Título: Eduquemos mejor: guia para padres y profesores
Autor: J. M. Quintana Cabanas
Editora: Editorial CCS (Madrid)
Ano de publicação 2007
Ao ler o Prólogo do mais recente livro do pedagogo espanhol J. Maria Quintana Cabanas, onde se esclarece que “as suas bases são científicas, mas a linguagem… é de divulgação pedagógica”, lembrei-me dum texto publicado no Jornal Expresso de 8 de Junho, onde se apresentavam algumas dúvidas em relação às Provas de Aferição de Matemática para o Primeiro Ciclo do Ensino Básico.
No Editorial do sábado seguinte do mesmo jornal, referia-se que foi pedido um esclarecimento ao Ministério da Educação e que este enviou por escrito (condição que, ao que parece, impôs) uma declaração, onde se explica que: “Para se compreender a importância das provas de aferição, é necessário conhecer os rudimentos das técnicas de avaliação e dispor de noções básicas sobre os processos de aprendizagem”.
Face a esta resposta da tutela, o editorialista deixou uma apreensão no ar: “um mísero jornalista, um qualquer pai ou mãe que não for iluminado pelas Ciências da Educação e que, portanto, não tem os ‘rudimentos’ nem as ‘noções básicas’, jamais pode aspirar a compreender as razões e as pontuações das provas dos filhos. É pena! Porque temos o direito a um sistema de ensino compreensível e simples.”
Do que vou ouvindo e lendo por aí, parece-me bastante generalizada a ideia de que nas Ciências da Educação se usa uma linguagem hermética, transcendente para o comum dos mortais, uma espécie de dialecto que os especialistas criaram e que só eles entendem; o tal “eduquês”, na expressão irónica do Professor Marçal Grilo, a que Maria Filomena Mónica, Nuno Crato e Carlos Fiolhais, entre outros, deram um amplo destaque.
Mas, bem vistas as coisas, o Ministério da Educação, a avaliar pelos documentos que dele provêm, também parece apreciar e usar esse tal dialecto. E como não se sabe muito bem quem são os especialistas em Educação e os decisores da Educação, arrumam-se todos na mesma categoria.
Não vou agora deter-me nesse debate de “quem é quem”, pois o que, de momento, me interessa é afirmar o seguinte: os especialistas e os decisores da Educação devem comunicar para o exterior, respectivamente, o saber que possuem e as medidas que tomam. E essa comunicação deve ser clara, rigorosa, objectiva, para que as pessoas entendam o que está em causa e, se for caso disso, critiquem, sugiram, enfim, intervenham. A educação, como toda a ciência, não é um assunto que diga respeito só a alguns; diz respeito a todos. O jornalista tem razão: “temos o direito a um sistema de ensino compreensível e simples.”
Sinceramente, não me parece que explicar a “importância das provas de aferição” e os “rudimentos das técnicas de avaliação” seja algo transcendente, uma pessoa que esteja no Gabinete de Avaliação Educacional deve conseguir fazê-lo em meia-dúzia de frases. Por outro lado, as “noções básicas sobre os processos de aprendizagem” podiam ficar para outra altura, que não vinham propriamente ao caso.
Para demonstrar que o saber pedagógico é comunicável a leigos, aí está o livro “Eduquemos mejor: guia para padres y profesores”, que foi escrito, como acima referi, exactamente com esse propósito. A quem interesse, aqui deixo algumas temáticas nele constantes:
- Porque é que a educação é um problema difícil?
- A autoridade e a liberdade em educação;
- A educação nos valores e a educação moral;
- A educação e os valores transcendentes;
- A educação sexual;
- A educação intelectual;
- A orientação nos estudos e na profissão;
- A educação estética.
quinta-feira, 19 de julho de 2007
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4 comentários:
Gostei imenso do artigo. Quero aproveitar para vos dar, a todos os que fazem este blog, os meus parabéns pelo modo esclarecido, pedagógico e apaixonado com que abordam os diversos temas. Continuem!
A questão de se esconder atrás de termos obscuros e jargão que, fundamentalmente não significa nada, é algo que afeta também a ciência, principalmente as ciências sociais (e no que me toca, a história da ciência). Muitas vezes eu me peguei em uma discussão em blogs ou comentários que eu não conseguia mais argumentar porque a redação me ficava cansativa, virava concurso de poesia, mas o conteúdo, se eu me esforçasse para ler ficava vazio. Parece que o problema aqui é o mesmo.
Como nos diz Nuno Crato "uma das características mais marcadas do eduquês é a falta de clareza (...) revela-se na atonia do discurso, na mistura de ideias e na incapacidade para exprimir claramente o que se defende"
Que poderíamos, então, esperar?
Gostei da prosa!!
Aconselho vivamente a leitura deste blog/manifesto:
http://www.educacao-em-portugal.blogspot.com/
Mário Rodrigues
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