segunda-feira, 31 de outubro de 2022
A COR DO HORTO GRÁFICO
Chegou-me por email e tem algumas entradas com piada...
A cor do horto gráfico
Já aprovado pela nova Ministra do saber.
Última actualização do dicionário de língua portuguesa - novas entradas:
Arbusto: Busto com um certo ar
Testículo: Texto pequeno
Abismado: Sujeito que caiu de um abismo
Pressupor: Colocar preço em alguma coisa
Biscoito: Fazer sexo duas vezes
Bigode: Duplo Deus britânico
Coitado: Pessoa vítima de coito
Padrão: Padre muito alto
Estouro: Boi que sofreu operação de mudança de sexo
Democracia: Sistema de governo do inferno
Barracão: Proíbe a entrada de caninos
Homossexual: Sabão em pó para lavar as partes íntimas
Ministério: Aparelho de som de dimensões muito reduzidas
Detergente: Acto de prender seres humanos
Eficiência: Estudo das propriedades da letra F
Conversão: Conversa prolongada
Halogéneo: Forma de cumprimentar pessoas muito inteligentes
Piano: Ano Internacional da descoberta de Pi (3,1416)
Expedidor: Mendigo que mudou de classe social
Luz solar: Sapato que emite luz por baixo
Cleptomaníaco: Mania por Eric Clapton
Tripulante: Especialista em salto triplo
Contribuir: Ir para algum lugar com vários índios
Aspirado: Carta de baralho completamente maluca
Assaltante: Um 'A' que salta
Determine: Prender a namorada do Mickey Mouse
Vidente: O que o dentista diz ao paciente
Barbicha: Bar frequentado por gays
Ortográfico: Horta feita com letras
Destilado: do lado contrário a esse
Pornográfico: O mesmo que colocar no desenho
Coordenada: Que não tem cor
Presidiário: Aquele que é preso diariamente
Ratificar: Tornar-se um rato
Violentamente: Viu com lentidão
E
Língua "perteguesa"... PORQUE O SABER NÃO OCUPA LUGAR!
Prontus
Usar o mais possível. É só dar vontade e podemos sempre soltar um 'prontus'! Fica sempre bem.
Tipo
Juntamente com o 'É assim', faz parte das grandes evoluções da língua portuguesa. Também sem querer dizer nada, e não servindo para nada, pode ser usado quando se quiser, porque nunca está errado, nem certo. É assim... tipo, tás a ver?
Númaro
Também com a vertente 'númbaro'. Já está na Assembleia da República uma proposta de lei para se deixar de utilizar a palavra NÚMERO, a qual está em claro desuso. Por mim, acho um bom númaro!
Pitaxio
Aperitivo da classe do 'mindoím'.
Aspergic
Medicamento português que mistura Aspegic com Aspirina
Alevantar
O acto de levantar com convicção, com o ar de 'a mim ninguém me come por parvo!... alevantei-me e fui-me embora!'.
Amandar
O acto de atirar com força: 'O guarda-redes amandou a bola para bem longe'
Assentar
O acto de sentar, só que com muita força, como fosse um tijolo a cair no cimento.
Capom
Tampa de motor de carros que quando se fecha faz POM!
Destrocar
Trocar várias vezes a mesma nota até ficarmos com a mesma.
Disvorciada
Mulher que diz por aí que se vai divorciar.
É assim...
Talvez a maior evolução da língua portuguesa. Termo que não quer dizer nada e não serve para nada. Deve ser colocado no início de qualquer frase.
Entropeçar
Tropeçar duas vezes seguidas.
Êros
Moeda alternativa ao Euro, adoptada por alguns portugueses.
Também conhecida por "aéreos"
Falastes, dissestes...
Articulação na 4ª pessoa do singular. Ex.: eu falei, tu falaste, ele falou, TU FALASTES...
Fracturação
O resultado da soma do consumo de clientes em qualquer casa comercial. Casa que não fractura... não predura.
Há-des
Verbo 'haver' na 2ª pessoa do singular: 'Eu hei-de cá vir um dia; tu há-des cá vir um dia...'
Inclusiver
Forma de expressar que percebemos de um assunto. E digo mais: eu inclusiver acho esta palavra muita gira. Também existe a variante 'Inclusivel'
Mô
A forma mais prática de articular a palavra MEU e dar um ar afro à língua portuguesa, como 'bué' ou 'maning'. Ex.: Atão mô, tudo bem?
Nha
Assim como Mô, é a forma mais prática de articular a palavra MINHA. Para quê perder tempo, não é? Fica sempre bem dizer 'Nha Mãe' e é uma poupança extraordinária.
Parteleira
Local ideal para guardar os livros de Protuguês do tempo da escola.
Perssunal
O contrário de amador. Muito utilizado por jogadores de futebol. Ex: 'Sou perssunal de futebol'. Dica: deve ser articulada de forma rápida.
Prutugal
País ao lado da Espanha. Não é a Francia.
Quaise
Também é uma palavra muito apreciada pelos nossos pseudo-intelectuais... Ainda não percebi muito bem o quer dizer, mas o problema deve ser meu.
Stander
Local de venda. A forma mais famosa é, sem dúvida, o 'stander' de automóveis. O 'stander' é um dos grandes clássicos do 'português da cromagem'...
Treuze
Palavras para quê? Todos nós conhecemos o númaro treuze.
NOVIDADES DE NOVEMBRO DA GRADIVA
Novidades mais recentes novidades da Gradiva. Os livros já estão disponíveis nas livrarias e em www.gradiva.pt.
UCRÂNIA - As Lições da História e Outros Estudos Sobre o Oriente Cristão de Luis Filipe F. R. Thomaz
Obras de Luís Filipe Thomaz | 328 pp. | 20 €
O factor religioso determinante, mas subestimado, na invasão e no conflito da Ucrânia, é tratado a fundo neste novo livro do historiador Luís Filipe Thomaz que está desde ontem à venda.
Ucrânia - As Lições da História e Outros Estudos Sobre o Oriente Cristão é um guia de excepção para compreender a importância da esfera religiosa que esteve quase sempre ou mesmo sempre activa nos acontecimentos e conflitos na História. Com o seu saber estelar e o conhecimento singular da História dos Balcãs, Luís Filipe Thomaz revela, neste livro, essa dimensão no drama da Ucrânia. Dimensão que estando bem presente – e sendo mesmo, porventura, determinante – tem sido ignorada ou é subestimada.
A visão e o contributo de novidade da sua análise e reflexão são uma lufada de ar fresco no que se ouve e se vai lendo acerca dos acontecimentos.
Esta sua nova obra conta com um prefácio de Peter Stilwell (Pe) director da colecção Religião Aberta da Gradiva) disponível para leitura aqui – https://www.gradiva.pt/catalogo/56048/ucrania#excerto
Luís Filipe Thomaz é licenciado em História, foi docente na Faculdade de Letras e na Universidade Nova de Lisboa, que em 2002 lhe conferiu o doutoramento honoris causa. Frequentou a École Pratique des Hautes Études, a École des Hautes Études en Sciences Sociales, o Institut National des Langues et Civilisations Orientales, a Universidade de Paris III e o Institut Catholique, onde obteve diversos diplomas de estudos orientais. Foi professor visitante na École des Hautes Études en Sciences Sociales, na École Pratique des Hautes Études, na Universidade de Bordéus, na Universiti Kebangsaan Malaysia, na Universidade da Ásia Oriental (Macau) e na Universidade de Santa Cruz (Ilhéus, Bahia, Brasil). Depois da aposentação da função pública transitou para a Universidade Católica Portuguesa, onde organizou o Instituto de Estudos Orientais, de que foi director de 2002 a 2011, após o que se dedicou apenas à investigação. É autor de nove livros, alguns deles premiados. É autor de cerca de 250 artigos. Quando abandonou a docência, recebeu a tonsura e o hábito monástico, tendo recebido na profissão monástica o nome de Jerónimo. Está encarregado de traduzir em português a liturgia bizantina.
https://www.gradiva.pt/catalogo/56048/ucrania
O FASCISMO NUNCA EXISTIU de Eduardo Lourenço
Obras de Eduardo Lourenço | 264 pp. | 14 €
«Como o conteúdo deste livro o mostra - e tal como sucedera com o tema de Os Militares e o Poder - o meu interesse pela reflexão política concreta não data de hoje. É-me impossível ver-me no papel de um novo "Monsieur le Truhadec saisi par Ia débauche" política pós-25 de Abril. O espaço aberto pela Revolução de Abril ofereceu apenas uma margem pública para antiga tentação. Uma grande parte deste livro é constituída pela série de comentários, todos mais ou menos reflexo da urgência política em que temos vivido e que estão longe, por isso mesmo, segundo penso, de poder conservar, à Ia longue, o interesse "ideológico" dos textos anteriores ao 25 de Abril. É nestes que se encontra configurada e prefigurada uma temática que a nossa história recente iria ilustrar com a veemência e o relevo das coisas vivas. Os antigos sabiam que todos os combates humanos eram combates de deuses em atraso. A geração a que pertenço não precisou nem de Maio 68, nem de Abril 74 para descobrir a fundura do combate ideológico e político em que de súbito entrámos como ser colectivo.»
«À Democracia cumpre pensar‑se como a estrutura mais adequada para que no seu seio se realizem progressivamente as condições de libertação dos indivíduos. A Democracia não tem outro conteúdo que esse mesmo de promover essas condições. Ela não pode ser definida como regime da liberdade senão na medida em que se dá como fim a coexistência e a promoção de todas as formas de liberdade de uma dada sociedade. Por isso mesmo se pode dizer que a Democracia é o único regime que não tem liberdade própria. Ela é prisioneira do mais alto dever de não ter outra que a dos cidadãos. Aparentemente nada mais absurdo.»
https://www.gradiva.pt/catalogo/56043/o-fascismo-nunca-existiu
IRMÃS DE PROMETEU - A Química no Feminino de João Paulo André
Ciência Aberta | 664 pp. | 22,5 €
João Paulo André, professor de Química na Universidade do Minho, depois de Poções e Paixões - Química e Ópera envereda agora pela história da ciência. Nesta obra, pródiga em incursões pela literatura e pela arte, o autor centra-se nas contribuições femininas para a química, tantas vezes esquecidas e até usurpadas. A antiga opinião de as mulheres não se adequarem à investigação científica dificultou a caminhada feminina no mundo da ciência, no entanto não obstou a que várias brilhassem nesse campo onde dominavam os homens.
Este livro, resultante de uma aturada investigação, dá disso muitos e bons exemplos. Sem abdicar do rigor, a escrita simples e a forma como factos e eventos são apresentados em curiosas histórias tornam a leitura acessível a todos.
Um livro raro em Portugal, de enorme interesse. Irmãs de Prometeu debruça-se sobre assunto que finalmente começa a integrar a ordem do dia - o papel muitas vezes oculto das mulheres na história da ciência, mais na Química que só se autonomizou no século XVIII. Há várias «Madames Curies» por revelar.
https://www.gradiva.pt/catalogo/56046/irmas-de-prometeu
A ESTAGNAÇÃO SOCIALISTA de André Abrantes Amaral
Fora de Colecção | 384 pp. | 18 €
“É um autor sem complacência. Melhor assim. Da primeira à última página somos convidados a acompanhá-lo nessa exigência, é com ela - e cientes dela - que o seguimos pelas marés da sua escrita. Atentíssimo espectador dos anos do consulado socialista, não gostou do que viu. Não por ele ou pelo lugar político onde se situa, isso simplesmente não teria importância ou faria parte da regra do jogo. Pelo país. E eis-nos, logo à terceira linha deste “vol d’oiseau”, a entrar no fundo da matéria: é a noção de pertença ao seu “lugar” e berço que determina André Abrantes Amaral, é a pátria que decisivamente o interpela. Com uma imensa lucidez e um agudo espírito crítico que sempre me pareceram ser os seus melhores instrumentos de análise, usa uma e outro conforme o que os dias lhe reclamam de assertividade, ironia, frontalidade, discordância, estupefacção, zanga. Por vezes, combate. Ou muitas vezes. Percebemos que testemunhou tudo, e sobre parte considerável desse “tudo”, reflectiu.
Se eu tivesse que resumir diria que bem lá no fundo, André Abrantes Amaral pratica a sua liberdade através da razão, com Portugal em fundo. E o que dele lembra e o que conhece de nós. Não pode ser por acaso que o título de uma destas crónicas, nos confirma isso mesmo: 'Há que usar da razão para ser livre.' Ele usa-a e é ainda mais livre por isso. “
Maria João Avillez, Prefácio.
André Filipe Gonçalves Pereira Abrantes Amaral nasceu em 1973, é casado e tem um filho. Estudou no Queen Elizabeth’s School, no Colégio Planalto e na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa. É advogado desde 1999 e tem uma pós-graduação em Relações Internacionais, no Instituto de Estudos Políticos, da Universidade Católica. Foi comentador regular no canal Económico TV e de forma esporádica na TVI. As suas crónicas foram publicadas nos jornais i, Diário Económico e Jornal Económico. É colunista do jornal Observador.
https://www.gradiva.pt/catalogo/56042/a-estagnacao-socialista
AS GUERRAS DE ALBERT EINSTEIN VOL 2 de Closets, Corbeyran e Chabbert
Gradiva BD | 64 pp. | 19,5 €
Durante a Primeira Guerra Mundial, Einstein, o antimilitarista, fica horrorizado por ver o seu grande amigo, o químico Fritz Haber, produzir gases asfixiantes. Mas, no início da Segunda Guerra Mundial, seria o próprio Einstein a escrever ao presidente Roosevelt para o incitar a construir uma bomba nuclear...
Um químico nacionalista, um físico pacifista — dois destinos, para uma história extraordinária e apaixonante.
Nesta narrativa tudo é verdade. Os personagens são autênticos, tal como os seus comportamentos, privados ou públicos. Tudo foi por isso tratado em pormenor — por exigência da narrativa de Corbeyran —, e tudo foi escrupulosamente reconstituído, graças ao extraordinário trabalho gráfico de Éric Chabbert.
Começa aqui, com a relação dos génios Fritz Haber e Albert Einstein, uma história que não sabemos até onde poderá levar a Humanidade.
https://www.gradiva.pt/catalogo/56044/as-guerras-de-albert-einstein-vol.-2
VERSUS FIGHTING STORY 1 de Izu, Kalon, Madd
Manga International Corporation | 192 pp. | 12 €
A primeira manga sobre os e-sports.
Maxime Volta foi um herói nacional: o primeiro francês a liderar o circuito mundial do jogo Street Fighter V. Mas quando um jovem jogador japonês o ridicularizou num torneio, ele perdeu o seu sangue-frio e foi expulso da equipa.
Um ano mais tarde, quando o Versus Fighting é já uma memória distante para Max, a misteriosa Inès propõe-lhe juntar-se a uma equipa ínfima com enorme ambição...
https://www.gradiva.pt/catalogo/56057/versus-fighting-story-1
GOOD GAME! de Blanca Mira e Kaoru Okino
Manga International Corporation | 248 pp. | 12 €
Quando a mãe morre, Yuki descobre que tem um irmão secreto! Pouco depois, ao ver um programa de televisão, percebe que ele vai participar num famoso concurso de videojogos em Espanha. Yuki não hesita em cometer uma grande loucura e viaja até lá com o seu melhor amigo, Enishi. O seu objectivo é inscrever-se na Academia Good Game para o conhecer! Mas uma vez na academia apercebe-se que iniciar uma relação fraternal com uma pessoa que não conhece não é tão fácil como parece…
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A INCERTEZA E A CIÊNCIA
Meu artigo na mais recente revista MyPlanet:
Certo é aquilo que não levanta dúvidas, que podemos designar por verdadeiro ou real. Incerto é aquilo que levanta dúvidas. A maior parte das pessoas associa a ciência à certeza. Quando se diz que a ciência tem isto ou aquilo por certo, tal significa que isto ou aquilo estão bem estabelecidos. De facto, a ciência, mais do que alcançar certezas, o que faz é reduzir as incertezas. Graças ao método científico, sabemos hoje bem certas coisas (como “a Terra anda à volta do Sol” ou a “a vida na Terra tem um código genético comum”), mas não sabemos outras (por exemplo, “como surgiu a vida na Terra?” ou “há vida noutros planetas?”). A história da ciência mostra que, quando respondemos a uma questão, logo surgem várias outras. O conhecimento humano sobre o mundo parece não ter um fim à vista.
Os seres humanos aspiram a ter certezas. Mas o astrofísico norte-americano Carl Sagan advertiu em Um Mundo Infestado de Demónios: “Os seres humanos podem ansiar por certezas absolutas e aspirar a elas; podem pretender, como os adeptos de certas religiões, tê-las alcançado. Porém, a história da ciência – de longe a pretensão ao conhecimento mais bem-sucedida acessível ao homem – ensina-nos que o máximo que podemos esperar são melhoramentos sucessivos da nossa compreensão, a aprendizagem com os nossos erros, uma abordagem assimptótica do Universo, mas com a limitação de sabermos que a certeza absoluta nos escapará sempre.”
A discussão científica serve para reduzir a incerteza. É dela que nasce a luz: cedo ou tarde, haverá respostas melhores do que as anteriores por aplicação do método científico, que se baseia na observação, na experimentação e no raciocínio matemático. O público espera, muitas vezes, que as ciências alcancem rapidamente certezas (como mostram as questões da covid-19 e do aquecimento global), mas a ciência apenas pode dar um melhor conhecimento. Haverá sempre margem para saber mais. Havendo conhecimento mais certo do que outro, os cientistas devem-se abster de dar certezas absolutas. As leis da Natureza são descrições gerais do funcionamento do mundo, mas elas poderão ser mudadas se o mundo se revelar diferente do que supúnhamos. Claro que nunca vamos mudar tudo aquilo que sabemos – a ciência construiu um edifício sólido –, mas podemos ter de mudar um pouco do que julgávamos saber para acomodar uma descoberta nova.
O certo distingue-se do incerto, pela correspondência à realidade. Falamos de prova quando verificamos essa correspondência. Através da prova, formam-se consensos na comunidade científica, que são transmitidos a todos (por exemplo: “a covid-19 deve-se a um vírus novo” ou “o aquecimento global deve-se a emissões de CO2 de origem humana”). Uma prova tem de ser suficientemente forte para poder ser aceite. Mas poderão surgir elementos adicionais que levem a rever uma certa conclusão. A ciência tem sempre de ser fiel à realidade, que é o “Juiz Supremo”.
Para além do seu significado genérico, a palavra “incerteza” é usada, com significados específicos, em diversas áreas científicas, como a matemática, a física, a química, a biologia, a psicologia, etc. Em física e química, ditas ciências exactas, associa-se o termo incerteza ao grau de precisão de medidas. Quando se realiza uma medida de uma grandeza físico-química, existe sempre uma incerteza: há erros, quer ocasionais e inevitáveis, quer sistemáticos e evitáveis ou, pelo menos, minimizáveis. Tem, por isso, de ser realizado um conjunto de medidas em vez de apenas uma. No tratamento dos dados recorre- se à estatística, disciplina relacionada com o conceito de probabilidade. Esta foi introduzida no século XVII para descrever jogos de azar, em que há situações imprevisíveis devidas, por exemplo, ao lançamento de dados. Quando a ciência tratou, no século XIX, de descrever sistemas complexos, como os gases (formados por muitas partículas em incessante movimento), logo percebeu que tinha de recorrer à probabilidade e à estatística. As afirmações que formula nesse domínio são incertas, sendo a probabilidade um modo de descrever a incerteza. Hoje sabemos que no domínio dos astros também pode haver grande incerteza, devido ao fenómeno do “caos”: pequenas diferenças nas condições iniciais podem originar situações finais muito diferentes.
Na física quântica, surgida do século XX para descrever a realidade microscópica, a incerteza está incorporada de um modo mais fundamental. Verificou-se que, nesse domínio, é válido o “princípio de incerteza”, segundo o qual não podemos saber simultaneamente com exactidão a posição e a velocidade de uma partícula. Elas só podem ser descritas de uma maneira probabilística. Einstein reagiu com uma famosa frase: “Deus não joga aos dados”, isto é, para ele, a realidade não podia ser probabilística. No entanto, a teoria quântica funciona: ela explica as ligações químicas, estando assim na base das ciências naturais.
Em suma: a incerteza é uma constante nas ciências, incluindo as ciências exactas. l
MÚSICA E CIÊNCIA
Meu artigo de 2020 saído na revista Millennium (2, ed. esp. 5, pp 15-18):
A música é uma arte, não podendo ser inteiramente compreendida pela ciência. Há até quem fale de uma espiritualidade ligada à música. A relação entre a música e a ciência é, porém, bem mais estreita do que normalmente se pensa. Em primeiro lugar, e independemente da respectiva percepção qualquer peça musical é um conjunto de sons e os sons são ondas que se propagam no ar ou noutro meio, sejam ou não medidas. A acústica (de um étimo grego que significa “para ouvir”) é a parte da Física que se ocupa das propriedades dos sons.
A acústica remonta a Pitágoras, o filósofo e matemático grego que, no século VI a.C., terá sido o primeiro a associar um som emitido por uma corda vibrante a um comprimento, matematizando assim o som. Não chegaram até nós livros escritos por ele, mas apenas uma tradição oral que só mais tarde foi fixada em livro. Pitágoras – o mesmo do famoso teorema de Pitágoras - terá reparado que uma corda afastada da sua posição de equilíbrio emitia um certo som, mas, se diminuíssemos o comprimento dessa corda, o som era outro, mais agudo (ou mais alto), ou, em linguagem moderna, de frequência maior (Fig. 1). Essa terá sido uma das primeiras experiências de física de sempre. Podemos verificar esse fenómeno usando as cordas de uma guitarra. Pretendendo saber por que razão certas associações de sons musicais eram mais agradáveis ao ouvido do que outras, Pitágoras foi mais longe do que a verificação da proporcionalidade inversa entre o comprimento da corda e a altura do som. Reparou que, quando os comprimentos das cordas vibrantes, estavam numa proporção de inteiros (2, 3, 4, etc.) os sons combinavam harmoniosamente. Chamam-se “harmónicos” a esses sons, do étimo greco-latino que significa “ajuste, combinação, concordância”. Uma única corda pode, quando tangida, dar um conjunto de harmónicos: existe um som dito fundamental, o de frequência mais baixa, e um conjunto de sons possíveis, os harmónicos, cuja frequência é um múltiplo inteiro desse som (2,3,4, etc. vezes). Os primeiros harmónicos são os mais relevantes por serem os mais perceptíveis. A relação de frequências entre o som fundamental e o primeiro harmónico chama-se “oitava”. Na notação musical que usamos hoje de sete notas - dó, ré, mi. Fá, sol, lá, si, que formam a chamada “escala diatónica” - o dó que aparece a seguir ao primeiro, na sequência do si, está uma oitava acima. Portanto, a notação musical moderna tem por base a física e a matemática, as duas em útil intimidade.
Esta visão pitagórica da música, que introduz a ideia de harmonia numa base matemática, conduziu naturalmente a outras tentativas de relacionar a harmonia do mundo – entendendo-se por harmonia num sentido lato a conformidade das partes (para alguns autores harmonia é sinónimo de beleza) – com a matemática, usando esta a linguagem da geometria ou da aritmética. E, uma vez que a música estava associada a números, passou-se a associar partes do cosmos à música. Como, ao observar o movimento dos astros, se verificou que ele podia ser descrito pela geometria ou pelos números, logo se passou a falar, ainda no tempo dos antigos gregos, de “música das esferas” ou “música universal”. Talvez o próprio Pitágoras, ao trabalhar em astronomia, tenha pensado que os planetas podiam ser associados a notas musicais. Só se conheciam então os planetas visíveis à vista desarmada: Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno. Nesta ordem de ideias, as velocidades desses planetas estariam entre si como notas musicais: Mercúrio foi associada ao fá, Vénus ao sol (a nota), Marte ao ré, etc. A Lua era um lá e o Sol (a estrela) um si. O platonismo, ao incorporar estas ideias pitagóricas, ajudou a difundi-las. A apropriação pelo Cristianismo, durante a Idade Média, do pensamento grego contribuiu para a consolidação destas teorias, que se enraizaram na cultura. Vários pensadores da Idade Média falam da “música das estrelas”. Por outras palavras, a acústica e a astronomia estavam ligadas, embora a “música da esferas” não fosse audível pelos nossos ouvidos, mas tão só e ainda que com dificuldade pelo nosso intelecto.
No século XVII, com base nos dados diligentemente colectados pelo seu extraordinário mestre, o dinamarquês Tycho Brahe, o astrónomo alemão Johannes Kepler matematizou o movimento dos planetas de uma maneira que sobreviveu incólume ao tempo e que por isso se transmite na escola. Segunda a Primeira Lei de Kepler, as órbitas dos planetas não são circunferências, mas sim elipses com o Sol num dos focos. E, de acordo coma a segunda, o valor da velocidade de um planeta não é constante, mas sim variável: aumenta quando o planeta se aproxima do Sol e diminui quando se afasta. As velocidades máximas dos planetas em órbitas vizinhas estariam em proporção harmónica e o mesmo aconteceria com as mínimas. Para Kepler, portanto, os planetas percorreriam certos intervalos musicais, que exibiam regularidades uns com os outros. Cada um não seria descrito apenas por uma nota, mas sim por um conjunto de notas, uma melodia (Fig. 2). Vénus, que é mais rápido, estava associado a sons mais agudos do que Júpiter, que é mais lento. No coro celestial que era imaginado no universo (lembre-se que este se restrigia ao sistema solar) Vénus fazia de soprano, enquanto Júpiter fazia de baixo, tendo a Terra uma voz intermédia. O título da obra de Kepler, onde ele expõe esta sua teoria Harmonices Mundi (A Harmonia do Mundo, 1609) é eloquente sobre o conteúdo. Mas esta teoria kepleriana é, sabemos hoje, demasiado ingénua. Admitia excepções para planetas então conhecidos e não tinha, por exemplo, um carácter preditivo para os planetas que foram mais tarde encontrados. A descrição musical do sistema solar foi abandonada em favor de uma teoria estritamente matemática. O inglês Isaac Newton, com base nas leis de Kepler (a Terceira Lei acrescenta que existe uma relação matemática entre o período do planeta e o semieixo maior da elipse), deduziu a sua Lei da Gravitação Universal, que tem uma expressão matemática simples. Apesar das muitas divagações e erros que se fizeram com base nos conceitos pitagórico-platónicos, é lícito dizer que as ideias modernas sobre o cosmos são imensamente devedoras deles.
O astrónomo e físico italiano Galileu Galilei, contemporâneo de Kepler, foi o primeiro a fazer observações com o telescópio, descobrindo por exemplo as luas mais próximas de Júpiter, cuja existência abonava a existência de outros centros orbitais para além do Sol e da Terra. Galileu tem uma estreita relação com a música. O seu pai, Vincenzo Galilei, era músico: tocava alaúde, tendo transmitido a arte de tocar esse instrumento ao seu filho cientista, que não passou de músico amador (pelo contrário, um irmão de Galileu, Michelagnolo, saiu ao pai, tornando-se alaudista). Mas, mais do que instrumentista, Vincenzo foi um grande pioneiro de uma nova arte musical ao integrar, no final do século XVI, um agrupamento, designado por Camerata Florentina, que introduziu um novo género – a ópera – quando tentava recriar o teatro grego. E, como se isso fosse pouco, foi também um teórico da música. Estudando as cordas vibrantes que tinham interessado Pitágoras, fez uma descoberta adicional, que pode ser vista como a entrada da não-linearidade nas ciências físicas: as frequências variavam com a raiz quadrada da tensão aplicada na corda, o que concluiu após pendurar vários pesos numa das suas extremidades. É assaz curioso que a física moderna tenha nascido num ambiente que combinava a música com a física!
Um amigo de Galileu, o padre francês Marin Marsenne, aprofundou as investigações de Vincenzo Galilei, No seu livro mais influente L’Harmonie universelle (A Harmonia Universal, 1636) juntou numa só fórmula a lei de Pitágoras e a lei de Vincenzo: a lei de Marsenne. Aém disso, teve um papel na agregação dos físicos e matemáticos do seu tempo.
A discussão da harmonia musical prosseguiu, uns olhando mais para a música e outros olhando mais para a física. No século XVIII, o compositor barroco francês Jean-Philip Rameau escreveu o Tratado da harmonia reduzida aos seus princípios naturais (1722) e, no século XIX, o físico e médico alemão Hermann von Helmholtz escreveu o livro Ciência das sensações do som como uma base fisiológica para a teoria da música (1863), onde, para além de outras contribuições para a acústica, introduziu um sistema preciso para definir as notas.
Há dois anos, no dia 21 de Março de 2018, quando a Primavera se iniciava, tive o gosto de proferir uma conferência sobre “Música e Ciência” no Instituto Politécnico de Viseu, ao qual se seguiu um concerto por uma formação de jovens percussionistas da Orquestra Metropolitana de Lisboa, que tocaram A Sagração da Primavera (1913), do grande compositor russo Igor Stravinsky. Nessa ocasião referi que esse concerto provocou uma revolução na música, trazendo o contaste das dissonâncias onde antes reinava a harmonia, A obra foi pateada na sua estreia em Paris. Lembrei que, no mesmo ano de 1913, o físico dinamarquês Niels Bohr revolucionou a Física, ao propor uma nova imagem do átomo, em que os electrões percorriam órbitas em redor do núcleo atómico, como se fossem planetas. A grande diferença relativamente à descrição clássica das órbitas planetárias é que as órbitas electrónicas não podem ser quaisquer nem as energias associadas às órbitas: uma órbita de raio maior correspondia a energia maior e portanto maior frequência. A energia dos electrões era dada por números inteiros. Isto é, Pitágoras estava de volta: os números inteiros entravam agora não no domínio astronómico, mas no domínio atómico.
A fórmula de Bohr para as energias electrónicas ajustava-se tão bem bem às riscas dos espectros atómicos conhecidas há muito que o físico suíço (mais tarde também norte-americano) Albert Einstein viu logo que Bohr estava certo. Tal não o impediu de, mais tarde, levantar dificuldades conceptuais aos desenvolvimentos da teoria quântica, quando esta passou a assentar em ideias probabilísticas. É curioso assinalar que Einstein tocava violino, com um nível apenas amador. Ssó a música lhe dava maior prazer do que a física. Foi ele que disse que “A música de Mozart é tão pura e bela que a vejo como um reflexo da beleza interna do universo.”
A revolução na música no século XX haveria de ir mais longe do que a música de Stravinsky. Nos anos 20 o compositor austríaco Arnold Schoenberg, que admirava Rameau (tratou a sua obra no Tratado da Harmonia, 1911), propôs que, na chamada “escala cromática” da música ocidental, formada pelas sete notas padrão da escala diatónica e por mais cinco sons intermediários, todas as doze notas deveriam ser tomadas como equivalentes. Organizou nessa base grupos de doze notas a que chamou séries, que podia manipular por operações de simetria. Esta estranha música ficou conhecida pelo nome de “dodecafónica”. Schoenberg era músico e não cientista: acreditava em numerologia, isto é, no poder mágico dos números para prever o futuro, o que não passa de uma posição pseudocientífica. Mas há estranhas coincidências: morreu no dia em que acreditava que isso ia ocorrer com base num horóscopo que um astrólogo lhe tinha fornecido. Consta que a sua última palavra foi “harmonia”.
A física moderna está profundamente assente no tema da harmonia para descrever as partículas e as forças fundamentais. No quadro da teoria quântica, e usando a matemática no tratamento de simetrias mais ou menos abstractas, chegou a descrições muito fieis da realidade submicroscópica. De certo modo Pitágoras e Platão tinham razão: no fundo, tudo é número e as proporções importam. Mas um problema da descrição fornecida pela física moderna é que a matemática subjacente não é perceptível por quem não tenha feito a necessária aprendizagem (já dizia Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, que “o binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo./ O que há é pouca gente para dar por isso”). Há uma relação entre a matemática e a música, mas as pessoas apreendem muito mais facilmente a música do que a matemática.
domingo, 30 de outubro de 2022
Resta o regresso ao cume
Resta o regresso
Ao cume,
À solidão.
Ao doloroso dardejo
Das águas
Do mar de Mira.
À espuma rubra,
Ao ardente idílio,
Como lume
De sal de lítio,
Que tange o rosto
E se retira.
Ao longínquo
Fulgor
Do sódio.
Ao ardor do azul.
Ao cálcio
Que parece
Que se inflama
Na face mais pobre.
Ao grito
Da água diáfana,
Sob a luz do dia.
Ao céu da Gândara
Verde
Como a caruma
Que me cobre.
Às uvas colhidas,
No barro gretado,
Pelo desejo
E por uma vetusta
Canção.
Resta o regresso
Ao lampejo,
À terra do coração.
sábado, 29 de outubro de 2022
Hoje, o pudor não me detém à porta
Hoje, o pudor não me detém à porta.
Já não sou a criança com receio
De altivo homem, da injúria, da resposta,
Da universal calúnia e do recreio.
Antes, crianças transpunham a porta.
Com medo eu regressava à luz materna.
O saber ou a outra casa que importa
Queria de peito, amava a matéria.
Sentava-me em silêncio e com pudor
Ouvia e habitava o coração
Que um sonho alto não iria transpor.
Abro hoje a porta e peço de antemão,
Com o que importa, sem o medo impor,
Só coragem e um pouco de atenção.
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
O mar beijava-te o ouro dos pés
O mar beijava-te o ouro dos pés
E a serra formosa e em verdor, punha,
Estupefacta, as vistas de viés
No estreme e estendido alvor da espuma.
A onda, ao morrer, para ti se
alongou,
E a alta serra em ti quis
desassomar.
No chão-ardor teu olhar trespassou
O azul cerúleo de mim e do mar.
Olhámo-nos, ficou tudo mais só.
Ficou tudo imóvel e siderado.
Da venusta Afrodite tive dó:
O olhar castanho e o lúbrico flanco.
O seio em acúleo, o corpo anafado
E o que, com escrúpulo, excluo do canto.
UMA CRIANÇA ÍNDIA QUE CHORA
despejada naquela babilónia,
aguardando ajuda que demora.
Ser índio desprezado é destino
de imensas crianças na floresta.
Lágrimas lavam seu corpo franzino,
lágrimas sendo tudo que lhes resta!
Quem isto tolera e até promove
diz-se cristão de não sei que evangelhos:
a ganância assassina é que move
Uma criança índia que ali chora
é pra sempre mancha em qualquer aurora!
Eugénio Lisboa
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
ELOGIO DO BICHANO
Ser ou não ser bichano [1] , eis a questão!
Pode provar-se, com bom fundamento,
que não ser bichano é perdição
e, provavelmente, puro tormento.
Assim sendo, qual será a razão
de existir dos que não são bichanos?
Não ser bichano é só desrazão
que causa aos outros bichos muitos danos!
Deus criou Leonardo já tarde [2],
e, por isso, criou os não bichanos
e fê-lo xó com medo do alarde
que os bichanos trariam aos humanos:
Deus sabia muito bem que os bichanos
satisfariam gregos e troianos!
[1] Bichano: o mesmo que gato ou, de preferência, gatinho.
Eugénio Lisboa
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
ALGUNS POEMAS DE REINALDO FERREIRA
Aos metros embaladores,
Cantar o canto das aves,
A aurora, a brisa e as flores…
Vibrar na deposta lira
Dos trovadores sepulcrais
Delidas queixas d’Elvira
Zelos de bardo, fatais
Para que nessa ficção,
De outras apenas diferente,
Ao fogo do coração
Arda a razão descontente.
II
Rico mais do que partira,
Pois trago coisa nenhuma
Sem desespero e sem ira.
Agora vivo contente
No meu exílio sereno;
Tomei tamanho de gente
E não me dói ser pequeno.
Pedra parada na calma
Tranquilidade dos charcos,
Deixem dormir minha alma,
Como apodrecem os barcos…
III
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos, dancemos
Já que temos
A dança começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Em Arles e na orelha de Van Gogh…
A ponte que nos une – é estar ausentes.
IV
RECEITA PARA FAZER UM HERÓI
Feito de nada, como nós,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Noutro dia, acrescentaremos alguns poemas de Reinaldo Ferreira, a assinalar o centenário do seu nascimento.
Um rosto é mais do que um rosto – é um beijo
Um rosto é mais do que um rosto – é um beijo –,
Quando no peito nasce abrupto o desejo.
Um beijo é mais do que um beijo – abril e uma ave –,
Quando no peito o céu primaveril se abre.
Eu sei que nada será dito com enlevo
Eu sei que nada será dito com enlevo,
Sem que o arrebol caia no lagamar.
Sem que a lágrima azul eleve a flor do trevo.
terça-feira, 25 de outubro de 2022
CENTENÁRIO DE REINALDO FERREIRA
descuidado como era e vivendo sozinho, guardara na gaveta de uma mesa da cozinha, os papéis com os seus poemas manuscritos. Um dia, abrindo a gaveta, achou-a vazia. Chamou o empregado africano e perguntou-lhe se ele tinha mexido naquela gaveta. Ele respondeu que deitara tudo fora por pensar que eram papéis velhos e sem préstimo. A única reacção do poeta foi encolher filosoficamente os ombros e dizer: “Lá se foram sete anos de trabalho…” E nem sequer repreendeu o rapazinho.
tendo-lhe sido diagnosticado, em Lourenço marques, um cancro nos pulmões, aos 37 anos, foi a Joanesburgo, tentar uma opinião que lhe desse esperança. Ficou em casa da que viria a ser a minha grande amiga, Dianne Lidchi, bela pintora e mulher endinheirada. Contou-me ela que ficou muito impressionada com o comportamento de Reinaldo, porque, na noite do dia em que ele recebeu a sentença de morte, da parte do médico sul-africano, esteve todo o tempo a participar numa reunião que Dianne organizara em sua honra, exibindo uma brilhante convivialidade, como se nada de extraordinário lhe tivesse acontecido. Dianne Lidcchi ficou tão siderada com a sua coragem e o seu panache, que fez alguns retratos dele, dos quais sou hoje possuidor. Um deles serviu para a capa da primeira edição dos poemas, feita em Lourenço Marques, a expensas da Imprensa Nacional e graças ao esforçado labor de três amigos.
“Um bom poema é um contributo para a realidade. O mundo nunca mais fica o mesmo, desde que um bom poema lhe é acrescentado.”
A libertação
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
ANATOMIA DA GLÓRIA
Há gestos que são cheios de astúcias,
mas são gestos tristes e sem grandeza
congeminam-se todas as minúcias
de que precisa uma boa defesa.
E trai-se um amigo, sendo preciso,
porque mais precisa é ainda a glória:
o amigo que tivesse juízo
e pensasse melhor na trajectória!
e ganha-se, mesmo que seja a murro.
Não dá para pruridos de inteireza
e finge-se, se preciso, de burro.
A glória não se importa com mãos sujas
e acha úteis palavras sabujas!
Ser poeta é não estar
Ser poeta é não estar
E, se assim o desejar,
Poder falar com as pedras
E abraçar um caracol.
É o chão e o céu amar
E só a ambos perguntar
Pela eclosão das ervas,
Pelo sentido do sol.
CiÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÂO COM LULA
Ao contrário de Bolsonaro, é amigo da ciência. Por isso assinei esta declaração que me foi enviada por colegas brasileiros e que já vai em quase 13000 assinaturas de cientistas, professores, técnicos e cidadãos em geral ligados à ciência, tecnologia e inovação. Quem desejar pode assinar aqui
https://cienciacomlula.observatoriodoconhecimento.org.br/
Nós, cientistas, professores, pesquisadores, técnicos, empresários, trabalhadores, servidores, pós-graduandos e gestores, que atuam em ciência, tecnologia e inovação (CT&I), nos manifestamos pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República Federativa do Brasil. Fazemos isto por termos certeza de que Lula fará um governo democrático, com avanços sociais e a recuperação econômica do País. Temos clareza que a eventual continuidade do péssimo governo do presidente Bolsonaro nos levará a um desastre maior do que o atual.
Ao longo dos 4 anos de governo, Bolsonaro se destacou pelo negacionismo em relação à ciência, atuando contra as vacinas e a proteção individual, além de incentivar remédios ineficazes. Tais ações foram corresponsáveis por uma parcela significativa das centenas de milhares de mortes na pandemia. Bolsonaro promoveu um processo de desmonte da CT&I no Brasil, reduzindo drasticamente os recursos para esta área, bem como para a educação, e desviando fundos legalmente destinados a ela para interesses eleitoreiros e orçamentos secretos. Presenciamos nos últimos anos, a evasão de muitos de nossos jovens que abandonaram o país em busca de melhores condições de estudo e trabalho. Seu governo atuou contra a liberdade de pesquisa e a transparência da gestão pública ao promover demissões e perseguições a pesquisadores que divulgavam dados importantes sobre o meio-ambiente, a saúde e a economia do país. A sua política deliberada de destruição do meio ambiente levou a um crescimento enorme no desmatamento, a ameaças às terras indígenas e conduziu o país a um triste recorde internacional. Em consequência das ações do governo, a imagem do Brasil no exterior foi profundamente afetada, prejudicando o comércio e as cooperações internacionais. As ameaças constantes à democracia e aos direitos individuais, o grande aumento do desemprego, o crescimento da fome, que atinge agora 33 milhões de pessoas, e a deterioração acentuada das condições de vida da população brasileira são o legado trágico de uma política de governo que o país deve, agora, derrotar democraticamente.
Como Presidente da República, Lula agiu sempre de forma democrática e o bom desempenho de seu governo foi reconhecido pela população: no final do seu mandato, tinha 87% de aprovação. O Brasil atingiu a posição de sexta economia do mundo (hoje caiu para o 12o lugar) e o PIB por pessoa foi o maior da nossa história. A dívida externa foi toda paga e o país acumulou reservas de centenas de bilhões de dólares. Havia pleno emprego e o Brasil foi retirado do Mapa da Fome. A CT&I teve um grande impulso, assim como a educação, com aumento substancial de recursos e planejamento adequado, alcançando patamares bem mais altos que os atuais. Houve a criação e expansão de muitas universidades e institutos federais e ampliou-se o acesso de milhões de jovens ao emprego e às escolas e universidades. As ações de inclusão social beneficiaram milhões de pessoas.
As propostas de Lula para o próximo governo recuperam e ampliam em muito o que seu governo anterior realizou. Pontos essenciais serão a recuperação econômica do país, a melhoria do sistema educacional e da saúde pública, a extinção da fome e a preocupação com o meio ambiente e com uma agricultura sustentável. Em seu programa, Lula planeja o aumento e a continuidade de recursos para CT&I e educação – vistos não como gastos, mas como investimentos – e o estímulo à pesquisa básica e à inovação tecnológica e social. Será dado destaque à valorização das bolsas de estudo e à criação de oportunidades de trabalho para os jovens que querem se dedicar à CT&I no País, oferecendo futuro a eles e à Nação.
Por essas razões apoiamos a eleição de Lula para a Presidência do Brasil. Votar nele significa também se juntar a uma ampla aliança de democratas para salvar o País do autoritarismo. Como profissionais da CT&I, setor crucial para a inserção do Brasil no mundo contemporâneo, declaramos a nossa firme disposição de colaborar para a recuperação econômica e para um desenvolvimento sustentável e socialmente mais justo do país. Por um Brasil mais rico e menos desigual, no qual a educação, a ciência e a saúde sejam instrumentos essenciais para o desenvolvimento econômico do país e para a melhoria das condições de vida de todos os brasileiros e brasileiras, votamos Lula!
domingo, 23 de outubro de 2022
Consumo corrente: ‘marcas brancas’ e as preferências que ora concitam
“Os consumidores preferem estes rótulos 24% a preços mais moderados do que os das grandes marcas.”“Marque repère” (Leclerc), “Reflets de France” (Carrefour) e “Pâturages” (Intermarché) são quase tão conhecidos pelos clientes destas marcas como Danone, Lu ou Nestlé.
Presidente emérito da apDC – DIREITO DO CONSUMO - Portugal
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
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