Mostrar mensagens com a etiqueta climatologia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta climatologia. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Trabalho de Migrar – A Migração Espectacular do Beija-flor.


Crónica, na sequência de outra, as duas publicadas primeiro na imprensa regional.

Esquecemos muitas vezes o que nos parece óbvio!

Algumas coisas são tão próprias da nossa natureza, tão habituais e regulares, que não despendemos esforço para reparar nelas.

Todos os anos esperamos e achamos natural que muitas espécies de aves, como as andorinhas e outras pequenas aves como os beija-flores, ou colibris, regressem no início da estação da primavera.

A sua chegada, alegra-nos como prenúncio de um novo tempo de fertilidade, promessas de nova abundância de alimentos, de um clima mais ameno e contrário às agruras das estações frias. Mas de quão longe vêm essas aves que enchem o espaço com anúncios primaveris? Antes de continuar, façamos uma pausa, voltemos ao princípio.

No princípio esquecemo-nos de constatar o óbvio: antes de a vida desabrochar no planeta Terra já havia “tempo”, já havia “espaço”. A evolução da vida no planeta Terra efectuou-se sobre a matriz “física” do “tempo” e do “espaço”. E estes ficaram substantivos, elementos íntimos da vida. Ficaram incorporados nas características e propriedades do que é vivo num determinado período de tempo. Durante esse período de tempo, o ser vivo explorou e migrou num determinado espaço. Como as condições mais apropriadas “à sua vida” variavam no espaço e com o tempo, sobreviveram os grupos de indivíduos que melhor se adaptaram à variação frequente, cíclica, de determinados factores físicos e químicos, também eles variáveis no tempo e no espaço.

Assim, as migrações cíclicas ajustadas às estações climáticas são uma das características da vida neste planeta. Em todas as migrações dos seres vivos é possível encontrar algo de surpreendente que nos maravilha. O exemplo da migração das pequenas aves conhecidas por “beija-flores” (família Trochilidae) é um dos que surpreende pelo grande contraste entre o seu tamanho de poucos centímetros, alguns gramas de peso, e os milhares de quilómetros da sua migração sazonal à procura de flores e primavera.

Algumas espécies de beija-flores efectuam voos de cerca de 2400 km, sem nunca parar e sempre sobre o mar, para regressar às zonas em que a estação primaveril vai despontar. Para isso, estas pequenas aves mantêm uma velocidade de cerca de 40 km/h, durante cerca de 60 horas! Para “aguentar” a migração, estas aves alteram o seu metabolismo de reservas energéticas e armazenam uma significativa quantidade de gorduras na forma de ácidos gordos e cetonas, aumentando cerca de 10 vezes de peso e o dobro do tamanho! Uma transposição para o ser humano significaria um aumento de peso de cerca de 10 kg por dia, durante a preparação para o início da migração!

Um dos aspectos muito curiosos da bioenergética associada a esta migração é o de que água é produzida como um dos produtos da oxidação das gorduras (combustível) durante o voo. As pequenas aves não passam sede, nem fome, nem precisam de recorrer às proteínas dos seus necessários músculos para chegar ao seu destino.

No final da migração, o beija-flor consumiu cerca de dois terços da gordura armazenada, e ainda lhe “sobram” reservas de energia para alguma eventualidade, algum atraso na primavera, algum contra tempo do clima.

(contínua)

António Piedade

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Abril, águas mil!


Crónica Publicada na Imprensa Regional:

A água é uma constante da vida!

Sem essa molécula, H2O, sem as propriedades a que ela dá lugar nos diversos estados físicos que se lhe conhecem (líquido, gasoso, sólido), nas condições de temperatura e pressão dos vários locais onde a vida foi encontrada no nosso planeta, sem essa molécula não estaríamos aqui.

Nem eu teria escrito este texto, nem o leitor o estaria, porventura, a ler!

 Na geringonça cíclica em que a substância água faz mover informação e energia no nosso planeta, a chuva desde sempre foi necessária para fertilizar com vida as rochas e terrenos emersos dos continentes, penínsulas, istmos e ilhas.

No regresso aos oceanos, a água corrente dos rios finais beija o mar com aromas, compostos, matéria e vida que recolheu e transporta desde as suas fontes nascentes, desde o local a montante onde brota e nasce despida, fresca, promessa de vida a jusante. Logo que a Humanidade se fixou na ideia da “urbe”, assentou os alicerces junto a cursos de água. Todas as antigas civilizações se semearam, cultivaram, disseminaram junto ou entre grandes rios (Tigre, Eufrates, Ganges, Nilo, Danúbio, Guadalquivir, Douro, Tejo, Guadiana, Sado, Mondego, entre tantos outros).

Mas sem chuva a trazer de volta água à terra que pisamos, a miséria instala-se. Se tarda, se demora, se se ausenta, quebrando os ritmos sazonais anuais, seculares, logo se instalam severas preocupações com a morte a substituir o mar a jusante.

Quase todos ouvimos o ditado popular “em Abril, águas mil”. Quase nenhum de nós o questiona. É um saber feito de tempo, saber tácito feito de regularidade passada que teima em se repetir anualmente, pouco tempo depois do equinócio (da primavera) em regiões acima da nossa latitude até ao círculo polar árctico. 

Aquele ditado não existe só em terras lusas. Que se encontre também em Espanha não é de espantar. Mas que faça parte da “sabedoria popular” por essa Europa acima, isso já levanta algum espanto (e pede ciência). Encontramos o provérbio em França - "les giboulées de Mars” -, no Reino Unido e Irlanda – “April showers”, "April showers bring May flowers" – e, exemplo nórdico, até na Noruega – “April bygger”.

O fenómeno meteorológico que alimenta o provérbio assenta no aumento do período de luminosidade solar incidente de forma progressivamente mais perpendicular a partir do equinócio da primavera (no hemisfério norte). Isto provoca um aumento progressivo da temperatura do solo, o que causa evaporação da água (mesmo que pouca devido a outonos e invernos menos chuvosos – como foi o caso este ano) retida e presente nos interstícios da terra.

Correntes de ar quente e vapor de água ascendem, aumentando a humidade relativa do ar. Como a temperatura média do ar também subiu, maior quantidade de água passa e fica na atmosfera (maior humidade relativa), prenúncio de nuvens, certezas pluviais. Este movimento, por convecção de ar quente e água (quer no estado gasoso quer no liquído), provoca fenómenos meteorológicos súbitos que nos “estragam” os passeios primaveris, mas que redistribuem a água preciosa, minorando os efeitos de secas nefastas para a maltratada agricultura.

O curioso e certo é que, apesar da seca deste ano, temos vivido um Abril que faz justiça ao ditado! Transcrevo, para terminar, a resposta que o Prof. António Galopim de Carvalho me enviou  à minha pergunta sobre o provérbio:

"Os ditados populares são testemunhos de muita sabedoria. São a síntese de um saber colectivo de gerações. A suposta tendência actual (no nosso hemisfério) da desertificação estar a migrar para norte, leva-me a pensar que, num passado geologicamente muito recente, tivemos aqui, no sul da Península, um clima chuvoso como o da chamada Ibéria Húmida, bem exemplificado no nosso Minho e na Galiza, clima esse que poderia estar na base do referido ditado."

António Piedade

(Agradeço a colaboração do Ricardo Cardoso Reis, na investigação para esta crónica.)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O SEGREDO DO DISCO ASTRONÓMICO


De férias na Alemanha, leio na imprensa alemã uma interessante notícia sobre o disco de Nebra (já referido neste blogue), cuja descoberta no lugar de Nebra, na província da Saxónia-Anhalt tem levantado grande discussão desde há dez anos.

Investigadores das Universidades de Mainz e de Halle (cidade em cujo museu arqueológico o disco está guardado) pretendem ter encontrado uma explicação para o enterramento do disco, há 3600 anos, em plena Idade do Bronze. Nessa época, as cinzas de um vulcão na ilha de Santorini, no Mediterrâneo, terão causado um obscurecimento dos céus da Europa durante um período de cerca de 20 anos (um fenómeno um pouco parecido com o que se passou recentemente com a erupção de um vulcão islandês). O instrumento foi posto de lado e enterrado no local onde foi descoberto porque a sua utilização como calendário astronómico se tornou assim inútil. A notícia acrescenta que na mesma época terá também cessado a utilização astronómica do sítio de Stonehenge, na Inglaterra?

E porque é que a descoberta do disco foi tão polémica? O achado foi feito por arqueólogos amadores que o tentaram vender no mercado negro, mas a polícia acabou por os apanhar numa operação digna de um filme no Hotel Hilton de Basileia, na Suíça. Alguns arqueólogos duvidaram na altura da autenticidade do disco que representa, além do Sol e da Lua, as Pleiades, mas estas dúvidas dissiparam-se depois de uma cuidadosa análise do disco de 32 centímetros de diâmetro cuja massa é de cerca de dois quilogramas. Trata-se, sem dúvida, do mais antigo instrumento astronómico conhecido até hoje.

sábado, 19 de dezembro de 2009

CYBERGOONS: THE ETHICS OF HACKING OTHER PEOPLE’S FILES.

Habitual destaque de fim de semana para a coluna "What's new" do físico Robert Park:

"If you believe in scientific openness," warming critics wrote me, "you should be pleased that the climate-gate files became public." Well, I do believe in openness. The success and credibility of science is anchored in openness; new ideas and findings must be exposed to the scrutiny of other scientists. By contrast, governments insist on the need for diplomatic and military secrecy; the result of which is perpetual warfare. But contrary to the impression conveyed by the media, the U.S., thankfully, has no official-secrets act. Conscientious government workers, willing to risk their careers by leaking classified information, may be the only check on government excesses carried out behind a screen of national security (see here ). But it was no Daniel Ellsberg who hacked the climate-gate files. The unauthorized release of e-mail files from a climate unit at the University of East Anglia had no such high-minded purpose. It has the smell of goons hired by an Exxon or a Peabody Coal."

Robert Park

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O FUTURO EM COPENHAGA


Meu artigo no "Sol" de hoje:

Esta semana, em Copenhaga, está em jogo o futuro do clima da Terra. No seguimento do Tratado de Quioto, procura-se um novo acordo internacional que possa travar o fenómeno do aquecimento global que, tudo leva a crer, é consequência em larga medida da actividade humana. De facto, na comunidade científica, com base em numerosos e variados dados da observação, existe, hoje, um amplo consenso tanto sobre o aumento do efeito de estufa na atmosfera terrestre como sobre a predominância da sua origem artificial.

Tal não significa que não haja nas conclusões científicas correntes uma certa dose de incerteza – o nosso planeta é um sistema extremamente complexo - e que não persista, entre os cientistas, alguma controvérsia – alguns deles, poucos, não subscrevem a tese da responsabilidade humana pelo aquecimento. Essas divergências, apesar de poderem perturbar o grande público, devem ser encaradas com naturalidade, pois faz parte do método científico a busca activa do erro. É bom que se semeie a dúvida em afirmações que parecem sólidas. Os chamados “negacionistas”, cuja visibilidade foi recentemente ampliada graças à divulgação de mensagens roubadas aos computadores de uma universidade britânica (o “climategate”), em vez de contrariar a ciência estão, afinal, a prestar-lhe um bom serviço. À medida que a discussão avança, a luz vai nascendo, isto é, a ciência vai fazendo o seu caminho.

Os políticos, a quem compete a celebração de um acordo, fazem bem em servir-se das informações e dos conselhos fornecidos pela maioria dos especialistas, cuja voz é amplificada pelas sociedades e outras organizações científicas. Que não haja ilusões: são poderosos os interesses político-económicos em jogo. Mas essa circunstância só reforça a necessidade de boa ciência, de ciência íntegra e independente, fundada na avaliação dos pares. Foi com base nessa ciência que se efectuou o diagnóstico e a posologia do buraco da camada de ozono. O Tratado de Montreal que produziu uma solução para este problema é um excelente exemplo para Copenhaga.

sábado, 12 de dezembro de 2009

A DÉCADA MAIS QUENTE DOS TEMPOS MODERNOS


Habitual destaque dos sábados para a coluna do físico Bob Park "Whats New", onde ele dá conta de dados que confirmam o aquecimento global:

"WARMER: THE TREND SHOWS NO SIGN OFF ENDING.

At the Copenhagen climate talks, Michel Jarraud, secretary general of the international weather agency, told a news conference that the period from
2000 through 2009 will almost certainly be the warmest decade in the 150
years of modern record-keeping. And with just a few weeks remaining, 2009
will likely be the fifth warmest year on record. But what about those
hacked emails from the climate research unit at the University of East
Anglia? Jarraud replied that there is no evidence that independent
estimates showing a warming world are in doubt. The more interesting
question is who was behind the break-in and why? The use of dirty tricks to
cast doubt on the reality of global warming began with Kyoto."

Robert Park

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ENTREVISTA DE HANSEN SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL


Execrtos de entrevista publicada no "The Guardian" ontem, o climatologista James Hansen (na foto), director do Nasa Goddard Institute for Space Studies em New York, USA:

"The scientist who convinced the world to take notice of the looming danger of global warming says it would be better for the planet and for future generations if next week's Copenhagen climate change summit ended in collapse."

(...) "In Hansen's view, dealing with climate change allows no room for the compromises that rule the world of elected politics. "This is analagous to the issue of slavery faced by Abraham Lincoln or the issue of Nazism faced by Winston Churchill," he said. "On those kind of issues you cannot compromise. You can't say let's reduce slavery, let's find a compromise and reduce it 50% or reduce it 40%.

He added: "We don't have a leader who is able to grasp it and say what is really needed. Instead we are trying to continue business as usual."

(...) "Hansen has emerged as a leading campaigner against the coal industry, which produces more greenhouse gas emissions than any other fuel source.

He has become a fixture at campus demonstrations and last summer was arrested at a protest against mountaintop mining in West Virginia, where he called the Obama government's policies "half-assed".

He has irked some environmentalists by espousing a direct carbon tax on fuel use. Some see that as a distraction from rallying support in Congress for cap-and-trade legislation that is on the table.

He is scathing of that approach. "This is analagous to the indulgences that the Catholic church sold in the middle ages. The bishops collected lots of money and the sinners got redemption. Both parties liked that arrangement despite its absurdity. That is exactly what's happening," he said. "We've got the developed countries who want to continue more or less business as usual and then these developing countries who want money and that is what they can get through offsets [sold through the carbon markets]."

sábado, 21 de novembro de 2009

HACKERS E CÉPTICOS DO CLIMA


O "New York Times" de hoje dá conta de novos desenvolvimentos na continuada disputa dos climatologistas que defendem a visão hoje comum do aquecimento global e os cépticos dessa visão: aqui.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

SUGESTÕES DE TRADUÇÃO DE LIVROS 3

Um livro que tem provocado muita polémica:

Autor: Lawrence Salomon
Título: "The Deniers"
Editor: Richard Vigilante Books
Data: 2008

Informação do Editor:

"Al Gore says any scientist who disagrees with him on Global Warming is a kook, or a crook.

Guess he never met these guys:

Dr. Edward Wegman--former chairman of the Committee on Applied and Theoretical Statistics of the National Academy of Sciences--demolishes the famous "hockey stick" graph that launched the global warming panic.

Dr. David Bromwich--president of the International Commission on Polar Meteorology--says "it's hard to see a global warming signal from the mainland of Antarctica right now."

Prof. Paul Reiter--Chief of Insects and Infectious Diseases at the famed Pasteur Institute--says "no major scientist with any long record in this field" accepts Al Gore's claim that global warming spreads mosquito-borne diseases.

Prof. Hendrik Tennekes--director of research, Royal Netherlands Meteorological Institute--states "there exists no sound theoretical framework for climate predictability studies" used for global warming forecasts.

Dr. Christopher Landsea--past chairman of the American Meteorological Society's Committee on Tropical Meteorology and Tropical Cyclones--says "there are no known scientific studies that show a conclusive physical link between global warming and observed hurricane frequency and intensity."

Dr. Antonino Zichichi--one of the world's foremost physicists, former president of the European Physical Society, who discovered nuclear antimatter--calls global warming models "incoherent and invalid."

Dr. Zbigniew Jaworowski--world-renowned expert on the ancient ice cores used in climate research--says the U.N. "based its global-warming hypothesis on arbitrary assumptions and these assumptions, it is now clear, are false."

Prof. Tom V. Segalstad--head of the Geological Museum, University of Oslo--says "most leading geologists" know the U.N.'s views "of Earth processes are implausible."

Dr. Syun-Ichi Akasofu--founding director of the International Arctic Research Center, twice named one of the "1,000 Most Cited Scientists," says much "Arctic warming during the last half of the last century is due to natural change."

Dr. Claude Allegre--member, U.S. National Academy of Sciences and French Academy of Science, he was among the first to sound the alarm on the dangers of global warming. His view now: "The cause of this climate change is unknown."

Dr. Richard Lindzen--Professor of Meteorology at M.I.T., member, the National Research Council Board on Atmospheric Sciences and Climate, says global warming alarmists "are trumpeting catastrophes that couldn't happen even if the models were right."

Dr. Habibullo Abdussamatov--head of the space research laboratory of the Russian Academy of Science's Pulkovo Observatory and of the International Space Station's Astrometria project says "the common view that man's industrial activity is a deciding factor in global warming has emerged from a misinterpretation of cause and effect relations."

Dr. Richard Tol--Principal researcher at the Institute for Environmental Studies at Vrije Universiteit, and Adjunct Professor at the Center for Integrated Study of the Human Dimensions of Global Change, at Carnegie Mellon University, calls the most influential global warming report of all time "preposterous . . . alarmist and incompetent."

Dr. Sami Solanki--director and scientific member at the Max Planck Institute for Solar System Research in Germany, who argues that changes in the Sun's state, not human activity, may be the principal cause of global warming: "The sun has been at its strongest over the past 60 years and may now be affecting global temperatures."

Prof. Freeman Dyson--one of the world's most eminent physicists says the models used to justify global warming alarmism are "full of fudge factors" and "do not begin to describe the real world."

Dr. Eigils Friis-Christensen--director of the Danish National Space Centre, vice-president of the International Association of Geomagnetism and Aeronomy, who argues that changes in the Sun's behavior could account for most of the warming attributed by the UN to man-made CO2.

And many more, all in Lawrence Solomon's devastating new book, The Deniers."

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PORTUGAL A QUENTE E FRIO

Há pouco tempo apontei neste blogue a falta entre nós de livros de divulgação da ciência escritos por jornalistas de ciência. Acaba de sair um livro desse tipo, que até por não haver muitos, saúdo vivamente: "Portugal a Quente e Frio", da autoria de duas das melhores jornalistas de ciência portuguesa Filomena Naves e Teresa Firmino. O tema é o das alterações climáticas, que tanta tinta tem feito correr nos jornais. A editora é a Livros d'Hoje, uma chancela das Publicações Dom Quixote. Na capa surge, à laia de subtítulo: "O primeiro livro que aborda o tema das alterações climáticas no nosso país".

Como ainda não li, ou melhor como só li o prefácio do físico da Universidade de Lisboa Filipe Duarte Santos, o nosso grande especialista em alterações climáticas, limito-me por enquanto a transcrever um parágrafo desse prefácio:

"A temática das alterações climáticas dos séculos XX e XI tem tido uma enorme visibilidade mediática que, por vezes, deixa o leitor, ouvinte ou espectador mais perplexo e confuso. Do ponto de vista da narrativa da ciência, é natural que se dê uma ampla cobertura nos media, porque o tema encerra um risco muito considerável, sobretudo para as futuras gerações - os nossos filhos, netos, bisnetos... - e temos todos uma parcela de responsabilidade na gestão desse risco. Por estas razões, é desejável que a divulgação da problemática das alterações climáticas junto do grande público seja feita de forma crítica e rigorosa, apresentando fielmente a narrativa da ciência e as incertezas e lacunas no conhecimento científico que persistem.

Estes objectivos estão inteiramente atingidos no "Portugal a Quente e Frio: As Alterações Climáticas no Século XXI." O livro faz uma breve história do estudo das alterações climáticas em Portugal, incluindo os modelos e cenários futuros e os impactos nos mais importantes sectores sociais e económicos e, ainda, nos sistemas biofísicos".

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Delgado Domingos sobre o aquecimento global - II

O que critica nos procedimentos do IPCC?
Sempre considerei de grande qualidade científica o relatório fundamental do IPCC “WGI-The Physical Science Basis”, apesar de algumas demonstradas incorrecções factuais e científicas. Sobre o tema já me pronunciei o suficiente (ver p.ex. os textos sobre Alterações Climáticas para aprofundamento e justifi­ca­ção de todas as minhas respostas) pelo que me limito a alguns aspectos fundamentais.

O relatório é muito extenso (996 páginas) e sobretudo muito complexo e especializado mesmo para a generalidade das formações científicas. Por isso, um grupo muito restrito do IPCC elabora um “Resumo para Decisores Políticos (Summary for Policy Makers) que é votado linha a linha pelos represen­tantes dos governos e instituições oficiais. Como se sabe, as verdades científicas nunca foram estabelecidas por votação. Acresce, neste caso, que foi votado o resumo de um relatório que ainda nem sequer existia. A votação foi em Fevereiro de 2007 mas o Relatório só foi divulgado em Novembro!

Os argumentos dos que invocam as “verdades científicas” garantidas pelo IPCC mostram, na sua esmagadora maioria, que só leram o Summary .Muitos nem sequer passaram dos press releases correspondentes. A grande comunicação social portuguesa, mesmo a que se considera de referência, não ultrapassou este nível.

O modo com se tem passado do relatório funda­men­tal, ao Summary /press releases é eminentemente politico e visa transformar dúvidas, incertezas e palpites subjectivos em verdades indiscutíveis.

Qual seria a maneira correcta e eficaz de fazer chegar o conhecimento científico sobre alterações climáticas aos decisores políticos?
Os decisores políticos que temos estão sobretudo interessados nas sondagens de opinião e actuam como se mudassem a realidade mudando as percepções dos eleitores. No Iraque legitimou-se a intervenção invocando “provas” da existência de armas de destruição massiva. Agora invocam-se “certezas científicas” para nos convencer da eminência de catástrofes climáticas provocadas pelas emissões de CO2 e GEE. Criam-se assim grandes oportunidades de negócio e desviam-se as atenções do que é verdadeiramente importante, como sejam o uso perdulário da energia, a poluição do ar, da água e dos solos, e a destruição do ambiente e do equilíbrio social e económico.

Qual a validade e utilidade das projecções/cenários climáticos e correspondentes consequências?
Muitas projecções e cenários são apenas exercícios dispendiosos porque as hipóteses de partida não têm solidez na sua fundamentação científica sobretudo quando se trata de projecções regionais como é reconhecido pelos peritos mais qualificados do próprio IPCC e da Organização Meteorológica Mundial. O mais representativo exemplo em Portugal é o bem conhecido Projecto SIAM em que os cenários para as alterações climáticas em Portugal não passam de extrapolações subjectivas de incertezas sem fundamento sólido. Por isso, seria insensato basear medidas politicas nas suas conclusões devido aos custos económicos e sociais que implicariam. É muito mais sensato, pragmático e realista elaborar cenários e politicas quanto à energia, ao ordenamento do território e à poluição tendo seriamente em conta o que já há muito sabemos acerca da variabilidade climática e das suas consequências. A redução das emissões de GEE seria uma consequência automática dessas políticas e não o seu principal objectivo. Seja como for, haverá sempre um aumento no custo da energia e dos combustíveis para implementar estas politicas, seja de modo transparente, seja exacerbando ameaças para que se aceitem os sobrecustos a que a fixação nos GEE inevitavelmente conduz. Sem estes sobrecustos não existirão os miríficos mercados do carbono e a especulação bolsista associada que tanto parecem seduzir a alta finança e os grandes escritórios de advogados.

Desde o início deste século tem havido uma evolução na qualidade das projecções?
A qualidade das projecções depende inteiramente da qualidade dos modelos climáticos que lhe servem de suporte. Comparando os sucessivos relatórios fundamentais do IPCC (e não os resumos, ou o que muitos dizem que eles afirmam) pode constatar-se que a qualidade dos modelos não aumentou significativamente, embora a complexidade e os recursos envolvidos tenham crescido imenso. Enquanto aspectos físicos cruciais não forem devidamente compreendidos e modelados, os progressos não serão grandes.

Delgado Domingos sobre o aquecimento global


Em Fevereiro de 2009, José Delgado Domingos foi entrevistado para uma peça jornalística sobre aquecimento global. Uma vez que as respostas solicitadas foram truncadas, achamos interessante transcrever na íntegra a opinião do professor jubilado do Técnico que, dada a sua extensão, será dividida em duas partes, uma sobre aquecimento global propriamente dito e outra sobre modelos climáticos e a mediatização do problema.

Há um aquecimento global do planeta?
O termo “aquecimento do global do planeta” refere-se habitualmente a uma temperatura média do ar a 2 metros da superfície. É um valor de referencia que teria sentido físico se todas as componentes do sistema climático estivessem em equilíbrio entre si, nomeadamente a atmosfera, a litosfera e os oceanos , o que não sucede. Aliás, em qualquer ano, encontramos diferenças de temperatura entre uns locais e outros que são superiores às que se verificaram entre as médias nas idades do gelo e as actuais. Existem grandes limitações no estabelecimento das próprias médias porque as estações de medida estão muito afastadas, nos oceanos são muito poucas e a sua fiabilidade e rigor variaram significativamente ao longo dos cerca de 150 anos em que existem. Mas aceitando que as medidas, directas e indirectas, existem e são rigorosas, o facto é que o tempo sempre variou ao longo dos anos, dos séculos e dos milénios, com grandes e pequenas glaciações e períodos quentes interglaciais muito antes de o Homem existir. A estas variações dá-se o nome de variabilidade natural. Tendo em conta a variabilidade natural, a grande questão é saber se as acções do homem aumentaram essa variabilidade natural e se não poderão vir a provocar desequilíbrios catastróficos. Para esta questão fundamental não existe, até hoje, uma resposta objectiva e convincente. Existem, isso sim, inferências subjectivas e contraditórias mau grado o aparato científico e computacional invocado. Pessoalmente, acredito que os dados observados mostram um aquecimento global mas sem as consequências alarmistas que, em geral, lhe são atribuídas pela comunicação social. Em contrapartida, há alterações climáticas locais e efeitos catastróficos decorrentes da mera variabilidade climática que só por incúria, incompetência ou ganância não foram ou não são tidos atempadamente em conta. Por exemplo, os efeitos de um furacão Katrina, ou as consequências de construir em arribas ou leitos de cheia são de há muito conhecidas mas ignoradas pelos que desejam atribuir tudo ao aquecimento global. O próprio termo “aquecimento global” é infeliz porque tende a ignorar o facto de poder existir arrefecimento global, como sucedeu, por exemplo, entre as décadas de 40 e 70 e é natural que volte a suceder.

Se sim, o que o está a provocar?
Há variabilidade natural e há efeitos antropogénicos de que o CO2 e outros gases com efeito de estufa (GEE) são o exemplo habitual. Todavia, há factores locais e globais pelo menos tão importantes como os gases com efeito de estufa que têm sido ignorados pela comunicação social. Entre estes encontram-se as alterações no uso do solo (desflorestação, urbanização, etc). A importância exagerada atribuída ao CO2 e outros GEE é consequência directa de poderem ser considerados como uniformemente distribuídos na atmosfera, o que simplifica os modelos climáticos e as simulações com os computadores existentes. Actualmente, não existe ainda o conhecimento suficiente de alguns fenómenos físicos e biológicos fundamentais nem a capacidade de cálculo para tratar adequadamente os efeitos locais e suas implicações globais. Por exemplo, nenhum dos modelos existentes consegue prever as alterações no início e fim das estações, que têm efeitos ecológicos muito importantes, nem fenómenos bem conhecidos e tão básicos como o El Niño ou a oscilação do Atlântico Norte, entre outros.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Humor: Alterações climáticas em Portugal já são diárias


O humor científico do David Marçal no ´"Inimigo Público" de quinta-feira passada:

Modelo climático do "Inimigo Público" explica porque é que tempo está maluco

A situação do clima em Portugal é uma das mais dramáticas de toda a OCDE. Desde o maciço central ao Cabo da Roca o estado do tempo altera-se diariamente e mesmo num único dia o clima pode mudar várias vezes. Antigamente, e especialmente muito antigamente, a temperatura, humidade e precipitação eram sempre as mesmas, todos os dias, tal como se pode verificar no modelo climático do "Inimigo Público". Os climatologistas do think thank "Inimigo Público" prevêem falhas nas previsões meteorológicas, mas avisam que estas também não são garantidas.

David Marçal

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

MAIS HUMOR CIENTÍFICO DO DAVID MARÇAL


Mais uma peça do humor científico do David Marçal no "Inimigo Público" (atenção que este suplemento do "Público" passou da sexta para a quinta-feira):

Alterações climáticas passam a chamar-se variações curiosas do clima

Depois da expressão "aquecimento global" ter caído em desuso, é a vez de a ainda melodramática "alterações climáticas" dar lugar a designações mais suaves. O "Inimigo Público" faz a história e perspectivas da terminologia climática global.

1999 - Aquecimento global
2004 - Alterações climáticas
2009 - Variações curiosas do clima
2011 - Instabilidades meteorológicas locais
2012 - Efeito Carlos Pimenta
2013 - Pequenas diferenças na calibração dos termómetros
2014 - Alucinação colectiva
2015 - Cabala involuntária
2016 - Cabala voluntária
2017 - Terrorismo

David Marçal

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

DE MIUZELA PARA O MUNDO


Minha crónica no último número deste ano da "Gazeta de Física":

Eu não sabia onde ficava Miuzela. Desde Agosto passado que já sei: é uma aldeia no interior profundo de Portugal, no concelho de Almeida, distrito da Guarda. Fui lá por ser miuzelense um dos físicos portugueses mais notáveis do século XX , José Pinto Peixoto (1922-1996), professor da Universidade de Lisboa e especialista em geofísica.

Peixoto doutorou-se no MIT (de facto, a defesa da tese foi em Lisboa, mas quase todo o trabalho foi feito no MIT) e trabalhou mais tarde em Princeton. Um dos seus colegas e amigos do MIT foi o físico norte-americano Edward Lorenz (1918-2008), o autor da célebre formulação da teoria do caos segundo a qual o bater das asas de uma borboleta pode originar um tornado no Texas. A tese de Peixoto, Contribuição para o Estudo da Energética da Circulação Geral da Atmosfera, foi submetida no ano de 1958, que foi declarado pelas Nações Unidas "Ano Geofísico Internacional" (passadas cinco décadas, 2008 é o "Ano Internacional da Terra"). O geofísico português foi o autor de um dos primeiros modelos sobre o movimento global da atmosfera, proposto na mesma altura em que no Hawai, sob a direcção de outro norte-americano, Charles Keeling, começavam as observações sistemáticas das emissões de dióxido de carbono que constituem um grande suporte experimental para os conceitos de efeito estufa e de aquecimento global.

Na escola primária de Miuzela, num dia muito quente, falei para as pessoas da terra sobre o aquecimento global, para o que me preparei com base no manual de Peixoto e Oort "The Physics of Climate", publicado em 1992 pelo American Institute of Physics, e dos seus artigos de divulgação na Scientific American e na Recherche. Se o famoso Professor fosse vivo (faleceu inesperadamente um ano antes do tratado de Quioto) seria hoje famosíssimo pois os média não cessariam de lhe fazer perguntas sobre o aquecimento global. E ele haveria de responder a tudo, sempre rigoroso e, ao mesmo tempo, sempre bem disposto, pois não há um princípio de incerteza que limite o humor quando se é exacto. O seu rigor alicerçava-se na sua sólida formação matemática, uma vez que se tinha licenciado nessa disciplina antes de se formar em geofísica. Ele sabia que sem matemática não pode haver física e, por isso, não pode haver geofísica. Nas suas palavras: A matemática está para a física assim como a gramática está para a literatura. A gramática ensina a expressar bem as ideias, se as houver! Não cria literatura.

Lembro-me bem da primeira vez que o vi, num seminário em Coimbra sobre termodinâmica, de ter sorrido com uma das suas extraordinárias frases: A senhora da limpeza desentropiou-me o gabinete todo. A linguagem do Prof. Peixoto, nas aulas ou fora delas, podia ser bastante colorida, como mostra o exemplo que dava da produção de entropia por humanos: Meus meninos, como fazem para se livrarem da vossa entropia? Sim, puxam o autoclismo. Tal como o seu contemporâneo Feynman (que, como ele, esteve no MIT e em Princeton) Peixoto era um físico divertido e algumas das suas tiradas bem podem ser equiparadas às do físico novaiorquino. Como disse Lorentz, onde estivesse o Peixoto, o ambiente mudava. Uma alteração climática local, portanto.

A Associação Casa de Cultura Prof. Dr. José Pinto Peixoto, sediada em Miuzela, distribuiu no dia em que lá fui prémios aos melhores alunos do ensino primário local. Essas distinções servem para lembrar que o seu patrono era filho de professores primários e estudou em Lisboa no Instituto do Professorado Primário. Mas essa associação tem também um prémio nacional para o melhor aluno do secundário, que tem sido ganho por alunos de vintes. Se graças ao Prof. Peixoto Miuzela já estava no mapa da ciência mundial, com estes prémios está hoje no mapa da educação nacional.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Did Early Global Warming Divert A New Glacial Age?

Já referi por algumas vezes que a acção humana deixou marcas indeléveis no nosso planeta muito antes do que a maioria assume, nomeadamente em Agosto referi o artigo da PNAS que sugeria ter sido a caça intensiva a causa da extinção em massa de animais pré-históricos em terras do TAZ.

Uma das minhas leituras diárias, a ScienceDaily, publica hoje um artigo muito interessante sobre um tema que normalmente aquece as nossas caixas de comentários, as alterações climáticas e a acção humana.

Ontem, no artigo «Cosmic Rays Do Not Explain Global Warming, Study Finds», a Sciencedaily dava conta de um estudo conjunto das Universidades de Oslo e da Islândia, do NILU (Norwegian Institute for Air Research) e do CICERO (Center for Climate and Environmental Research) que confirmava indicações anteriores de que os raios cósmicos não contribuem, pelo menos significativamente, para as alterações climáticas da Terra.

No artigo de hoje, é discutida a comunicação à American Geophysical Union de Stephen Vavrus, um climatólogo da Universidade de Wisconsin que, em conjunto com John Kutzbach e Gwenaëlle Philippon, sugere que foi e tem sido a acção humana nos últimos 5000-8000 anos, ou seja, sensivelmente desde o advento da História, que evitou que vivamos numa nova era glaciar. Vale a pena ler todo o artigo, de que transcrevo a última parte:

«But looking farther back in time, using climatic archives such as 850,000-year-old ice core records from Antarctica, scientists are teasing out evidence of past greenhouse gases in the form of fossil air trapped in the ice. That ancient air, say Vavrus and Kutzbach, contains the unmistakable signature of increased levels of atmospheric methane and carbon dioxide beginning thousands of years before the industrial age.

"Between 5,000 and 8,000 years ago, both methane and carbon dioxide started an upward trend, unlike during previous interglacial periods," explains Kutzbach. Indeed, Ruddiman has shown that during the latter stages of six previous interglacials, greenhouse gases trended downward, not upward. Thus, the accumulation of greenhouse gases over the past few thousands of years, the Wisconsin-Virginia team argue, is very likely forestalling the onset of a new glacial cycle, such as have occurred at regular 100,000-year intervals during the last million years. Each glacial period has been paced by regular and predictable changes in the orbit of the Earth known as Milankovitch cycles, a mechanism thought to kick start glacial cycles.

"We're at a very favorable state right now for increased glaciation," says Kutzbach. "Nature is favoring it at this time in orbital cycles, and if humans weren't in the picture it would probably be happening today."

Importantly, the new research underscores the key role of greenhouse gases in influencing Earth's climate. Whereas decreasing greenhouse gases in the past helped initiate glaciations, the early agricultural and recent industrial increases in greenhouse gases may be forestalling them, say Kutzbach and Vavrus.

Using three different climate models and removing the amount of greenhouse gases humans have injected into the atmosphere during the past 5,000 to 8,000 years, Vavrus and Kutzbach observed more permanent snow and ice cover in regions of Canada, Siberia, Greenland and the Rocky Mountains, all known to be seed regions for glaciers from previous ice ages. Vavrus notes: "With every feedback we've included, it seems to support the hypothesis (of a forestalled ice age) even more. We keep getting the same answer."
»

domingo, 7 de dezembro de 2008

CONSENSO EM CIÊNCIA

Com a devida vénia, publicamos o texto de João Miranda que saiu no "Diário de Notícias" de sábado passado:

O aquecimento global tornou-se numa questão política incontornável. Os ambientalistas alegam que existe um consenso científico sobre o assunto. No entanto, "consenso" não é um critério científico mas sim um critério político. O método científico não é um processo democrático em que a voz da maioria conta mais que a voz da minoria. O processo científico é um processo adversarial de descoberta da verdade em que o que conta é a qualidade dos argumentos e dos resultados experimentais.

David Hume mostrou que não é possível provar teorias gerais sobre a realidade por métodos empíricos. Esta ideia de Hume limita aquilo que o método científico pode fazer. O método científico não permite confirmar as teorias que são verdadeiras. Permite apenas rejeitar as teorias que são falsas. Como Karl Popper explicou, o método científico é uma sucessão de conjecturas e refutações. A fiabilidade de uma teoria é tanto maior quanto maior for o esforço para a refutar.

A fiabilidade do processo científico depende da integridade dos processos sociais que produzem ciência. Estes processos sociais são frequentemente deturpados pelas preferências políticas das agências de financiamento e dos próprios cientistas. Os ambientalistas tentam condicionar o processo científico através da alegação de que existe um consenso científico sobre aquecimento global. Na realidade, esta alegação pode ser um indício de que o processo científico está bloqueado. Quando existe consenso, ninguém está a participar no processo de refutação. O processo científico está morto.

Nos últimos anos, os ambientalistas mais radicais têm centrado a sua atenção nos cientistas que contestam as ideias dominantes sobre o aquecimento global. Chamam-lhes "negacionistas", por analogia com os neonazis que negam o Holocausto. Trata-se de um termo ofensivo que visa denegrir o cepticismo. Os cépticos são os heróis do processo científico. Apesar dos custos pessoais e profissionais, asseguram o processo de refutação sem o qual não existe actividade científica.

João Miranda

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Alterações climáticas: a visão de um especialista

J. J. Delgado Domingos, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico, é um dos cientistas portugueses mais respeitados nas áreas da Energia e do Ambiente. Ao longo de mais de três décadas realizou contribuições científicas notáveis nas áreas da Energia e desenvolvimento sustentável; no estabelecimento dos primeiros sistemas nacionais de Cálculo científico; da previsão meteorológica e modelação climática, em que é responsável por um dos sistemas de previsão mais avançados de Portugal. Liderou ainda, durante mais de uma década, uma das primeiras e mais influentes Licenciaturas em Engenharia do Ambiente de Portugal.

Sendo um cientista de calibre mundial, o Prof. Delgado Domingos é acima de tudo um cidadão, nunca se furtando a uma participação cívica e social activas, sobretudo quando as suas qualificações lhe dão uma perspectiva privilegiada sobre os problemas.

O DRN tem o prazer de apresentar em pré-publicação, com a gentil permissão do autor e do Reitor da UTL, a quem agradece, o seu magistral texto "Alterações climáticas", que constitui um capítulo do livro "A Energia da Razão" a publicar brevemente pela Gradiva.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O PERIGO DAS FONTES SECUNDÁRIAS

Como o tema nos interessa e interessa muitos dos nossos estimados leitores, este blogue colocou um "post" sobre o aquecimento global, que continha muito mais informação que opinião. O "post" originou uma interessante discussão, com mais informação e muita opinião. Uma das referências dadas nessa discussão foi um artigo assinado pelo editor de ambiente do prestigiado jornal britânico "The Independent":

http://www.independent.co.uk/environment/climate-change/global-warming-is-three-times-faster-than-worst-predictions-451529.html

O texto do jornal começa assim:

" Global warming 'is three times faster than worst predictions'
Global warming is accelerating three times more quickly than feared, a series of startling, authoritative studies has revealed (...)"

O estudo em causa foi publicado nos "Proceedings of the National Academy of Sciences" e intitula-se "Global and regional drivers of accelerating CO2 emissions":

http://www.pnas.org/content/104/24/10288

Quem o ler verificará que que está a crescer 3 vezes mais do que o previsto é... o nível de emissões do CO2 e não a temperatura! Será que o editor de ambiente não sabe distinguir entre emissões de CO2 e temperatura? Este exemplo mostra bem como o uso de fontes secundárias pode ser perigoso...

CENSURA E EDUCAÇÃO NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL DURANTE AS DITADURAS DE FRANCO E DE SALAZAR

A censura de livros para a infância e juventude tem um historial antiquíssimo e não há fronteiras físicas políticas, morais ou sociais que a...