sábado, 31 de maio de 2008

Pontapés na ciência


O Guardian publicou uma interessante notícia sobre um estudo publicado na revista Science, conduzido por Paola Sapienza, da Universidade de Northwestern (EUA). Segundo este estudo, os resultados que mostram que as estudantes do sexo feminino são piores a matemática do que as suas contrapartes masculinas devem-se a diferenças culturais e não à natureza. Em sociedades mais igualitárias, as estudantes têm resultados quase tão bons a matemática quanto os estudantes.

E eu não acredito nesta ciência. Porquê? Porque me parece ideologicamente motivada, para conduzir precisamente à conclusão que a investigadora queria desde o início: segundo as suas próprias palavras, “A nossa investigação mostra que em sociedades com maior igualdade sexual as raparigas ganham uma vantagem absoluta em relação aos rapazes” (itálico meu). E a mesma investigação que “provou” que as raparigas afinal são tão boas a matemática quanto os rapazes, não fosse a infeliz discriminação, não se incomodou em mostrar que os rapazes são tão bons quanto as raparigas na leitura, em sociedades com menos preconceitos machistas contra a leitura. Efectivamente, os estudos comparativos mostram sistematicamente que as raparigas sabem ler melhor do que os rapazes — mas ninguém tenta mostrar que esta diferença se deve também à cultura. Neste caso, como são as raparigas que são vistas como “superiores”, não é politicamente incorrecto aceitar os resultados tranquilamente.

Isto é tudo patranha. E da grande. É ciência ideológica, ciência politicamente correcta, ciência baseada numa mentira política. E baseia-se também numa confusão filosófica infantil: a confusão de pensar que, se acaso for verdade que os homens são melhores do que as mulheres em matemática, se segue algo de negativo para a sociedade. Na verdade, nada se segue, pois a melhor das matemáticas será sempre muitíssimo melhor do que a média dos homens a fazer matemática, tal como a mais rápida das atletas femininas de fundo corre muitíssimo mais depressa do que a média dos homens, ainda que o mais rápido dos atletas masculinos seja mais rápido do que a mais rápida das atletas femininas.

O que de mais negativo se segue para a sociedade não é o facto de as mulheres serem ou não menos dotadas naturalmente para a matemática. O que de mais negativo se segue para a sociedade é a investigação da verdade ser atropelada para se fingir que se demonstra o que é politicamente correcto demonstrar. Os maiores horrores da humanidade sempre se cometeram quando algumas pessoas fingiam já saber a verdade e tudo distorciam para depois a “provar cientificamente”. Que isto hoje se faça tranquilamente em universidades prestigiadas e se publique estas patranhas em revistas pretensamente de qualidade é um sinal dos tempos orwellianos em que vivemos, e no qual os políticos nem sequer têm de encomendar os resultados fingidos que querem às universidades: estas encarregam-se de os fazer, mesmo sem ninguém lhos pedir.

A história da história da Terra


Como tratei aqui recentemente de Lord Kelvin, vem a propósito transcrever aqui o capítulo do mau livro "Curiosidade Apaixonada" (Gradiva) que trata do problema da idade do nosso planeta:

Quando falamos em história da Terra, temos de nos referir a longos períodos de tempo, milhares de milhões de anos... Sabe-se hoje que a Terra tem cerca de quatro mil milhões de anos, mas demorou algum tempo a chegar a essa conclusão.

A busca da idade da Terra iniciou-se há mais de duzentos anos... O alemão Abraham Gottlob Werner (1749-1817) foi um dos pioneiros dessa busca. Werner, considerado um dos avós da geologia, defendia que a formação da Terra tinha sido um processo rápido e que todas as rochas se tinham depositado num oceano primordial, num espaço de tempo muito curto – esta é a chamada cronologia curta da Terra. A teoria werniana estava aliás de acordo com os conteúdos do “Génesis”, o primeiro livro da Bíblia (segundo o “Génesis”, Deus criou o Universo, incluindo a Terra, em escassos sete dias), e, talvez por isso, permaneceu, durante muitos anos, inabalada.

Acabou, porém, por ser questionada nos finais do século XVIII pelo geólogo inglês James Hutton (1726-1797). Hutton, ao observar rochas sedimentares depositadas horizontalmente sobre rochas dobradas, deduziu que estas teriam sido depositadas em diferentes épocas e que, portanto, era longa a história do nosso planeta – esta é a chamada cronologia longa da Terra. Em 1795, Hutton publicou o seu famoso livro “Theory of the Earth”, no qual expõe uma história geológica uniforme, permanente, sem início nem fim. Poder-se-ia mesmo falar de uma idade infinita para a Terra! Claro que, para os cristãos que levavam à letra a palavra bíblica, a ideia de um tempo infinito era uma verdadeira heresia, uma vez que proibia o acto criativo do Criador. Hoje já não é heresia: a teoria de Hutton serviu de base para as teorias de geologia e biologia que se lhe seguiram e, sabe-se hoje, está essencialmente correcta.

Charles Lyell (1797-1875), outro geológo inglês, foi um seguidor das ideias de Hutton. Considerado por muitos o pai da geologia, publicou entre 1830 e 1833 o livro fundador dessa ciência - “Principles of Geology” (em três volumes) - , onde defendeu as ideias de Hutton contra as de Werner. Lyell datou rochas através dos fósseis que eles continham, tendo concluído que a Terra teria milhões de anos e, mais ainda, que teria mudado lentamente ao longo de todo esse tempo, devido a factores como a erosão. O princípio do uniformismo defendido por Hutton ganhou nessa altura tal preponderância que, a partir de meados do século XIX, a Bíblia quase desapareceu do estudo da história da Terra...

Ainda outro inglês, Charles Darwin (1809-1882), o famosíssimo proponente da teoria da evolução, foi um adepto das ideias do seu amigo Lyell, tendo feito amplo uso delas na sua teoria. Por sua vez, Lyell, que antes acreditava que as espécies se tinham mantido imutáveis ao longo dos tempos, tornou-se, quando conhece a teoria de Darwin, um dos seus mais acérrimos defensores. O desenvolvimento da estratigrafia e da paleontologia, já preliminarmente estudadas por sábios como Leonardo da Vinci e Antoine Lavoisier, ajudou à aceitação das teses uniformistas de Hutton e Lyell. O estudo dos fósseis permitiu entender as sequências dos estratos e, portanto, conhecer melhor a história da Terra.

Em 1859, Darwin estimou em 300 milhões de anos, um tempo claramente longo, o período de escavação de um grande vale inglês. Esse cálculo concordava “grosso modo” com um outro relativo à salinidade dos oceanos, que fixava em cerca de 100 milhões de anos o tempo necessário para salinizar toda a água do mar.

Mas, em 1863, o eminente físico William Thomson (1824-1907), mais conhecido pelo título de Lorde Kelvin, que na altura era considerado o “papa” da Física (Kelvin foi um dos autores da Segunda Lei da Termodinâmica, que marcou a física do século XIX) voltou, embora obviamente sem invocar a Bíblia, às ideias da cronologia curta. Baseado na Primeira Lei da Termodinâmica, estudou o fluxo de calor emitido pela Terra, concluindo que o nosso planeta teria, no máximo dos máximos, 100 milhões de anos. Em 1987, Kelvin, depois de efectuar novos cálculos, atribuiu à Terra cerca de 20 milhões de anos, um valor tão pequeno que provocou um grande alvoroço entre os geólogos. Lyell respondeu-lhe afirmando que haveria reacções químicas no interior da Terra que não tinham sido consideradas nesses cálculos... Não conseguiu porém demover o teimosíssimo Kelvin, que, quando muito, estava apenas disposto a admitir o valor de 40 milhões de anos.

Kelvin estava rotundamente enganado! A chave para mostrar o seu erro só apareceria mais tarde, em 1896, com a descoberta da radioactividade pelo físico francês Henri Becquerel (1852-1908). A Terra contém no seu interior rochas radioactivas, mas o fenómeno da radioactividade, que está associado à emissão de calor, não entrava nos cálculos de Kelvin...

Curiosamente, foi a radioactividade de algumas rochas naturais que permitiu finalmente datar com precisão o planeta Terra. Um dos geólogos mais ilustres do século XX foi o britânico Arthur Holmes (1890-1965). Holmes, depois de investigar o problema da datação da Terra, concluiu que a Terra teria uma idade entre 1,4 e 3 mil milhões de anos. Numerosas determinações posteriores deram à Terra, como de resto ao sistema solar (a Terra tem a idade do sistema planetário que integra), a idade um pouco maior de 4,5 mil milhões de anos. Não é um tempo infinito como defendia Hutton, mas é muito maior do que o tempo bíblico ou do que o tempo de Kelvin...

Kelvin não viveu o suficiente para reconhecer o seu erro... Mas esta história da história da Terra mostra como a ciência avança ao reconhecer os seus erros. E mostra, principalmente, que é o diálogo entre as disciplinas científicas, neste caso a geologia e a física, que acelera a construção do conhecimento científico.

Segunda parte da entrevista a Swinburne

VIDA EM MARTE?


Minha crónica no "Sol" de hoje (na foto pode ver-se o DVD "Visions of Marte" sobre a sonda, ao lado da bandeira norte-americana):

A resposta à pergunta "Há vida em Marte?" tem sido intensamente procurada pelos terrestres. De facto, só conhecemos vida na Terra. É não só possível como provável que haja vida noutros sítios do imenso cosmos. Marte está mesmo perto, é o planeta mais próximo do nosso depois de Vénus, que é um verdadeiro inferno e não pode, por isso, abrigar seres vivos.

Depois de um voo de dez meses, a sonda Fénix da NASA, numa colaboração com a Universidade de Arizona, em Phoenix, nos Estados Unidos, pousou perto do pólo Norte de Marte no dia 25 de Maio passado. Foi um verdadeiro alívio no centro de controlo quando a sonda, já em solo marciano, respondeu à chamada, uma vez que a exploração de Marte parecia amaldiçoada. Dos 19 engenhos enviados nos últimos dez anos, cerca de metade tinham falhado. Agora, felizmente, tudo correu bem e ao leitor bastará ir aqui , para ver vários retratos de Marte acabadinhos de tirar.

O norte-americano Ray Bradbury, que está vivo, escreveu nas suas “Crónicas Marcianas” que os marcianos somos nós quando chegarmos a Marte. De facto, através desta e das sondas anteriores, estamos a preparar a viagem. Com certeza que a Fénix não encontrará homenzinhos verdes, mais ou menos semelhantes a nós, mas poderá encontrar microorganismos. Seria um grande acontecimento para a ciência e, em geral, para a humanidade. A sonda dispõe de um braço robótico com mais de dois metros que vai escavar o solo do planeta vermelho na tentativa de os encontrar. Suspeita-se que a superfície fria do norte de Marte esconda gelo. Já se sabe que há água, água gelada, em Marte. E a água é uma das substâncias essenciais para a vida tal como a conhecemos aqui.

Os microorganismos não lêem. Mas a Fénix tem a bordo uma biblioteca, a primeira biblioteca em Marte. Trata-se do DVD “Visions of Mars”, que compila o melhor do que já foi escrito sobre Marte: não só Bradbury, mas também Wells, Burroughs, Asimov e Clarke. A voz de Sir Arthur Clarke, recentemente falecido, está lá gravada, numa saudação aos futuros marcianos...

sexta-feira, 30 de maio de 2008

NÚMERO DA "SKEPTIC" SOBRE CLIMA


Ainda sobre cepticismo e aquecimento global. O último número da revista norte-americana "Skeptic", dirigida por Michael Shermer, e órgão da Skeptics Society, com sede na Califórnia, é precisamente dedicado a esse assunto. Logo o primeiro artigo "A Climate of Belief" do químico Patrick Frank, é claro: "The claim that anthropogenic CO2 is responsible for the current warming of Earth climate is scientifically insupportable because climate models are unreliable". Mas há mais artigos. Bem, eu sei que a opinião dominante neste momento é a de que não só há aquecimento global como ele é causado principalmente pelo homem. Mas, como Dyson, julgo que os argumentos dos cépticos sobre a origem humana desse aquecimento devem ser escutados. É da discussão que nasce a luz...

Quem quiser ler o artigo de Frank assim como outros bastará ir aqui.

Contra o Acordo Ortográfico

Os organizadores do Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa entregaram hoje ao Presidente da República pareceres científicos contrários ao Acordo Ortográfico. Notícia aqui.

O Manifesto conta já quase com 50 mil assinaturas, ultrapassando em muito as 4 mil assinaturas necessárias para obrigar legalmente a Assembleia da República a discutir o Manifesto. Note-se que o Presidente da República pode ainda vetar o Acordo Ortográfico, aprovado pela Assembleia da República.

Há dois aspectos diferentes que estão em causa.

O primeiro é puramente linguístico: o acordo propõe mudanças ortográficas absurdas, que retiram poder expressivo à língua, como passar a escrever "veem" quer para dizer que as pessoas vêem os lírios do campo quer para dizer que as pessoas vêm juntas à festa. Quem usa a língua profissionalmente como eu para mais do que comprar batatas sabe que a língua portuguesa já está depauperada tal como está, dada a quase ausência de produção científica e cultural sofisticada em português. Este acordo torna a língua ainda mais pobre e ridícula. Não por causa do "ótimo", que não vejo problema algum em passar a escrever sem "p", mas por muitas outras palermices, como a referida.

O segundo é puramente político: o estado não deve legislar sobre a língua, a não ser que tenha razões muito fortes e claras para isso. Essas razões não existem neste caso. É falso que este acordo unifique a língua, que é o argumento usado pelos seus defensores; é falso que tal unificação, a existir, permitiria uma maior expansão internacional da língua; e é falso que tal unificação facilita a elaboração de documentos burocráticos internacionais. Tudo isto são mentiras políticas para justificar o injustificável.

As verdadeiras razões são outras: os linguistas portugueses que elaboraram este acordo sentem-se em dívida para com o Brasil por causa de todas as divergências que tiveram no passado com os colegas brasileiros. O Brasil, por seu lado, encara o Acordo como uma maneira simples de passar a legislar sobre a língua portuguesa tal como esta é usada em África, coisa que não acontecia até agora, porque os países africanos seguiam a norma portuguesa, e não a brasileira. Ou seja, o Brasil está a assumir-se como potência colonizadora face aos países africanos. No meu entender isto é absurdo: os países africanos devem elaborar as suas próprias normas gramaticais e ortográficas e tipográficas, tal como têm o seu próprio léxico. Isto é exactamente o que acontece com os muitos países que usam a língua inglesa, mas com léxicos, ortografias e normas tipográficas distintas (Inglaterra, EUA, Austrália, África do Sul, etc.). Mas, claro, estamos a falar de países com longas tradições de liberdade, coisa que não acontece no caso do Brasil nem de Portugal, países cujas ditaduras só muito recentemente foram abolidas. E a mentalidade dos linguistas destes países, assim como dos políticos e burocratas, continua ainda firmemente implantada nos tempos da outra senhora.

DYSON SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL

Sobre o controverso assunto do aquecimento global, que já inflamou as páginas deste blogue, vale a pena ouvir a voz sábia e ponderada do físico Freeman Dyson, professor jubilado do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, no sempre muito interessante "The New York Review of Books" (para mim o melhor jornal cultural do mundo). Termina assim o seu artigo em que analisa dois livros recentes sobre o aquecimento global:

“O ponto principal é da ordem da religião e não da ciência. Existe uma religião secular espalhada pelo mundo à qual podemos chamar ambientalismo, defendendo que somos servos da Terra, que espalhar pelo planeta os produtos residuais da nossa vida luxuosa é um pecado, e que o caminho para a salvação é uma vida o mais frugal possível. A ética do ambientalismo está a ser ensinada nos jardins de infância, escolas e universidades por todo o mundo.

O ambientalismo substituiu o socialismo como a religião secular dominante. E a ética do ambientalismo está essencialmente certa. Os cientistas e os economistas podem concordar com os monges budistas e com os cristão activistas em que a cruel destruição dos habitats naturais é um mal e que a preservação cuidadosa dos pássaros e das borboletas é um bem. A comunidade mundial dos ambientalistas – a maior parte dos quais não são cientistas – levanta a moral bem alto e está a guiar a sociedade humana para um futuro esperançoso. O ambientalismo, como religião da esperança e do respeito pela Natureza, está para ficar. Esta é uma religião que todos nós podemos partilhar, quer acreditemos ou não que o aquecimento global é maléfico.

Infelizmente, alguns membros dos movimentos ambientalistas também tomaram como ponto de fé que o aquecimento global é a maior ameaça à ecologia do nosso planeta. É esta a razão porque os argumentos sobre o aquecimento global se tornaram azedos e apaixonados. Muita gente acredita que um céptico sobre os perigos do aquecimento global é um inimigo do ambiente. Os cépticos enfrentam agora a tarefa difícil de convencer o público de que o oposto é que é verdade. Muitos cépticos são ambientalistas apaixonados. Estão porém horrorizados ao ver a obsessão com o aquecimento global está a distrair o público de perigos mais sérios e mais imediatos para o planeta, incluindo problemas de armamento nuclear, de degradação ambiental e de injustiça social. Quer estejam certos ou errados os seus argumentos merecem ser ouvidos.”

Freeman Dyson, “The question of global warming", "The New York Review of Books", 12 de Junho de 2008.

Português neutro

Eis um testemunho muitíssimo relevante para se entender quão sofístico é o argumento de que o Acordo Ortográfico será um passo para unificar as variantes da língua portuguesa: "Português Neutro", de Helena Araújo. Só não vê isto quem é cego, como é o caso do Miguel RM: tratando-se de alguém que escreve com tino e calma sobre o tema, não consegue contudo articular um único argumento minimamente plausível a favor do Acordo Ortográfico.

A blogosfera segundo a SIC

Ontem, a Sic dedicou o seu programa «Aqui e Agora» ao tema internet com especial incidência no papel (muito negativo) dos blogs. O tom do programa foi tal que os protestos se sucedem na blogosfera. José Gameiro foi o único interveniente no debate a prestar um contributo equilibrado, ouvindo os restantes pensar-se-ia que os bloggers não passam de criminosos sortidos, de terroristas a pedófilos, passando por traficantes de armas e drogas e afins.

Mais concretamente, de acordo com Moita Flores, os blogs «São mundos de devassa e violentação», aliás, aparentemente os bloggers não passam de caluniadores que espalham verrina, veneno, difamação e injúria.

Não sei exactamente qual foi a motivação subjacente a este programa mas o tom faccioso deste, para além de me impelir a mostrar o meu desagrado em relação à forma biased com que a blogosfera foi apresentada, leva-me a recuperar o debate que iniciei há quase um ano sobre «Comunicação social tradicional e blogs». E recupero novamente a pergunta que deixei no final do post: fará sentido falar em «código deontológico» ou ética dos bloggers?

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A reforma ortográfica vista do outro lado

Daqui do Brasil chega-me esta interessante opinião de Hélio Schwartsman sobre o Acordo Ortográfico. É um dos poucos autores que vê o problema central onde eu o vejo: na ingerência inadmissível do estado na língua. Leia aqui. (Agradeço a José Costa Júnior por me enviar o artigo.)

NADIR AFONSO E EINSTEIN


Acaba de ser publicado na editora Chaves Ferreira o livro de Nadir Afonso "Nadir face a face com Einstein". O arquitecto e pintor, nascido em Chaves em 1920 e com estadas no Brasil e na França, é um dos artistas portugueses mais originais, nomeadamente na teorização da sua linha estética e na procura de cruzamentos entre a arte e a ciência. Este livro vem na sequência de outros onde o artista interpreta (e interpela) a teoria da relatividade de Albert Einstein. Tive o privilégio de ouvir ao vivo numa sessão no Porto em 2005 quando foi celebrado o centenário daquela teoria. Esperando poder voltar ao livro, eis uma citação:

"A solução do problema cósmico, na mesma via perceptiva do fenómeno artístico, requer, à partida, um acto de reflexão fundado sobre o conceito de elementaridade e de simplicidade".

"As Vespas" no Museu do Vinho

Informação recebida do Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra:

O X Festival de Teatro de Tema Clássico prossegue a sua programação de 2008 amanhã, dia 30 de Maio, com a apresentação da peça As Vespas de Aristófanes, pelo Grupo Thíasos, no Museu do Vinho em Anadia. O espectáculo tem início às 21h30.

Aristófanes, AS VESPAS
Grupo Thíasos do IEC

Sinopse
Apresentadas pela primeira vez em 422 a.C., no contexto da Guerra do Peloponeso, e obra de um Aristófanes já firmemente posicionado no panorama cómico ateniense, Vespas procura testar as diversas iguarias de cómico, entre a tradição e a novidade, e tem de ser entendida como reacção ao desaire que constituiu, para o seu autor, o não reconhecimento do mérito da comédia apresentada no ano anterior, Nuvens.
No comum cenário do exterior de uma casa de Atenas, Aristófanes procura satirizar o mau funcionamento das instituições democráticas, centrando-se, sobretudo, nos tribunais, que apresenta, na pessoa de Filócleon e do próprio coro, como uma obsessão dos cidadãos mais envelhecidos, que só aí encontram a sua fonte de rendimento. Recriando-se em cena um tribunal doméstico, onde arguido e acusado são dois cães – porém representativos de dois políticos da ribalta, nesse tempo bem conhecidos –, torna-se a cada passo manifesta a corrupção que domina as instituições jurídicas do tempo.

Tradução do grego: Carlos A. Martins de Jesus
Encenação: Carlos A. Martins de Jesus
Figurinos: Luísa de Nazaré Ferreira e Maria Valente
Composição musical: Paulo Pedrosa e José Luís Brandão
Selecção musical: Carlos Jesus
Sonoplastia: Carla Cerqueira
Luminotecnia: Rodolfo Lopes e Carlos Santos
Cenografia: Carlos Santos, José Luís Brandão e Carla Braz
Com: José Luís Brandão (Filócleon), Carlos Jesus (Bdelícleon), Artur
Magalhães (Xântias), Mário Gomes Pais (Sósias), Susana Bastos, (Mírtia), Carla Correia (Dárdanis), Ângela Leão (Cão Cidateneu), Bruno Fernandes, (Corifeu),
Mariana Matias, Ândrea Seiça, Nelson Henrique, Carla Rosa, Nilce Carvalho,
Susana Rosa, Amélia Álvaro de Campos, Miguel Sena.

Contactos:
FESTEA-Tema Clássico (Associação Promotora)
Instituto de Estudos Clássicos, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
Largo da Porta Férrea, 3004-530 Coimbra
967685736 / 962565797 / 962565710 / 962565810
teaclass@ci.uc.pt

Humor - A tortura das aulas

AINDA CAMÕES E A CIÊNCIA


Informação complementar recebida do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra:

No dia 11 de Junho, às 17.30, a seguir ao Colóquio "Camões e a Ciência"
e também no Anfiteatro do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra,
terá lugar a apresentação por Carlos Ascenso André do livro de ensaios
camonianos da autoria de Vitor Aguiar e Silva "A Lira Dourada e a Tuba Canora", seguida de uma recitação de poemas de Camões por Manuel Alegre.

Swinburne sobre Deus

Entrevistei há uns meses o filósofo Richard Swinburne, um dos mais importantes filósofos da religião contemporâneos. A entrevista está finalmente online, sem legendas, contudo. As minhas desculpas a quem não domina a língua inglesa. Esta é a primeira parte da entrevista.

Quem matou o carro eléctrico?


Em Junho de 2006 estreou um documentário de Chris Paine sobre a morte do carro eléctrico nos Estados Unidos. O documentário conta a história dos carros eléctricos neste país, com especial ênfase na história recente. Pela voz fabulosa de Martin Sheen acompanhamos o desenvolvimento, a comercialização e retirada do mercado de veículos eléctricos, nomeadamente o General Motors EV1, nos anos noventa do século passado. Embora não abordadas no documentário, as histórias do Ford Ranger EV, Honda EV Plus ou do Toyota RAV4 EV são muito semelhantes.

Em relação a este último, a Toyota anunciou em 2003 que o retirava do mercado porque não havia compradores em número suficiente para justificar a sua produção.

Numa altura em que o preço dos combustíveis aumenta quasi diariamente, os carros eléctricos começam a parecer uma excelente opção para muitos. Embora alguns carros eléctricos, como o Reva G-Wiz i, muito popular em Londres pelas razões óbvias, mereçam ainda críticas muito negativas, diria que se disponibilizados no mercado a preços acessíveis existiriam nesta altura muitos potenciais compradores para carros movidos a algo que não um derivado do petróleo.

Pessoalmente não vejo nada de negativo no LiV™ SURGE, um PT Cruiser a baterias de lítio, com uma autonomia de cerca de 200 km e uma velocidade máxima de 128 km/h. A não ser o preço, claro!

UM CASAMENTO NO FUNCHAL


Sir William Thomson, o primeiro e único Barão Kelvin, nasceu em 26 de Junho de 1824 em Belfast, na Irlanda do Norte, e morreu em 17 de Dezembro de 1907 na sua residência em Largs, na Escócia (fez no ano passado cem anos). Tendo estudado nas Universidades de Glasgow e de Cambridge, foi professor durante muitos anos na primeira dessas escolas. Considerado um dos físicos mais famosos do século XIX, talvez mesmo o mais famoso da segunda metade desse século, deu notáveis contributos à termodinâmica (é dele não só um enunciado da segunda lei como a escala de temperaturas absolutas ou escala Kelvin) e ao electromagnetismo e óptica (criou vários instrumentos, alguns dos quais têm hoje o seu nome). Devido à resolução de problemas práticos de telegrafia por cabo submarino recebeu as maiores honrarias da coroa britânica. Presidiu à Royal Society entre 1890 e 1895, onde era Fellow desde 1851. Kelvin foi grande em tudo até nos erros: é dele o cálculo errado da idade da Terra (ver, por exemplo, o meu livro "Curiosidade Apaixonada"), a descrença no atomismo e a previsão de que objectos mais pesados do que o ar jamais voariam. Ficou também famosa a sua asserção de que a física no final do século XIX teria resolvido todos os problemas, havendo apenas "duas pequenas nuvens" (revelou uma grande premonição: uma era a experiência de Michelson-Morley, que deu a teoria da relatividade, e outra era o problema da radiação do corpo negro, que deu a teoria quântica).

Tudo isto é bem conhecido, pois vem em qualquer biografia do grande sábio. O que não é tão conhecido, pelo menos em Portugal, é que o seu segundo casamento, depois da morte da sua primeira mulher, se efectuou no dia 24 de Junho de 1874, dois dias antes de completar 50 anos, no Funchal, na Ilha da Madeira, na Capela do Consulado Britânico. A noiva era Frances Anna Blandy, filha de Charles R. Blandy, um comerciante inglês estabelecido na Madeira (ainda hoje essa família está na Madeira, gerindo os vinhos Blandy, o "Diário de Notícias" do Funchal e outros negócios, não sendo da particular simpatia de Alberto João Jardim), que ele tinha conhecido no ano anterior, quando o seu veleiro, o Lalla Rookh, esteve retido na Madeira por avaria, durante uma campanha de lançamento do cabo submarino de Lisboa para o Brasil. Tendo-se enamorado de Frances, 13 anos mais nova do que ele, o pedido de casamento - "Will you marry me?" - foi feito em Maio de 1874 por sinais a bordo do veleiro ao largo do Funchal. A resposta, que não demorou, foi "Yes". Os dois habitaram uma rica mansão na Escócia, mas não deixaram descendentes, pelo que o título de Kelvin (o nome de um regato que passa na Universidade de Glasgow) foi extinto pela morte do seu titular. A foto mostra o barão e a baronesa Kelvin, em 1892, no dia da elevação ao baronato. Esta notícia do "New York Times" de 1902 relata uma visita do famoso casal a Nova Iorque.

Não sei se e quantas vezes Lord Kelvin voltou à Madeira, ou mais em geral a Portugal, depois do casamento, mas talvez alguns dos leitores saiba...

A CRIAÇÃO


Informação recebida do Café Scientifique de Braga (na foto Stuart Kauffmann):

Segunda, 16 de Junho de 2008, 21h45

Estaleiro Cultural Velha-a-Branca

A criação

Doutor Ricardo Severino
Departamento de Matemática da Universidade do Minho

Quatro décadas após o primeiro trabalho publicado, a teoria da origem da vida de Stuart Kauffman continua a ser pouco conhecida e discutida nos meios académicos. É este o moto para uma conversa à volta da ciência e da sua construção. E da extraordinária ideia de Kauffman, claro está.

O Café Scientifique é um espaço de discussão informal, de entrada livre, que pretende trazer ao público geral as inovações científicas pela mão dos "experts" na área. Com base no Reino Unido, o Café Scientifique tem filiais em todos os continentes, sendo esta a primeira na Península Ibérica.

Café Scientifique Braga

"Em nome da cultura e da divulgação científica"

www.csbraga.blogspot.com
www.velha-a-branca.net
www.mesadaciencia.blogspot.com

HUMOR - Quadros não interactivos

Astronomia em Crescente


Informação recebida do Nuclio- Núcleo Interactivo de Astronomia (na foto, o espectrómetro de uma outra experiência de determinação da massa de neutrinos, KATRIN):


Próxima sessão da "Astronomia em Crescente" no dia 7 de Junho por Maria José Gomes (Centro de Física Nuclear da Universidade de Lisnoa)

Os neutrinos são partículas elementares resultantes de decaimentos radioactivos ou reacções nucleares, tais como as que ocorrem no Sol ou quando os raios cósmicos embatem em átomos. Cada um de nós é atravessado por cerca de 50x1012 neutrinos solares por segundo. Os neutrinos têm uma interacção fraca com a matéria e por isso não damos por eles, no entanto são fundamentais para a compreensão microscópica e cosmológica da Natureza. Os neutrinos são as partículas elementares mais misteriosas e difíceis de detectar. Até hoje, apenas se conseguiu dar um limite superior para a massa do neutrino e que é pelo menos 250 000 vezes mais pequena do que a partícula elementar mais leve: o electrão. A determinação directa da massa do neutrino é o objectivo da colaboração internacional MARE, da qual Portugal faz parte. A experiência baseia-se no decaimento radioactivo do isótopo natural do Rhenium e usando detectores supercondutores ultra-sensíveis a temperaturas muito baixas (0.06 K), prevê começar a “caçar” neutrinos em 2010. Antes disso, será construído um kit-experimental que será usado por todos os laboratórios da colaboração espalhados pelo mundo. A contribuição do grupo de investigadores do Centro de Física Nuclear da Universidade de Lisboa será apresentada na palestra e quem sabe se não o convenço a juntar-se a nós!

A Astronomia em Crescente é uma actividade promovida pelo NUCLIO - Núcleo Interactivo de Astronomia, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais. As sessões decorrem normalmente aos Sábados próximo da fase de Quarto-Crescente da Lua. No final da apresentação e caso as condições meteorológicas o permitam, haverá uma sessão de observação nocturna com telescópios.

A actividade tem inicio às 21:30 no Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal, na Estrada Marginal, São Pedro do Estoril.

Mais informações: http://www.nuclio.pt/projectos/crescente.html


Astro.pt



Já fez um ano o Astro.pt, um blog muito interessante sobre astronomia. Veja-o aqui . Neste momento, os seus autores estão, como é natural, entusiasmados com a sonda Fénix em Marte (em cima uma bela paisagem marciana).

TV Ciência



Informação recebida do Canal TV Ciência:

Emissão de: 28 de Maio a 03 de Junho de 2008

Nesta semana pode ver as seguintes notícias no Jornal da Ciência

Roteiro da Ciência de Cavaco Silva dedicado às TIC

Dar a conhecer o que de melhor se faz em Portugal na área das Tecnologias de Informação e Comunicação, levou o Presidente da República Cavaco Silva a uma jornada de 2 dias por alguns Institutos Politécnicos e algumas empresas. As Tecnologias de Informação e Comunicação são na Europa uma das áreas de maior peso económico e em Portugal é necessária uma mais forte ligação entre a investigação e a Industria.

Inovadora técnica indolor de Radiocirurgia para combate a tumores no cérebro

Técnicas avançadas de combate a tumores no cérebro estão disponíveis em Portugal. Radiocirurgia Estereotáxica de dose única é uma intervenção médica que evita operações abertas. O tratamento apresenta um conjunto de vantagens e vem permitir dar novas esperanças aos doentes. Neste tratamento o doente mantém-se consciente durante todo o tempo e não necessita de cuidados pós-operatório.

Estudantes portugueses participam na II Mostra Nacional de Ciência

Jovens estudantes ou jovens cientistas. Na II Mostra Nacional de Ciência, estudantes de escolas secundárias de todo o país apresentam em Lisboa 79 projectos e experiências nas mais diversas áreas científicas. Projectos que foram avaliados por um júri no Concurso Jovens Cientistas e Investigadores. Um concurso com objectivo de fomentar o gosto dos jovens pela investigação científica.

Cientistas portugueses desenvolvem inovadora tecnologia transparente

Portugal está a revolucionar a era dos mostradores de informação ao produzir tecnologia com material transparente. Grupo de investigadores da Universidade Nova de Lisboa em parceria com a Samsung, desenvolveu uma nova tecnologia de endereçamento para mostradores planos, baseada em material transparente. Os novos mostradores podem vir a alterar todo o conceito de unidade de informação e o respectivo uso.

ESA aposta em tecnologia espacial de monitorização do degelo no Árctico

O degelo nos glaciares do Árctico é uma realidade e está a provocar alterações profundas na biodiversidade. A ESA está a utilizar satélites de sensores para monitorizar e fornecer dados aos centros de investigação mundiais para avaliar o ritmo do degelo. Em 2009, a ESA vai lançar um novo satélite com capacidade para monitorizar e medir a espessura das camadas de gelo para apoio à navegação marítima.

Pode assistir à emissão da TV Ciência nos seguintes canais:

Em Portugal: Canal CLP-TV - Rede TVTEL e por Satélite nos seguintes horários:

Dia 28 de Maio às 20:30 horas
Dia 30 de Maio às 10:17 horas; 16:18horas
Dia 01 de Junho às 11:52 horas; 16:32 horas
Dia 02 de Maio às 10:45 horas

Em Portugal: Canal RNTV - Rede TVTEL e por Satélite

Dia 31 de Maio às 11:00 horas

Em Portugal: Canal 6 - Rede Pluricanal

Todos os dias em vários horários

Na Europa: Rede de Cabo, Canal CLP-TV:

- Orange, posição 255
- Numericable, posição 321
- Numericable Paris, posição 642
- TPS Canalsat, posição 392
- Alice, posição 132
- N9uF, posição 514

Na Europa: Satélite, Canal CLP-TV:

- Hotbird 6/13º E, freq. 11.034MHZ
- Polarização V repetidor 126

Nos seguintes horários; (Hora Europeia)

Dia 28 de Maio às 21:31 horas
Dia 30 de Maio às 11:17 horas; 17:18 horas
Dia 01 de Junho às 12:52 horas; 17:32 horas
Dia 02 de Junho às 11:45 horas

Pode ainda ver o Jornal da Ciência em qualquer parte do mundo e a todas as meias horas em:

http://www.tvciencia.pt
http://videos.sapo.pt/QKYgK32JmHBRKtSWdnhs
http://www.ebu.ch/members/EBU_Media_portal_Trial_1.php (em P2P, necessita de plugin)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

UMA BIBLIOTECA EM MARTE


A sonda Phoenix que, no dia 25 de Maio, pousou perto do pólo Norte do planeta Marte leva consigo um mini-DVD, intitulado "Visions of Mars", criado pela Planetary Society, que contém, para além dos nomes dos sócios (eu sou) e de outras pessoas que se quiseram associar, uma selecção dos melhores livros de ficção sobre o planeta vermelho, que inclui obras de H. G. Wells, E.R. Burroughs, R. Bradbury, I. Asimov, C. Sagan e A. Clarke. Além disso, contém reproduções digitais de obras de arte e de alguns "shows" de rádio sobre Marte (o mais famoso foi o de Orson Wells, baseado em H.G. Wells).

A cereja em cima do bolo é o depoimento de Sir Arthur Clarke, o escritor de ficção científica recentemente falecido (foto em cima, que está incluída no disco), que se dirige aos futuros colonos de Marte. Ouça aqui...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Há vida em Marte?


Informação recebida do Observatório Astronómico de Lisboa e do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (na foto, imagem muito recente da sonda Phoenix no pólo Norte de Marte):

O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) promove Palestras públicas
mensais que têm lugar no Edifício Central, pelas 21h30 da última
sexta-feira de cada mês.

A próxima sessão decorrerá no dia 30 de Maio e terá como tema:

"Marte: Vivo ou Morto?"

Doutor José Saraiva, IST/CERENA

Com a chegada da sonda americana Phoenix (Fénix) à superfície de Marte,
dá-se um novo passo na exploração do planeta vermelho. É a primeira vez
que se estuda directamente uma região de alta latitude em Marte, e é de
esperar que se possa analisar não apenas o solo dessa região, mas também
o gelo que ele contém, e deslindar um pouco mais da história deste
mundo, ainda repleta de mistérios. Nesta palestra serão abordadas
questões como:

* a água em Marte, incluindo os dados e evidências sobre a sua
presença que foram sendo acumulados ao longo dos anos e das
missões espaciais;
* a possibilidade de vida em Marte, lembrando a história desta
velha polémica;
* a história geológica do planeta, as suas semelhanças e
diferenças com a Terra;
* os projectos para a continuação da exploração de Marte, e o
papel de Portugal nesse programa.

VIDEODIFUSÃO DA PALESTRA PÚBLICA

O OAL retoma a transmissão das suas Palestras Mensais através da Internet. No dia 30 de Maio a partir das 21h30 visite o seguinte endereço:
http://live.fccn.pt/oal/

A entrada na Tapada da Ajuda faz-se pelo portão da Calçada da Tapada, em
frente ao Instituto Superior de Agronomia. No final de cada palestra, e caso o estado do tempo o permita, fazem-se observações dos corpos celestes com telescópio. Convida-se o público a trazer os seus binóculos ou mesmo pequenos telescópios caso queiram realizar as suas próprias observações ou ser ajudados com o seu funcionamento.

Para mais informações use o telefone 213616730, ou consulte:
http://www.oal.ul.pt/palestras

Times de Londres sobre o desacordo ortográfico

Aqui, via Enxuto.

CAMÕES E A CIÊNCIA


Recebemos em primeira mão a informação do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra sobre o COLÓQUIO CAMÕES E A CIÊNCIA:


11 JUNHO 08

Associando-se às celebrações do Dia de Camões, em genuíno espírito de interdisciplinaridade universitária, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e o Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos promovem o Colóquio CAMÕES E A CIÊNCIA.

Os participantes do Colóquio e os visitantes do Museu da Ciência terão a oportunidade de conhecer a 1ª edição d'Os Lusíadas (1572), exposta durante o dia, graças à colaboração da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.

PROGRAMA:
10h00-10h15: Sessão de abertura
10h15-10h45: Curiosidades das plantas camonianas, Jorge Paiva, Investigador do Departamento de Botânica da FCTUC
10h45-11h15: A intertextualidade clássica n’ Os Lusíadas - traduzir, imitar e superar Virgílio, Arie Pos, Leitorado de Neerlandês da FLUC
11h15-11h30: Café
11h30-12h00: Camões e a Química - A Química em Camões, Armando Tavares da Silva, Professor Catedrático Aposentado do Departamento de Engenharia Química da FCTUC
12h00-12h30: 'Estas fábulas vãs, tão bem sonhadas': Função e Fortuna do Sonho n' Os Lusíadas, Manuel Ferro, Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos e FLUC

14h00-14h30: Visita ao Museu da Ciência
14h30-15h00: Camões, poeta pelo mundo em pedaços repartido, Aníbal Pinto de Castro, Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos e Professor Catedrático Aposentado da FLUC
15h00-15h30: A viagem de Vasco da Gama, António Costa Canas, Escola Naval e Centro de História da Ciência da UL
15h30-16h00: A matéria médica no tempo de Camões, Alfredo Rasteiro, Professor Catedrático Aposentado da FMUC
16h00-16h15: Café
16h15-16h45: Crise de conhecimento na lírica de Camões, José Carlos Seabra Pereira, Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos e FLUC
16h45-17h30: Debate

CONTACTOS
Museu da Ciência
Laboratorio Chimico
Largo Marquês de Pombal
3000-272 Coimbra
T. 239 85 43 50
F. 239 85 43 59
geral@museudaciencia.pt
www.museudaciencia.pt

20 euros (geral)
10 euros (estudante)
inscrição prévia até 6 de Junho

Organização
Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos
Colaboração da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Humor - Código genético

Sondagens no fundo do mar


Informação recebida do Prof. Fernando Barriga, delegado nacional ao ECORD - European Consortium for Oceanic Research Drill:

Realiza-se no próximo dia 28 de Maio, pelas 15 horas, na magnífica Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, a última sessão do ciclo de conferências organizado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia para ampliar a percepção pública do interesse ímpar do Programa Integrado de Sondagens Oceânicas, no qual Portugal figura como membro fundador do ramo europeu, o ECORD (European Consortium for Oceanic Reseach Drilling).

A sessão é um verdadeiro Seminário, com três intervenções, por especialistas noutras tantas áreas que se desenvolveram na dependência da realização de sondagens no fundo do mar - a Terra debaixo do mar!

Eu próprio serei um dos oradores e tentarei mostrar como o estudo da crosta submarina oferece oportunidades ímpares para avanços essenciais no nosso conhecimento acerca da dinâmica da Terra, que exigem contribuições de um leque muito variado de especialidades científicas, da Mineralogia e Geoquímica à Tectónica e Geofísica e também da Biologia, todas com ampla participação de físicos, químicos e bioquímicos, e um mundo de disciplinas de engenharia.

A doutora Fátima Abrantes apresentará as provas das mudanças climáticas registadas nos sedimentos que se acumularam ao longo do tempo, um tema da maior importância para todos nós.

A convidada principal, a doutora Judith MacKenzie, apresentará, com a paixão contagiante que caracteriza todas as suas palestras, um dos temas de maior interesse e actualidade das ciências: a biosfera profunda, que, nos últimos anos anos, mudou radicalmente a nossa percepção da verdadeira dimensão da ocupação da Terra por seres vivos. A não perder!

Esta sessão é uma oportunidade única para, de forma realmente simples e aliciante, termos um panorama acerca do que vai chegando da última fronteira terrestre, o fundo do mar.

28 de Maio, quarta-feira, pelas 15 horas,
Na Academia das Ciências de Lisboa
Rua da Academia das Ciências, 19 (a S. Bento)
Entrada livre
http://e-geo.ineti.pt/ecord/eventos/terra_debaixo_mar/default.htm

Fernando J.A.S. Barriga
Delegado de Portugal ao Council do ECORD

Ensaios de Poincaré


A editora Contraponto do Brasil informa que saiu o volume "Ensaios Fundamentais", de Henri Poincaré (tradução: Vera Ribeiro; organização: Antônio Augusto Passos Videira e Ildeu de Castro Moreira):

Ainda em vida, Henri Poincaré (1854-1912) foi considerado por Bertrand Russell como “a maior figura produzida pela França nos tempos modernos”. A originalidade de suas idéias e as metodologias que inventou não apenas marcaram profundamente a matemática, a física e a astronomia, mas estão na origem de parte significativa dos atuais desenvolvimentos dessas disciplinas. Expunha suas idéias com tal brilho, elegância e clareza que terminou acolhido na Academia Francesa. Poincaré publicou cerca de quinhentos trabalhos, principalmente em mecânica celeste, física, engenharia e em todas as áreas da matemática, pura e aplicada. Foi membro de 35 sociedades científicas de todo o mundo e doutor honoris causa de diversas universidades. Recebeu inúmeros prêmios. Ensaios Fundamentais, que as editoras Contraponto e PUC-RJ agora publicam, resulta de um trabalho de pesquisa realizado por dois historiadores da ciência, Antônio Augusto Passos Videira e Ildeu de Castro Moreira. Eles selecionaram os artigos de divulgação mais representativos, escritos por Poincaré e que foram publicados em revistas científicas.

O livro, tal como o apresentamos, não existe em nenhuma outra edição, nem mesmo na França. Em “Eletricidade e óptica: as teorias de Maxwell e a teoria eletromagnética da luz”, “Luz e eletricidade segundo Maxwell e Hertz”, “As relações entre a física experimental e a física matemática” e no magistral “As idéias de Hertz sobre a mecânica”, Poincaré explora as conseqüências epistemológicas de teorias fundadoras da física moderna. Em “Os fundamentos da geometria”, discute a obra seminal de Hilbert, defendendo o ponto de vista intuicionista, contra uma descrição puramente lógica das teorias. No texto sobre “O problema dos três corpos”, apresenta uma versão simplificada de sua famosa solução para o problema da estabilidade do sistema solar. Em “As formas de equilíbrio de uma massa fluida em rotação” aparecem novos métodos em mecânica, que influenciaram grandemente o estudo da dinâmica e do equilíbrio dos planetas e de seus anéis, ampliando a noção de sistema dinâmico. Em “A dinâmica do elétron”, Poincaré apresenta interpretações profundas das transformações de Lorentz e propõe a noção de “tempo local”, antecipando-se mais uma vez à Teoria da Relatividade, que seria formulada depois por Einstein. Em “A hipótese dos quanta”, percebe de forma pioneira as tremendas conseqüências que viriam da quebra do paradigma da continuidade nas leis físicas, o que desembocaria na criação da mecânica quântica. Em “As relações entre a matéria e o éter”, debate as conseqüências da demonstração, por Jean Perrin, da realidade dos átomos. O livro termina com uma jóia rara, “As ciências e as humanidades”, uma reflexão sobre o valor da formação humanística para o cientista. Como diz o título do livro, são Ensaios Fundamentais. De Henri Poincaré, a Contraponto já publicou O valor da ciência, em terceira reimpressão.

César Benjamin

A Matemática das Coisas


Convite recebido da Sociedade Portuguesa de Matemática:

A SOCIEDADE PORTUGUESA DE MATEMÁTICA e a GRADIVA têm o prazer de convidar V. Exa. a estar presente na sessão de lançamento da obra

A MATEMÁTICA DAS COISAS
de
Nuno Crato

que terá lugar no dia 27 de Maio de 2008, pelas 17.30 horas,
no Auditório da Feira do Livro de Lisboa, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.

A obra será apresentada pelo Ministro da Cultura Dr. António Pinto Ribeiro.

Seguir-se-á uma sessão de autógrafos.

Educação Física e sucesso escolar


Novo post de Rui Baptista sobre a prática de exercício físico (na figura caricatura de Agustina Bessa-Luís, por André Carrilho):

“Quanto maior e mais activa for a força lúdica mais a criança é inteligente e disponível para um destino superior”.
Emile Planchard

Pelo facto de, ao nos debruçarmos sobre a história dos acontecimentos, podermos avaliar a sua influência no tempo futuro, regresso a Ramalho Ortigão e à sua denodada campanha em prol dos exercícios físicos da juventude portuguesa quando chama a atenção da Câmara dos Pares para um estudo ter demonstrado que os exercícios ginásticos são úteis não só ao desenvolvimento físico, porque nas escolas inglesas em que se introduziu a ginástica os alunos aprenderam mais e em menos tempo do que naquelas em que a ginástica não existiu.

Ora, sobre Ramalho não pode recair a suspeição de se ter feito juiz em causa própria. Não consta de nenhum dos seus registos biográficos que o escritor, para além da leccionação da disciplina de Francês, no Colégio da Lapa, da cidade do Porto, tivesse exercido o magistério das práticas gimnodesportivas de que, todavia, foi um devotado e incansável defensor.

Passado quase um século, trabalhos de investigação, levados a efeito, na década de 50, em França (Vanves, Tourangeau, Montabaun) e na Bélgica (Bruxelas), confirmaram a influência benéfica da Educação Física no rendimento escolar, quer sob o ponto de vista físico, quer de aprendizagens cognitivas e não só. O próprio Dr. Fourestier, responsável pela experiência de Vanves, não se exime em declarar entusiasmado: “Com métodos pedagogicamente novos não criaríamos apenas uma raça fisiologicamente nova. Faríamos, possivelmente, homens moralmente novos, e mais fraternos uns com os outros”.

Aliás, é para esse “homem moralmente novo” que vai também o apelo de C. S. Lewis, professor de Cambridge: “Fabricamos homens sem coração e esperamos deles virtudes e magnanimidade. Rimo-nos da honra e surpreendemo-nos se há traidores entre eles.”

No decurso do ano de 1969, Olivier Guichard, ao tempo ministro gaulês da educação, justificava a necessidade de haver seis horas semanais para a prática física dos alunos do ensino primário com o argumento de “o horário de então reflectir uma concepção intelectualista dando prioridade à matéria ensinada”.

Em Portugal, foi levado a efeito um estudo sobre a influência da ginástica na melhoria da fadiga intelectual de 36 crianças do ensino primário na realização de provas de ditado. De uma forma muito resumida, os resultados demonstraram que nos dias em que a prova de ditado era precedida de 15 minutos de ginástica os erros ortográficos dados eram em menor número relativamente aos dias em que a ginástica não era ministrada. Este trabalho de investigação científica esteve a cargo do então director do INEF/Faculdade de Motricidade Humana e três dos seus docentes, tendo merecido um prémio científico da prestigiada Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, em1963.

Neste contexto, respaldo-me no formosíssimo testemunho de Agustina Bessa-Luís que, sem estudos académicos especializados, apenas pela fina intuição de festejada literata do comportamento humano, em entrevista concedida a Clara Ferreira Alves ("Expresso", em 1989), se torna sequaz do filósofo francês Gabriel Marcel (1889-1973): “Não se tem um corpo; é-se um corpo”. Da entrevista, destaco este diálogo lapidar:

“Clara Ferreira Alves: Observa as pessoas como quê? Personagens? Não é bem isso, pois não?
Agustina Bessa-Luís: Robots divinos. O ser humano é um robot perfeito. Quando há uma determinada reacção quero saber qual a mola que saltou, a engrenagem que não funcionou.
Clara Ferreira Alves: Qual a realidade desses robots? Que corpo têm? Têm corpo ou são só inteligentes?
Agustina Bessa-Luís: O corpo é uma inteligência”.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Aureliano Mira Fernandes (1884-1958)


A Fundação Gulbenkian acaba de publicar o vol. I (1910-1927) das "Obras" do matemático português Aureliano Mira Fernandes (1884-1958; passam agora 50 anos da morte). Na foto o jovem Aureliano, em 1910-1911, entre a licenciatura e o doutoramento. Transcrevo a nota biográfica de Mira Fernandes tal como vem na badana:

"Nasceu em São Domingos, concelho de Mértola. Estudou no Liceu de Beja e na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em 1910 e se doutorou em 1911 com a classificação de Muito Bom, 20 valores. Ainda em 1910, foi eleito deputado pelo Partido Republicano, mas logo abandonou a vida política.

Em 1911 foi nomeado Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico, cargo que desempenhou até 1954. Cumulativamente foi professor do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, actual ISEG.

Sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, participou na  fundação da Sociedade Portuguesa de Matemática, sendo o primeiro presidente da sua Assembleia Geral. Foi um dos fundadores da Junta de Investigação Matemática. Entre os seus muitos discípulos ilustres contam-se Bento de Jesus Caraça e Duarte Pacheco.

Realizou notáveis trabalhos de investigação no domínio do Cálculo Tensorial, da Geometria Diferencial e da Relatividade. Muitos dos seus artigos foram apresentados à Academia dei Lincei por Tullio Levi-Civita (1873-1941).

O seu magistério e o seu exemplo de investigador deixaram uma marca indelével na matemática e na cultura portuguesa."   

A UNIVERSIDADE E A NAÇÃO

Com este título, a 16 de Outubro de 1904, o lente da Universidade de Coimbra Bernardino Machado (Rio de Janeiro 1851- Porto 1944) proferiu na Sala dos Capelos a oração de sapiência na inauguração do ano lectivo de 1904. Vale a pena ler o início, encontrando-se todo o texto no livro "Orações de Sapiência. Século XX", Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 1997. Actualizei  a ortografia embora seja muito fácil ler na ortografia original. Lembro que Bernardino Machado foi Presidente da República eleito e destituído por duas vezes (1915-1917 e 1925-1926). Menos conhecido é o facto de ter sido exonerado do corpo docente da Universidade de Coimbra em 1907 (só foi reintegrado como professor da Faculdade de Ciências em 1919).

"A tristeza que sinto, quando penso no nosso ensino! Professor, ambicionei consagrar-me sobretudo à causa da educação nacional. E foi, cheio de esperanças, que fiz por ela as minhas primeiras armas, crendo assegurados os seus triunfos pelo ardor com que os mais extremos caudilhos de todos os partidos acudiam, à porfia, a sustentá-la nos seus escudos. Lutava-se então, mas de esforços para bem a servir. Dentro em pouco, porém, o cenário da nosa vida pública mudou. A governos liberais, amantes da instrução, seguiram-se, quase sem interrupção, governos reaccionários, apostados em exterminá-la. Com a abolição do pariato lectivo, desaparecia a representação parlamentar dos estabelecimentos de ensino. Entinguiu-se o ministério da instrução pública. O corpo docente deixou de ter um conselho da sua eleição junto do ministro. Centralizou-se o ensino primário, monopolizou-se o ensino secundário, e até as regalias do ensino superior se foram cerceando, a ponto de se reformar ditatorialmente a nosa Universidade, sem consulta sequer do seu magistério. Não se atacavam só as franquias de ensino, feria-se rudemente a sua existência: fecharam-se esclas primárias, tanto de instrução geral como de instrução profissional, acabou-se com os museus agrícolas,  industriais e comerciais, suprimiram-se, quase por toda a parte, as aulas de instrução complementar, início da educação geral da classe média, não se abriram os liceus femininos, mal sorteados logo ao nascer, e regatearam-se aos institutos de investigação, de todos os graus, os mais indispensáveis meios de acção. E todos estes agravos à causa do ensino foram feitos por diplomados das nossas principais escolas, e todos o fizeram, não só sem que delas se levantasse o mínimo protesto colectivo, mas até mesmo, por vezes, com a sua expressa adesão. 

(...) Ai! Eu sei dolorosamente, por crua experiência, o pernicioso influxo que o mau governo tem no nosso ensino, e como é difícil e árido proclamar princípios na aula, quando, fora dela, reina o arbítrio. Num país onde a selecção não se opera pelo saber e pelo mérito, como se há-de amar e desenvolver a instrução? A própria corrupção educativa instila-se pela aula, e vai-a dissolvendo. Mas a recíproca não é, contudo, menos verdadeira: o ensino exerce inconstestável influência no governo. Ensinar é governar. Pelas ideias se afeiçoam costumes e instituições. Por isso, quando um povo quer cimentar a integridade da pátria, faz o que nós fizemos, implanta nela uma Universidade; e, se intenta formar sobre outro o seu predomínio, procura apoderar-se da sua educação, é como sempre se tem feito. Assim o compreendem com plena lucidez a Alemanha, enviando professores a toda a parte do estrangeiro onde conte uma clónia, e a Suíça, que até para os filhos dos estrangeiros domiciliados no seu território cria, a expensas suas, escolas. 

(...) O que é necessário é um bom ensino. Desde a escola se fazem monarquias ou repúblicas, erguem-se ou aluem-se impérios. Ensino despótico: governo despótico; e o despotismo, ainda que seja o despotismo maternal do amor, produz fatalmente o enfraquecimento e a ruína das famílias e dos estados. Só há uma educação salvadora, e para a qual nos cumpre urgentemente apelar, para transformarmos este apoucado Portugal de hoje no grande Portugal de amanhã, digno herdeiro e continuador do heróico Portugal de outrora, honra e glória da humanidade: é a educação liberal. Uma Universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade."

sábado, 24 de maio de 2008

O CASO URBINO DE FREITAS



Texto escrito com António José Leonardo e Décio Ruivo Martins sobre um dos mais famosos casos judiciais portugueses onde houve recurso à química forense:

Um dos mais célebres casos de envenenamento, que abalou toda a opinião pública portuguesa no final do século XIX, veio demonstrar as fragilidades do sistema médico-legal da época e atestar a importância das análises toxicológicas. Este caso envolveu directamente antigos alunos do professor da Universidade de Coimbra Costa Simões, um dos pioneiros entre nós da química forense.

Vicente Urbino de Freitas (1849-1913) foi um médico portuense, formado na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1875 e professor na Escola Médico-cirúrgica do Porto . Em 1877 casou com Maria das Dores, filha de um rico comerciante de linhos. A este casamento sucederam-se um conjunto de mortes de familiares directos de Maria das Dores em circunstâncias suspeitas, nomeadamente as dos seus irmãos Guilherme e José, este último após ter sido consultado por Urbino de Freitas e com os sintomas típicos de ingestão de veneno. Alguns meses depois, os três sobrinhos de Maria das Dores, filhos dos seus irmãos falecidos que passaram a viver com os avós, receberam uma encomenda suspeita de bolos e amêndoas que revelavam um sabor esquisito provocando-lhes mal-estar. Estas foram atendidas pelo tio Urbino que lhes receitou eméticos e clisteres com a recomendação que fizessem uma retenção tão longa quanto possível . Apenas Mário, o rapaz e o mais velho, seguiu a prescrição do tio, mas viria a falecer com sintomas semelhantes aos do seu tio José. As suspeitas de envenenamento recaíram em Urbino de Freitas, acusado de querer ficar o único herdeiro da fortuna do sogro.

As circunstâncias do crime e a frieza e crueldade dos actos de Urbino causaram bastante celeuma e indignação. O caso foi muito mediático, tendo sido acompanhado diariamente pela população e tendo originado inúmeras discussões. No cerne da questão estavam as análises toxicológicas dos cadáveres e dos alimentos suspeitos.

Foi reunido um conjunto de peritos que integrou o químico portuense António Joaquim Ferreira da Silva (1853-1923), lente na Escola Politécnica do Porto. Este professor dirigia o Laboratório da Academia Politécnica e também o Laboratório Chimico Municipal do Porto . Apesar de se ter formado na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra em 1876 e de ter sido convidado a aí permanecer como professor, recusou o convite, preferindo concorrer à Academia Politécnica do Porto, onde ingressou em 1877. Publicou numerosos artigos de Química Analítica e dedicou-se à área da toxicologia, para a qual contribuiu com a descoberta de reacções características da cocaína e da eserina e o aperfeiçoamento de um reagente utilizado na detecção da morfina e da codeína que ficou conhecido como reagente de Lafon e Ferreira da Silva. Foi neste âmbito que interveio como perito em muitos casos de Medicina Legal, nomeadamente no processo de Urbino de Freitas. Foi sócio honorário do Instituto de Coimbra, tendo publicado vários artigos na revista O Instituto, um dos quais relativo à toxicologia. Neste descreveu um outro caso em que participou, conhecido como Caso Gonçalves. Tratou-se da morte de uma criança, em 1878, devido a engano do farmacêutico, pois em vez de um remédio à base de santonina para o tratamento de parasitas intestinais, terá aviado estricnina. Nesta memória, e para além da descrição do caso, Ferreira da Silva descreveu a evolução da toxicologia em Portugal no que concerne à determinação da presença de alcalóides vegetais, citando as investigações de Francisco Alves e Serra de Mirabeau e realçando o trabalho seminal de Costa Simões.

Relativamente ao caso de Urbino de Freitas, a comissão médico-legal, constituída por quatro peritos , realizou as autópsias de José e do seu sobrinho Mário, tendo as vísceras sido submetidas a testes toxicológicos no Laboratório Municipal do Porto. Segundo o relatório redigido pela comissão e apresentado a 7 de Outubro de 1890, não foram detectados alcalóides nas vísceras de José, situação atribuída ao adiantado estado de putrefacção mas, nas vísceras do pequeno Mário, foi detectada a presença de morfina, de narceína. O relatório afirmava que as reacções químicas a que as submeteram, dão-lhes indício da existência, nas mesmas vísceras, duma base orgânica que, pelos caracteres químicos, se aproxima da delfina . Os testes foram repetidos nas vísceras retiradas numa segunda autópsia de Mário, com resultados idênticos. Contudo, os testes efectuados às amêndoas não revelaram a existência de qualquer substância tóxica.

A polémica recrudesceu quando a defesa de Urbino de Freitas recrutou um médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Augusto António Rocha (1849-1901), fundador e redactor da revista Coimbra Médica que tinha sido colega de Urbino. Augusto Rocha aceitou cooperar com duas condições: serem consultados toxicologistas estrangeiros e contar com a colaboração de Joaquim dos Santos e Silva (1841-1906), então à frente dos trabalhos práticos do Laboratório Chimico da Universidade de Coimbra. Santos e Silva, um farmacêutico muito conceituado, foi aluno de Bernhard Tollens (1841-1918), no curto período em que este notável químico alemão ensinou em Coimbra, e estudou química prática com Friedrich Wöhler (1800-1882) e Friedrich August Kekulé (1829-1896) nas universidades de Goettingen e Bonn, respectivamente. Como sócio do Instituto de Coimbra, colaborou na respectiva revista com muitos artigos sobre a química analítica, nomeadamente no âmbito da hidrologia e da toxicologia. Entre 1878 e 1899 teve a seu cargo as análises químico-legais requeridas pelo Tribunal da Comarca de Coimbra.

Numa série de artigos publicados na Coimbra Médica estes dois professores da Universidade de Coimbra criticaram o relatório médico-legal e os seus proponentes, desencadeando uma guerra que viria a ser ganha pelos portuenses, pelo menos sob o ponto de vista legal, em virtude do acórdão de 1 de Dezembro de 1893 do Tribunal Criminal do Porto, que condenou Urbino Freitas a oito anos de prisão e ao degredo pelo homicídio do seu sobrinho Mário. O réu, demitido das suas funções e proibido de exercer medicina, acabou por ser deportado para o Brasil após ter cumprido a pena de prisão na Penitenciária de Lisboa.

No Brasil, por duas vezes Urbino de Freitas requereu permissão para exercer medicina, primeiro em Campinas, depois no Rio de Janeiro, tendo sido rejeitados ambos os pedidos. No ano de 1906, ocorreu nesta cidade um incidente de fiscalização do exercício de medicina que teve enorme repercussão pública. Por desobediência, o Director da Saúde Pública, Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917), mandou processá-lo por exercício ilegal da medicina e enviou uma circular às farmácias da capital, proibindo que aviassem as receitas do médico português. O não acatamento dessas deliberações levou o governo a determinar a sua expulsão do Brasil. Foi detido quando faltavam cinco dias para embarcar. O Supremo Tribunal anulou uma ordem de habeas-corpus concedida pelo juiz federal, por julgar incompetente a decisão daquele magistrado para julgar a inconstitucionalidade da lei de expulsão.

Uma comissão de portugueses e brasileiros, convictos da inocência de Urbino de Freitas no caso do envenenamento ocorrido no Porto, enviou uma petição ao Rei D. Carlos, pedindo a revisão do processo, que não foi deferido. Em 1913 Urbino de Freitas regressou a Portugal e até ao fim da sua vida alimentou uma batalha jurídica, procurando novos elementos de prova que o habilitassem a obter um despacho judicial favorável. Contou sempre com o apoio e a fé inquebrantável da sua inocência por parte da esposa, Maria da Dores Freitas. Morreu no dia 23 de Outubro de 1913.

O caso relatado originou ao livro O Caso Medico-Legal Urbino de Freitas , da autoria dos peritos forenses portuenses, que teve não só repercussão nacional mas também no exterior (foi editada uma versão francesa), alargando a visibilidade da toxicologia.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

ASSALTO NA BOMBA?


Minha crónica do "Público" de hoje:

A 2 de Janeiro passado o barril de petróleo passou a mítica fronteira dos 100 dólares. No dia em que escrevo, 21 de Maio, o preço do crude atingiu o preço recorde de 130,04 dólares. No dia em que o leitor ler este texto, estará, provavelmente, mais caro. As previsões indicam o valor de 150 dólares ainda este ano. E há quem fale já do petróleo a 200 dólares em menos de dois anos, como Arjun Murti, o “guru” da Goldman Sachs que tem sempre acertado nas suas previsões de preços. As causas são conhecidas: a baixa do dólar, a crise e a especulação nos mercados internacionais, assim como o aumento da procura (nomeadamente em potências emergentes com a China e a Índia) sem o correspondente acréscimo de oferta (no Iraque a produção nunca voltou ao que era antes da guerra e na Nigéria há instabilidade).

Quaisquer que sejam as causas, o cidadão que vai à bomba de gasolina sente no bolso os aumentos de combustíveis. O meu carro, que ficava satisfeito, quando o comprei há quatro anos, com cerca de 50 euros de gasóleo, hoje não enche a barriga com menos de 80 euros. O litro de gasóleo subiu 71,7 por cento em Portugal entre 2004 e 2007! As petrolíferas – o nosso mercado é dominado pela Galp e pela BP – atribuem a subida nas bombas à subida no crude nos países fornecedores. Será que a alta do preço do petróleo explica o grande rombo nos nossos bolsos?

É fácil perceber que não. Em primeiro lugar, se é certo que a cotação internacional do petróleo é feita em dólares, não é menos certo que nós e os europeus em geral o pagamos em euros, cujo valor tem crescido relativamente ao dólar (em Maio de 2001 o euro estava a 0,88 dólares e hoje está a 1,57). Quer dizer, o aumento do preço do petróleo é muito amortizado pelo aumento do euro. Em segundo lugar, se é certo que o aumento da gasolina e do gasóleo ocorreu em todos os países da zona euro, não é menos certo que em Portugal foi maior do que noutros (em Espanha, entre 2004 e 2007, o gasóleo só subiu 54,4 por cento, em vez dos nossos 71,7).

Facto incontestável – basta ver as bombas às moscas do lado de cá da fronteira – é que os preços dos combustíveis em Espanha são bem mais baixos do que aqui. As razões são essencialmente duas: por um lado, os nossos impostos sobre a gasolina e o gasóleo são mais elevados (não foi este governo, que se limita a manter uma situação que lhe dá jeito, mas governos anteriores decidiram, com grande falta de imaginação, taxar anormalmente os combustíveis) e, por outro lado, o mercado em Espanha é não só maior como mais aberto. Aqui ao lado há maior concorrência e esta torna os preços mais competitivos.

Os cidadãos portugueses têm razões para se sentirem assaltados nas bombas. Não pagam ainda os combustíveis mais caros da Europa, mas o que pagam nas bombas a dividir pelo produto interno bruto per capita está no topo europeu. O governo português diz-se preocupado, mas, em vez de assistir passivamente aos aumentos, pode actuar. Se o não fizer, e se na altura houver oposição, pagará decerto nas próximas eleições. O que pode fazer é claro: ser mais imaginativo na taxação do que foram os seus antecessores, aproximando-nos da situação espanhola, e abrir mais o mercado. Não há razão nenhuma para a Galp, à qual vozes indignadas na Net chamam a “Golpe”, ser a única refinadora e a principal armazenadora. É espantoso que o governo esteja à espera do relatório da Autoridade da Concorrência, pois ele está farto de saber como funciona o mercado neste sector. O ministro da Economia faz de conta que é o “marido enganado”, o último a saber, quando ele é, ou devia ser, o primeiro...

Contudo, mesmo que o governo faça alguma coisa, não nos iludamos: a crise do petróleo está para ficar. Temos de continuar a fazer o que muitos de nós já fazem – usar menos os automóveis em favor dos transportes públicos (que têm de melhorar com o dinheiro dos nossos impostos) e guiar veículos mais económicos (Murti usa um híbrido). Estamos viciados em petróleo e esse vício, mais cedo ou mais tarde, vai ter de acabar.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

GEOPARK NATURTEJO



Informação recebida da Naturtejo, que gere o único parque em Portugal da rede de geoparques da UNESCO:

A Naturtejo, Empresa de Turismo, tem o prazer de o convidar para o lançamento da 2ª edição do livro "Geopark Naturtejo: 600 Milhões de anos em imagens”, que vai decorrer a 31 de Maio, pelas 18h00, na Biblioteca Municipal, em Nisa, no âmbito da Feira do Livro da Terra, promovida pelo Município de Nisa.


Informa ainda que o Festival Europeu da Terra, que decorre entre os dias 24 de Maio e 8 de Junho, inclui outras actividades por todo o território Geopark Naturtejo, que abrange os municípios de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão. Consulte o programa em www.naturtejo.com . Aproveite esta oportunidade para conhecer ou revisitar o 1º Geoparque Português da Rede Europeia e Global da UNESCO.


GEOPARK NATURTEJO DA MESETA MERIDIONAL

“600 milhões de anos em imagens”

O livro "Geopark Naturtejo da Meseta Meridional. 600 milhões de anos em imagens” reúne um conjunto de fotografias de Pedro Martins e conta com textos de Carlos Neto de Carvalho, o geólogo coordenador do projecto Geopark Naturtejo da Meseta Meridional. Os textos são em português e em inglês.

O Geopark Naturtejo da Meseta Meridional é um conceito de turismo novo em Portugal. Este território aposta na leitura e usufruto de uma paisagem ímpar e incólume, caracterizada por planícies extensas por onde irrompem cristas quartzíticas, formando poderosas muralhas naturais só vencidas em cénicas gargantas pelas águas de caudalosos rios. A bacia hidrográfica do Tejo, no seu troço médio, é o mote do turismo activo proposto pelo Geopark. A geologia diversificada, que confere à região inúmeros locais de profunda beleza natural, serve de ponto de partida para a descoberta de ecossistemas preservados, de uma riquíssima história e de tradições milenares, onde o visitante é recebido como um amigo. É toda esta riqueza bem guardada que começa a ser dada a conhecer através do Geopark Naturtejo.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...