sexta-feira, 29 de junho de 2018

AINDA A DEGRADAÇÃO DO NOSSO ENSINO (2)

A todos, e foram muitas dezenas, os que me honrarem com os seus comentários, apoiando, contraditando, sugerindo, emendando, acrescentando ou melhorando o meu texto de anteontem (27.06.2018, no Facebook) aqui fica, para os que tiverem interesse nisso, a nova versão do mesmo, reformulado com base nos referidos comentários.

NOVA VERSÃO

Na minha capacidade de análise, que vale o que vale, o problema da degradação dos nossos ensinos básico e secundário reside, sobretudo, na classe política, onde, a par de gente capaz e honesta, se instalaram arranjistas e corruptos, como em todo o lado.

Como já escrevi, à semelhança do que se passou com a Primeira República, a classe política, no seu todo, a quem os Capitães de Abril, há 44 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada”, entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos civismo, cultura democrática e cultura humanística. Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a Educação. E, aqui, a ESCOLA FALHOU COMPLETAMENTE.

O mundial de futebol, a crise no Sporting, as buscas da PJ no Benfica e noutros clubes e, agora, em algumas autarquias, à falta de incêndios florestais, enchem os noticiários à exaustão. Parece que andamos esquecidos do gravíssimo problema subjacente à greve dos Professores, em curso, mas ele existe. É bem maia amplo e está latente. E nestes dias em que tudo efervesce neste sector da vida nacional, o senhor Ministro da tutela (talvez com o argumento de que “carrega” com o fardo do desporto), foi a Moscovo, no passado dia 20, ver o Portugal-Marrocos e, cinco dias depois, a Saransk, assistir ao Portugal-Irão. Estou para ver se irá, de novo, à Rússia, no próximo Sábado, desta vez a Sochi, para presenciar o Portugal-Uruguai.

Os saberes acumulados ao longo de uma vida de muitos anos, sempre em contacto com o ensino a todos os níveis, a liberdade que me assiste como cidadão político consciente e não “amarrado” aos aparelhos dos partidos políticos e a lucidez que ainda julgo manter, permitem-me dizer ou voltar a dizer, “preto no branco”: 

1 - Tendo sido o Centro e a Direita a governarem-nos há mais de quarenta e dois anos, há que imputar a estes, os do chamado “arco do poder”, a maior parte da responsabilidade de uma tal degradação. A Esquerda só esteve no poder dois anos e dois meses (com os governos provisórios”), mas tem nos sindicatos valiosas correias de transmissão, pelo que também manda, e muito, nestes graus de ensino. Não podemos, pois, ignorar a sua responsabilidade neste grave problema que, se não for resolvido, irá DESTRUIR O FUTURO dos nossos filhos e netos.

2 – A SER VERDADE que a luta dos professores (em proporções nunca vistas) visa o cumprimento de uma promessa do governo, estou a 100% do lado de todos eles, dos bons, dos menos bons e dos maus. Todos! E isto apenas porque, também para mim, a “palavra dada, palavra honrada”, parafraseando o Primeiro Ministro. Insisto na expressão “a ser verdade” porque, nestes conflitos e como é sabido, cada uma das partes tem o seu discurso;

3 - A par de BONS, MUITO BONS E EXCELENTES professores, há outros, sem preparação suficiente, que fazem do ensino um emprego, não uma profissão e, muito menos, uma missão, e outros, ainda, francamente maus.

4 - Os VERGONHOSOS RESULTADOS escolares em Portugal falam por si. E aos que me respondem, lembrando que alunos das nossas escolas marcam pontos lá fora, em competições internacionais (o que é um facto honroso e indesmentível), respondo dizendo que esses são alunos excepcionais, oriundos de famílias mais bem ou mais mal estruturadas, mas sempre preparados por muito bons professores. Ponto final;

5 - A sistemática RECUSA ÀS AVALIAÇÕES, por parte de muitos professores (os jornais têm falado em milhares), com o fortíssimo apoio dos sindicatos, face às diversas propostas feitas pelos diferentes governos, ao longo de mais de uma dezena de anos, é responsável pela permanência dos incompetentes à frente dos nossos filhos e netos. Não são os bons professores que temem ser avaliados, são os outros, e não são assim tão poucos;

6 – As avaliações que têm sido feitas bem como a escolha e a COMPETÊNCIA DOS AVALIADORES são temas a terem lugar numa verdadeira reflexão que urge fazer;

7 - Os sindicatos, NIVELANDO, POR IGUAL, os bons, os menos bons e os maus professores e, ao apoiarem os que se opõem às ditas avaliações, exigindo promoções automáticas ditadas pelo tempo de serviço, têm grande responsabilidade numa parte importante da degradação do ensino público;

8 - A tradicional e endémica FALTA DE VERBA atribuída à Educação é parte substancial desta mesma degradação;

9 - A “BALDA” que se estabeleceu nas Universidades, a seguir à revolução de 1974, com os “aptos”, as “passagens administrativas” e a interferência dos estudantes nas decisões pedagógicas, ao estilo de “cada cabeça um voto”, também tem de ser tida em conta nesta reflexão;

10 - O NÍVEL SÓCIOCULTURAL de milhares de famílias carentes de tudo determina que a Escola obvie a esta realidade, chamando a si uma tarefa educativa complementar;

11 – Finalmente, a PREPARAÇÃO CIENTÍFICA E PEDAGÓGICA dos professores não pode deixar de ser devida e profundamente analisada.

É minha convicção que: 

1 - Os professores devem SABER MUITO MAIS do que o estipulado no programa da disciplina que devem ter por missão ensinar, não se podendo limitar a meros transmissores dos manuais de ensino. Para tal, os professores necessitam de tempo, e tempo é coisa que, no presente, não têm;

2 - É necessário e urgente fomentar, como inerência de cargo, a DIGNIFICAÇÃO E O RESPEITO pelo professor, duas condições que lhes foram retiradas com o advento da liberdade que os militares de Abril nos ofereceram e que a democracia não soube aproveitar;

3 – É essencial LIBERTÁ-LOS DAS TAREFAS que não sejam as de ensinar;

4 – Há que criar CURSOS DE ACTUALIZAÇÃO e de melhoria de conhecimentos e/ou outras acções com o mesmo propósito;

5 – É necessário e urgente que a Escola recupere todas as competências fundamentais à DISCIPLINA, aqui entendida como a obrigatoriedade de respeitar as normas estabelecidas democraticamente, o que evita o autoritarismo, conferindo a autoridade a quem a deve ter;

6 – É necessário e urgente rever toda a política dos MANUAIS DE ENSINO, em especial no que diz respeito à creditação científica e pedagógica dos autores e revisores.

 7 – É preciso repensar a POLÍTICA DE EXAMES, a começar pela creditação científica e pedagógica dos professores escolhidos para conceber e redigir os questionários.

8 – É necessário resolver o gravíssimo problema da COLOCAÇÃO DE PROFESSORES, com vidas insuportáveis material e emocionalmente, a dezenas de quilómetros de casa, separados das famílias;

9 - A REMUNERAÇÃO DOS PROFESSORES tem de ser compatível com a sua real importância na sociedade. Um professor universitário (que é avaliado, pelo menos, três vezes ao longo da carreira) não é nem mais nem menos importante do que um do ensino secundário ou do básico, a quem, no correspondente patamar, se exige idêntico rigor;

10 - É preciso e urgente que o Ministério da Educação se torne numa das principais preocupações dos governos, não só na ESCOLHA DOS TITULARES, como nas respectivas dotações orçamentais.

11 - É urgente olhar para a realidade do nosso ensino e haver vontade e força política (despida de constrangimentos partidários), ao estilo de um “ACORDO DE REGIME”, capaz de promover uma profunda avaliação e consequente reformulação desta nossa “máquina ministerial”, poderosa e, de há muito, instalada.
A. Galopim de Carvalho

Uma crítica à narrativa da educação escolar

O livro cuja capa reproduzo ao lado é uma colectânea de textos da autoria de professores e alunos da linha de investigação designada por Teorias pedagógicas, trabalho educativo e sociedade, da Universidade Estadual de São Paulo. A organização é de Lígia Mácia Martins, formada em Psicologia e professora de Psicologia da Educação, e por Newton Duarte, formado em Pedagogia e professor de Pedagogia. 

Publicado em 2010, mantém inteira actualidade na análise crítica que faz à orientação política que é dada aos mais diversos sistemas educativos do mundo. Não se aplica, portanto, só à realidade brasileira.

Do 1.º Capítulo (O legado do século XX para a formação de professores, de Lígia Mácia Martins, pp. 13-31) retirei as notas que se seguem (entre aspas as palavras da autora, sem aspas as minhas palavras baseadas nas da autora):

Todo o trabalho educativo que acontece na escola deve ser guiado por um "ideal humano superior": levar cada ser humano, em particular, a alcançar as "máximas capacidades já conquistadas pelo género humano". Trata-se de contribuir de modo significativo e muito específico para a humanização dos alunos o que requer a mediação da própria humanidade dos professores. 
É isso que os sistemas educativos prevêem? Não. 
Sob a égide do modelo económico-social no qual se instalou uma "lógica mercantilista" baseada "no critério da lucratividade e da sociabilidade adaptativa". 
[Em virtude da] "particularização e individualização do ensino como expressão de respeito às singularidades do aluno, tanto em relação às suas possibilidades cognitivas quanto em relação à sua pertença cultural (...) os conhecimentos sincréticos, empíricos fortuitos, heterogéneos e de senso-comum substituem a sistematização de relações explicativas causais já conquistadas pela humanidade e, assim, (re)significa-se a realidade, identificada, então, com o compartilhamento de interpretações (...) [emergentes] na vida quotidiana e com intensas e rápidas transformações." 
"Em nome dessas transformações, caberá à educação escolar preparar os indivíduos para o seu enfrentamento. Diante de um  mundo em constantes transformações, mais importante que adquirir conhecimentos, posto sua transitoriedade, será o desenvolvimento de competências" (...).
"Apela-se, pois, à formação de personalidades flexíveis, criativas, autónomas, que saibam trabalhar em grupos e comunicar-se habilmente e, sobretudo, estejam aptas para os domínios de complexidade do mundo real."  
"Tendo em vista esta preparação, a resolução de problemas erige-se como exigência básica (...) de tal forma que a aprendizagem baseada em problemas se converte na estratégia azada para a formação de indivíduos participativos." 
"Caberá à escolarização oportunizar os meios pelos quais o aluno se coloque como sujeito da sua aprendizagem, entendendo-se que, assim, consequentemente, ocupará seu lugar na sociedade de modo crítico e cidadão."
"Aliando-se a esses objectivos, a ênfase recai nas aprendizagens que o aluno realiza a partir de si mesmo, no respeito às suas necessidades e motivações e nos limites daquilo que identifica como problema a partir de um diálogo com o seu contexto. Identifica-se, pois, a formação escolar com o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas" (...). 
"Tornou-se cada vez mais recorrente (...) o apelo à necessidade de recriar tanto a escola quanto a formação de professores. Para esta nova formação, os destaques centrais recaíram sobre a trajectória de construção da identidade pessoal-profissional, primando pelo objectivo da promoção da reflexão e, preferencialmente da reflexão crítica acerca da própria prática." 
"Consequentemente, a linha distintiva entre escola como locus de exercício profissional e a escola como locus que deva preparar filosófica, teórica e metodologicamente o professor para esse exercício vai-se diluindo de modo cada vez mais rápido e mais cedo na formação inicial dos professores." 
"As dimensões técnicas da prática de ensino passam a ocupar um lugar central, em detrimento dos seus próprios fundamentos. Privilegia-se a forma mutilada de conteúdo."
"Essa diluição, todavia, também ocorre sob um forte argumento, qual seja a necessária articulação entre teoria e prática. Uma articulação, porém, centrada na resolução de problemas práticos, imediatos e o manejo de situações concretas do cotidiano escolar, enfim, que privilegie a forma em detrimento do conteúdo."

"Isto é Matemática"

quinta-feira, 28 de junho de 2018

O PATRIMÓNIO HUMANO PORTUGUÊS


Minha contribuição para o número de aniversário da revista "As Artes entre as Letras":


Património significa, segundo uma das definições dos dicionários, “bem ou conjunto de bens, materiais ou naturais, reconhecidos pela sua importância cultural.” Assim, dificilmente se poderá contrariar a ideia que o primeiro dos bens culturais são as pessoas: elas é que são as criadoras e disseminadoras de cultura. Faz, portanto, sentido a expressão “património humano,” que de resto prefiro a “recursos humanos” ou “capital humano,” ambas as fórmulas usadas num contexto económico. Neste ano de 2018, Ano Europeu do Património Cultural, é oportuno valorizar o património humano, o conjunto das pessoas que são geradoras e portadoras de cultura. Afinal, todos nós, pois todos nós somos de uma maneira ou de outra agentes de cultura, sendo-o tanto mais quanto maior for o grau de educação que tenhamos atingido (a educação não é mais do que a transmissão de uma parte, convenientemente escolhida, do património recebido da Humanidade que nos precedeu).
 
Falar de património humano é também, por isso, falar de educação. Em Portugal um fenómeno com enormes implicações sociais e culturais ocorrido nas últimas duas décadas foi a formação ao mais alto nível de uma geração de portugueses. O enorme crescimento do número de doutoramentos é um dos indicadores dessa crescente capacitação da população nacional. Em 2015 houve um total de 2969 novos doutorados portugueses, ao passo que vinte anos antes eram apenas 567 (dados da PORDATA). O alargamento no acesso a outros graus do ensino superior, nas mais variadas áreas do conhecimento, também é notório: em 2015 formaram-se nas universidades e nos politécnicos, no público e no privado, 76.892 estudantes, muito mais do que os 35.939 duas décadas antes. O nosso património humano está, por isso, cada vez mais rico, embora seja justo notar que, na economia, ainda não encontramos um reflexo claro do referido processo de qualificação: de facto, pesa ainda uma terrível herança de desqualificação: Portugal é dos países da Europa em que a população activa, convencionalmente dos 25 aos 64 anos, tem menor nível de escolaridade.

Justo é destacar, neste ano em que teria feito 70 anos, o contributo que deu para o recente desenvolvimento do nosso património humano um físico que se tornou político, José Mariano Gago (1948-2015), que foi em 1915 o primeiro ministro da Ciência e Tecnologia. Ele sempre considerou que ciência era uma parte integrante da cultura e que a formação científica era, portanto, uma formação cultural. Lembrando-o com saudade, louvo a iniciativa do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de o condecorar, a título póstumo, em 16 de Maio passado (dia do seu aniversário), com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada.

O percurso feito nos últimos nove anos pelo “As Artes entre as Letras,” dirigido pela extraordinária Nassalete Miranda, mostra bem como a ciência se situa hoje, em Portugal, no seio da cultura. Que assim continue por muitos anos, ao serviço do património humano que somos nós.  

Referendo sobre o "Novo Acordo Ortográfico"

Assine a Iniciativa de Referendo ao "Acordo Ortográfico" de 1990, e ​/ou​ divulgue-a pelos seus contactos ​

 Aceda directamente a ​https://participacao.parlamento.pt/initiatives/192 ​; clique em "Assinar"; e siga os passos.

 Para propiciar uma participação, enviamos uma lista sequencial de etapas, para o efeito de poder assinar esta e qualquer outra iniciativa, colocada no "site" do Parlamento em 10 de Março de 2018. ​

 1) Para efectuar o registo​ no "site" da Assembleia da República​, ​copie e cole, ou ​ clique em https://participacao.parlamento.pt/register. Introduza os seus dados pessoais indicados com asterisco. ​Nota: não se esqueça de colocar o número de eleitor. Aceda ao endereço seguinte para consultar o vosso número de eleitor caso não o tenha: https://www.recenseamento.mai.gov.pt/ (Os restantes campos, não assinalados a asterisco, poderão ser preenchidos, se assim quiser). Crie uma palavra-passe​.
 2) Verifique de seguida a mensagem enviada para o seu email. Confirme o registo.
 3) A partir daqui, poderá assinar qualquer Petição, Iniciativa Legislativa de Cidadãos ou Iniciativas de Referendo​, da seguinte forma​.
 4) ​Clique em https://participacao.parlamento.pt/initiatives/?type=referendums​.​
 5) No canto superior direito, visualize "Entrar". Clique.
 6) Aparecerá "Entrar na Plataforma​" (na hiperligação https://participacao.parlamento.pt/login​).
 ​ 7) Introduza o seu email e a palavra-passe. C​lique de seguida em "Entrar".​
 8) ​Aparecerá: Petições - Iniciativas legislativas - "Iniciativas de referendo". Clique neste último item e siga os passos; ou, para aceder com mais rapidez, copie e cole a seguinte hiperligação: https://participacao.parlamento.pt/private/referendums/192​ ​
 9) Aparece o Projecto de lei e demais anexos. Clique em "Assinar", do lado direito.  ​​

**** ​Para qualquer dúvida, ​poderá visualizar este pequeno vídeo, aplicável com as devidas adaptações, para subscrever a Iniciativa: https://www.youtube.com/watch?v=dSQ_V44kx74
 Para qualquer informação, para efeitos técnico-informáticos, contactar sff a Assembleia da República, através do email Iniciativa.legislativa@ar.parlamento.pt ​ .​
 O email para recepção das folhas em papel () é referendoao90@gmail.com.
 Contamos já com mais de 33.000 assinaturas em papel; sendo 60.000 o número mínimo para que dê entrada.

 O Movimento "Cidadãos contra o "Acordo Ortográfico" de 1990"
 Adira ao nosso Grupo no Facebook em https://www.facebook.com/groups/acordoortograficocidadaoscontraao90/
 Coloque "Gosto" na Página com o mesmo nome, em https://www.facebook.com/cidadaoscontraAO90/ 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

DA POESIA À CRISE DO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL


Meu artigo de opinião publicado,  hoje, no "Jornal As Beiras":


  “Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro.E aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu”.
Fernando Pessoa

Começo por me reportar a uma belíssima poesia, intitulada, “A ABRIR…”,  da autoria de Colares Pinto, que a escreveu   para o “Livro de Curso (INEF/1955)”, obedecendo aos cânones  de sonetos saídos da pena de Camões, Bocage, Antero. 

Transcrevo esses versos de uma saudade agridoce  que  marcam indelevelmente o  percurso académico dos  estudantes do estuário do Tejo (Cruz Quebrada) e que encontram lapidar exemplo, nas margens do Mondego, com a  belíssima “Balada da Despedida”,  de Fernando Machado Soares recentemente falecido:

“Retratos de corpos e de almas…
Alegria a chorar, tristeza a rir…
Esp’ranças, ilusões, derrotas, palmas
…sorrir!...
……………………………………………………………………………..

Olhos que vêem no infinito imenso
E na ladeira o ouro, a mirra, o incenso
Da vida insana a íngreme subida
E  os espinhos da c’roa dessa vida…

Olhos que vêem, corações que sentem
Por outros corações, por outros olhos…
E na estrada só há sinais que mentem,
Curvas que traem, nevoeiros, abrolhos…

Dadores da mais rica herança
Ao fulvo  cabelito, à loira trança
A deixarão da doida novidade.


Por esses mares além e continentes
Faróis da vida ficarão luzentes,
A mostrar o caminho à humanidade!"...
“A ABRIR…” é um verdadeiro hino ao exercício de um magistério  norteado pela missão cometida aos professores de  Educação Física em nome de uma Educação Integral, desde o ensino das primeiras letras à Universidade, num tempo em que o futebol profissional substituiu o pão e circo do Império Romano para fazer esquecer as  dificuldade de um “povo que lava no rio”, apelidado pelos opositores do Estado Novo, como “ópio do povo”, ópio de que a “quarentona democracia portuguesa” dele se apoderou avidamente com as mãos ambas, para euforia momentânea das populações mais carenciadas tentando transmitir aos governados uma falsa sensação de bem-estar de que tudo vai bem na “ocidental praia lusitana”, libertando os governantes do opróbrio dagrande e  gorda porca da política a amamentar uma data  de bacorinhos”, em caricatura  de Rafael Bordalo Pinheiro.
Escrevo este texto em recordação de uma escola de ensino superior prestigiada com um “2.º Prémio dos Laboratórios Pfizer” (1963), resultante da sua parceria com a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, nem sempre valorizada por  uma pretensiosa intelectualidade que a leva a não alinhar com Sílvio Lima, professor catedrático de Filosofia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, quando, em inícios da década de 40 do século passado, de forma magistral, doutrinou: “O Desporto é uma questão grave (grave que quer dizer etimologicamente pesada) que só parece leve aos de cabeça leve como o sabugo ou o algodão”.

Para não ser acusado de oportunismo face à situação actual vivida por um dos maiores e mais eclécticos  clubes portugueses, o Sporting Clube de Portugal,  desde já faço prova de uma crítica que fiz há mais de meio século dos então caminhos ínvios trilhados pelo Desporto Português. Nela escrevi, sei-o hoje, premonitoriamente: “Para um merecimento perfeito do fenómeno desportivo há que  acreditar  no valor moral dos praticantes, dos técnicos, da imprensa e dos dirigentes, enfim de todos que o servem para se evitar o risco em se atingir a decadência desportiva romana sem se ter conhecido o apogeu de uma educação integral helénica” (Jornal “Diário” de Lourenço Marques, 19/07/1961). 

A decadência desportiva romana chegou ao país mais ocidental da velha Europa viajando por auto-estradas, a educação integral helénica perdeu-se em vielas do caminho!

Estudo Geral: 10 anos ao serviço da investigação da UC

Informação recebida do Serviço Integrado de Bibliotecas da Universidade de Coimbra:

O Estudo Geral, repositório digital da produção científica da Universidade de Coimbra, completa 10 anos, já no próximo dia 30 de junho de 2018.

Criado com o objetivo de divulgar conteúdos digitais de natureza científica de autores ligados à Universidade de Coimbra, a sua criação insere-se no movimento de Acesso Livre à Literatura científica (Open Access), ao qual o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas aderiu em 2006.

A Universidade de Coimbra subscreveu estes princípios no início de 2007 e, à semelhança de outras grandes universidades nacionais e internacionais, tem vindo a aumentar a sua presença na rede informática mundial, como um emissor qualificado de conhecimento e cultura.

O Estudo Geral, cuja responsabilidade está a cargo do Serviço Integrado das Bibliotecas da Universidade de Coimbra (SIBUC), aloja perto de 31 mil documentos, 82% dos quais se encontram em acesso aberto (Open Access), e regista já 13 milhões de downloads[1].

O Estudo Geral foi recentemente alojado numa nova plataforma. Desse modo, será possível integrar outras componentes de investigação e contribuir para a gestão da pesquisa científica desenvolvida na UC, facilitando o acesso e a disseminação dos seus resultados.

[1] Dados recolhidos no módulo de administração do Estudo Geral. [consult. 25 Junho 2018]. Disponível em WWW: .

A BIBLIOTECA PÚBLICA DE BOSTON

Muito bem recheada e organizada, a Biblioteca Pública de Boston é um dos orgulhos da cidade e, para além dos locais, sítio de paragem dos visitantes. Fundada em 1848 e com mais de 24 milhões de itens, é a segunda maior biblioteca pública dos EUA depois da Biblioteca do Congresso.



O NRP "SAGRES" EM BOSTON





Fotos que tirei de fora e dentro do NRP Sagres nas recentes comemorações do Dia de Portugal em Boston. EUA. Estive em Boston a convite da PAPS para o seu Forum que teve lugar na School of Law da Universidad de Harvard, que se intulou "Sailing into the Future."

Da Wikipedia:

"SAGRES III: Foi construído nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, em 1937, para desempenhar funções como navio-escola da Marinha Alemã — onde era chamado Albert Leo Schlageter — juntamente com os seus semelhantes da classe Gorch Fock: o primeiro, que deu o nome à classe, o segundo, ex-Horst Wessel (atual USCGC Eagle), e o quarto, Mircea; houve ainda um quinto, o Herbert Norkus, destruído antes de ter sido terminado.
No final da II Guerra Mundial, foi capturado pelas forças dos Estados Unidos, sendo vendido à Marinha do Brasil em 1948 por um valor simbólico de $5.000 dólares.No Brasil foi baptizado de Guanabara, servindo como navio-escola até 1961, data em que foi adquirido por Portugal por 150.000 dólares para ser usado em substituição do Sagres II (ex-Rickmer Rickmers). (...)  O navio recebeu o mesmo nome do antecessor, entrando ao serviço da Marinha Portuguesa em 8 de fevereiro de 1962.
(...) Ao serviço da marinha portuguesa já deu três voltas ao mundo, a primeira em 1978/1979 e a segunda em 1983/1984. A 4 de julho de 1984, foi feito Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique. Em 19 de janeiro de 2010, partiu para a terceira volta ao mundo. No total, a viagem tem uma duração estimada de 339 dias, dos quais 71 por cento a navegar e 29 por cento nos portos. O navio passa por 27 cidades costeiras, de 19 países diferentes, antes de regressar a Lisboa, em dezembro de 2010. Além das circum-navegações, a Sagres III participou na Regata Colombo (1992), nas comemorações dos 450 anos da chegada dos Portugueses ao Japão (1993) e ainda nas celebrações por ocasião dos 500 anos da Descoberta do Brasil (2000)."
Para saber mais sobre a Sagres leia-se o magnífico livro ilustrado que os CTT publicaram sobre ela.

Houve mesmo descobertas… e ainda há!



Artigo de opinião meu e do David Marçal no Público de hoje:

Lemos os artigos que se opõem à intenção do município de Lisboa de criar um museu evocativo dos descobrimentos ou descobertas portuguesas e ficámos perplexos. Parece que não existiram descobertas! Mas existiram: antes da América ter sido descoberta ninguém na Europa sabia que ela lá estava. E sim, essa como outras descobertas semelhantes partem do ponto de vista dos europeus, porque o ponto de vista não pode deixar de ser nosso. As descobertas geográficas luso-espanholas, que conduziram a descobertas de novas espécies, de populações e culturas diferentes, abriram caminho para a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII: se era possível que existissem novas terras e novas gentes que antes não conhecíamos, então também era possível, em geral, formular conhecimento novo. E esta ideia, que hoje parece óbvia - sim, é claro que há coisas que não sabemos e que podemos vir a saber - não era nada óbvia no século XV. .

Prevalecia a ideia de que o conhecimento era tanto mais verdadeiro quanto mais antigo (ainda há hoje terapeutas alternativos que assim pensam) e os filósofos recitavam e reinterpretavam os textos clássicos, com pouco ou nenhum interesse pela observação e pela experiência. Se houvesse discrepâncias entre Aristóteles e aquilo que alguém via na Natureza, prevalecia a autoridade antiga. O francês Jacques Cartier escreveu em 1545 que o “simples marinheiro de hoje aprendeu o oposto dos filósofos através da verdadeira experiência”. Pensava-se, por exemplo, que as regiões do equador seriam demasiado quentes para que seres humanos aí pudessem viver. No entanto, os portugueses, na procura de uma rota oceânica para a Índia, passaram o equador em 1474-75 e descobriram que havia muitas pessoas que habitavam essas regiões. Santo Agostinho receava que a existência de povos nos antípodas implicasse haver seres humanos que não descendiam de Adão… Mas o Brasil estava nos antípodas de terras conhecidas a oriente e em breve se chegou aos antípodas das terras do Ocidente. O Padre António Vieira escreveu no século XVII: “Acerca da zona tórrida e dos antípodas ensinaram os pilotos portugueses ao mundo, sem saberem ler nem escrever, o que não alcançou Aristóteles, nem Santo Agostinho.” 

A própria ideia clássica do cosmos como uma estrutura de esferas concêntricas foi demolida. Aristóteles estava em muitos casos errado, o que foi descoberto pela observação e experiência. Para dar outro exemplo: ele pensava que a mulher tinha menos dentes do que o homem, não lhe tendo ocorrido pedir à sua mulher para abrir a boca. As descobertas foram não só geográficas, mas em todo o conhecimento.

Não temos qualquer objecção à criação de um museu que conte a história da colonização e evoque a memória da escravatura, que está longe de ser uma “invenção” do Ocidente. Certamente que o visitaríamos com interesse. Nem sentimos nenhum fascínio pelos mitos lusotropicais de uma “colonização exemplar”, em que colonos e colonizados viviam em alegre simbiose. E também não subscrevemos a opinião irónica de João Miguel Tavares de que “o branco de 2018 é culpado pelos actos do esclavagista de 1718 para que o negro de 2018 possa ser vítima da escravatura de 1718”. De uma certa forma é mesmo assim, porque as desigualdades sociais se prolongam ao longo de gerações. Dito isto: existiram realmente descobertas e essa ideia é importante. A Câmara de Lisboa pode decidir fazer um museu sobre as descobertas ou sobre a escravatura, ou pode ainda fazer um museu que inclua os dois aspectos. Mas faz todo o sentido criar um Museu das Descobertas. A ideia nem sequer é original. Há poucos anos esteve patente na Fundação Gulbenkian em Lisboa uma exposição intitulada “360 Ciência Descoberta”, precisamente sobre os avanços no conhecimento que permitiram as descobertas e conduziram à ciência moderna. A nossa proposta seria um museu com um pé no passado, mas a olhar para o futuro, pois há muito ainda para descobrir no mundo e em nós próprios, que fazemos parte do mundo. Hoje a ciência é a base da descoberta e o conhecimento a nossa chave para uma vida melhor e mais prolongada. Ah, e as descobertas também continuam. Por exemplo, já se descobriram mais de 3700 planetas fora do sistema solar, que orbitam mais de 2700 estrelas diferentes. Se um deles for habitado… não poderemos dizer que descobrimos os ET?

David Marçal e Carlos Fiolhais*
*Cientistas e divulgadores de ciência

Telemóveis na escola e na sala de aula: "sim, mas..." e "não, mas..."


No programa de televisão (RTP 1) Prós e Contras de ontem, um debate sobre Telemóveis nas Escolas: Sim ou Não?

A ideia que passou (ou pelo menos com que eu fiquei): "sim, mas..." e "não, mas..."

Percebeu-se o que já se sabe: a investigação científica não é conclusiva sobre benefício ou o prejuízo  do uso do telemóvel na escola e, mais concretamente, na sala de aula, quer como "ferramenta pedagógica", quer como "elemento de socialização".

Muito bem! Mas sendo assim, reconhecendo-se dúvidas pronunciadas e sérias, não recomendaria a mais elementar prudência não usar os ditos equipamentos nesses contextos?

Espólio bibliográfico nas áreas de ciências e medicina das universidades portuguesas mais antigas: breve resumo

Universidade de Coimbra 

 Na Biblioteca Joanina, com mais de 60.000 volumes, está apenas parte do espólio de livro antigo da Universidade, que, em geral, se reparte entre a Biblioteca Geral da UC, que tem mais de 500 anos já existia quando a Universidade estava em Lisboa), e algumas Faculdades. Alguns dos livros da Biblioteca Joanina são de ciências. A Biblioteca Geral tem entre os seus reservados um volume do “Roteiro da Índia” de D. João de Castro, que é cópia única, e um exemplar da primeira edição “De Corporis Humanis Fabrica”, de André Vesálio, que é relativamente raro, que está restaurado e digitalizado. Parte das colecções históricas estão digitalizadas no repositório digital “Alma Mater”. 

 A Faculdade de Ciência e Tecnologia da UC tem o seu espólio bibliográfico divido pelos vários departamentos, sobressaindo colecções notáveis nas Bibliotecas de Matemática, Física e Química, Ciências da Terra e Ciências da Vida. A Biblioteca de Matemática radica nas colecções da Faculdade de Matemática fundada pelo Marquês de Pombal. A Biblioteca de Física e Química possui colecções remontam à Faculdade de Filosofia do tempo da Reforma Pombalina e está por isso bem fornecida relativamente aos séculos XIX e XX. Sobre botânica existem importantes colecções históricas, ligadas ao Jardim Botânico, designadamente ao tempo de Avelar Brotero e Júlio Henriques, em boa parte digitalizadas. As Ciências da Terra têm a colecção do suíço Paul Choffat. O Rómulo – Centro Ciência Viva da UC também tem espólio de livros de ciências, proveniente do antigo Museu Nacional da Ciência e da Técnica, fundado por Mário Silva, que está em parte em curso de digitalização (projecto Rómulo Digital). A extinção daquele Museu foi decerto um acto lesivo do património cultural e a preservação da biblioteca é um dos meios de evitar os estragos. 

 Uma vez que a medicina é uma disciplina ensinada desde o início da UC, a Biblioteca de Ciências da Saúde, no pólo III, que reúne colecções de Medicina e de farmácia, dispõe de um notável espólio de livro médico e farmacêutico antigo, em particular sobre a Medicina em Coimbra no século XVI. 

Universidade de Évora (UE) 

 Existia uma importante “livraria” (biblioteca) jesuíta na UE que existiu durante dois séculos antes de ser encerrada às ordens do Marquês de Pombal, contendo muitos livros de ciência, que infelizmente acabou por se dispersar de uma forma desordenada após a expulsão dos jesuítas. Frei Manuel do Cenáculo, arcebispo de Évora, ficou com alguns desses livros e deu depois parte deles à que é hoje Biblioteca Pública de Évora, que fundou em 1805, enquanto outros foram parar a bibliotecas de Lisboa, como a Biblioteca da Real Mesa Censória, a Biblioteca do Colégio dos Nobres, e a Biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa. Alguns podem ter ido para a Universidade de Coimbra. A Biblioteca Pública de Évora, que não pertence à Universidade mas está perto dela, é hoje uma das mais notáveis bibliotecas históricas nacionais, não só pela antiguidade como pela riqueza das suas colecções, contrastando nesse aspectp com a actual biblioteca da Universidade de Évora, da qual só um núcleo está no Colégio do Espírito Santo, que era a sede da universidade jesuítica. 


 Universidade de Lisboa

 O primeiro núcleo documental da Biblioteca da Faculdade de Ciências da UL deve ter pertencido à Livraria da Casa do Noviciado da Companhia de Jesus. Esse fundo documental transitou, em 1761, para o recém-criado Real Colégio dos Nobres que recolheu o espólio das Livrarias da Companhia de Jesus antes da sua extinção, a que foram acrescentadas mais tarde as Livrarias do Convento de Santo Antão e Casa de São Roque e de outras casas conventuais. Em 1838 foi extinto o Real Colégio dos Nobre, tendo o edifício que ocupava passado para a Escola Politécnica, que era dotado de uma biblioteca que herdou a antiga Livraria. A Faculdade de Ciências que existe hoje é assim herdeira de um valioso espólio documental de inegável valor histórico e científico. Em 1993, a Biblioteca mudou-se das velhas instalações na Rua da Escola Politécnica para as novas no Campo Grande, tendo sido firmado um protocolo com o Museu da Politécnica segundo o qual as obras antigas e outras publicadas até 1936 permaneciam ali depositadas e disponíveis ao público. 

 A Biblioteca da Faculdade de Medicina de Lisboa teve o seu início em 1815, na Livraria Cirúrgica da Escola de Cirurgia, no Hospital de S. José. Em 1834, a onda liberal conduziu à extinção de conventos e mosteiros, transitando para a Biblioteca da Escola Médico-Cirúrgica parte dos livros de Medicina contidos nos seus preciosos espólios. Em 1910/11, a Biblioteca foi transferida para um novo edifício construído no Campo de Santana, para a Escola Médico-Cirúrgica. Em 1942, o Prof. Marck Athias publicou o primeiro catálogo da colecção de obras raras portuguesas. Em 1954, a Biblioteca foi de novo transferida para o edifício do Hospital (Escolar) de Santa Maria onde hoje permanece . 

 Universidade do Porto (UP) 

 O acervo bibliográfico da Faculdade de Ciências da UP, que está unificado, é vasto, e uma boa coleção de revistas científicas. Aquela Faculdade possui um fundo com obras anteriores a 1945, que se encontra em boa parte no edifício histórico da UP na Praça dos Leões onde se situa a Reitoria. O fundo ligado à história da FCUP, tendo a sua origem nas bibliotecas das escolas que a antecederam, designadamente: a Aula de Náutica (1762), a Aula de Debuxo e Desenho (1779), a Academia Real da Marinha e Comércio (1803), a Academia Politécnica (1837) e, finalmente, a UP, instituída em 1911. Em 2005 começou o Projecto de Informatização, Digitalização e Divulgação do Fundo Bibliográfico Antigo que recebeu apoio da Caixa Geral de Depósitos entre 2005 e 2007. O projecto incluiu desinfestação, preservação, catalogação e digitalização. A nova Biblioteca da Faculdade de Ciências da UP, inaugurada em 2012, fica num edifício do Campo Alegre. Esta Biblioteca, instalada em quatro pisos, alberga um valioso espólio bibliográfico. Excepto um acervo de Livro Antigo que está instalado em depósito na cave, todas as publicações são posteriores a 1945. As obras, numa extensão linear de cerca de 8m5 km, consagram várias áreas do conhecimento científico. Em depósito, no piso subterrâneo existem ainda muitas publicações periódicas e teses.

 Herdeira do rico espólio da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, a Faculdade de Medicina da UP tem uma bem fornecida biblioteca, com fundo antigo.

domingo, 24 de junho de 2018

"A civilização requer energia, mas o uso de energia não deve destruir a civilização!"

No início deste mês, o Papa Francisco recebeu no Vaticano representantes de multinacionais de energia e pediu-lhes que olhassem para a "nossa casa comum": o planeta. E para quem não tem, nessa casa, as condições de vida digna. O mundo e as pessoas têm de ser pensados em conjunto, se queremos salvar a civilização.

O registo escrito é de uma grande lucidez e sensibilidade. Considerado na sua globalidade, percebe-se que poderia ser assinado por um cientista, um filósofo ou um educador. Isto significa que não é a religião, a formação, a nacionalidade ou outro qualquer elemento distintivo que deve afastar quem tem boa-vontade para encarar um problema tão sério como o que está em causa.

Faço um extensa transcrição desse registo (que pode ser encontrado aqui) porque as palavras são, na verdade, necessárias.
Hoje, mais do que nunca, vastas áreas da nossa vida dependem de energia. Lamentavelmente, é um facto que grande número de pessoas no nosso mundo - segundo algumas estimativas, mais de um bilião - não tem acesso à eletricidade.  
Claramente, somos desafiados a encontrar maneiras de assegurar o imenso suprimento de energia necessário para atender às necessidades de todos, ao mesmo tempo que desenvolvemos meios de usar recursos naturais que evitem a criação de desequilíbrios ambientais que resultam em deterioração e poluição gravemente prejudiciais à nossa família humana, agora e no futuro. 
A qualidade do ar, o nível do mar, as reservas adequadas de água doce, o controlo climático e o equilíbrio de ecossistemas delicados, todos são necessariamente afetados pela maneira como os seres humanos satisfazem a sua “sede” de energia, muitas vezes, é triste dizê-lo, com graves disparidades. 
Não está certo saciar essa “sede” aumentando a sede física de outras pessoas por água, a sua pobreza ou a sua exclusão social. A maior necessidade de fornecimento de energia e mais prontamente disponível para operar máquinas não pode ser satisfeita com o preço de poluir o ar que respiramos. 
A necessidade de expandir espaços para as atividades humanas não pode ser satisfeita de maneira a comprometer seriamente a nossa própria existência ou a de outras espécies vivas na Terra. 
É uma «falsa noção pensar que uma quantidade infinita de energia e recursos está disponível, que é possível renová-la rapidamente, e que os efeitos negativos da exploração da ordem natural podem ser facilmente absorvidos» 
A questão da energia tornou-se um dos principais desafios, na teoria e na prática, diante da comunidade internacional. A forma como enfrentamos esse desafio determinará a nossa qualidade de vida em geral e a real possibilidade de resolver conflitos em diferentes áreas do mundo ou, devido a graves desequilíbrios ambientais e falta de acesso a energia, fornecendo-lhes novo combustível para destruir a estabilidade social e vidas humanas. 
Daí a necessidade de elaborar uma estratégia global de longo prazo capaz de proporcionar segurança energética e, ao estabelecer compromissos precisos para enfrentar o problema das mudanças climáticas, estimular a estabilidade económica, a saúde pública, a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento humano integral. É urgente mudar as fontes de energia. 
Na minha Encíclica "Laudato si'" apelei a todas as pessoas de boa vontade para o cuidado da nossa casa comum, e especificamente para uma «transição energética» que visasse evitar mudanças climáticas desastrosas que poderiam comprometer o bem-estar e o futuro da família humana e a nossa cada comum. 
A este respeito, é importante que sejam envidados sérios esforços para a transição para uma maior utilização de fontes de energia que sejam altamente eficientes, ao mesmo tempo que produzem baixos níveis de poluição. Este é um desafio de proporções epocais. 
Ao mesmo tempo, é uma oportunidade imensa para encorajar esforços que assegurar maior acesso à energia por parte dos países menos desenvolvidos, especialmente em áreas periféricas, bem como para diversificar as fontes de energia e promover o desenvolvimento sustentável de formas renováveis de energia. Emissões poluentes continuam altas, o que é «perturbador» 
Sabemos que os desafios que enfrentamos estão interligados. Se quisermos eliminar a pobreza e a fome, como exigem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, os mais de um bilião de pessoas que hoje não têm eletricidade precisam de ter acesso a ela. Mas essa energia também deve ser limpa, através de uma redução no uso sistemático de combustíveis fósseis. O nosso desejo de assegurar energia para todos não pode levar ao efeito indesejado de uma espiral de mudanças climáticas extremas devido a um aumento catastrófico das temperaturas globais, ambientes mais hostis e aumento dos níveis de pobreza. 
Como sabeis, em dezembro de 2015, 196 nações negociaram e adotaram o Acordo de Paris, com uma firme determinação de limitar o crescimento do aquecimento global a menos de 2° centígrados, com base nos níveis pré-industriais e, se possível, abaixo de 1,5° centígrados. Cerca de dois anos e meio depois, as emissões de dióxido de carbono e as concentrações atmosféricas de gases de efeito de estufa permanecem muito altas. Isso é perturbador e causa de preocupação real. 
Ainda mais preocupante é a busca continuada de novas reservas de combustível fóssil, quando o Acordo de Paris insistia claramente em manter a maioria dos combustíveis fósseis no subsolo. 
É por isso que precisamos de conversar juntos - indústria, investidores, investigadores e consumidores - sobre a transição e a busca de alternativas. 
A civilização requer energia, mas o uso de energia não deve destruir a civilização! 
A criação de um “mix” energético adequado é essencial para combater a poluição, eliminar a pobreza e promover a igualdade social. Esses aspetos reforçam-se muitas vezes mutuamente, uma vez que a cooperação no campo da energia influencia o alívio da pobreza, a promoção da inclusão social e a proteção do meio ambiente. 
Estes são objetivos que, para serem alcançados, exigem respeito pelos direitos dos povos e das culturas. Medidas fiscais e económicas, a transferência de capacidades tecnológicas e, mais genericamente, a cooperação regional e internacional em áreas como o acesso à informação, devem ser consistentes com esses objetivos. Estes não devem ser vistos como o produto de uma ideologia particular, mas como objetivos de uma sociedade civilizada que contribui para o crescimento económico e a ordem social. 
Qualquer exploração do meio ambiente que se recusasse a considerar essas questões de longo prazo poderia apenas tentar estimular um crescimento económico de curto prazo, mas a longo prazo teria certamente um impacto negativo, afetando a igualdade intergeracional e o processo de desenvolvimento. Uma avaliação crítica do impacto ambiental das decisões económicas será sempre necessária, a fim de levar em conta os seus custos humanos e ambientais de longo prazo. 
Na medida do possível, tal avaliação deve envolver instituições e comunidades locais nos processos de tomada de decisão.
Como resultado dos vossos esforços, houve progresso. As empresas de petróleo e gás estão a desenvolver abordagens mais cuidadosas para a avaliação do risco climático e a ajustar em concordância as suas práticas comerciais. Isso é louvável. Os investidores globais estão a apurar as suas estratégias de investimento para levar em conta questões ambientais e de sustentabilidade. 
Novas abordagens para “finanças verdes” estão a começar a surgir. O progresso foi de facto feito. Mas é suficiente? Vamos conseguir virar a página a tempo? Ninguém pode responder com certeza, mas a cada mês que passa o desafio da transição energética torna-se mais premente. Decisões políticas, responsabilidade social por parte da comunidade empresarial e critérios de investimento - tudo isso deve ser orientado pela busca do bem comum a longo prazo e pela solidariedade concreta entre as gerações. 
Não deve haver espaço para esforços oportunistas e cínicos para obter pequenos resultados parciais no curto prazo, enquanto se transferem custos e danos igualmente significativos para as gerações futuras. 
Há também razões éticas para avançar na transição energética global com um sentido de urgência. Como sabemos, todos são afetados pela crise climática. No entanto, os efeitos da mudança climática não são distribuídos uniformemente. São os pobres que mais sofrem com os estragos do aquecimento global, com a crescente perturbação no setor agrícola, a insegurança da água e a exposição a eventos climáticos severos. 
Muitos dos que menos podem pagar já estão a ser forçados a deixar as suas casas e a migrar para outros lugares que podem ou não ser bem acolhidos. Muitos mais precisarão de o fazer no futuro. 
A transição para a energia limpa e acessível é um dever que devemos a milhões dos nossos irmãos e irmãs em todo o mundo, países mais pobres e gerações ainda por vir. 
O progresso decisivo nesse caminho não pode ser feito sem uma consciência crescente de que todos nós fazemos parte de uma única família humana, unidos por laços de fraternidade e solidariedade. Só pensando e agindo com preocupação constante por essa unidade subjacente que supera todas as diferenças, só cultivando um sentido de solidariedade intergeracional universal, podemos posicionar-nos realmente e com determinação no caminho a seguir. 
Um mundo interdependente está a chamar-nos para conceber e implementar um projeto comum de longo prazo que invista hoje para construir para o futuro. 
O ar e a água não obedecem a leis diferentes consoante os países que atravessam; os poluentes não agem de forma diferente dependendo da localização geográfica: seguem as mesmas regras em todos os lugares. 
Os problemas ambientais e energéticos têm agora impacto e extensão global. Consequentemente, exigem respostas globais, a serem buscadas com paciência e diálogo e a serem perseguidas racional e perseverantemente. 
A confiança ilimitada nos mercados e na tecnologia levou muitas pessoas a acreditar que as mudanças nos sistemas económicos ou tecnológicos seriam suficientes para remediar os atuais desequilíbrios ecológicos e sociais. 
No entanto, devemos reconhecer que a procura pelo crescimento económico contínuo levou a graves consequências ecológicas e sociais, já que o nosso atual sistema económico prospera com a crescente extração, consumo e desperdício (...). 
Refletir sobre essas questões culturais subjacentes mais profundas leva-nos a pensar de novo sobre o próprio propósito da vida. «Não pode haver renovação de nossa relação com a natureza sem uma renovação da própria humanidade» ("Laudato si’", 118). 
Tal renovação exige uma nova forma de liderança, e esses líderes devem ter uma perceção clara e profunda de que a Terra é um sistema único e que a humanidade, da mesma forma, é um todo único (...). 
Os deveres que temos para com o ambiente estão ligados com os deveres que temos para com a pessoa considerada em si mesma e em relação com os outros; não se podem exigir uns e espezinhar os outros. 
Esta é uma grave antinomia da mentalidade e do costume actual, que avilta a pessoa, transtorna o ambiente e prejudica a sociedade» ("Caritas in veritate", 51). 
Queridos irmãos e irmãs, apelo de forma particular a vós, como homens e mulheres tão grandemente abençoados em termos de talento e experiência. É minha esperança que, tendo demonstrado a vossa aptidão para a inovação e para melhorar a vida de muitas pessoas pela sua criatividade e experiência profissional, usareis essas habilidades ao serviço de duas grandes necessidades no mundo de hoje: o cuidado dos pobres e do meio ambiente. 
Convido-vos a serdes o núcleo de um grupo de líderes que visualize a transição energética global de uma maneira que leve em consideração todos os povos da Terra, bem como as futuras gerações e todas as espécies e ecossistemas. 
Que isso seja visto como a maior oportunidade de liderança de todos, que possa fazer uma diferença duradoura para a família humana e que possa apelar aos sonhos e ideias mais ousados. Isso não é algo que pode ser realizado por vós como indivíduos ou apenas pelas vossas empresas. Ainda assim, pelo menos trabalhando juntos, pode haver uma oportunidade para uma nova abordagem que não tenha sido evidenciada até agora (...).

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Ciência no sofá:"25 anos de Bartoon"

“O Hospital dos Lázaros em Coimbra: um olhar sobre o património" com o Dr. José Martins Nunes






“O Hospital dos Lázaros em Coimbra: um olhar sobre o património”

Na próxima terça-feira, dia 26 de Junho, pelas 18 horas, realiza-se no RÓMULO - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, situado no piso 0 do Departamento de Física da FCTUC, a palestra “O Hospital dos Lázaros em Coimbra: um olhar sobre o património”, pelo Dr. José Martins Nunes, médico que exerceu o cargo de Presidente do Conselho de Administração do CHUC e interessado pelas questões patrimoniais na área da saúde.

Criado no século XIII fora das portas da cidade, o Hospital dos Lázaros era destinado ao acolhimento dos doentes leprosos em Coimbra. Infelizmente, este património nacional de significativa importância para a história da Medicina em Portugal, encontra-se hoje em ruínas, ao abandono, após o edifício ter sido parcialmente demolido. Estas questões de história, memória e defesa do património serão abordadas, neste Ano Europeu do património Cultural, nesta palestra aberta à participação do público.

A sessão será dirigida por Carlos Fiolhais, Director do RÓMULO e, no final da sessão, aberta a todos os interessados em história, saúde e cultura, haverá lugar à troca de impressões do público com o orador.

Biografia resumida do orador:

Nascido em Faro em 1950, o Dr. Martins Nunes desempenhou vários cargos de gestão hospitalar no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), incluindo o de Presidente do Conselho de Administração. Foi membro externo da Assembleia Geral da Faculdade Farmácia da Universidade de Coimbra, vogal não executivo do Conselho de Administração do SUCH, membro externo do Conselho Geral da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, membro do Conselho Consultivo da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Curador da Fundação Portuguesa “Comunidade Contra a Sida”. Foi nos HUC Director do Serviço de Anestesiologia; Coordenador do Bloco Operatório Central, Diretor do Centro de Simulação Biomédica, Coordenador do Plano Diretor do Hospital de Celas, Adjunto do Conselho de Administração, Coordenador do Gabinete de Utente e Diretor Clínico Adjunto. Foi Secretário de Estado da Saúde de 1991 a 1993. Foi Representante do Ministro-adjunto do Primeiro-Ministro na Comissão Instaladora do Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependência. Publicou dezenas de trabalhos científicos em revistas nacionais e estrangeiras. Proferiu inúmeras conferências em Portugal e no estrangeiro, quer científicas, quer nas áreas de gestão e da organização hospitalar. Na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra deu aulas de Anestesiologia, na Cadeira de Propedêutica Cirúrgica. Na Ordem dos Médicos, foi membro eleito da Direcção do Colégio da Especialidade de Anestesiologia. Foi condecorado com a Ordem do Mérito, Grau de Comendador, em 2015. E  foi condecorado em 2018 com a medalha de mérito por serviços distintos do Ministério da Saúde.


Para mais informações:
RÓMULOCentro Ciência Viva da Universidade de Coimbra 
                     Maria Manuela Serra e Silva
                     Telefone – 239 410 699
                     E-Mail – ccvromulocarvalho@gmail.com
                     Facebook: http://www.facebook.com/profile.php?id=100002912006773

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...