segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ondas no embrião do Peixe-Zebra


Nova crónica do nosso colaborador habitual António Piedade.

O peixe-zebra, muito apreciado pelos aquariófilos, é também muito utilizado em investigações sobre o desenvolvimento embrionário dos animais vertebrados, como nós. A sua utilidade, como modelo animal para estes estudos de embriologia, deve-se, entre outros aspectos, ao facto de o seu genoma estar totalmente sequenciado, o seu comportamento estar muito bem estudado e compreendido, ser relativamente fácil de obter mutantes e de estes também estarem muito bem caracterizados, apresentar um desenvolvimento embrionário em cerca de três dias desde a eclosão do ovo até ao estado larvar, e de não apresentar muita variação de tamanhos, o que permite excelentes comparações entre estudos diferentes.

Para além disso, a sua fase embrionária é de muito fácil observação e manipulação experimental uma vez que o desenvolvimento ocorre fora da mãe, com um embrião generoso no tamanho, robusto e opticamente transparente. Esta transparência permite uma boa visualização dos diferentes estados do desenvolvimento embrionário, utilizando um simples microscópio óptico.

O aparecimento de novas técnicas microscópicas baseadas na excitação de tecidos biológicos por lasers estáveis e de baixas intensidades, aliadas ao desenvolvimento no tratamento informático da informação captada, tem permitido ultimamente registar aspectos no desenvolvimento embrionário, em tempo real e sem a utilização de marcadores celulares (a marcação de estruturas especificas celulares, para permitir a visualização das diferentes etapas, acabam sempre por ser um elemento estranho no embrião).

Neste contexto, foi publicado no último número da revista Science (aqui) um artigo que apresenta novos aspectos espantosos sobre o desenvolvimento embrionário deste importante modelo experimental animal. Um deles é o de os investigadores terem detectado uma certa assimetria pulsante na evolução do desenvolvimento embrionário, que sugere uma certa ondulação com o tempo na diferenciação celular.

É como se o desenvolvimento fosse embalado ao ritmo da transcrição genética e da difusão das substâncias modeladoras, que vão progressivamente dirigindo a arquitectura funcional que irá ser o organismo completo. O artigo é acompanhado por vídeos que documentam o observado: aqui.

Apetece escrever que “a mão que embala o berço” do desenvolvimento embrionário orquestra o caldo bioquímico ao diferenciar o óvulo singular para a sinfonia multifacetada da vida multicelular e complexa que caracteriza os organismos como o nosso.

António Piedade

1 comentário:

Almeida disse...

Gotei muito do artigo, dos videos, enfim...
Mas nao consegui ver o artigo completo. Como fazer? Agradeço imensamente.

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