terça-feira, 3 de dezembro de 2024

BANCOS DÃO AULAS, PROFESSORES OPERAM EM BANCOS. NÃO SOA BEM POIS NÃO?

MAS O QUE É QUE NÃO SOA BEM?
POR CERTO, OS PROFESSORES A OPERAREM EM BANCOS. 
POIS A EXPRESSÃO "BANCOS A DAR AULAS" TEM COLHIDO. 
E TEM COLHIDO JUNTO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, DE ESCOLAS E DE PROFESSORES.

Como presumo que seja do conhecimento muito geral, no ensino obrigatório, a Educação para a Cidadania, agora designada por Cidadania e Desenvolvimento, inclui a Educação Financeira

Desde o seu surgimento que, tal como em quase todas as outras áreas de educação para a cidadania (que são pelo menos dezassete), nela participam empresas, sobretudo bancos e seguradoras.

No passado ano lectivo essa participação foi reformulada dando origem à iniciativa "Banco da Minha Escola", promovida pela Associação Portuguesa de Bancos (APB). Atente-se no slogan e nas palavras da responsável pelo projeto de Educação Financeira dessa Associação (ver aqui, os destaques são meus.

Imagem recortada daqui

"Numa iniciativa inédita a nível nacional, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) e os principais bancos a operar em Portugal vão andar nas escolas de Norte a Sul do país a promover a literacia financeira. Ao longo do ano letivo, mais de 50 colaboradores dos bancos associados da APB, vão trocar o banco pela escola e ajudar 3 800 alunos do 3º ciclo e ensino secundário, a conhecer e compreender alguns conceitos fundamentais para o planeamento e gestão financeira do seu dia-a-dia (....

O projeto [Banco da Minha Escola] só é possível graças ao apoio dos bancos que integram o Grupo de Trabalho de Educação Financeira da APB e dos respetivos voluntários (...)

O empenho e envolvimento das escolas e dos professores, que já trabalham com a APB nestas iniciativas, tem sido também fundamental (...)

Tal como tem sido referido pelo presidente da APB (...), dispor dos conhecimentos práticos necessários para lidar com o dinheiro no dia a dia, é hoje um saber básico tão importante para a vida social como o ler, escrever e contar (...)

Sentimos que, quer as Escolas, quer os Professores, necessitam de apoio para este tipo de conteúdos mais específicos e estamos certos de que, enquanto setor, podemos e devemos ter um valor acrescentado nesta matéria. Por isso, decidimos avançar com este projeto de forma mais estruturada e contínua ao longo do ano letivo.

Um Projeto com mais de uma década Desde que foi criado, em 2011, e com a ajuda de 14 bancos associados, o projeto de Educação Financeira da APB tem procurado fomentar os níveis de literacia financeira da população em geral, com particular foco nos segmentos considerados mais vulneráveis, como os jovens e os seniores."

Sendo considerado um projecto de sucesso (não duvido que o tivesse sido para os bancos), neste ano pôr-se em marcha a segunda edição, abrangendo mais escolas e, obviamente, mais professores e mais alunos.

Imagem recortada daqui
 
Quem sem interessar pelos desígnios da escola pública, para os quais todos contribuímos, deve consultar o projecto de Educação Financeira no site da Associação Portuguesa de Bancos (aqui). Presumo que fique devidamente esclarecido.
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Nota
: Não, não sou contra educar para a cidadania na escola pública; de resto penso que educar implica necessariamente formar para uma existência cidadã. Porém, o que se abriga debaixo do cada vez maior guarda-chuva que se teima em designar por educação para a cidadania é... o que o leitor percebeu.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

MANIFESTO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM EM TEMPO DE GenAI

 Por Maria Helena Damião e Cátia Delgado

Assinado por académicos de diversos países do mundo, foi publicado no passado dia 29 de Novembro, na revista Open Praxis, o seguinte Manifesto com foco no ensino superior (aqui):

No RESUMO, os seus muitos autores explicam o espírito que os moveu: 

No manifesto examina-se criticamente o desenvolvimento da integração da IA Generativa (GenAI), chatbots e algoritmos no ensino superior (...). A GenAI, apesar de lhe serem imputadas vantagens na personalização da aprendizagem e na eficiência das acessibilidades, está longe de ser uma ferramenta neutra. Os algoritmos moldam a interacção humana, a comunicação e a criação de conteúdos, levantando questões profundas sobre o que é o ser humano, sobre a sua acção e sobre os preconceitos que veicula. A evolução da GenAI coloca-nos desafios na manutenção da ideia do humano, no que respeita à salvaguarda da equidade e de experiências de aprendizagem significativas. Neste manifesto destaca-se que a GenAI não é ideológica e culturalmente neutra. Em vez disso, reflecte visões de mundo que podem reforçar os preconceitos existentes e marginalizar diversas vozes. Como o uso da GenAI remodela a educação, faz correr o risco de desgastar elementos humanos essenciais - criatividade, pensamento crítico e empatia - e pode substituir interações com soluções algorítmicas. Este manifesto apela a medidas robustas e baseadas em evidências para uma tomada de decisão consciente no sentido de garantir que o GenAI melhore, em vez de diminuir, a capacidade humana de agir, bem como relembrar a responsabilidade ética na educação.

Em concreto, explicam PORQUÊ UM MANIFESTO? 

(...) o aparecimento público [da GenAI] no final de 2022 gerou, sem dúvida, especulações substanciais, exagero e até esperança. Em tempos tão incertos e especulativos, é crucial adoptar uma abordagem colectiva para navegar efectivamente no futuro, objectivo que os autores procuram alcançar com este trabalho colectivo. Com este manifesto, resistimos à aceitação acrítica da GenAI; em vez disso, procuramos uma perspectiva equilibrada analisando criticamente tanto os seus desafios como as suas possibilidades. Um manifesto, por definição, serve tanto como aviso como chamada de atenção, instando-nos a reconsiderar abordagens anteriores, à medida que avançamos (Latour, 2010) (...). Em vez de se repetirem slogans que compõem a narrativa educacional, aprofunda-se a compreensão da GenAI, procurando-se aumentar uma consciencialização que nos ajude a navegar na formação do futuro. [ver no manifesto dois quadros que sistematizam os aspectos considerados mais negativos e mais positivos da da GenAI, bem como a sua explicação]

E fazem, "humildemente", um AGRADECIMENTO "aos pioneiros que sonharam a inteligência além do pensamento humano". Dizem:

"O seu brilho iluminou o nosso caminho e seus legados permanecem em cada linha de pensamento e cada pergunta ainda sem resposta. Por isso, somos-lhes eternamente gratos"

Destacamos dois deles:

• Para Isaac Asimov, cujas Três Leis da Robótica sussurraram possibilidades através da ficção, despertando a imaginação e inspirando os dilemas éticos de um futuro que ainda está por vir.
• E Alan Turing, cuja pergunta atemporal (As máquinas podem pensar?) ainda ecoa, permitindo-nos explorar as profundezas da cognição e da criatividade. O (...) Teste de Turing, continua a ser um farol que nos guia através do labirinto do que significa conhecer, sentir, ser.

Vale muito a pena pelo menos passar os olhos por este Manifesto.

APRENDER A GOSTAR DE SABER

É com o maior gosto que o De Rerum Natura deixa aqui nota da apresentação do mais recente livro do Professor António Galopim de Carvalho. Agradecemos ao autor ter-nos facultado o índice e o texto do Prefácio.

ÍNDICE

ARTE
Modernismo ao alcance de todos
Arte Nova de Art Déco
O Surrealismo e a barrística de Rosa Ramalho
FICÇÃO
As férias da Inês
O fim do trabalho “de sol a sol”
Presbiopia na Feira de São João
Os “filhos da curta”
Apocalipse
FILOSOFIA
Pensar sobre o pensamento
Espreitar para dentro da filosofia
O berço da civilização ocidental
2200 anos antes da Tabela Periódica
GEOGRAFIA
Um saber nascido na Grécia antiga
Grande mestre e grande humanista
A “Planície” alentejana
A nova “Tetralogia mediterrânea”
Desertos e desertificação
Montes Hermínios
O Würm em Portugal
Arquivos da Natureza
Tagus, amnis hiberus maximus
O pré-Tejo e a sua foz
GEOLOGIA
O renascer da geologia clássica em Portugal
O pai da Tectónica de Placas em Portugal
Um grande professor e um cidadão de excelência
Primórdios da Geologia
Rochas, um conhecimento ao alcance de todos
Galopimito
Lapis philosophorum
As Pedras as palavras
Solo, a fronteira entre a roca e a vida
Geologia do vinho
Petrificados
Catastrofismo, Criacionismo e Uniformitarismo
A subalternização da Geologia no nosso país
É preciso elevar a cultura geológica dos portugueses
Reflexão sobre o ensino da Geologia
Açores, um laboratório de Geologia vulcanológica desperdiçado
HISTÓRIA
Transmutação, uma metáfora da purificação espiritual
Feudalismo para gente com pressa
Nos primórdios da grande epopeia
LITERATURA
O soneto em José Caniné
Decameron, obra-prima pioneira da literatura realista mundial
François Rabelais, o mais notável fundador da moderna literatura francesa
MEMÓRIAS
À margem das regras
Alfredo Cadeireiro, pintor de mobília alentejana
Literatura à mesa, depois do jantar
Os magalas
À luz do acetileno
A minha primeira crónica
A vénia pela matemática
O repentista
REFLEXÕES
Sobre o ensino da Geologia em Portugal
Os profissionais da comunicação social e nós
Uma vida em 366 palavras
Um esclarecimento
As mochilas escolares

PREFÁCIO

"O livro de alguém que continuará a existir depois de todos partirmos. Este prefácio arrisca-se, e logo ao primeiro parágrafo, a ser profundamente redundante, mas ainda assim arrisco: António Galopim de Carvalho é um farol, um dos poucos que nos consegue iluminar com uma sabedoria feita de procura da simplicidade, de encontro diário com um mundo que continua a valer a pena nos seus olhos ávidos e inquietos, esperançosos e otimistas – mesmo quando escreve palavras tristes ou cansadas é sempre a esperança que nos ocorre.
“Aprender a Gostar de Saber” é um livro obrigatório. Pode ser lido hoje ou amanhã, mas pode também ser lido numa qualquer eternidade pelos netos dos nossos netos. Há memória, mas o passado em tudo o que faz é sempre futuro. Quando nos escreve sobre o que lhe sabia a comida na infância, conseguimos sentir o cheiro do que nos faz falta; quando nos conta de episódios que só a ele importariam, são os nossos episódios que vamos buscar; quando nos fala de ser professor, ambicionamos uma escola que não existe; quando nos exalta com a geologia, navegamos num sonho mais largo; quando nos confessa detalhes familiares da sua relação com Isabel, ou dos seus dois filhos, é ternura e compromisso e amor; quando nos diz do Alentejo, e dos seus cismas, percebemos tudo o que é aquele lugar e as suas sombras.

António Galopim de Carvalho deixa-nos estes textos quando acaba de completar 93 anos. Nasceu em 1931, antes de Hitler se apresentar a mundo, antes até da Guerra Civil Espanhola. Os seus olhos viram muito sobre a história e a condição humana. Nasceu num lugar agreste e isolado e nunca foi bom aluno até ser um grande aluno na universidade. Quem seria capaz de dizer em Évora que aquele menino, irmão de Francisco José, estrela da música portuguesa, um dia viria a tornar-se um dos melhores portugueses, um dos cientistas mais reconhecidos, um dos professores mais aplaudidos, um dos defensores da nossa identidade histórica mais apaixonados e o diretor do Museu de História Natural mais emblemático e popular? Quem adivinharia? Bastaria estar atento às suas fotografias de criança e adolescente. Aqueles olhos cheios de curiosidade e espanto, aquela vontade de saber, de se encontrar, de partir à conquista de um mundo maior, mais largo, menos aprisionado a um destino que nos obriga a desistir de sonhar. Bastaria isso para termos percebido que o pequeno António um dia poderia ser o que quisesse ser. E ele foi o que quis ser. Com Isabel, sua companheira de sempre, navegou para fora de pé sem ter garantias de nada, apenas a sua curiosidade o poderia ajudar na tentação do acomodamento.

“Aprender a Gostar de Saber” é um livro para pais com crianças na escola. Um livro para os mais velhos e mais novos. Uns encontrarão o que são ou poderiam ter sido. Outros, ensinamentos que são puro ouro para quem caminha sem bússolas visíveis. Um livro também para os que gostam de viver e para os que têm dúvidas. Uns por perceberem o quanto a sua intuição estava certa, os outros pela constatação de que perderam um tempo que agora podem recuperar.

António Galopim de Carvalho é um dinossáurio. Não é o avô ou o pai dos dinossáurios, ele é um deles. Há 65 milhões de anos resistiu à extinção quando não se esperava que o fizesse. E hoje, tantas dezenas de milhões de anos depois, há quem não acredite que conseguiremos resistir à turbulência que causámos ao planeta. Oiçamo-lo então. Passemos pelos seus textos sem pressa, aprendamos com quem sabe do que está a falar. Afinal, ele é eterno e veio para nos contar estórias que fiquem antes do sono. Estórias que nos impeçam de adormecermos para a necessidade de não desistirmos, de continuarmos a combater por uma ideia de bem. Eis é um livro obrigatório de um homem que continuará a existir depois de todos partirmos. Um farol que ilumina quem o lê com a luz dos sábios."

Outubro 2024
Luís Osório

BANCOS DÃO AULAS, PROFESSORES OPERAM EM BANCOS. NÃO SOA BEM POIS NÃO?

MAS O QUE É QUE NÃO SOA BEM? POR CERTO, OS PROFESSORES A OPERAREM EM BANCOS.  POIS A EXPRESSÃO "BANCOS A DAR AULAS" TEM COLHIDO.  ...