Depois de ter chamado a atenção para a "fuga de cérebro" corporizada por Paulo Veríssimo, Professor de Informática da Universidade de Lisboa, na minha última crónica no Público, o Expresso noticiou-a e, na segunda feira passada, o Público entrevistou esse cientista chumbado pela FCT. Destaco passo da entrevista, que mostra o descompasso da FCT com os padrões internacionais da investigação científica:
"Quantos concorreram para a bolsa da FNR [a FCT do Luxemburgo]?
Estas propostas não têm uma chamada formal. Foi um convite após um longo processo e só depois disso é que a FNR viu com bons olhos uma candidatura à bolsa. No fundo, foi um convite para submeter a candidatura. Houve uma boa meia-dúzia de candidaturas, mas a minha proposta foi aprovada. Soube formalmente da decisão no fim de Junho.
Foi precisamente nessa altura que soube também que o seu laboratório em Portugal tinha sido “chumbado” na avaliação em curso pela FCT.
É irónico, não é? Enquanto no Luxemburgo as pessoas acreditaram em mim e vão-me dar cinco milhões para gastar, fui confrontado em Portugal com o chumbo do laboratório LaSIGE, do qual fui director e fundador – um laboratório reconhecido e considerado pelos seus pares como um dos melhores. Não se percebe porquê, porque as próprias métricas da FCT colocam o nosso laboratório nos lugares cimeiros da excelência. O LaSIGE deverá receber, nos próximos cinco anos, 7500 euros por ano para suportar a actividade dia a dia de mais de 120 investigadores. A manter-se esta decisão (ainda estão as audiências prévias em apreciação), isto corresponde obviamente a uma intenção de fecho do LaSIGE por parte da FCT. Mas não é por eu me ir embora que deixa de haver investigação nesta área em Portugal. O meu grupo é muito forte, e ficam em Portugal pessoas muito boas que continuam a trabalhar. E eu espero vir a colaborar com elas no futuro.
Por que decidiu submeter a sua proposta ao PEARL?
Foram-se passando tantas coisas más em Portugal... Comecei a sentir que o Governo estava a fazer coisas absolutamente loucas, não tenho outra palavra para as designar. E a dada altura, telefonei a um amigo da Universidade do Luxemburgo a dizer que iria considerar uma candidatura ao PEARL.
Os avaliadores perguntaram-lhe por que queria sair de Portugal. O que respondeu?
Respondi-lhes a verdade. Disse que em Portugal ia ser quase impossível uma pessoa montar projectos grandes. Não só porque não houvesse dinheiro, mas porque não há disposição, as pessoas estão umas contra as outras, não querem facilitar as coisas. E acho que eles perceberam. A fundação deu-me o montante máximo, o que não é sempre o caso (...)"
Por que decidiu submeter a sua proposta ao PEARL?
Foram-se passando tantas coisas más em Portugal... Comecei a sentir que o Governo estava a fazer coisas absolutamente loucas, não tenho outra palavra para as designar. E a dada altura, telefonei a um amigo da Universidade do Luxemburgo a dizer que iria considerar uma candidatura ao PEARL.
Os avaliadores perguntaram-lhe por que queria sair de Portugal. O que respondeu?
Respondi-lhes a verdade. Disse que em Portugal ia ser quase impossível uma pessoa montar projectos grandes. Não só porque não houvesse dinheiro, mas porque não há disposição, as pessoas estão umas contra as outras, não querem facilitar as coisas. E acho que eles perceberam. A fundação deu-me o montante máximo, o que não é sempre o caso (...)"
2 comentários:
Os investigadores vão mesmo ter que meter uma cunha ao Moedas, LOL
Moedas fica com a pasta da Investigação, Inovação e Ciência
http://europasicnoticias.eu/2014-09-10-moedas-fica-com-pasta-da-investigacao-inovacao-e-ciencia/
Enquanto em Portugal continuar a mentalidade das "borlas" e da "carolice" as coisas não avançam, não se percebe e a fct não percebe que para se fazer ciência se têm que comprar equipamentos e pagar a pessoas que são humanas e precisam de pagar as suas despesas e comer todos os dias!
Santos da casa não fazem milagres! Cá não prestam, mas lá fora já são bons, tanto que os vêm cá buscar, depois de formados, de 12 anos de liceu, 2 de mestrado, 3 ou 4 de doutoramento e pós doutoramento, sem contar os anos entre formações com bolsas ou sem bolsas em projectos! depois do serviço público de lhes pagarem uma educação de excelência com os dinheiros públicos, o outro serviço público é expulsarem-nos porque não se criam condições para os manter. Não teria sido mais fácil pegar nesses valores e deitar as notas numa fornalha? Continuamos a deitar dinheiro para a rua como se nos sobrasse!
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