No texto de Guilherme Valente e a propósito dele (aqui e aqui), debate-se no De Rerum Natura a ideia de que esses trabalhos:
- são "irrelevantes para o conhecimento, para o ensino, a escola e os alunos";
- têm conduzido a educação ao (mau) estado em que ela se encontra.
Ambas as ideias são discutíveis e devem ser discutidas. Nesse sentido, recorro a um texto de Ana Maria Morais (in Público, Sábado, 7 de Janeiro de 2006), onde se explica que:
- nesta, como noutras áreas, produzem-se trabalhos com e sem qualidade científica, sendo que muitos dos que têm qualidade, podendo ser relevantes para o conhecimento, para o ensino, a escola e os alunos, são sistematicamente desprezados por quem tem o poder real de decidir os caminhos da educação escolar;
- assim, o (mau) estado da educação não se pode atribuir directa e linearmente aos investigadores da Educação, dada as determinações políticas que estão subjacentes a essas decisões.
"Têm sido muitos os que vêm culpabilizando as Ciências da Educação pelo actual estado de coisas. Não seria justo deixar para as Ciências da Educação todo o ónus da colossal falha da educação actual. Muito deve ser imputável a factores de decisão política. Mas também são muitos os professores e investigadores que têm vindo a ser responsáveis pela educação que temos. Uns por intervenção directa, como construtores de novas reformas e formadores de professores. Outros por omissão, porque se limitam ao papel de preparar os seus próprios alunos, futuros professores, e de desenvolver investigação que não ultrapassa o nível académico (...).No que respeita, em particular, à avaliação dos alunos com recurso a exames, que também se aflorou nesse debate, se dúvidas houvesse quanto à afirmação da sua importância, esta professora de pedagogia não pode ser mais clara:
É necessário dizer aos decisores de política educativa e aos cidadãos em geral que há outras formas de organizar a educação. Que há investigação que suporta essas outras formas. Que é urgente aumentar o nível de exigência conceptual. Que não é uma inevitabilidade que o nível de educação baixe perante a inacção colectiva (...).
"... os exames são uma necessidade absoluta (poderemos inventar outro tipo de mecanismo regulador?). Mas, e este é um aspecto da máxima importância, exames que não se limitem à tradicional avaliação centrada em níveis baixos de literacia mas que avaliem conhecimentos e capacidades de elevado nível cognitivo. Tais exames iriam levar os professores e as escolas a modificar o nível de aprendizagem que promovem (...) Também aqui podemos encontrar investigação que suporta esta afirmação.
Temos a clara consciência dos múltiplos problemas que os exames podem acarretar, problemas que, contudo, têm vindo a ser sobrevalorizados (...) Numa cultura de sobreprotecção de crianças e adolescentes, todo o esforço, exigência e rigor têm sido desprezados, desprezando-se assim uma preparação necessária à vida activa dos futuros cidadãos.Esta educação que temos não é educação. Falemos antes da educação que não temos... e da investigação que não usamos."