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segunda-feira, 7 de março de 2016

PAIXÃO PELA FÍSICA

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional.



Muito provavelmente também aconteceu consigo. Há professores cuja influência nos acompanha pela vida fora. Professores que, com o seu entusiasmo e carisma contagiante, nos iluminaram o caminho, nos ensinaram de forma apaixonante uma dada disciplina, nos mostraram a beleza que há mesmo nas matérias mais difíceis. Em suma, há professores que mudam a nossa vida debruando-a com a paixão que há em compreender, em saber.

Entre nós há, felizmente, muitos exemplos de professores desses. Exemplo maior nas ciências foi o professor de física e de química Rómulo de Carvalho, que ensinou apaixonadamente várias gerações de alunos que lhe ficaram e estão agradecidos.

Na Física, a nível mundial, há um professor que se destaca: Walter Lewin. O leitor poderá não o conhecer. Mas, acredite, se assistir a uma aula dele passará a olhar para a Física com entusiasmo. Se já gostar de Física, ficará deslumbrado com a forma apaixonada, divertida e simultaneamente rigorosa com que Walter Lewin ensina as matérias mais difíceis e exigentes da Física.

E onde é que pode assistir às aulas deste professor? Na comodidade da sua casa, através do YouTube, na internet. É que as aulas que Lewin deu durante décadas no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), estão disponíveis para nosso encanto aqui. Têm sido excecionalmente populares ao longo dos anos. As 94 aulas disponíveis (três cadeiras completas, entre elas a famosa “Física 8.01”, e sete aulas temáticas) têm cerca de 3 mil visualizações por dia, mais de um milhão de alunos por ano!

O talento só dá frutos com muito trabalho e dedicação persistente. E o sucesso deslumbrante das aulas de Walter Lewin deve-se, segundo o próprio, a um trabalho meticuloso e pormenorizado, em que cada palavra, cada demonstração foram planeadas e preparadas muitas vezes antes de cada aula. Lewin era conhecido entre os colegas por fazer um último ensaio geral às cinco da madrugada do dia em que dava aulas para plateias de 400 alunos. Sim, ensaio geral: as aulas deste físico, de origem holandesa, envolvem demonstrações experimentais espantosas e surpreendentes. Lewin chega a colocar em algumas delas a sua própria vida aparentemente em risco. Aparentemente, pois a confiança e o rigor científico asseguram-lhe que de facto nada de mal lhe vai acontecer durante as demonstrações. A sua confiança na ciência é espectacular!

“Apresento as pessoas ao seu próprio mundo, o mundo em que vivem e que lhes é familiar e que não abordam como um físico – ainda não abordam”, diz Lewin para explicar o segredo do seu sucesso. É esta aproximação da Física ao dia-a-dia de todos nós que facilita a compreensão dos fenómenos.

Para coroar décadas de ensino numa das melhores escolas do mundo (o MIT), Lewin escreveu em 2011 o livro “A Paixão da Física – do final do arco-íris à fronteira do tempo, uma viagem pelos prodígios da Física”. Este livro foi agora publicado entre nós pela Gradiva, integrado na sua prestigiada colecção “Ciência Aberta”, com o número 214. O livro é prefaciado por Warren Goldstein, prestigiado historiador e ensaísta, ele próprio um entusiasta da Física e do trabalho desenvolvido por Lewin.




A tradução do original inglês é de Florbela Marques que fez um excelente trabalho. A revisão científica é de Carlos Fiolhais (que também é o actual director da colecção) e a revisão de texto ficou a cargo de Helena Ramos. São 400 páginas de puro fascínio pela Física e uma excelente obra de divulgação científica para todos.

Ao longo de quinze capítulos, Lewin conta-nos as suas aulas, a sua vida enquanto professor e cientista. Mas este livro está comoventemente compaginado com uma componente humana, em que Lewin partilha connosco como em criança escapou aos nazis, os seus tempos de estudante na Holanda, como começou a ensinar e conquistou uma cátedra do outro lado do Atlântico.

Walter Lewin também foi um extraordinário físico experimental: foi pioneiro na astronomia de raios X, contribuiu para a nossa compreensão de supernovas, de estrelas de neutrões, para a investigação experimental sobre existência de buracos negros. E a história desta ciência também é descrita na primeira pessoa neste livro, contribuindo assim com um testemunho pessoal para a história de como se faz ciência de qualidade na fronteira do conhecimento. É, assim, também um livro de história da ciência.

Esta obra é uma forma excelente de Lewin divulgar o seu entusiamo contagiante pela Física àqueles que não puderam ser seus alunos. Muito bem escrito, numa linguagem acessível e contagiante, este livro guia-nos pelo nosso mundo explicando como funciona através da Física que com ele passamos a compreender. É destinado a todos, porque todos gostamos de compreender o universo em que existimos. Apaixone-se pela Física com este livro.


António Piedade

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O SOM DA ANTÁRCTIDA

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional.



Que sons conseguimos ouvir na Antárctida? O som de um vento enregelado pelo frio polar? O som de milhares de pinguins, focas e albatrozes? Um som polvilhado com um verde insuspeito no imenso branco polar? O melhor é deixar a imaginação ouvir ao ler a experiência de quem lá viveu durante nove meses ininterruptos e que disso fez relato.
E esse relato pode ser lido em “O Som da Antártida”, um dos 45 textos em forma de diário escritos pelo cientista polar português José Xavier, e que compõem no conjunto o seu livro “Experiência Antárctica – relatos de um cientista polar português”, obra que acaba de ser publicada pela Gradiva, na colecção “Ciência Aberta”, com o número 207.
Este livro, que tem a revisão científica de Carlos Fiolhais, documenta “a mais longa expedição científica de sempre realizada por um português na região antártica”, escreve o seu autor na introdução do mesmo. “Não só relata os objectivos científicos dessa expedição, abordando questões actuais e pertinentes sobre as regiões polares, como também dá conta do quotidiano na Antárctida”.
Esta obra constitui um dos poucos relatos na primeira pessoa sobre o quotidiano da investigação de um cientista português e, mesmo que fosse só por este aspecto, destaca-se no panorama recente da divulgação de ciência em Portugal.
É um testemunho genuíno e apaixonado do autor, biológo marinho e investigador do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra e do British Antarctic Survey (Cambridge), numa escrita clara e cativante, apaixonada mas rigorosa, pulsada com um entusiasmo contagiante não só pela Antárctica, como também pela ciência.
Em “Experiência Antárctica” os relatos estão compaginados com 31 fotos a cores o que acrescenta uma forte intensidade visual à excelente escrita de José Xavier, para além de engrandecer a presente edição com 198 páginas.
Ao lermos este livro ficamos não só na posse de diversos conhecimentos sobre a vida na Antárctida, uma natureza em estado puro mas onde a influência das alterações climáticas globais se fazem sentir com crescente preocupação, mas também na posse de informações preciosas sobre como é o dia a dia de cientistas a investigar num ambiente extremo. É um livro sobre a vida na Antárctida, mas também sobre a ciência.
José Xavier é um excelente comunicador de ciência e isso reflete-se neste livro que está escrito de forma a poder ser lido por todos. Lê-se como um livro de aventuras recheado de boa ciência.
É um livro destinado a todas as idades, uma obra que possui a qualidade de nos despertar apaixonadamente para a ciência. Recomendado a todos.

Recorte do artigo publicado no Diário de Coimbra

António Piedade

quarta-feira, 5 de junho de 2013

AVENIDA "CIÊNCIA ABERTA" Nº 200

A partir de uma nota publicada no Diário de Coimbra


Um dos principais acontecimentos editoriais deste ano, pelo menos no contexto da melhor divulgação científica em língua portuguesa, é a publicação do n.º 200 da colecção “Ciência Aberta” da editora Gardiva.

A colecção, premiada em 2012 com o Grande Prémio Ciência Viva, teve início em Junho de 1982, o que demonstra a impressiva regularidade com que o seu editor, Guilherme Valente, brindou o público português com o que de melhor se faz a nível internacional na área da divulgação de ciência. Sublinhe-se que a “Ciência Aberta” é reconhecida internacionalmente como uma das melhores colecções de divulgação de ciência. 

O n.º 200, desta grande Avenida do conhecimento, é “Ciência e Liberdade – democracia, razão e leis da natureza”, do prestigiado Timothy Ferris, por muitos considerado o melhor divulgador de ciência da sua geração. 

Leia aqui o início deste livro.

António Piedade

domingo, 10 de março de 2013

CICLOS DE TEMPO - UMA VISÃO NOVA E EXTRAORDINÁRIA DO UNIVERSO

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional.




Ciclos de tempo - Uma visão nova e extraordinária do Universo” é o novo livro do físico-matemático inglês Roger Penrose, publicado pela Gradiva na sua premiada colecção “Ciência Aberta", com o n.º 198. Neste livro, o prestigiado cientista inglês propõe um novo modelo cosmológico do Universo.

Esta primeira edição portuguesa de “Ciclos de Tempo” (Fevereiro de 2013) foi traduzida por Nelson Rei Bernardino a partir da obra original inglesa publicada em 2010. É pois um livro bem recente (ler um excerto aqui), escrito de forma cativantemente rigorosa por Roger Penrose, cientista octagenário, conhecido do grande público por várias e notáveis obras de divulgação científica que alcançaram reconhecimento e êxito mundial. Esta obra adiciona-se a outras três do mesmo autor também publicadas entre nós pela Gradiva, a saber: “A Mente Virtual,A Natureza do Espaço e do Tempo” e “O Grande, o Pequeno e a MenteHumana.

Na sua longa carreira Penrose distinguiu-se sobretudo pelas contribuições para a cosmologia em geral e para a relatividade geral em particular. É «autor de várias descobertas que em muitos casos criaram conceitos baptizados com o seu nome, entre eles as escadas de Penrose ou as desigualdades de Penrose».


Agora, Roger Penrose aborda «um dos mistérios mais profundos do nosso universo» que «é o enigma da sua origem». Estruturado em três partes intituladas “O mistério da segunda lei”, “O carácter curiosamente especial do Big Bang” e a “Cosmologia cíclica conforme”, o livro inclui ainda dois apêndices, de leitura naturalmente facultativa, devido aos seus cálculos tecnicamente mais complexos.





Penrose descreve não só “os principais modelos da cosmologia relativista clássica, mas também vários desenvolvimentos e enigmas que surgiram desde a descoberta da radiação cósmica de fundo”, a qual veio transformar a cosmologia numa ciência exacta e sustentar a ideia de que o nosso Universo terá tido origem no evento singular designado por Big Bang.

Penrose faz uma análise abrangente da segunda lei da termodinâmica. Segundo esta lei, «as coisas vão ficando cada vez mais desorganizadas à medida que o tempo passa». Ou seja, e por outras palavras, esta lei descreve a tendência continuamente crescente da «desordem» no Universo, ou, de um modo mais rigoroso, descreve o aumento de entropia com o tempo num sistema isolado.

A partir da segunda lei e da geometria do espaço-tempo baseada na teoria da relatividade geral, Penrose propõe um novo modelo cosmológico do universo: a cosmologia cíclica conforme (CCC). O modelo propõe uma explicação para o que existia antes do Big Bang que deu origem ao nosso Universo actual e o que estará para lá dos buracos negros. Explicando padrões circulares detectados na radiação cósmica de fundo, a proposta de Penrose poderá substituir o modelo inflacionário actualmente mais aceite pela comunidade científica.

Este novo modelo, ao integrar o conhecimento actual, propõe-nos uma compreensão do Universo e contribui para a reflexão filosófica sobre a sua origem e natureza da sua evolução.

Este livro é, assim, de leitura imprescindível para uma actualização profunda sobre o Universo, desde o mais remoto passado ao mais longínquofuturo, do infinitamente pequeno e intangível da física de partículas ao astronomicamente longínquo e igualmente intangível do horizonte em expansão.

António Piedade


Nota sobre o modelo da Cosmologia Cíclica Conforme


A Cosmologia Cíclica Conforme (CCC) é um modelo cosmológico proposto pelo físico-matemático Roger Penrose e construído a partir da teoria da relatividade geral de Einstein. Na CCC o universo expande-se indefinidamente até alcançar uma densidade infinitesimal (o oposto da densidade infinita quen houve no Big Bang) e uma entropia desprezável. Na fronteira evaporar-se-iam os buracos negros, a matéria (fermiões) converter-se-ia em radiação (só ficariam fotões e gravitões) e o tempo pararia.

Através de uma operação matemática Penrose iguala essa infinitude praticamente vazia a um ponto sem dimensões, que daria origem ao um novo Big Bang. Assim, segundo a CCC o Universo passa por sucessivos ciclos infinitos, com o fim da linha do futuro de cada universo identificado com a singularidade do Big Bang do universo seguinte. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

“O NÚMERO DE OURO”

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional portuguesa.

O que é que têm em comum a bela distribuição das pétalas de uma rosa, as esplendorosas conchas em espiral dos moluscos, o famoso quadro de Salvador Dali “o Sacramento da Última Ceia”, a reprodução dos coelhos e a forma das galáxias? O “número de ouro”.

O “número de ouro”, igual a 1,6180339887…(uma dizima infinita não periódica) é comummente identificado pela letra grega fi (ϕ), a primeira letra do nome Fídias, escultor grego (c. 490 a c. 430 a.C.) cujas esculturas terão sido supostamente influenciadas pela proporção indicada pelo “número de ouro”.

Esta ligação entre a matemática e as artes é muito mais comum e antiga do que normalmente temos presente, remontando seguramente à civilização jónica. O “número de ouro” tem fascinado não só artistas plásticos mas também biólogos, físicos, astrónomos, músicos, historiadores, arquitectos, psicólogos, filósofos, místicos, entre outros. De facto, o "mistério" da frequência com que este número aparece ao longo da vida inspirou e influenciou pensadores de todas as disciplinas como nenhum outro na história da matemática.

O “Número de Ouro” é também o título no novo volume (n.º 195) da incontornável colecção “Ciência Aberta, da editora Gradiva que o acaba de publicar. Com a autoria do astrofísico Mario Livio (do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial Hubble), “O Número de Ouro – a história de Φ , o número mais assombroso do mundo”, recebeu o Prémio Internacional Pitágoras - Peano - para melhor livro de divulgação matemática. Este livro é de facto fascinante e está escrito de uma forma muito cativante.

Mario Livio vai muito para além de descrever as propriedades matemáticas, geométricas, associadas ao número de ouro. Ao longo de nove capítulos (1 - Prelúdio a um número; 2 - A frequência e o pentagrama; 3 - Debaixo de uma pirâmide a apontar para as estrelas?; 4 - O segundo tesouro; 5 - Filho afortunado; 6 - A divina proporção; 7 - A liberdade poética também é um direito dos pintores; 8 - Dos mosaicos aos céus; 9 - Deus será matemático?), o autor guia-nos através da história da matemática e da humanidade, numa linguagem sóbria e fluída, contida no entusiasmo que o número desperta constantemente.

Mario Livio desmistifica e desmonta inúmeras associações, forçadas, erradas, documentadas em fontes dúbias ou mesmo inexistentes, e que existem na literatura sobre a presença do “número de ouro” em várias obras de arte e arquitectónicas da história da humanidade. Através de uma análise rigorosa às fontes e aos argumentos que vários autores usaram ao longo da história do “número de ouro”, o autor deste livro eleva-nos ao interesse genuíno sobre este número de forma arrebatadora e despojada de falsa ciência.

O astrofísico escreve no primeiro capítulo do livro (Prelúdio a um número) que o objectivo de nos ajudar a obter alguns conhecimentos sobre as bases daquilo a chama a “numerologia de ouro” assim como o de transmitir o lado humano que sempre esteve presente na história deste número, norteou a sua escrita.

Para Roger Penrose, emérito matemático da Universidade de Oxford, este livro é “um trampolim maravilhoso para o extraordinário mundo da matemática e da sua relação com o mundo físico tal como encarado da Antiguidade aos tempos modernos”. 

Ao sabor de inúmeras histórias, e à “boleia” do “número de ouro”, Mario Livio consegue transmitir de forma simples inúmeros conceitos e elementos que são fundamentos de várias áreas da matemática. Ao descrever as propriedades implícitas no “número de ouro”, faz um apelo à nossa atenção para mundo à nossa volta e usa a matemática para salientar a sua beleza e o fascínio, o espanto, que as coisas misteriosas sempre despertaram na mente humana. 

Recomendável, ou mesmo imprescindível, para mostrar o quanto a matemática é útil para o conhecimento do cosmos e como ela está presente na sua beleza.

António Piedade

Ficha bibliográfica:
O Número de Ouro - A história de Fi, o número mais assombroso do mundo
Autor: Mario Livio
Editora: Gradiva
Colecção: Ciência Aberta
Páginas: 392
Ano de edição: 2012
ISBN: 978-989-616-496-6
Capa: Brochado (capa mole)

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...