos Mundos", por exemplo) e leu uma passagem do seu livro de 1924 “A Year of Prophesying” (Fisher Unwin, Londres), cujo capítulo 25 é dedicado a Portugal. A páginas tantas Wells escreve o seguinte sobre o Portugal de então:
"Quer esteja a chover ou não, o ar em Portugal tem uma felicidade particular e as pessoas desse país deviam ser tão felizes e prósperas como qualquer povo do mundo. O país tem uma situação magnífica e grandes territórios ultramarinos. Lisboa é o porto natural da Europa para a América do Sul e para a África Ocidental. As oliveiras e as laranjeiras e espécies semelhantes podem ser aqui cultivadas nas melhores condições possíveis. A riqueza mineral é muito diversa e extensa, embora em larga medida inexplorada, e inclui filões radioactivos de importância mundial. E por aí fora. Existem todas as condições para haver uma grande prosperidade. Mas, de facto, nunca vi uma nação com um aspecto tão pouco próspero. Uma enorme pobreza prevalece em toda esta terra. Nunca vi em lado nenhum do mundo, nem sequer na Rússia, trabalhadores tão andrajosos, tão remendados e esfarrapados, tão manifestamente mal-cuidados e subnutridos. E há também numerosas doenças que podiam ser prevenidas. As mulheres estão velhas aos trinta anos, dando à luz filhos que vão morrer; os homens estão corcundas aos cinquenta. As casas mais pobres são casebres, e metade da população é analfabeta. E, no entanto, não se trata de uma população inferior."
E neste mesmo De Rerum Natura, Carlos Fiolhais já nos apresentara (aqui) as interrogações de Wells sobre Portugal.
"(...) Os comboios em Portugal estão num estado miserável e as estradas metem medo. Por todo o lado se vêem sinais evidentes de uma administração incompetente ou corrupta. Um pequeno país como este, com uma moeda instável, não consegue assegurar uma educação moderna para o seu povo. Não existe um público que leia o suficiente para manter uma imprensa com poder e uma literatura de crítica política. Os ministros não são suficientemente vigiados. E sobre as coisas que se passam nas colónias portuguesas dificilmente podemos saber alguma coisa lendo a imprensa portuguesa. Parece que não existe opinião pública que olhe para lá. Os portugueses que enriquecem nas colónias depositam e investem o seu dinheiro no estrangeiro, em geral em Londres; há uma saída permanente destes tributos do império português para os estados maiores e mais estáveis. Em nenhum lado da Europa se tem um sentimento tão intenso de um país penhorado ao capital guardado lá fora.”
Pura predição ficcionista com cerca de 90 anos de antecedência? É que salvaguardando algumas alterações geográficas no palco da ordem internacional, de analfabetismo, de saúde pública, podemos rever muitos portugueses (e não Portugal) neste retrato. Descubra as diferenças!
António Piedade
quarta-feira, 23 de março de 2011
Refugiados do défice
É irónico que um candidato a primeiro-ministro que começou por se baralhar com as contas de uma percentagem do PIB, tenha sido o ÚNICO primeiro-ministro português em democracia que entregou o país com uma divida pública mais baixa do que a que herdou.
terça-feira, 22 de março de 2011
Coisas que é importante dizer
Coisas importantes
1. O país precisa da austeridade;
2. Não há soluções milagrosas;
3. A única forma de sair desta crise é com trabalho, esforço, dedicação e muito suor;
4. Toda a gente já sabia isso em Outubro de 2010;
5. Todos fizeram de conta, aprovando um orçamento que TODOS sabiam que não era para cumprir;
6. Todos fizeram de conta que os mercados iam na conversa, apesar de TODOS saberem que não iam porque os mercados não vão em música dos "deolinda";
7. Alguém "inventou" que nada podíamos fazer;
8. O Presidente da República não podia actuar;
9. A oposição também não;
10. O governo é incompetente e inconsciente, mas era para cozinhar em lume brando;
11. Perderam-se seis meses preciosos;
12. Agora estamos nesta LINDA situação: vamos para uma cimeira europeia sem Primeiro Ministro em funções, a situação económica e financeira do país é muito pior do que em Outubro de 2010, os juros dispararam e já ultrapassaram os 8%, não há um plano de ataque ao problema, os portugueses não estão conscientes do que é necessário ser feito e... a questão real mantém-se. O país não cresce. E sem crescimento nada melhora;
13. Um novo governo demorará meses a entrar em funções;
14. O país muito dificilmente estará unido depois da campanha eleitoral;
15. A margem de manobra do novo governo será muito curta, se não mesmo nula;
16. As políticas a desenvolver só terão efeitos reais daqui a 15 ou 20 anos;
17. Portugal não quer fazer como Kirchner, na Argentina em 2003-2005, que teve de renegociar a sua dívida por um valor significativamente inferior ao seu valor nominal (foi renegociado para valer 30 cêntimos por cada dólar);
18. Mas isso significa solidariedade da União Europeia;
19. Mas isso significa uma União Europeia forte e consciente dos seus problemas;
20. Mas isso significa liderança;
21. É pedir muito, eu sei...
Dito isto:
1. As eleições são urgentes, porque o país precisa de ser credível;
2. O desafio é o de devolver esperança aos Portugueses;
3. O desafio é o de unir o país;
4. O desafio é o de tentar o que parece impossível: mobilizar Portugal.
Nota: Deixo aqui uma entrevista a Amartya Sen que é bem esclarecedora.
1. O país precisa da austeridade;
2. Não há soluções milagrosas;
3. A única forma de sair desta crise é com trabalho, esforço, dedicação e muito suor;
4. Toda a gente já sabia isso em Outubro de 2010;
5. Todos fizeram de conta, aprovando um orçamento que TODOS sabiam que não era para cumprir;
6. Todos fizeram de conta que os mercados iam na conversa, apesar de TODOS saberem que não iam porque os mercados não vão em música dos "deolinda";
7. Alguém "inventou" que nada podíamos fazer;
8. O Presidente da República não podia actuar;
9. A oposição também não;
10. O governo é incompetente e inconsciente, mas era para cozinhar em lume brando;
11. Perderam-se seis meses preciosos;
12. Agora estamos nesta LINDA situação: vamos para uma cimeira europeia sem Primeiro Ministro em funções, a situação económica e financeira do país é muito pior do que em Outubro de 2010, os juros dispararam e já ultrapassaram os 8%, não há um plano de ataque ao problema, os portugueses não estão conscientes do que é necessário ser feito e... a questão real mantém-se. O país não cresce. E sem crescimento nada melhora;
13. Um novo governo demorará meses a entrar em funções;
14. O país muito dificilmente estará unido depois da campanha eleitoral;
15. A margem de manobra do novo governo será muito curta, se não mesmo nula;
16. As políticas a desenvolver só terão efeitos reais daqui a 15 ou 20 anos;
17. Portugal não quer fazer como Kirchner, na Argentina em 2003-2005, que teve de renegociar a sua dívida por um valor significativamente inferior ao seu valor nominal (foi renegociado para valer 30 cêntimos por cada dólar);
18. Mas isso significa solidariedade da União Europeia;
19. Mas isso significa uma União Europeia forte e consciente dos seus problemas;
20. Mas isso significa liderança;
21. É pedir muito, eu sei...
Dito isto:
1. As eleições são urgentes, porque o país precisa de ser credível;
2. O desafio é o de devolver esperança aos Portugueses;
3. O desafio é o de unir o país;
4. O desafio é o de tentar o que parece impossível: mobilizar Portugal.
Nota: Deixo aqui uma entrevista a Amartya Sen que é bem esclarecedora.
segunda-feira, 14 de março de 2011
AMOR A PORTUGAL
A 13 de Outubro de 2010 escrevi isto neste blog. Estava em causa o OE2011.
Nessa altura precisávamos de liderança e de coragem e não a tivemos. Estava tudo condicionado por ciclos eleitorais e por vaidades: este é um país cheio de parolos vaidosos. Ninguém colocou o país em primeiro lugar, mas antes as suas ambições pessoais: faltou um presidente da república, faltou seriedade nos políticos eleitos e faltou "AMOR A PORTUGAL".
Se querem saber, antes de tudo, é esse o nosso drama: falta "AMOR A PORTUGAL".
Nessa altura precisávamos de liderança e de coragem e não a tivemos. Estava tudo condicionado por ciclos eleitorais e por vaidades: este é um país cheio de parolos vaidosos. Ninguém colocou o país em primeiro lugar, mas antes as suas ambições pessoais: faltou um presidente da república, faltou seriedade nos políticos eleitos e faltou "AMOR A PORTUGAL".
Se querem saber, antes de tudo, é esse o nosso drama: falta "AMOR A PORTUGAL".
sábado, 19 de fevereiro de 2011
O país e as faquinhas de barrar

E, melhor do que tudo, não tendo código de barras, podem, com discrição, separar-se da embalagem de manteiga, bastando rasgar-se um auto-colante que as segura, e guardarem-se algures, no bolso ou na carteira… Ficam a preço zero, não custam nada!
A avaliar pela quantidade de embalagens de manteiga a que falta a faquinha, no supermercado onde vou, deduzo que este seja o raciocínio de alguns que por lá se passeiam.
Uma coisa sem importância absolutamente nenhuma, dirão os leitores. Talvez... Mas, não deixo de pensar que pode ser uma coisa importante, uma coisa que (mesmo que apenas e só no domínio do simbólico) explique porque é que, como país, toleramos, nas palavras de Salgueiro Maia, “o estado a que chegámos” na política, na economia, na saúde, na educação… porque é que toleramos as imposturas com que nos deparamos todos os dias, porque é que toleramos os múltiplos discursos falaciosos, porque é que toleramos o óbvio retrocesso nos direitos humanos básicos, porque é que toleramos as pessoas que sabemos desonestas, porque é que toleramos a humilhação dissimulada, o permanente controlo, porque é que toleramos quem sorri elegante e manipulativamente... E, sobretudo, porque é que não toleramos de maneira nenhuma quem nos apresenta claramente a verdade, quem nos aponta caminhos que nos desviem dos vários abismos que vemos à nossa frente, ou ao nosso lado...
Num país em que se destacam da embalagem de manteiga faquinhas para barrar ainda teremos capacidade para perceber o que significa destacar da embalagem de manteiga faquinhas para barrar?
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Por favor, tenham juízo!
Se Portugal falhar, falhamos todos. Não é só José Sócrates e o seu governo. Falhamos todos, os dez milhões de Portugueses.
Não percebo esta ideia do "quanto pior melhor", esta "partidarite" cega, verdadeiramente estúpida e infantil que usa a palavra "ELES" como se não estivéssemos todos no mesmo barco. Se isto afundar, afundamos todos. Não interessa de quem é a culpa próxima. Porque visto bem, a culpa é de todos nós.
Não é só do governo nem de José Sócrates.
Sim, José Sócrates e o seu governo anunciaram ilusões e mentiram. Mas a maioria dos Portugueses comprou essa ilusão e aceitou a mentira. E não podem dizer que não foram avisados. Muitos avisaram. Só nas ultimas eleições, por exemplo, Manuela Ferreira Leite fartou-se de avisar, usou o slogan "Política de Verdade". A maioria não quis saber. Votou no mal menor, votou naquele que falava melhor, naquele que se vestia melhor e tinha melhor "marketing". José Sócrates voltou a ganhar e quase com maioria absoluta.
Portugal tem de resistir. Não pode falhar. Agora não!
Somos bombardeados por notícias que ameaçam diariamente com o FEE e com o FMI. Há sempre alguém que diz isto e aquilo, faz relay de coisas tiradas do contexto ou sem o devido cuidado, sem atender aos verdadeiros objectivos dessas notícias e opiniões. Se o FEE ou o FMI entrarem em Portugal, isso quer dizer que PORTUGAL, ou seja NÓS, FALHOU. Não são ELES os socialistas, ou José Sócrates, ou o Governo. Somos NÓS, os PORTUGUESES, PORTUGAL.
Perder a credibilidade é um caminho de um só sentido.
Agora é altura de cerrar fileiras pelo país. Não é por José Sócrates ou pelo Governo. Esses já morreram, vivem com um orçamento que é uma farsa, e não têm actividade. Basta querer ver. Mas pelo país que somos todos nós.
É preciso fazer as coisas com responsabilidade, pois, caso contrário, afundamos todos.
Tenham juízo, POR FAVOR.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
How low can you go?
Já disse várias vezes que isto de viver sem objectivos e metas a atingir, sem ter uma estratégia de médio e longo prazo, só podia dar no que está à vista.
Esta entrevista ao Público de Stéphane Garelli, professor da famosa escola de negócios Suíça IMD, deve ser lida com atenção.
Esta entrevista ao Público de Stéphane Garelli, professor da famosa escola de negócios Suíça IMD, deve ser lida com atenção.
"Quando Portugal se juntou à União Europeia, a estratégia foi "somos o país mais low cost da Europa, nenhuma empresa fabricará mais barato do que em Portugal" e as empresas vieram. Mas depois apareceram a República Checa e a Hungria e a Polónia. Este foi provavelmente o maior erro: não ter usado aquela pequena janela de oportunidade para fazer qualquer outra coisa do que ter apenas a ambição de ser low cost. É importante ter uma estratégia. Têm de saber para onde vão e definir algo em que possam ser bons, que tenha a ver convosco, com aquilo em que vocês são bons."
"Não tem receio que Portugal entre em default?
Não. O pior que poderá acontecer é um reescalonamento da dívida, mas não penso que possa haver incumprimento. Porque se houver default, o risco para toda a Zona Euro será enorme. E mesmo quando se diz que a Alemanha está a fazer imposições é preciso ter em conta que a Alemanha vive das exportações e para as ter precisa de clientes, que também estão em Portugal.
O aumento de impostos era inevitável? Havia alguma outra coisa que o Governo pudesse ter feito?
No meu país fizemos uma coisa que pode dar uma ou duas ideias. Há alguns anos criámos uma lei que definia que nenhum gasto deve ser aprovado sem que ao mesmo tempo seja votada a criação de receitas. Não se pode ir ao Parlamento dizer que vamos gastar x ou y sem ao mesmo tempo definir como vamos levantar o dinheiro. Este foi provavelmente uma boa ferramenta para obrigar o Governo a ser cauteloso e é uma coisa que talvez se pudesse tentar em Portugal."
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