Texto recebido de Galopim de Carvalho, que devia ter saído no dia 27 de Setembro (as nossas desculpas ao autor e aos leitores):
Vasco Graça Moura (1942-2014)
Faz hoje, dia 27 de Setembro, seis meses que faleceu Vasco Graça Moura, um dos mais destacados intelectuais deste tão mal aproveitado rectângulo, palco da gula de uns tantos poderosos que, em termos de cultura e como diz o povo, não lhe chegavam aos calcanhares.
Referenciado como uma das vozes mais críticas do Novo Acordo Ortográfico, dizia, e com razão, que este apenas "serve interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo".
Ao justificar a minha determinação, tal como este ilustre cultor da nossa bela língua, de continuar a escrever segundo a ortografia agora oficialmente rejeitada, estou do lado dos muitos portugueses que contestam o dito acordo e que, como eles, me recuso a segui-lo. Ao evocar Graça Moura e a sua luta contra esta pedrada atirada à língua que tão bem escrevia, ocorreu-me trazer a estas minhas páginas elementos de um pequeno texto que circulou na net e, provavelmente, ainda circula. Meia dúzia de linhas, cuja autoria desconheço, evidenciam algumas das situações anedóticas e até ridículas do tão falado acordo que, em minha modesta opinião, revela a menoridade de quem aqui o aceitou adaptar a exigências externas e a opaca subserviência de quem o colocou em letra de lei.
Se, como alguém escreveu, a origem de muitas das palavras agora beliscadas na sua ortografia, «está, e bem, na Velha Europa, porque é que temos de nos submeter ao modo de escrever dos nossos irmãos do outro lado do Oceano?»…«Esta submissão - continua o mesmo texto - é um atentado à cultura portuguesa, incompreensivelmente perpetrado por intelectuais portugueses e, infelizmente, homologado por quem teve poder para tal».…«Quanto a mim, - diz, ainda, o autor do mesmo texto - à semelhança de muitos dos meus concidadãos, estou-me nas tintas para o acordo e vou continuar a escrever no português de Portugal».
E esta mesma contestação não pára de se manifestar por respeitados utilizadores da língua portuguesa escrita, sendo frequentes as declarações de rejeição do dito acordo.
Comentando estas opiniões com um compadre a viver no Alentejo profundo, ele foi lesto no expressar do seu sentir. Homem erudito, mas marcado por uma rusticidade que nunca o abandonou, exímio conhecedor da língua portuguesa, disse, usando da simplicidade e da frontalidade, que caracteriza os meus conterrâneos.
- Olha, compadre, no que respeita a esse maldito acordo, deixa-me dizer que me fartei de argumentar contra um tal dislate, usando os conhecimentos que acumulei ao longo de uma vida de estudo e tive do meu lado alguns dos mais ilustres conhecedores e utilizadores da nossa língua. Foi tudo em vão. Foi chover no molhado. Daqui em diante, quanto a este assunto, digo a quem me quiser ouvir que, obrigando-me a usar palavras de boa educação, me estou borrifando para o dito acordo, para os intelectuais que o conceberam e formalizaram e para os políticos que o aprovaram.
Galopim de Carvalho
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3 comentários:
Se não desisistirmos e já do AO vamos passar a ter uma lingua surreal......e incompreensivel!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Augusto Küttner de Magalhães
Não basta escrever e falar contra o AO, é preciso fazer tudo o que estiver ao nosso alcance:
http://ilcao.cedilha.net
http://ilcao.cedilha.net/docs/ilcassinaturaindividual.pdf
O acordo ortográfico foi uma manobra de diversão para entreter os indígenas enquanto coisas mais importantes se decidiam pela calada. A técnica já é velha e continua a surtir efeito, ainda me surpreendo pela adesão do povo para tudo o que é novidade, mesmo que para pior!
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