sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
Algumas Novidades da Gradiva de Fevereiro
As Novas Aventuras de Bruno Brazil - Black Program, vol. 1
Philippe Aymond I Laurent‑Frédéric Bollée
«Gradiva BD Thriller» I 60 pp. I 16,50 €
A Gradiva publica as Novas Aventuras de Bruno Brazil. Acção e aventura para todos. Seja uma descoberta ou uma redescoberta, certo é que a nova série alia a enorme qualidade literária à excelência do desenho. E tem tudo o que faz um bom livro de aventuras.
COMO NUM FILME!
A Gradiva publica as Novas Aventuras de Bruno Brazil. Acção e aventura para todos. Seja uma descoberta ou uma redescoberta, certo é que a nova série alia a enorme qualidade literária à excelência do desenho. E tem tudo o que faz um bom livro de aventuras.
COMO NUM FILME!
Veja aqui o booktrailer - https://www.youtube.com/watch?v=c6PWCQQRE9k
O Nascimento dos Deuses
Luc Ferry I Clotilde Bruneau I Didier Poli I Dim D I Federico Santagati
novidades que a Gradiva publica em Fevereiro de 2020
«Gradiva BD» I 60 pp. I 16,50 €
Saídos do caos primordial, Geia, a terra, e Úrano, o céu, unem‑se e dão vida aos primeiros deuses do panteão grego. Receando que ocupem o seu lugar, Úrano encerra os filhos no ventre da mãe. Crono liberta‑se, mas idêntico receio faz com que decida engolir os filhos. Desta vez é Zeus que escapa e liberta os outros. Inicia‑se uma guerra terrível. Vencerá o caos ou a harmonia? Intenso, informativo e belíssimo.
https://www.gradiva.pt/catalogo/47444/o-nascimento-dos-deuses
Saídos do caos primordial, Geia, a terra, e Úrano, o céu, unem‑se e dão vida aos primeiros deuses do panteão grego. Receando que ocupem o seu lugar, Úrano encerra os filhos no ventre da mãe. Crono liberta‑se, mas idêntico receio faz com que decida engolir os filhos. Desta vez é Zeus que escapa e liberta os outros. Inicia‑se uma guerra terrível. Vencerá o caos ou a harmonia? Intenso, informativo e belíssimo.
https://www.gradiva.pt/catalogo/47444/o-nascimento-dos-deuses
O Pequeno Livro dos Buracos Negros
Steven S. Gubser I Frans Pretorius
«Ciência Aberta» I 224 pp. I 15,00 €
Os buracos negros são intrigantes, tanto para os cientistas como para o público em geral, devido às suas bizarras propriedades. Einstein previra‑os, tendo percebido que eram soluções matemáticas das suas equações, mas nunca aceitou a sua realidade física. Muito mudou. Este livro deixá‑lo‑á a saber o essencial sobre os buracos negros. Útil também para não‑especialistas.
«Ciência Aberta» I 224 pp. I 15,00 €
Os buracos negros são intrigantes, tanto para os cientistas como para o público em geral, devido às suas bizarras propriedades. Einstein previra‑os, tendo percebido que eram soluções matemáticas das suas equações, mas nunca aceitou a sua realidade física. Muito mudou. Este livro deixá‑lo‑á a saber o essencial sobre os buracos negros. Útil também para não‑especialistas.
As Literaturas em Língua Portuguesa - (Das origens aos nossos dias)
José Carlos Seabra Pereira
«Fora de Colecção» I 792 pp. I 40,80 €
O Português é língua de muitas literaturas. Este livro confere dimensão universal à visão apresentada na História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes. E traz um olhar perceptível aos milhares de aprendentes do Português no mundo. Uma obra vasta, interessante, acessível e rigorosa, pela mão de José Carlos Seabra Pereira.
https://www.gradiva.pt/catalogo/47443/as-literaturas-em-lingua-portuguesa
O Português é língua de muitas literaturas. Este livro confere dimensão universal à visão apresentada na História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes. E traz um olhar perceptível aos milhares de aprendentes do Português no mundo. Uma obra vasta, interessante, acessível e rigorosa, pela mão de José Carlos Seabra Pereira.
https://www.gradiva.pt/catalogo/47443/as-literaturas-em-lingua-portuguesa
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
NA TERRA DO ALMADA
Meu artigo no último "As Artes entre as Letras":
José de Almada de Negreiros, o grande escritor e pintor do
modernismo português, nasceu em 7 de Abril de 1893 no interior da ilha de S.
Tomé, no Golfo da Guiné, que banha a costa ocidental de África. O pai, António
Lobo de Almada Negreiros, era tenente de cavalaria e administrador colonial e a
mãe, Elvira Sobral de Almada Negreiros, era uma mestiça santomense. O local do
nascimento foi a roça Saudade, na freguesia de Trindade, a cerca de meia hora
da cidade de S. Tomé, capital do país. Almada veio para a metrópole com dois
anos de idade, o que fez com que tenha perdido as referências à sua terra natal,
onde nunca voltou. Foi viver para Cascais na casa dos seus avós maternos. A mãe
morreu pouco depois enquanto o pai continuava como administrador em S. Tomé. O
pai iria a Paris em 1900, sem passar por Portugal, dirigir o Pavilhão das Colónias
na Exposição Universal. José de Almada Negreiros
e o seu irmão António estudaram no colégio jesuíta de Campolide, em Lisboa, de
onde tiveram de sair quando os jesuítas foram afastados do país após a
implantação da República em 1910. Não é muito conhecido que Almada foi
estudante no liceu de Coimbra, na escola que hoje é chamada de José Falcão. A
seguir estudou na Escola Internacional de Lisboa, tendo depois entrado na vida
artística praticamente como autodidacta.
A casa onde Almada nasceu foi recentemente adaptada para
restaurante, onde se podem desfrutar magníficos pratos da cozinha santomense,
numa esplanada com vista para a luxuriante floresta tropical com o Atlântico em
fundo. Na esplanada muito bem decorada – o tecto está engalanado com panos africanos
multicolores e no chão repousam cestos com exóticas frutas tropicais – pode
respirar-se tranquilamente o ambiente da África equatorial. A ementa tradicional
é fixa, havendo duas entradas antes do prato principal, da sobremesa e do café,
feito de cafezeiros locais. Muito perto da roça Saudade pode visitar-se o Monte
Café, uma grande roça onde hoje se pode visitar um museu didáctico, que mostra
não só como se fazia café nos tempos coloniais, mas também como era a vida na roça.
Existia um importante agrupamento de casas, com escola, hospital e tudo. Nos séculos XIX e XX explorava-se a mão de
obra barata dos negros. Era trabalho forçado porque os trabalhadores, muitos
deles trazidos à força de África, recebiam menos do que eram obrigados a pagar
pelo alojamento, o que significa que estavam totalmente nas mãos dos proprietários.
No restaurante - à porta do qual alguns meninos vendem aos
turistas por poucas dobras framboesas silvestres que eles próprios apanharam
nas redondezas - existe uma divisão com peças de escultura e pintura santomenses e outra, mais pequena, com muitos
livros de Almada – o romance “Nome de Guerra”, o manifesto Anti-Dantas, poesia,
teatro, etc. – e, nas paredes, cartazes, o maior da Fundação Gulbenkian, e
reproduções de desenhos do artista. São Tomé tem uma relação ambivalente com
Almada – por um lado ele é um filho da terra e um dos criadores culturais mais distintos
do século XX português, mas por outro a sua família fez parte dos colonizadores
africanos e não se encontram na obra de Almada muitas referências às suas
origens.
Se por S. Tomé passou um dos nomes maiores da arte portuguesa,
deve acrescentar-se que passou também um nome importante da ciência nacional, o
almirante Gago Coutinho, que esteve no arquipélago como geógrafo. O seu
trabalho permitiu determinar a linha do equador, que passa no ilhéu das Rolas (também
chamado ilhéu Gago Coutinho) a sul da ilha de São Tomé, bastante perto do hotel
Pestana Equador, que tem um serviço de “transfer” a partir da ilha maior. É uma
experiência inolvidável primeiro o percurso automóvel entre a capital de S.
Tome e o cais de embarque do Pestana e depois a curta travessia de barco até ao
hotel. A visita é obrigatória para quem
deseja fazer uma fotografia com um pé no hemisfério Norte e o outro no hemisfério
Sul. Embora não seja necessário, os turistas que sobem do hotel ao monumento
que assinala a linha do equador – um belo local com vista para a ilha maior -
beneficiam em utilizar como guia um dos rapazes da pequena aldeia de S.
Francisco Xavier, uma terreola de pescadores com cerca de 200 habitantes, muito
perto de hotel.
Gago Coutinho encabeçou a missão geodésica portuguesa em S. Tomé
entre 1915 e 1918, quando Almada tinha entre 23 e 26 anos e começava a sua
carreira artística. O militar da Marinha, que ficaria famoso em 1922 pela sua travessia
aérea do Atlântico sul com Sacadura Cabral, entregou em 1919 ao governo português
a carta e o relatório da missão, o primeiro levantamento geodésico completo de
uma colónia portuguesa.
Pormenor curioso: um dos rapazes locais que vende artesanato
junto ao monumento do equador tem para mostrar uma planta a que chamam “mulher
portuguesa”, pois ela encolhe mal seja tocada.
Além da subida pelo meio da floresta ao sítio do equador, e da vista à
praia do Café, junto à aldeia de S. Francisco, vale a pena fazer uma visita de
barco em volta do Ilhéu das Rolas, vendo outras praias, como a praia da Bateria,
a praia da Escada, e a praia da Joana. A terra natal de Almada Negreiros é um
local único do mundo, com uma paisagem natural deslumbrante. Acresce a simpatia dos santomenses, sempre prontos
a ajudar com indicações sobre as espécies vegetais, algumas das quais estão na
base da culinária que os portugueses conhecem do programa “Na roça com os tachos”
do chefe João Carlos Silva.
A REABILITAÇÃO DA ESCOLA SECUNDÁRIA JOSÉ FALCÃO DE COIMBRA
Meu artigo de opinião publicado hoje no jornal "As Beiras":
“Espere com paciência, ataque com rapidez” (provérbio chinês).
Corria o ano de 2010, criticava
eu, nos dos meus textos publicados no blogue “De Rerum Natura”, o lamentável
estado de abandono e degradação a que chegaram algumas escolas do ensino secundário público
nacional, de longa tradição e serviço prestado à formação da juventude.
“Ipso facto”, dignas do maior
respeito pese embora vivermos num país
de filhos e enteados por motivos obscuros que se escondem por detrás da cortina de interesses inconfessáveis.
Neste entreacto, foi beneficiada, em governo socrático, com obras faraónicas, a escola do Vale das
Flores e, em menor generosidade, a escola Brotero, ambas de Coimbra.
Dava eu como exemplo dessa
degradação, por serem do meu melhor conhecimento, a Escola Secundária Camões
(Lisboa) e a Escola Secundária José Falcão (Coimbra), ambas com um passado
valioso pela formação de gerações de gente ilustre do panorama cultural português.
A primeira destas escolas, viu-se coagida
a promover espectáculos (no Coliseu dos Recreio de Lisboa) para prover a obras
inadiáveis; a outra escola, com a chuva a entrar nas salas de aula e no ginásio
e o corredores com os azulejos descolados das paredes dos corredores, espera por dias menos padrastos.
Nesta tragédia, a Escola
Secundária José Falcão tem sido uma espécie de pião das nicas de todo este processo
que, de quando em vez, merece um olhar compassivo, de diversos governantes ou
políticos que se poem em bicos dos pés, embora deixando passar a respectiva
solução de mãos em mãos de promessas vãs em que prometer é fácil, cumprir as
promessas não, sendo elas, consequentemente, adiadas para uma espécie de
calendas gregas.
No caso da Escola Secundária José
Falcão, actualmente, entre mãos do presidente da Câmara Municipal desta cidade,
Manuel Machado, conforme lido e respigado deste jornal, em notícia do passado
dia 10 deste mês, quando entrevistado, em simples previsão, de custos
estimados, e todos sabemos quanto essa "estima" sofre tratos de polé que os
podem fazer catapultar para quantias bem maiores do que estudos feitos sobre os joelhos (?) que
apontam para vinte milhões, dos 100 milhões de euros de que as escolas de
Coimbra precisam para serem reabilitadas por irem longe honestos tempos em que a
construção da ponte Salazar/25 de Abril custou os preços orçamentados e foi
construída meses antes do prazo
estimado.
Mas isto, ainda que sob a
condição da transferência dessas obras passarem para o âmbito do processo de
descentralização que marca passo (ou como dizem os brasileiros, "faz que anda
mas não anda”) nada nos garantindo poder contar-se com estas obras sob a presidência da Câmara Municipal de Coimbra de
Manuel Machado, até porque, segundo ele, “ser lastimável que ao longo deste
processo nenhum Governo tivesse avançado com a realização, pelo menos, do
projecto de reabilitação do edifício centenário da Escola Secundária José
Falcão”.
As obras de Santa Engrácia
levaram quase três séculos (1682-1966) a serem concluídas. Haja a exigência de tempo decente para a reabilitação da Escola Secundária José Falcão. Será pedir muito?
domingo, 26 de janeiro de 2020
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
"PROFESSORES PARA QUÊ? ESTÁ TUDO NO GOOGLE!"
Na próxima terça-feira,
dia 28 de Janeiro, às 18h, no âmbito do ciclo de palestras de cultura
científica "Ciência às Seis - 4ª temporada", realiza-se no RÓMULO - Centro Ciência Viva da
Universidade de Coimbra, a palestra intitulada "Professores para quê?
Está tudo no Google" com Helena Damião, Professora da Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e membro
integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20) da
mesma Universidade.
RESUMO DA PALESTRA:
"A designada “narrativa da educação do futuro/do século XXI”, criada por
organizações internacionais de alcance global e adoptada nos mais diversos
sistemas de ensino, incluindo o português, é composta por um conjunto de
slogans que se vê reproduzido pelos agentes que, directa ou indirectamente,
participam nesses sistemas. Entre esses slogans, destaca-se o seguinte: “está
tudo no google” ou, numa formulação aproximada, “o google sabe tudo”.
Explica-se que o conhecimento escolar, “antes” transmitido pelo professor, pode
“agora”, com inúmeras vantagens, ser encontrado e trabalhado, de modo autónomo,
pelos alunos com vista à aquisição de “competências”. A palestra centra-se
neste slogan, cuja essência, note-se, vem de longe, apesar de a
contemporaneidade lhe emprestar novas roupagens. Em concreto, com base na obra
clássica “Professores para quê?”, de George Gusdorf, discute-se o seu sentido e
consequências de que, como sociedade, devemos estar bem conscientes."
O Ciclo "Ciência às Seis" é coordenado por António Piedade, bioquímico, escritor e comunicador de ciência.
A entrada é livre e
destinada ao público em geral interessado em cultura científica.
Natural isn't necessarily good. | David Marçal | TEDxPorto
My Ted talk, about the myths of natural products, now with English subtitles. Thanks Norberto Amaral for the translation!
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
Novidades dos Classica Digitalia. “Autores Gregos e Latinos”
Os Classica Digitalia têm o gosto de anunciar duas novas publicações com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra.
Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital, em acesso aberto.
Série “Autores Gregos e Latinos” [textos]
- Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epitáfios (Livro VII). Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2019). 302 p.
[O livro VII da Antologia Grega reúne um total de 748 epigramas que, salvo algumas exceções, respondem à categorização de epitáfios. Planudes copiou 582 destes epigramas, onze dos quais ausentes da tradição palatina, não sendo claro o critério que levou à exclusão dos outros 179 presentes em P. Dialógico ou não, desde as suas origens o epitáfio encena, implicitamente que seja, uma relação efémera entre o defunto celebrado e outro indivíduo que o lê. Trata-se de imortalizar, de garantir que o primeiro mantém, por via da memória (mnema), uma relação com o mundo dos vivos, conseguida no momento em que o seu nome é pronunciado pelo transeunte que o lê na lápide.]
- Rui Morais & Andreia Arezes, Minoicos: os guardiães da primeira civilização europeia (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2020). 119 p. [Manual de apoio à iniciação ao estudo da Civilização Minoica.]
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
COMUNICAR CIÊNCIA - COLÓQUIO
No próximo dia 22 de janeiro de 2020, pelas 15.00, no Auditório do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, o Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC)/Coimbra Engineering Academy irá promover o Colóquio subordinado ao tema “Comunicar Ciência”, que contará com a presença do professor de jornalismo António Granado, da comunicadora e gestora de ciência Joana Lobo Antunes e da astrobióloga Zita Martins. Outras personalidades do jornalismo e comunicação de ciência portuguesas já indicaram a sua presença, pelo que a organização antecipa um colóquio muito participado e profícuo, que poderá constituir-se com um dos principais acontecimentos em Portugal nesta área do ano que agora começa.
A participação de todos os cidadãos interessados é livre mas, para obtenção de certificado de presença deverá ser efectuada uma INSCRIÇÃO cujo formulário está disponível na página da internet do ISEC.
Sinopse
Vivemos num mundo globalizado pautado pela ciência e pela tecnologia como forças motrizes do desenvolvimento, do conhecimento e bem-estar. Contudo, existe um fosso muito grande entre o conhecimento detido pelos cientistas e engenheiros, altamente especializado e desenvolvido, por um lado, e o conhecimento científico ou até a perceção dele, que a esmagadora maioria da população possui.
De facto, a literacia científica continua a ser vestigial na sociedade portuguesa. Entre as várias consequências negativas que este fosso provoca nos cidadãos, está a sua opinião pouco informada sobre assuntos e problemáticas actuais (e.g., como as alterações climáticas ou a exploração do lítio), o que enferma a sua liberdade e participação democrática.
A falta de uma sólida cultura científica diminui a liberdade democrática e potencia uma crescente expansão de pseudociências que, em alguns casos preocupantes, põem em risco a própria saúde da população (como é o caso dos movimentos anti vacinação, ou o alastrar desinformado de terapias alternativas sem fundamento científico). Daqui decorre a urgente implementação de práticas efectivas de comunicação de ciência para estabelecer pontes de conhecimento entre os cientistas e engenheiros e a população em geral.
O jornalismo de ciência e tecnologia desempenha um papel muito importante para este empreendimento. António Granado terá como ponto de partida a constatação de que o papel dos media na comunicação de ciência tem vindo a ser alterado com as enormes transformações que a Internet trouxe ao espaço público. Com a terceira década do século XXI faz sentido continuar a contar com os jornalistas para o papel de intermediários entre cientistas e público? Que alternativas têm as universidades e os centros de investigação para fazer chegar o seu trabalho até à sociedade que os financia?
A actividade junto da sociedade de gabinetes de comunicação de ciência nas instituições de ensino superior também é de importância crucial. Neste contexto, Joana Lobo Antunes explicará a importância da profissionalização da comunicação de ciência e do impacto positivo do investimento em gabinetes de comunicação de ciência em unidades de investigação e faculdades.
Mas não pode haver jornalismo nem comunicação de ciência sem cientistas que façam ciência. A representá-los, teremos presente a cientista Zita Martins, que considera a comunicação da ciência fundamental para divulgar o trabalho dos investigadores para toda a sociedade. Isto pode ser feito de várias formas com a ida de cientistas a escolas de forma a comunicar com os alunos e informando os professores; com a interacção dos cientistas com os meios de comunicação social e dando palestras públicas; e finalmente participando activamente nas redes sociais (blogs, twitter, Facebook, etc.).
Estes são genericamente os três pontos de partida para este colóquio que o ISEC/Coimbra Engineering Academy promove e oferece à sociedade.
A moderação do colóquio estará a cargo do comunicador de ciência António Piedade.
Breves notas biográficas do painel
Joana Lobo Antunes
Joana Lobo Antunes é comunicadora de ciência, presidente da rede SciCom PT, actualmente Directora de Comunicação no Instituto Superior Técnico e docente no Mestrado em Comunicação de Ciência da FCSH Universidade Nova de Lisboa. Foi responsável pelo Gabinete de Comunicação do Instituto de Tecnologia Química e Biológica ITQB NOVA, directora do Centro Ciência Viva de Sintra e investigadora pós doc em Promoção e Administração de Ciência e Tecnologia na FCSH e ITQB NOVA.
António Granado
António Granado é professor universitário na NOVA FCSH onde coordena o mestrado em Jornalismo e co-coordena o mestrado em Comunicação de Ciência. Foi jornalista profissional durante 25 anos, tendo-se especializado na área do jornalismo de ciência. Fez a maior parte da sua carreira no jornal Público, onde foi, para além de jornalista, editor de ciência, sub-director, chefe de redacção e editor do Publico.pt. Entre Setembro de 2010 e Março de 2014, foi editor multimédia na RTP.
Zita Martins
Zita Martins é Astrobióloga, Professora Associada no Instituto Superior Técnico (IST), e Co-Diretora do Programa MIT-Portugal. Foi Cientista Convidada da NASA Goddard (2005 e 2006), e Professora Convidada na Universidade Nice-Sophia Antipolis (França) (2012). Em 2009 foi galardoada pela Royal Society com uma University Research Fellowship no valor de 1 milhão de Libras. Foi University Research Fellow (URF) da Royal Society no Imperial College em Londres de 2009 a 2017. Faz ativamente comunicação de Ciência, tendo dado mais de 100 entrevistas sobre Ciência nos meios de comunicação social internacional e foi selecionada pelo canal de TV BBC como Expert Scientist Women. O seu retrato foi pintado para a exposição da Royal Society sobre mulheres de sucesso em Ciência, e encontra-se agora de forma permanente na sede da Royal Society em Londres. Em 2015 foi selecionada como um dos 11 “Portugueses fora do tempo” pelo Jornal Público, em 2016 foi selecionada como uma das “Mulheres na Ciência” pela Ciência Viva, e em 2018 foi uma das 10 mulheres portuguesas a receber um Barbie Award2018 da Mattel no dia Internacional da Rapariga por ser considerada uma inspiração para as novas gerações de raparigas. Zita Martins foi condecorada em 2015 por Sua Excelência o Presidente da República de Portugal com o título de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
UM ABRAÇO QUE LEVOU QUASE VINTE ANOS EM TRAVESSIA ATLÂNTICA
(Na foto o Professor José Maria Santarem e eu a seu lado)
Meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras".
Na altura a
que me reporto vivia-se um tempo de mitos e falácias sobre os malefícios dos pesos e halteres refutados, com muita autoridade, pelo
Professor José Maria Santarem, reputadíssimo especialistas a nível mundial
sobre os efeitos benéficos do treinamento com pesos e halteres.
Colho do seu
extenso e valioso currículo pequena notas: José Maria Santarem é doutorado em
Medicina, pela Universidade de São Paulo, especialista em Fisiatra e Reumatologia.
Coordenador dos cursos de pós-graduação
em Fisiologia do Exercício Físico e Treinamento Resistido na Saúde, na
Doença e no Envelhecimento no Centro de Estudos em Ciências da Actividade
Física, da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. Dirige
actualmente o Instituto Biodelta, instituição dedicada às aplicações, ensino e pesquisa do treinamento resistido. É autor do livro
“Musculação em todas as idades” (1ª edição, 2012), merecedor, entre outras, da seguinte referência: “Há um paradoxo que
identifica o entendimento de progresso, caracterizado por um evidente
desenvolvimento cognitivo concomitante a
uma progressiva redução da capacidade física dos seres humanos, cuja
longevidade se implementou mais no último seculo do que nos que o precederam .
Nesta obra, Santarem mostra a magnitude dos efeitos do sedentarismo e a forma
mais adequada de preveni-lo ou reverte-lo em prol de um envelhecimento
saudável” (Wilson Jacob Filho, Professor Titular de Geriatria da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo).
Em edição de
1973, contradisse, no meu livro, “Os Pesos
e Halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper” (edição de 1973), as críticas feitas,
por Kenneth Cooper aos exercícios com resistências progressivas, no seu
livro, “Aptidão Física em qualquer
idade”, de que cito : “Os halterofilistas representam apenas a aptidão muscular
tendo a motivação certa, mas a orientação errada, por estarem presos ao mito de que a musculatura forte ou a
agilidade significam aptidão física. Eis
um dos maiores enganos no campo do exercício”
.
Anos mais tarde, encontrei respaldo sólido
para a minha fidelidade aos pesos e halteres nos trabalhos de investigação do
Professor Santarem sobre a sua prática na melhoria e manutenção da forma física dos seus executantes. Sendo eu, ao tempo, docente da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (2002) que melhor
personalidade da Fisiologia do Exercício Físico para se pronunciar sobre o
meu livro? Passado pouco tempo do seu envio recebi do Professor Santarem o seguinte mail:
“Com muita
alegria recebi o seu livro e a sua carta. Nossos ideais são comuns, e nossas
dificuldades históricas também. Felizmente
hoje as evidências nos apoiam e somos ouvidos, mas é sempre emocionante lembrar
os tempos em que éramos quase ignorados, Gostei muito do seu texto que,
naturalmente, deve ser lido com a lembrança da situação do conhecimento de
então. Como me pediu, segue em anexo um texto meu actual, é um capítulo de um
livro de medicina do esporte, ainda a ser editado. Meu desejo é que um dia nos
possamos encontrar e rir bastante com as dificuldades do passado. Um fraterno
abraço. Santarem”.
Por escassos
dias, esteve o Professor José Maria Santarem em Portugal, tendo-me visitado na minha residência em Coimbra para me dar um abraço, onde me encontro temporariamente imobilizado numa cadeira de rodas, após uma queda por me levantar de supetão da cama. Óptimo regresso ao Brasil e bem haja pela sua visita amiga que muito me
honrou e conforto me trouxe.
Como sentenciou Francis Bacon, “as amizades duplicam as alegrias e dividem as tristezas”. Eu tive a prova disso mesmo pela nobreza que a Amizade representa para o Professor Santarem em horas de infortúnio dos amigos!
Como sentenciou Francis Bacon, “as amizades duplicam as alegrias e dividem as tristezas”. Eu tive a prova disso mesmo pela nobreza que a Amizade representa para o Professor Santarem em horas de infortúnio dos amigos!
segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
Uma Fotobiografia de António Sérgio
Mais um artigo de Eugénio Lisboa, saído no "J.L.", que ora se transcreve, com muito agrado, aqui no DRN":
O cinquentenário da morte de António Sérgio não tem sido assinalado com a forma e a dimensão que esta grande figura indubitavelmente merece. Um artigo aqui ou ali e pouco mais. A universidade tem-lhe decididamente voltado as costas: colóquios ou uma edição cuidada da sua obra completa – não há qualquer indício disso.
E, no entanto, António Sérgio é um dos nossos maiores ensaístas, se não o maior. Problematizador exímio, definia assim o ensaio: “… o ensaio, com efeito, é a mais nítida forma de ver a criação ideológica; do exercício real, efectivo, de uma inteligência viva que indaga. Evoca a pesquisa, o tenteio, o ímpeto descobridor, o progresso.
Um «tratado» pode limitar-se à mera organização do já feito, ou a uma obra de carácter primacialmente erudito, ou ainda à aplicação a casos particulares definidos de uma teoria genérica já previamente admitida; pelo contrário, o ensaio promete originalidade, agilidade, finura; o esto juvenil, desportista; o duvidar metódico cartesiano, que está sempre aberto à problemática.”
Inquiridor incorrigível, intemerato experimentador de hipóteses, Sérgio deixou-nos um acervo de obras ensaísticas que fecundou, deixando marcas profundas, mais de uma geração – mesmo que alguns discípulos o hajam depois traído, trocando o duvidar metódico pelos confortos de uma ortodoxia compacta. Mas, apesar da sedução do seu caminhar indagador, a verdade é que, após a sua morte, um injusto esquecimento tem caído sobre o homem e a obra. E nem o pretexto do cinquentenário da sua morte contribuiu para alterar, de modo substancial, esta situação.
Eis, porém, que chegou ao meu conhecimento que se estava a preparar, para sair em data não muito distante, uma volumosa e sumarenta fotobiografia do grande ensaísta, da responsabilidade de Alfredo Campos Matos. O qual acaba, aliás, de dar à luz uma terceira edição, muito aumentada, do seu Diálogo com António Sérgio. Uma fotobiografia será sempre uma muito útil revisita à obra, às ideias e ao mundo do autor dos Ensaios, além de constituir um permanente instrumento de consulta. E talvez seja uma boa maneira de acender o interesse de novos leitores e reacender o esmorecido interesse de outros. Resolvi, pois, fazer um certo número de perguntas ao autor da futura próxima fotobiografia.
– Porquê trabalhar agora numa fotobiografia de António Sérgio?
Vivemos hoje numa época de predomínio da imagem, e este género literário permite transmitir, com mais facilidade, os dados biográficos fundamentais e o pensamento de um autor que é, decerto, o nosso maior escritor de ideias. Como o meu Amigo salienta no seu prólogo, Sérgio continua muito esquecido, pelo menos do grande público, a quem ele se quis dirigir. Digamos que se trata de um género aliciante, capaz de atingir um mais vasto número de leitores. Eça de Queiroz, António Nobre, Pessoa, Torga, Vergílio Ferreira e outros mais, eis nomes de fotobiografados. António Sérgio carece de uma fotobiografia.
– Uma fotobiografia exige uma minuciosa recolha de materiais, um enorme empenhamento e um profundo conhecimento do autor escolhido…
De acordo. Tal como acontece com Eça de Queiroz, vem da juventude o meu convívio com o autor dos Ensaios. Tenho, de há muito, tudo o que publicou e a maior parte do que sobre ele se escreveu, inclusivamente, em periódicos. Acresce que editei uma enorme antologia dos seus textos, em recente reedição aumentada e definitiva, Diálogo com António Sérgio. E, em 1983, publiquei uma desenvolvida Bibliografia, na Revista da História das Ideias, de Coimbra. Além disso, dispus do maior espólio deste autor, o do Arquivo Família de Fernando Rau. Servi-me também do arquivo do grande sergista Jacinto Baptista; do vasto acervo da Casa de António Sérgio, através de Sonia Queiroga, e do material inédito reunido por vários outros amigos e bibliófilos.
– Suponho que um grande motivo de interesse deste trabalho é o capítulo que contém os testemunhos sobre António Sérgio…
Assim acontece de facto. Trata-se de uma extensa e importante secção que implica verdadeiros ensaios, uns já publicados e completamente esquecidos, da autoria de eminentes sergistas, outros agora escritos propositadamente para inserção na fotobiografia. Muitos deles contêm matéria de altíssimo interesse para a dilucidação do pensamento filosófico, nada fácil, diga-se de passagem, do autor dos Ensaios. Capítulo não menos importante é o do levantamento de todos os autores com quem Sérgio polemicou, alguns deles que hoje já ninguém conhece.
– Teremos então novidades com interesse?
Certamente. No domínio biográfico da imagem, consegui um feito único, graças à ajuda da já referida Dra. Sónia Queiroga que, através de um descendente de Sérgio, me conseguiu a fotografia de seus pais na Índia, cerca de 1880, poucos anos antes do seu nascimento, entre altos dignitários brâmanes, foto muito bela e muito rara, apenas conhecida dos seus descendentes. Neste trabalho apresento muita matéria de reflexão no domínio ensaístico, que constitui preciosa ajuda para uma futura Biografia, dado que exige grande cultura filosófica e, mesmo, científica. Um outro capítulo com interesse é o do levantamento de todas as numerosas epígrafes da sua obra, o que permite tirar certas conclusões… Gostaria de salientar que me tenho esforçado por dar uma ideia alargada da atmosfera opressiva da ditadura salazarista, “tempos para sempre passados, memória quase perdida”, relatando as prisões, os exílios de Sérgio, as proibições das suas obras, publicando na íntegra, por exemplo, a carta de Sérgio ao Cardeal Cerejeira e a resposta deste, e a carta do bispo do Porto a Salazar, etc.
– Quando podemos contar com a publicação da fotobiografia?
Logo que entregue o trabalho a Edições 70, para o final do ano. Propus-lhes, desde o início, a sua edição, mas devo dizer que não tenho garantia a 100%...
– Algum outro projecto sergiano ou queirosiano?
Como é evidente, o Eça é uma constante sempre presente na minha vida, tanto assim que vou preenchendo um enorme dossier, com artigos meus e de outros, destinados ao prolongamento do Dicionário de Eça de Queiroz, que darei por terminado no próximo ano. Entretanto, tenho quase pronta a recolha de um livro de ensaios intitulado Comentários, título expressivo sugerido por um clássico bem conhecido da autoria de Júlio César. Além do mais, trabalho também, nos intervalos, na reedição da Bibliografia de Sérgio, trabalho ciclópico e minucioso que implica milhares de novas entradas. Ninguém pode imaginar a quantidade de estudos, teses e artigos que constantemente aparecem sobre o autor dos Ensaios, o que nos leva a afirmar que, entre o público erudito, Sérgio permanece vivo!... Aqui tem o meu Amigo, apetecendo-me concluir com uma citação expressiva, que Sérgio algumas vezes usou: “So runs my dream” (Tennyson)
O cinquentenário da morte de António Sérgio não tem sido assinalado com a forma e a dimensão que esta grande figura indubitavelmente merece. Um artigo aqui ou ali e pouco mais. A universidade tem-lhe decididamente voltado as costas: colóquios ou uma edição cuidada da sua obra completa – não há qualquer indício disso.
E, no entanto, António Sérgio é um dos nossos maiores ensaístas, se não o maior. Problematizador exímio, definia assim o ensaio: “… o ensaio, com efeito, é a mais nítida forma de ver a criação ideológica; do exercício real, efectivo, de uma inteligência viva que indaga. Evoca a pesquisa, o tenteio, o ímpeto descobridor, o progresso.
Um «tratado» pode limitar-se à mera organização do já feito, ou a uma obra de carácter primacialmente erudito, ou ainda à aplicação a casos particulares definidos de uma teoria genérica já previamente admitida; pelo contrário, o ensaio promete originalidade, agilidade, finura; o esto juvenil, desportista; o duvidar metódico cartesiano, que está sempre aberto à problemática.”
Inquiridor incorrigível, intemerato experimentador de hipóteses, Sérgio deixou-nos um acervo de obras ensaísticas que fecundou, deixando marcas profundas, mais de uma geração – mesmo que alguns discípulos o hajam depois traído, trocando o duvidar metódico pelos confortos de uma ortodoxia compacta. Mas, apesar da sedução do seu caminhar indagador, a verdade é que, após a sua morte, um injusto esquecimento tem caído sobre o homem e a obra. E nem o pretexto do cinquentenário da sua morte contribuiu para alterar, de modo substancial, esta situação.
Eis, porém, que chegou ao meu conhecimento que se estava a preparar, para sair em data não muito distante, uma volumosa e sumarenta fotobiografia do grande ensaísta, da responsabilidade de Alfredo Campos Matos. O qual acaba, aliás, de dar à luz uma terceira edição, muito aumentada, do seu Diálogo com António Sérgio. Uma fotobiografia será sempre uma muito útil revisita à obra, às ideias e ao mundo do autor dos Ensaios, além de constituir um permanente instrumento de consulta. E talvez seja uma boa maneira de acender o interesse de novos leitores e reacender o esmorecido interesse de outros. Resolvi, pois, fazer um certo número de perguntas ao autor da futura próxima fotobiografia.
– Porquê trabalhar agora numa fotobiografia de António Sérgio?
Vivemos hoje numa época de predomínio da imagem, e este género literário permite transmitir, com mais facilidade, os dados biográficos fundamentais e o pensamento de um autor que é, decerto, o nosso maior escritor de ideias. Como o meu Amigo salienta no seu prólogo, Sérgio continua muito esquecido, pelo menos do grande público, a quem ele se quis dirigir. Digamos que se trata de um género aliciante, capaz de atingir um mais vasto número de leitores. Eça de Queiroz, António Nobre, Pessoa, Torga, Vergílio Ferreira e outros mais, eis nomes de fotobiografados. António Sérgio carece de uma fotobiografia.
– Uma fotobiografia exige uma minuciosa recolha de materiais, um enorme empenhamento e um profundo conhecimento do autor escolhido…
De acordo. Tal como acontece com Eça de Queiroz, vem da juventude o meu convívio com o autor dos Ensaios. Tenho, de há muito, tudo o que publicou e a maior parte do que sobre ele se escreveu, inclusivamente, em periódicos. Acresce que editei uma enorme antologia dos seus textos, em recente reedição aumentada e definitiva, Diálogo com António Sérgio. E, em 1983, publiquei uma desenvolvida Bibliografia, na Revista da História das Ideias, de Coimbra. Além disso, dispus do maior espólio deste autor, o do Arquivo Família de Fernando Rau. Servi-me também do arquivo do grande sergista Jacinto Baptista; do vasto acervo da Casa de António Sérgio, através de Sonia Queiroga, e do material inédito reunido por vários outros amigos e bibliófilos.
– Suponho que um grande motivo de interesse deste trabalho é o capítulo que contém os testemunhos sobre António Sérgio…
Assim acontece de facto. Trata-se de uma extensa e importante secção que implica verdadeiros ensaios, uns já publicados e completamente esquecidos, da autoria de eminentes sergistas, outros agora escritos propositadamente para inserção na fotobiografia. Muitos deles contêm matéria de altíssimo interesse para a dilucidação do pensamento filosófico, nada fácil, diga-se de passagem, do autor dos Ensaios. Capítulo não menos importante é o do levantamento de todos os autores com quem Sérgio polemicou, alguns deles que hoje já ninguém conhece.
– Teremos então novidades com interesse?
Certamente. No domínio biográfico da imagem, consegui um feito único, graças à ajuda da já referida Dra. Sónia Queiroga que, através de um descendente de Sérgio, me conseguiu a fotografia de seus pais na Índia, cerca de 1880, poucos anos antes do seu nascimento, entre altos dignitários brâmanes, foto muito bela e muito rara, apenas conhecida dos seus descendentes. Neste trabalho apresento muita matéria de reflexão no domínio ensaístico, que constitui preciosa ajuda para uma futura Biografia, dado que exige grande cultura filosófica e, mesmo, científica. Um outro capítulo com interesse é o do levantamento de todas as numerosas epígrafes da sua obra, o que permite tirar certas conclusões… Gostaria de salientar que me tenho esforçado por dar uma ideia alargada da atmosfera opressiva da ditadura salazarista, “tempos para sempre passados, memória quase perdida”, relatando as prisões, os exílios de Sérgio, as proibições das suas obras, publicando na íntegra, por exemplo, a carta de Sérgio ao Cardeal Cerejeira e a resposta deste, e a carta do bispo do Porto a Salazar, etc.
– Quando podemos contar com a publicação da fotobiografia?
Logo que entregue o trabalho a Edições 70, para o final do ano. Propus-lhes, desde o início, a sua edição, mas devo dizer que não tenho garantia a 100%...
– Algum outro projecto sergiano ou queirosiano?
Como é evidente, o Eça é uma constante sempre presente na minha vida, tanto assim que vou preenchendo um enorme dossier, com artigos meus e de outros, destinados ao prolongamento do Dicionário de Eça de Queiroz, que darei por terminado no próximo ano. Entretanto, tenho quase pronta a recolha de um livro de ensaios intitulado Comentários, título expressivo sugerido por um clássico bem conhecido da autoria de Júlio César. Além do mais, trabalho também, nos intervalos, na reedição da Bibliografia de Sérgio, trabalho ciclópico e minucioso que implica milhares de novas entradas. Ninguém pode imaginar a quantidade de estudos, teses e artigos que constantemente aparecem sobre o autor dos Ensaios, o que nos leva a afirmar que, entre o público erudito, Sérgio permanece vivo!... Aqui tem o meu Amigo, apetecendo-me concluir com uma citação expressiva, que Sérgio algumas vezes usou: “So runs my dream” (Tennyson)
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
Mostra bibliográfica "Ciência no Feminino" no Rómulo
Na figura: Hedy Lamarr, actriz e tecnóloga.
No âmbito da exposição “Ciência no Feminino” organizada pelo RÓMULO – Centro Ciência
Viva da Universidade de Coimbra no seu 11º Aniversário em Novembro de 2019, preparou-se
uma Mostra Bibliográfica com a selecção de alguns obras genéricas do seu
acervo sobre mulheres que contribuíram para a história da ciência e
também algumas obras sobre as cientistas homenageadas na exposição.
A exposição e a mostra podem ser visitadas de forma livre e gratuita no corredor do piso 0
do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC).
Todos os documentos da mostra estão disponíveis para consulta e empréstimo domiciliário.
A presente lista foi elaborada de acordo com a NP – Norma Portuguesa 405 e organizada
por ordem cronológica ascendente.
Ciência no Feminino
Mulheres na ciência : Lise Meitner, Maria Goeppert-Mayer, Marie Curie. Introdução,
apresentação e tradução de A.M Nunes dos Santos, M. Amália C. Bento e Christopher
Auretta. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 1991. (Panfletos Gradiva ; 15). ISBN 9726622026.
RC 001 MUL
COLLIN, Françoise, ed. lit. - Le sexe des sciences : les femmes en plus. Paris : Éditions
Autrement, cop. 1992. (Sciences en Société ; 6). ISBN 2862603937.
RC 001 SEX
MCGRAYNE, Sharon Bertsch - Mulheres que ganharam o prêmio nobel em ciências :
suas vidas, lutas e notáveis descobertas. Tradução de Maiza F. Rocha e Renata Brant
de Carvalho. São Paulo : Marco Zero, 1994. ISBN 8527901714.
RC 001 MCG
SCHIEBINGER, Londa [et al.] - Ciência e género : quatro textos de quatro mulheres.
Selecção, tradução e prefácio Teresa Levy e Clara Queiroz. Lisboa : Centro de Filosofia
das Ciências da Universidade, 2005. (Cadernos de Filosofia das Ciências ; 2). ISBN
9729979413.
RC 001 CIE
WITKOWSKI, Nicolas - Trop belles pour le nobel : les femmes et la science. Paris :
Éditions du Seuil, 2005. (Science ouverte.). ISBN 2020685531.
RC 001 WIT
NORONHA, Ana, ed. lit. - Mulheres na ciência. 1ª. ed. Lisboa : Ciência Viva - Agência
Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, 2016. ISBN 9789729825156.
RC 001 MUL
FIGUEIRA, Catarina, ed. lit. ; FREIRE, Diana, ed. lit. - Mulheres na ciência. Lisboa :
Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, 2019. ISBN
9789729860263.
RC 001 MUL
**************************************************************
Cientistas Homenageadas na Exposição.
-Hipátia de Alexandria (c.355-415)
-Caroline Herschel (1750-1848)
-Mary Somerville (1780-1872)
-Mary Anning (1799-1847)
-Ada Byron Lovelace (1815-1852)
PADUA, Sidney - The thrilling adventures of Lovelace and Babbage : with interesting &
curious anecdotes or celebrated and distinguished characters. London : Penguin Books, 2016.
ISBN 9780141981536.
RC 74 PAD
WALLMARK, Laurie ; CHU, April, il. - Ada Byron Lovelace e a máquina pensadora. 1ª ed. Lisboa
: Gradiva, 2018. ISBN 9789896168148.
RC 82-93 WAL
-Sofia Kovalevskaya (1850-1891)
-Alice Eastwood (1859-1953)
-Marie Curie (1867-1934)
BIRCH, Beverley - Marie Curie : a cientista polaca que descobriu o rádio e suas propriedades
salvadoras. Tradução de Eduardo Lourenço. Lisboa : Editora Replicação, 1990. (Pessoas que
Ajudaram o Mundo). ISBN 9725700422.
RC 92 BIR
FIOLHAIS, Carlos ; SANTOS, A. M. Nunes dos ; PITA, Rui - Em torno da vida e obra de Pierre e
Marie Currie. Coimbra : Centro de Recursos da D.R.E.C, 1992.
RC 53 FIO
CURIE, Marie ; CHAVANNES, Isabelle, ed. lit. - Leçons de Marie Curie : recueillies par Isabelle
Chavannes en 1907. Les Ulis : EDP Sciences, 2003. ISBN 2868836356.
RC 001(091) LEC
DRY, Sarah - Curie. 1ª ed. London : Haus Publishing, 2003. (Life & Times). ISBN 1904341292.
RC 92 DRY
GOLDSMITH, Barbara - Obsessive genius : the inner world of Marie Curie. 1ª ed. New York :
W.W. Norton & Company, cop. 2005. (Great Discoveries). ISBN 0393051374.
RC 001(091) GOL
GONÇALVES-MAIA, Raquel - Marie Sklodowska Curie : imagens de outra face. Lisboa : Colibri,
2011. (Extra-Colecção). ISBN 9789896891169.
RC 92 GON
-Lise Meitner (1878-1968)
HERMANN, Armin - The new physics : the route into the atomic age : in memory of Albert
Einstein, Max von Laue, Otto Hahn, Lise Meitner : with 147 documents, manuscripts, and
photographs. Bonn-Bad Godesberg : Inter Nationes, cop. 1979.
RC 53 HER
- Emmy Noether (1882-1935)
- Matilde Bensaúde (1890-1969)
- Gerty Cori (1896-1957)
- Ida Noddack (1896-1978)
- Irène Joliot-Curie (1897-1956)
- Branca Edmée Marques (1899-1986)
- Cecilia Payne Gaposchkin (1900-1979)
- Barbara McClintock (1902-1992)
- Maria Goeppert-Mayer (1906-1972)
- Grace Hopper (1906-1992)
- Rachel Carson (1907-1964)
- Rita Levi-Montalcini (1909-2012)
MONTALCINI, Rita Levi - O elogio da imperfeição. Tradução Marcella Mortara, Valerio Mortara
São Paulo : Studio Nobel, 1991.
RC 92 LEV
MONTALCINI, Rita Levi - Contre vents et marées. Paris : Editions Odile Jacob, 1998. ISBN
2738105653.
RC 92 LEV
LEVI-MONTALCINI, Rita - Tiempo de acción : el mundo global y el nuevo siglo. 1ª ed.
Barcelona : RBA, 2012. ISBN 9788490063644.
RC 3 LEV
- Dorothy Crowfoot Hodgkin (1910-1964)
GONÇALVES, Raquel - Dorothy Crowfoot Hodgkin : Pepsina, Penicilina, Colesterol, Vitamina
B12, Insulina. Lisboa : Colibri, 2010. (Extra-Colecção). ISBN 9789727729913.
RC 92 GON
- Hedy Lamarr (1914-2000)
- Gertrude Elion (1918-1999)
- Rosalind Franklin (1920-1958)
MADDOX, Brenda - Rosalind Franklin : the dark lady of DNA. 1.ª ed. New York : HarperCollins,
2003. ISBN 0006552110.
RC 92 MAD
Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra
Maria João Oliveira | Revisão de Carlos Fiolhais
Janeiro de 2020
quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
"Roda que Roda" de João Manuel Ribeiro
J
oão Manuel Ribeiro é um dos autores nacionais com mais títulos de literatura infanto-juvenil.
Licenciado e Mestrado em Teologia pela Universidade Católica do Porto, com a dissertação «A evolução espiritual de Antero de Quental – Um itinerário da modernidade em Portugal», é doutor em Ciências da Educação, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com a dissertação «A Poesia na Escola – Resposta ao texto poético e organização do ensino». É também mestre em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores, pela mesma Faculdade, com dissertação sobre «A Poesia no 1.º Ciclo do Ensino Básico – Das Orientações Curriculares às decisões docente» e Master em libros y literatura infantil y juvenil, pela Universitat Autònoma de Barcelona.
Formador de professores e outros formadores, criou em 2017 e dirige o projecto "A Casa do João", que consiste de uma Revista de Literatura Infantil e Juvenil (trimestral) (www.acasadojoao.info), revista à qual dei uma entrevista que saiu no último número, um Canal de WEB TV, uma Web Rádio (www.radiotropeliasecompanhia.online) e prepara um Programa de Educação Literária (www.tropeliasecompanhia.pt ).
Tenho em mãos, com data de Outubro de 2019, um dos seus últimos livros de poesia infantil (com o ritmo com que publica nunca se sabe se é o último. De capa dura e colorido intitula-se "Roda que Roda" (editora Trinta por uma Linha, do Porto) e tem ilustrações de Miriam Reis. Os poemas infantis, em linguagem simples. são todos eles, de uma maneira ou de outra, inspirados pela ciência. Resultam muito bem se forem lidos com a necessária expressão. Trancrevo um, relacionado com o título:
"ENERGIA SOLAR
O Sol
O Sol volta
O Sol volta e volta
O Sol volta e volta e volta
O Sol volta e volta e volta e volta
&
O Sol nunca se revolta,
o Sol nunca se cansa
de ser criança."
Livros como este não deveriam faltar nas bibliotecas de jardins de infância e de escolas básicas. Obrigado, João, pelo magnífico trabalho que tens feito com a tua Casa.
oão Manuel Ribeiro é um dos autores nacionais com mais títulos de literatura infanto-juvenil.
Licenciado e Mestrado em Teologia pela Universidade Católica do Porto, com a dissertação «A evolução espiritual de Antero de Quental – Um itinerário da modernidade em Portugal», é doutor em Ciências da Educação, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com a dissertação «A Poesia na Escola – Resposta ao texto poético e organização do ensino». É também mestre em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores, pela mesma Faculdade, com dissertação sobre «A Poesia no 1.º Ciclo do Ensino Básico – Das Orientações Curriculares às decisões docente» e Master em libros y literatura infantil y juvenil, pela Universitat Autònoma de Barcelona.
Formador de professores e outros formadores, criou em 2017 e dirige o projecto "A Casa do João", que consiste de uma Revista de Literatura Infantil e Juvenil (trimestral) (www.acasadojoao.info), revista à qual dei uma entrevista que saiu no último número, um Canal de WEB TV, uma Web Rádio (www.radiotropeliasecompanhia.online) e prepara um Programa de Educação Literária (www.tropeliasecompanhia.pt ).
Tenho em mãos, com data de Outubro de 2019, um dos seus últimos livros de poesia infantil (com o ritmo com que publica nunca se sabe se é o último. De capa dura e colorido intitula-se "Roda que Roda" (editora Trinta por uma Linha, do Porto) e tem ilustrações de Miriam Reis. Os poemas infantis, em linguagem simples. são todos eles, de uma maneira ou de outra, inspirados pela ciência. Resultam muito bem se forem lidos com a necessária expressão. Trancrevo um, relacionado com o título:
"ENERGIA SOLAR
O Sol
O Sol volta
O Sol volta e volta
O Sol volta e volta e volta
O Sol volta e volta e volta e volta
&
O Sol nunca se revolta,
o Sol nunca se cansa
de ser criança."
Livros como este não deveriam faltar nas bibliotecas de jardins de infância e de escolas básicas. Obrigado, João, pelo magnífico trabalho que tens feito com a tua Casa.
"Portugal nos séculos XX e XXI" de Luísa Villarinho Pereira
O livro "Portugal nos séculos XX e XXI" e o subtítulo "Recordado através da imprensa, TV e algumas obras de referência" é uma história de Portugal desde a implantação da República até à actualidade.
Trata-se de uma edição da autora, Luísa Villarinho Pereira, que acaba de ser publicado em Lisboa. É o 13.º livro da autora, a maioria também em edições da autora de boa qualidade. Destaco "Um médico no Chiado- Dr. Salvador Villarinho Pereira (1879-1948)", (Lisboa, 2003), "Moçambique -Manoel Pereira (1815-1894). Fotógrafo commissionado pelo Governo português" (Lisboa, 2013), "Moçambique II - Manoel Joaquim Romão Pereira (1815-1894). Novas revelações sobre a sua colecção fotográfica" (Lisboa, 2017) e "Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1936-1911). Contributo para a sua memória" (Lisboa, 2018). A autora, que é artista plástica e também autora de poesoia, focou-se nestas obras na história familiar, uma microhistória que no caso é muito interessante: Salvador Pereira, médico obstreta e fotógrafo amador, foi o seu pai e Manoel Pereira, fotógrafo, foi seu bisavô, avô do seu pai (Manoel Pereira foi no século XIX, fotógrafo pioneiro em Moçambique).
Marcas fortes do seu último livro são a profusa iconografia a preto e branco (muitas das imagens são do arquivo familiar, estando reservados os direitos de reprodução) e a lista de mais de 100 páginas com todos nomes dos governantes da República Portuguesa desde o seu estabelecimento. É um trabalho que é tão meticuloso quanto útil, que exigiu bastante tempo e o recurso a várias fontes.
Este livro - em contraste com outros com um teor mais memorialista e pessoal - é mais objectivo e impessoal. Mas não deixa por isso de manifestar opinião e opinião forte. Uma tónica da autora, patente tanto na contracapa como num poema no final do corpo de texto, é a luta contra a indignidade e a corrupção. Com base em relatos de imprensa, são apresentados vários casos recentes, que ensombram a nossa política e que não convém esquecer. A autora tem razão ao apontar o dedo a essas velhas chagas nacionais que ainda nos assolam. A resistência contra esse inimigos não se pode fazer sem a memória histórica de que este livro dá amplo testemunho..
Trata-se de uma edição da autora, Luísa Villarinho Pereira, que acaba de ser publicado em Lisboa. É o 13.º livro da autora, a maioria também em edições da autora de boa qualidade. Destaco "Um médico no Chiado- Dr. Salvador Villarinho Pereira (1879-1948)", (Lisboa, 2003), "Moçambique -Manoel Pereira (1815-1894). Fotógrafo commissionado pelo Governo português" (Lisboa, 2013), "Moçambique II - Manoel Joaquim Romão Pereira (1815-1894). Novas revelações sobre a sua colecção fotográfica" (Lisboa, 2017) e "Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1936-1911). Contributo para a sua memória" (Lisboa, 2018). A autora, que é artista plástica e também autora de poesoia, focou-se nestas obras na história familiar, uma microhistória que no caso é muito interessante: Salvador Pereira, médico obstreta e fotógrafo amador, foi o seu pai e Manoel Pereira, fotógrafo, foi seu bisavô, avô do seu pai (Manoel Pereira foi no século XIX, fotógrafo pioneiro em Moçambique).
Marcas fortes do seu último livro são a profusa iconografia a preto e branco (muitas das imagens são do arquivo familiar, estando reservados os direitos de reprodução) e a lista de mais de 100 páginas com todos nomes dos governantes da República Portuguesa desde o seu estabelecimento. É um trabalho que é tão meticuloso quanto útil, que exigiu bastante tempo e o recurso a várias fontes.
Este livro - em contraste com outros com um teor mais memorialista e pessoal - é mais objectivo e impessoal. Mas não deixa por isso de manifestar opinião e opinião forte. Uma tónica da autora, patente tanto na contracapa como num poema no final do corpo de texto, é a luta contra a indignidade e a corrupção. Com base em relatos de imprensa, são apresentados vários casos recentes, que ensombram a nossa política e que não convém esquecer. A autora tem razão ao apontar o dedo a essas velhas chagas nacionais que ainda nos assolam. A resistência contra esse inimigos não se pode fazer sem a memória histórica de que este livro dá amplo testemunho..
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
Plataformas escolares para registo de dados: "Tudo pode ser vendido. Tudo pode ser subtraído"
Em Junho do passado ano, o Professor Paulo Guinote pronunciou-se, no seu blogue, sobre uma das plataformas postas ao "serviço" do sistema educativo português com o objectivo de recolher uma enorme diversidade de dados de instituições escolares, de pessoas que a elas estão ligadas e de acções que nelas têm lugar. O seu texto, de grande interesse, é o seguinte: 360 Controle Central Total + 0 Autonomia = Escola 360. Hoje saiu no Público um artigo de opinião da sua autoria, sobre o mesmo assunto, a que vale a pena dar atenção Quanto valem os dados dos alunos? Dele retirámos as passagens que se seguem.
Maria Helena Damião e Isaltina Martins
"Neste momento, milhares de escolas já cedem uma massa imensa de informação a um conjunto muito restrito de empresas privadas que cobram por esse serviço, ficando na posse de dados de todo o tipo sobre os alunos e famílias.
(...) o maior valor passou a estar na informação sobre os indivíduos e os seus hábitos e a forma como a adesão alargada aos novos aparatos tecnológicos e ferramentas digitais para as mais pequenas operações do dia-a-dia passou a estar monitorizada por uma multiplicidade de aplicações instaladas voluntariamente (ou por defeito) em computadores, tablets, smartphones e até relógios, [por isso] acho muito interessante que o tema seja abordado nas aulas de modo a que os indivíduos percebam até que ponto muitas das suas acções passaram a ser meros pontos em vectores de informação, destinados a alimentar algoritmos que, por sua vez, lhes fornecem “gratuitamente” sugestões para continuarem a consumir e assim manterem um ciclo permanente de fornecimento de mais informação a terceiros.
Informação cedida quase sempre de forma voluntária, porque inconsciente. Ou porque, afinal, a app é gratuita e dá muito jeito, sem que se perceba tudo o que lhes está associado e como isso pode ser comercializado de forma altamente lucrativa. Mesmo a mais pequena pesquisa num motor de busca acarreta que se aceite a “politica de privacidade” do fornecedor do serviço, da qual nem 1% da população se preocupa em ler as letras grandes, quando mais as pequenas.
Neste momento, a quase totalidade dos agrupamentos e escolas recorre a plataformas digitais para registo dos alunos e dos seus dados (assim como de professores e funcionários), bem como da generalidade das suas rotinas diárias.
Centenas de agrupamentos e milhares de escolas já cedem uma massa imensa de informação a um conjunto muito restrito de empresas privadas que cobram por esse serviço, ficando na posse de dados de todo o tipo (familiares, económicos, geográficos, de aproveitamento, assiduidade e sua tipificação) sobre os alunos e famílias (...).
A conversão em informação digital de algo tão simples como os consumos nas papelarias e bares escolares permite a acumulação de informação em servidores externos, com níveis de segurança muito frágeis, que, mesmo que sejam respeitadas as regras legais ou éticas no seu armazenamento e uso, podem ser “roubados” a qualquer instante por um hacker mediano.
Tudo pode ser vendido. Tudo pode ser subtraído. O que comemos, o que gastamos, quando, onde, a que ritmo. Até as doenças dos alunos ou as suas necessidades específicas (...).
Que se queira acrescentar uma nova camada de cedência de dados – quando se defende que as aulas sejam suportadas quase só em meios digitais – acerca da prática docente, dos hábitos de estudo, dos recursos usados, quando, onde, como, é subir outro nível – mas um nível muito importante – na entrega de informação dos alunos a plataformas online sem que exista uma garantia efectiva da manutenção da sua privacidade, já que o seu uso para efeitos comerciais é quase inevitável, mesmo que encoberta por termos como “partilha de informação” ou “busca de estratégias mais eficazes de gestão”. E há algum cuidado com isso quando se assinam contratos que quase todos os que cedem os dados desconhecem? A alternativa é o regresso à idade da pedra do papel como suporte único? Nada disso, é começar por repensar o que se entende e queremos quando falamos em “Economia Digital”. Professor do 2.º ciclo do Ensino Básico"
Nota - também o Professor António Duarte se pronunciou sobre este assunto no seu blogue: aqui
ENTRE O TEMPO E A ENTROPIA
O tempo é a entropia, no sentido em que, nas equações da física, o único modo de distinguir passado de futuro está explicitado pela Segunda Lei da Termodinâmica: num sistema isolado, a entropia nunca pode diminuir. A entropia serve por vezes de mote literário: por exemplo no romance "Entropia" do escritor brasileiro Alexandre Rodrigues (Afrontamento). tenho entre mãos, por amável oferta do autor, o livro "Entre O Tempo e a Entropia" do poeta da Nazaré Armando Macatrão (edição da Hora de Ler, Leiria, 2019, 48 páginas), que foi apresentado na FNAC de Leiria em 20 de Abril passado.
Confesso que, não conhecendo o autor meu contemporâneo (n. 1957) fiquei agradavelmente surpreendido pela qualidade da sua produção poética de um autor. Macatrão está longe de ser prolixo pois se trata apenas do seu segundo livro de poesia, tendo o primeiro sido publicado há mais de 20 anos ("O vazio do Nada", Minerva, Lisboa). É autor também de um romance ("O Eremitão", Magno, Leiria, 2000), Teatro ("Mr Blanky", 2008, e "Largo das Letras", 2015), Linguística/Etnografia ("Expressões de Nazareth", 2006) e Fotografia ("Um poema na praia"). Encontrei também na Internet algumas suas experiências muito interessantes de poesia visual. O prefácio, curto como convém a uma obra deste tipo, é de Cristina Nobre, professora do Instituto Politécnico de Leiria e especialista na obra de Afonso Lopes Vieira, o poeta de Leiria que tinha casa em S. Pedro de Muel. A prefaciadora chama justamente a atenção para o facto de que todos os poemas, de uma forma ou de outra, versarem o vazio, o tema que já tinha aliás dado o título ao primeiro livro de Macatrão.
De facto, o vazio é um problema difícil. A física diz mesmo que não há vazio. E diz também que no vazio não pode haver entropia, que é uma propriedade que caracteriza a matéria e a energia. Tem de haver alguma coisa para se degradar. De algum modo o oposto de vazio são as estrelas compactas a que chamamos buracos negros, e uma das fronteiras da termodinâmica, é a entropia desses objectos. Segundo Stephen Hawking, os buracos negros têm entropia, que está sempre a crescer, conforme manda a célebre Segunda Lei.
A poesia é sempre uma reacção contra o vazio, que além de problema físico é metafísico, e aqui um problema literário. Escreve o autor no primeiro poema ("Existencial)" na p.7:
"Na equação da minha existência
tenho o nada sempre presente,
o existente sempre ausente...
e a dúvida como rasgo de violência."
A palavra entropia só surge no poema "Entre o tempo e a entropia", que dá título ao livro, na p. 19:
"De impulso a impulso,
a existência se agita.
Nela, nada se perde,
e nada, nela se cria.
Desarruma o espaço,
redesenha o cosmos, perpetua a entropia.
De mutação em mutação,
conduz ao esquecimento,
qualquer configuração.
E, de fotograma em fotograma,
em movimento aparente,
gera a noção de tempo,
que se reduz a uma ilusão.
Quando tudo ainda era nada,´
quem, misteriosamente,
lhe terá dado o empurrão?"
Se este poema começa por falar da mudança (talvez ninguém tenha enunciado tão bem a segunda lei, sem saber física, do que Luís de Camões, quando escreveu que "todo o mundo é composto de mudança,/ tomando sempre novas qualidades"), que está associada ao tempo, como uma ilusão (curiosamente o físico Carlo Rovelli, que esteve há pouco em Portugal, fala disso mesmo), o final remete para a inquietação metafísica das origens, que a física não pode descrever. Para um físico não faz sentido falar de um tempo antes do tempo. Quando me perguntam o que houve antes do Big Bang, digo sempre que não sei, nem sequer sei se podemos falar de um antes.
Fica a pairar a questão de Deus, que não tarda a ser explícita. O poema seguinte ("O Deus fora da equação", p. 21), no meio de uma avalanche de termos da física, fala da "singularidade total" e da partícula de Deus (o nome para o bosão de Higgs que o físico Peter Higgs, ateu, não gosta mesmo nada). O poeta conclui a respeito da singularidade primordial:
"(...) É quando,
nele, encontro lago, estranhamente, vazio, um ponto sem solução,
e, nele, tento enquadrar o formulário de Deus que criou esse bosão."
O poema seguinte ("Passagem"), na p. 23, fala do infinito, do tamanho assustador do tempo (se Pascal ficava assustado pelas distâncias infinitas, o autor fica assustado com o tempo infinito):
"Tão breve é a passagem, o caminho,
o relâmpago da minha existência
por algo que só sei designar por tempo:
tempo infinito, monstruoso; tempo...
tempo e nada mais (...)"
O autor usa na sequência a palavra "googolónico" ("é "googolónico" o caminho do tempo"), mas deve querer dizer "googólico", de um googol, que é um número que se escreve com um um seguido por cem zeros (a palavra Google derivou daí, por corrupção), em anos ou mesmo em segundos é uma eternidade. Nesse infinito do tempo a vida é nada. E daí a inevitável inquietação metafísica sobre o sentido da vida. Já Antero de Quental a explorou em belos poemas como "Evolução" ("Interrogo o infinito e às vezes choro..").
O que é a vida? Que metáforas lhe assentam melhor? O autor responde, em "Insubstâncias", na p. 31:
"Mas, diante de tantas comparações, há uma que, seriamente,
põe-me a pensar é aquela em que me dá, simplesmente,
para compará-la a uma mão-cheia de nada, entornando
o conteúdo vazio para outra mão-cheia de coisa nenhuma."
Termino, com a minha vénia ao autor pela sua poesia metafísica, transcrevendo o poema "Mecânica estóica" na p. 37 (grande título... um dos que mais gosto) :
"O universo é uma caixinha
com um relógio de ponteiros
girando nem torno da decadência.
Compasso determinado,
andamento alucinado...
tic-tac, tic-tac... o tique-ataque
estóico não cessa de pulsar!
E, em perpétuo movimento,
a mecânica, a mestria.
sem algum sentimento,
perpassa a agonia da vida.
trespassa a carne em sofrimento!"
Faz lembrar alguns poemas de António Gedeão. Como ele. Macatrão sabe combinar ciência e arte poética. Isto é,por poesia se consegue dizer o que a ciência não consegue dizer. Conforme escreveu Jacob Bronowski
"A poesia é um tema maravilhoso que deveríamos considerar sempre que falamos de ideias científicas, porque nos relembra que se pode comunicar uma verdade de indubitável valor intelectual sem necessidade de ser complementada por qualquer sistema de equações.”
segunda-feira, 6 de janeiro de 2020
Como vê 2020?
A esta pergunta, que o Jornal de Negócios, me colocou, respondi:
Com esperança. É o fim da primeira década do novo século.
Oxalá se descubram alguns dos grandes mistérios da ciência: a matéria escura e
a matéria escura, talvez uma teoria unificada de tudo, outras Terras e a origem da vida, soluções
energéticas que permitam enfrentar as alterações climáticas, novas terapias genéticas,
a computação quântica acessível, inteligência artificial evoluída, os segredos
da consciência. Se não for em 2020 há-de ser na década seguinte.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
MINHA ENTREVISTA À "CASA DO JOÃO"
Dei uma entrevista ao escritor João Ribeiro, director da revista "A Casa do João", que acaba por ser publicada. Republico-a aqui, depurada de pequenas gralhas:
João Ribeiro
- É um cientista divulgador e comunicador de ciência. Fá-lo por dever
profissional ou (também) por outra razão?
Carlos Fiolhais - Por dever
pessoal, mais do que profissional. Os cientistas não têm a obrigação imperiosa
de serem comunicadores de ciência. Se fizerem
ciência bem feita, já cumprirão a sua missão. Alguns não terão sequer
habilidade para falarem ou escreverem de um modo acessível. Mas a ciência é de todos e para todos: para
que o seja basta que alguns cientistas, em colaboração com outros intermediários (como, por exemplo,
jornalistas), se encarreguem de traduzir as descobertas da ciência. Mais do que
os novos conhecimentos, importa, na minha opinião, transmitir
o método da ciência, o modo como se chega ao conhecimento. Graças a esse
método, a ciência vai sempre produzindo conhecimentos novos, isto é, a ciência deve
ser considerada mais um processo do que um produto. Eu senti dentro de mim a
vocação para a comunicação de ciência após o doutoramento, feito na Alemanha em 1982 (talvez tenha sido antes,
mas não tinha tempo!). O início dos anos 80 foi a época em que
apareceu a série de TV “Cosmos,” de Carl Sagan, cujo guião foi logo traduzido em
português pela Gradiva (uma editora então criada que se focou na cultura
científica). Publicou também as edições em português de outros grandes autores de ciência como
Richard Feynman (eu traduzi dele "O que é uma Lei Física"), Paul
Davies, Heinz Pagels, Stephen Jay Gould,
Richard Dawkins, Ilya Prigogine, etc. Tiro o meu chapéu ao editor Guilherme
Valente, que soube romper com uma velha cultura portuguesa.
Foi nessa altura que senti uma voz interior que me chamava para a divulgação de ciência.
Colaborei com a Gradiva primeiro como tradutor e consultor editorial,
depois como autor e a partir de certa altura como director de colecção “Ciência
Aberta”. De onde veio essa chamada? É difícil olhar para o passado, mas julgo
que foi porque eu próprio entrei na ciência pela porta dos livros que li na minha juventude, entre os quais os livros de divulgação
científica de Rómulo de Carvalho, o professor de Física e Química que escrevia
poesia sob o nome de António Gedeão. Diziam-me, nos meus anos juvenis, que eu tinha jeito para a comunicação:
escrevi e desenhei os jornais do meu liceu, o D. João III, e da Faculdade de Ciências e
Tecnologias da Universidade de Coimbra. Mais
tarde descobri os jornais nacionais, a rádio e televisão. E também as exposições, (ajudei
no planeamento da exposição do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra no
Laboratório Chimico). Tentei, com sítios da Internet e um blogue (“De Rerum
Natura”), a divulgação na World Wide Web, a cujo nascimento assisti.
E, desde há onze anos, dirijo o Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade
de Coimbra, que começou por ser só uma
biblioteca, passou também a ser um sítio de palestras e hoje é também uma escola, uma
oficina e um espaço de exposições, Gosto de experimentar as várias
possibilidades de comunicar ciência e acho que as temos de usar a todas.
JR- A
ciência em geral e a física em particular são mesmo divertidas ou o adjetivo
é marketing?
CF- Reconheço que há um pouco de marketing no título
"Física Divertida", que parece paradoxal, mas talvez por isso atraiu
na época (anos 90) um público enorme. Continua hoje a atrair. A comunicação tem de se servir de uns truques de marketing: os títulos
servem precisamente para chamar a atenção do leitor. Mas, de facto, também penso que a ciência em
geral, e a física em particular, é muito mais divertida do que geralmente se
pensa. É um grande prazer intelectual
quando se percebe que a ciência é uma aventura humana, resultado do esforço
continuado de muitos seres
humanos (infelizmente, muito mais homens do que mulheres) ao longo da
história. Em vez de ser algo escrito de uma vez por todas na pedra, é uma escrita permanente, podendo
ser reconhecidas nessa escrita todas as marcas do humano: a curiosidade, a inquietação,
a paixão, o medo, o desafio, a rivalidade, etc. O livro "Física Divertida” conta histórias
de descoberta da Física, a começar pela lendária história do Arquimedes, que terá saído da banheira para correr nu pelas ruas da cidade de Siracusa. Um aspecto essencial
da comunicação da ciência é mostrar que a ciência é uma actividade
humana. É o ser humano que
arranca à Natureza o conhecimento, um conhecimento que é sempre passível de revisão,
uma vez que a ciência continua.
JR. Como
despertar nas crianças o que designou de “curiosidade apaixonada"? Ou não
é preciso?
CF- A expressão “Curiosidade apaixonada" é de Einstein. Quando lhe perguntaram qual era o seu talento especial, ele respondeu,
modesto, que não tinha nenhum talento especial, mas tinha “curiosidade
apaixonada". Curiosidade todos nós temos, curiosidade apaixonada, isto é, uma
curiosidade intensa e obsessiva como uma paixão, só estará ao alcance de poucos.
Não penso que tenhamos de despertar a “curiosidade apaixonada” nas crianças, porque
muito poucas, quase nenhumas, virão a ser Einsteins. Basta que simplesmente lhes despertemos a curiosidade. Ou melhor, uma vez que elas já vêm de nascença com curiosidade,
que lha avivemos. Como? Julgo
que se deve começar pela experimentação: as experiências a brincar são o prelúdio
das experiências a sério. É possível com materiais simples responder a perguntas simples. Por exemplo, pensando na
flutuação de Arquimedes, podemos perguntar e verificar quais são os objectos que flutuam e os que afundam na água. Uma batata
afunda, mas uma maçã já flutua. Escrevi, em parceria com colegas, uma série de dez livros intitulada "Ciência Brincar" na Bizâncio.
Na Escola do Rómulo em Coimbra fazemos algumas dessas experiências para crianças de nove
anos, que estão no quarto ano de escolaridade. O método da ciência consiste na observação, na experimentação (que é a
observação controlada) e no raciocínio lógico. Experiências convenientemente
escolhidas permitem uma iniciação no método.
E o método é tudo. Há certas afirmações a respeito da Natureza que estão certas
ao passo que há outras que estão erradas. É o método científico que as permite distinguir.
JR-
Considera possível a aproximação entre a ciência e a literatura, nomeadamente a
literatura Infantil e juvenil (sem que nenhuma se renda à outra)?
CF- A ciência, o nosso
confronto com a Natureza, é uma dimensão humana. Pode e deve dialogar
com outras dimensões humanas, como as artes, onde se inclui a literatura. Na arte tal como na ciência também se responde a questões colocadas pela
mente, mas o método é evidentemente outro. A aproximação entre ciência e arte
é possível porque ambas buscam sentido, ordem, a partir de informação
desordenada. Se olharmos para a literatura portuguesa encontramos muitos
exemplos de proximidade com a ciência. Logo numa das primeiras obras escritas
em português, os “Colóquios dos Simples”, do médico Garcia da Orta, Luís de Camões
deixou os seus primeiros versos impressos. O mesmo Camões, nos “Lusíadas”, apresenta o sistema do mundo ptolemaico,
assinala muitas plantas e descreve fenómenos
naturais como o fogo de Santelmo. Antes disso Gil Vicente tinha escrito o “Auto
dos Físicos”, onde são retratados os médicos da época. Bastante mais
tarde, Bocage escreve sobre a primeira
subida em balão efectuada em Portugal pelo italiano Vincenzo Lunardi, há 225
anos. Rómulo de Carvalho soube juntar de uma forma única ciência e literatura
na sua poesia. Muitos escritores, ao longo da história, tiveram
formação científica-técnica: é o caso de Jorge de Sena, que foi engenheiro civil
(nascido há cem anos), ou de António Lobo Antunes, que é médico. Também nas artes visuais se podem encontrar
paralelismos notáveis com as ciências. No século XV, antes da Revolução
Científica, foi a geometria que permitiu uma representarão tridimensional realista do mundo,
ao proporcionar às técnicas da perspectiva. Além disso, há uma longa tradição de matematização da beleza, onde entra
a chamada "razão dourada" ou “divina proporção”. Tal como na arte
existe harmonia e quebra de harmonia, também na ciência há elementos estéticos: simetrias e quebras
de simetria. Vendo bem, procuramos o belo por todo o lado. E o verdadeiro
muitas vezes identifica-se com o belo.
JR- O que é
necessário fazer, em seu entender, para promover uma cultura científica entre
os mais novos?
CF- Chamamos cultura
científica à relação da ciência com outras actividades do ser humano: a ciência
tem relações com a saúde, com a lei, com a filosofia, com a ética, com a lei,
etc. Já falei da iniciação à ciência que pode ser
a experimentação. Relacionada de
perto com a experimentação deve ser valorizada a colocação de perguntas. Ora o questionamento
permite imediatas ligações com outras actividades humanas. Nunca se deve aceitar sem critica as
afirmações que chegam até nós. Citando de novo Einstein, “não podemos parar de
fazer perguntas”. Ter cultura científica significa perguntar. Perguntar uma vez, outra e outra ainda.
JR- Aparece
como coautor do livro “Entre Estrelas e Estrelinhas este Mundo anda às
Voltinhas”, de José Fanha, Daniel Completo. Em que consistiu e como foi a sua
participação neste projecto?
CF- O José Fanha e o Daniel
Completo procuraram-me para eu colaborar num projecto que tinham de um livro de
poemas sobre temas de ciência a musicar depois. Achei uma óptima forma de
cultura cientifica para os mais novos. Fiz sugestões
sobre os poemas, preparei um breve prefácio e, depois do livro pronto (que é acompanhado
por um CD) temos ido a várias escola. O Daniel e o José tocam e cantam as canções eu faço duas coisas: uma e
explicar o tema de cada canção e outro é, perto do final, responder a qualquer pergunta
que os pequenos queiram colocar. E há perguntas muito curiosas… A perguntar se exercita a
curiosidade.
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