Ontem fomos surpreendidos por notícias de várias catástrofes, o desastre ocorrido no aeroporto de São Paulo, a fuga radioactiva numa central nuclear no Japão em consequência de um sismo e o descarrilamento na Ucrânia de um comboio que transportava fósforo branco, referido nas notícias como fósforo amarelo. Em relação a este último, nas palavras do vice-primeiro ministro Oleksandr Kuzmuk, o acidente representa «uma verdadeira ameaça à população», que comparou à catástrofe nuclear de Tchernobil, em 1986 (embora outros responsáveis tenham mais tarde suavizado a nota alarmista de Kuzmuk).
De facto, o elemento cuja descoberta marcou o «fim» da alquimia e o estabelecimento da química é tão tóxico e perigoso que, embora o WP (white phosphorus) ou Willie Pete - como ficou conhecido na guerra do Vietname - seja utilizado pelos militares norte-americanos como bomba incendiária ou de de fumo, é classificado como arma química e o seu uso em populações civis completamente banido pela convenção de Haia.
O Phosphorus mirabilis ou igneus como foi baptizado no século XVII, apresenta várias formas alotrópicas — estruturas diferentes para a mesma substância — das quais as três mais importantes são o fósforo branco, o vermelho e o negro. O fósforo branco, para além de muito inflamável - arde espontaneamente ao ar (pirofórico) a temperaturas pouco acima da ambiente -, é extremamente venenoso - a ingestão de uma dose de 50 mg pode ser fatal - causando danos graves ao fígado, coração e rins, e dando origem a queimaduras severas, tão mais severas porque o WP é solúvel em lípidos e penetra rapidamente nos tecidos humanos e qualquer pequena lasca em contacto com a pele queima até ao osso.
Ao ar, o WP arde com formação de anidrido fosfórico P4O10, que é igualmente muito tóxico, a sua ingestão causa danos graves ao tracto gastrointestinal, sendo irritante para os olhos e para o tracto respiratório. Como o anidrido fosfórico reage violentamente com água, formando ácido fosfórico, o contacto deste óxido de fósforo com os olhos, membranas mucosas ou mesmo com a pele causa queimaduras graves. Em água com pequenas quantidades de oxigénio, o fósforo branco arde mais lentamente formando fosfina, PH3, um bloqueador respiratório que é igualmente pirofórico. Por isso, este tipo de fogos é muito difícil de combater uma vez que não pode ser utilizada água.
No acidente, incendiaram-se cerca de 10 das 58 composições, 15 das quais transportando um total de 750 toneladas de fósforo branco, do comboio que viajava do Cazaquistão para a Polónia e que descarrilou perto da cidade de Lviv, próximo da fronteira polaca. O ministro dos transportes, Mykola Rudkosvsky, indicou que existe uma comissão já no local para apurar as causas do acidente e que abriram um inquérito crime por «violação das regras de exploração dos caminhos-de-ferro». De facto, o transporte deste tipo de químicos perigosos exige condições de segurança que não foram obedecidas e que podem estar na causa do acidente.
Com o fogo controlado, não é ainda possível a aproximação do comboio, pelo que as autoridades ucranianas não sabem quanto WP se espalhou no solo, indicando apenas que dois dos tanques derramaram o seu conteúdo no solo. O governo de Putin anunciou a sua disponibilidade em ajudar as autoridades ucranianas a neutralizar o perigoso fósforo branco.
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3 comentários:
Desculpe, mas não percebo a relação do fósforo branco com o acidente do Brasil. É apenas para dizer que há acidentes?
Este caso é grave, especialmente por erro humano premeditado (crime).
Mas tenhamos atenção ao caso da maior (uma das?) central nuclear do mundo no Japão, afectada por um sismo e cujas consequências ainda não estão todas determinadas. Numa altura em que há quem equacione a instalação de centrais nucleares em Portugal, há que ter noção dos riscos, da dimensão e ocupação do nosso território, da escassez dos nossos recursos e da negligência criminosa que grassa no país.
No telejornal do 1º canal alemão dizia-se, de facto, que é a maior central nuclear do mundo. E que cerca de 100 barris com resíduos fracamente radioactivos foram afectados pela turbulência telúrica, tendo-se aberto alguns, derramando o conteúdo. Quanto aos litros de água radioactiva que foram parar ao mar, penso já ter ouvido versões em que se fala num litro apenas, e uma outra (não me lembro onde) em que se falava de mil litros... Unânime parece ser a crítica dos media à política de comunicação das empresas logo após estes problemas (incidentes, ou acidentes, como quiserem...). Nas centrais nucleares da Alemanha, logo a seguir à panne, levantou-se a questão de saber se haveria álcool em jogo. Parece que isso terá estado em causa no acidente que houve, há um ano, na central de Forsmark, na Suécia, e que quase ia provocando uma tragédia semelhante à de Chernobil. Deve ser realmente difícil trabalhar numa central em que os níveis de vigilância têm de ser os mais elevados que existem! Os seres humanos têm de ter nervos de aço para aguentar. Eu sou pelas tecnologias de escala humana...
Adelaide Chichorro Ferreira
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