quando não as exercemos por dinheiro, mas por amor,
chega um momento em que
o avançar dos anos
nos parece levar a um vazio."
Robert Musil, O homem sem qualidades.
"A educação é (…) onde decidimos se
amamos as nossas crianças o bastante para não as expulsar
do nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos,
do nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos,
nem lhes arrancar das mãos a oportunidade
de realizar alguma coisa nova e imprevista.”
de realizar alguma coisa nova e imprevista.”
Hannah Arendt, A condição humana.
“…a breve prazo sou pessimista… a longo prazo muito optimista,
tal como poderia ser um homem que tivesse ideias sobre o futuro
na altura em que fechou a Escola de Atenas,
em que acabou o tipo de ensino ou de estudos greco-romanos.”
Agostinho da Silva, Vida conversável.
Gostaria de deixar aqui, neste final de um estranho ano (não só, mas também) para a Educação, os meus votos para o ano que daqui a minutos aí estará, e que são inspiradas nos comentários dos Leitores ao meu post "Treinei-me para deixar de sentir" ou quando a Escola se desumaniza.
Entendo que fazer votos significa desejar que alguma coisa se realize e, em simultâneo, empenhar-se para que essa coisa se realize. Não é, ou não deve ser, uma simples declaração; deve ser uma atitude investida de busca.
Então, os meus votos são os seguintes: que a Escola Pública se (re)construa, possibilitando o acesso ao aperfeiçoamento humano.
Essa finalidade última, que parece não se vislumbrar em nenhum horizonte, requer professores e directores que não "abandonem" as crianças e os jovens aos seus próprios recursos, que não as "expulsem" do mundo fabuloso que é o pensamento académico. Palavras de Hannah Arendt.
Sabemos (a investigação apresenta-nos dados credíveis) que os melhores professores e directores estão esgotados e tristes, um sentimento de vazio perpassa as suas vidas. Talvez seja a idade e as contas a que ela obriga, ou o grande esforço que fazem todos os dias e que vêem desfazer-se como fumo. É a hipótese de Robert Musil, que eu não quero que esteja certa. A idade mais avançada e o amor de que fala, tal como Arendt tem de ser uma mais valia, é preciso que a procurem algures em si, pois as novas gerações dependem substancialmente dela.
Temos de ser (muito) optimistas, não idiotamente mas lucidamente. Lucidamente, como Álvaro de Campos. E talvez a longo prazo, como recomenda Agostinho da Silva.
Mas, como educadores não podemos perder a alma. Se deixarmos que isso aconteça, arrastaremos aqueles que dependem de nós. A nossa responsabilidade é grande demais!
Nota: Não, não falo dos políticos, nem dos investigadores, nem da sociedade... Não vale a pena. A educação pública tem de voltar à escola, à sala de aula, aos professores e aos alunos. É aí que reside a esperança.
_________________________
Referências bibliográficas:
- Arendt, H. (1957/2006). A crise na educação. In H. Arendt. A condição humana (pp.183-206). Lisboa: Relógio D’Água.
- Musil, R. (2008) O homem sem qualidades. Lisboa: Dom Quixote, p. 45.
- Silva, A. da (1994). Vida conversável. Lisboa: Assírio e Alvim, p, 175.
Entendo que fazer votos significa desejar que alguma coisa se realize e, em simultâneo, empenhar-se para que essa coisa se realize. Não é, ou não deve ser, uma simples declaração; deve ser uma atitude investida de busca.
Então, os meus votos são os seguintes: que a Escola Pública se (re)construa, possibilitando o acesso ao aperfeiçoamento humano.
Essa finalidade última, que parece não se vislumbrar em nenhum horizonte, requer professores e directores que não "abandonem" as crianças e os jovens aos seus próprios recursos, que não as "expulsem" do mundo fabuloso que é o pensamento académico. Palavras de Hannah Arendt.
Sabemos (a investigação apresenta-nos dados credíveis) que os melhores professores e directores estão esgotados e tristes, um sentimento de vazio perpassa as suas vidas. Talvez seja a idade e as contas a que ela obriga, ou o grande esforço que fazem todos os dias e que vêem desfazer-se como fumo. É a hipótese de Robert Musil, que eu não quero que esteja certa. A idade mais avançada e o amor de que fala, tal como Arendt tem de ser uma mais valia, é preciso que a procurem algures em si, pois as novas gerações dependem substancialmente dela.
Temos de ser (muito) optimistas, não idiotamente mas lucidamente. Lucidamente, como Álvaro de Campos. E talvez a longo prazo, como recomenda Agostinho da Silva.
Mas, como educadores não podemos perder a alma. Se deixarmos que isso aconteça, arrastaremos aqueles que dependem de nós. A nossa responsabilidade é grande demais!
Nota: Não, não falo dos políticos, nem dos investigadores, nem da sociedade... Não vale a pena. A educação pública tem de voltar à escola, à sala de aula, aos professores e aos alunos. É aí que reside a esperança.
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Referências bibliográficas:
- Arendt, H. (1957/2006). A crise na educação. In H. Arendt. A condição humana (pp.183-206). Lisboa: Relógio D’Água.
- Musil, R. (2008) O homem sem qualidades. Lisboa: Dom Quixote, p. 45.
- Silva, A. da (1994). Vida conversável. Lisboa: Assírio e Alvim, p, 175.