Meu prefácio ao livro infantil passado no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e publicado em edição de autores por Ana Cristina Tavares e Gilberto Pereira:
Um museu é um lugar mágico. Entramos neles como quem
entra numa “máquina do tempo” para visitar o passado e saímos deles mais
preparados para viver o futuro. O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra é
um sítio extraordinário de memória da ciência, ao reunir colecções tão ricas e
variadas como as do Laboratorio Chimico, do Gabinete de Física Experimental e da Galeria de História Natural. O visitante
sente-se transportado ao século XVIII, quando a ciência experimental já tinha
sido criada como meio de descobrir as leis da Natureza e as colecções de História
Natural se acumulavam à espera dessa grande síntese que haveria de ser, no
século XIX, a teoria de evolução de Darwin. A ciência, baseada na
experimentação, na observação e no raciocínio lógico, afirmava-se nessa época como
uma nova maneira de ver o mundo. Depois de sairmos do Museu da Ciência também nós
passamos a ver o mundo com outros olhos: o mundo é maravilhosamente variado,
mas é possível, com o método da ciência, descrevê-lo e compreendê-lo.
A história deste livro de Ana
Cristina Tavares – uma botânica cuja sensibilidade literária para transmitir a
ciência já nos tinha proporcionado o livro “A
Alga que queria ser flor” - e de Gilberto Pereira – um químico que cuida
com carinho das colecções museológicas - , passa-se no Museu de Ciência da
Universidade de Coimbra. Duas máscaras indígenas – uma masculina de Angola
(Mukixi) e outra feminina do Brasil (Tikuna) – das colecções do Museu encarnam
em personagens humanos que vão passear pelo museu à noite. E, porque há muito a
descobrir no Museu, vão ter imensas surpresas. Os índios, dos dois lados do Atlântico,
vão conhecer o mundo. Cito: “Teve uma
ideia brilhante: para conhecer muitos mundos de uma vez e novas vidas, animais,
plantas, conchas, instrumentos, ambientes, lições, livros, experiências,
canções e outras tantas novidades e tesouros, nada melhor que entrar nas outras
salas do grande Museu!” O Museu é para eles, como para qualquer
visitante, um sítio de deslumbramento. O olhar encantado com que descobrem
instrumentos, animais e plantas na gigantesca “arca do tesouro” onde antes
estavam adormecidos pode ser também o nosso se, levados por este tão
convidativo livro, quisermos entrar no Museu. Há histórias incríveis, mas
verdadeiras, à nossa espera como a da coroa real que é um íman, a da planta de
uma época geológica recuada, a do grande esqueleto de baleia onde podemos ser
Pinóquios, ou a de um lince sobre o qual paira a ameaça de extinção.
Bela história, belo livro! Oxalá este livro – que
combina a imaginação literária da Ana Cristina Tavares com o original estilo
gráfico do Gilberto Pereira, juntando-se a arte dos dois ao seu conhecimento científico
– sirva de inspiração a educadores, para que eles, com os seus educandos, se deixem,
tal como os índios, maravilhar pelas histórias que o Museu conta. As crianças são
naturalmente curiosas e os educadores só têm que dar asas à curiosidade
infantil. Não é preciso muito: é preciso apenas, como os índios, decidir entrar
na aventura do conhecimento.
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