Uma família com dois filhos, um no segundo ou terceiro ciclo do ensino básico e outro no secundário, gasta em manuais escolares pelo menos quinhentos euros.
Quinhentos euros é mais do que um ordenado mínimo nacional. E há muita, muita gente a ganhar o ordenado mínimo nacional.
Cada manual custa entre vinte e tal e quarenta e tal euros, logo, é fazer as contas. Não sei se, em termos de mercados, os preços são justos ou não, talvez sejam, o que sei que é quinhentos euros é bastante dinheiro para cada vez mais pessoas.
De modo que os manuais se pudessem reaproveitar de um irmão, primo ou vizinho para outro, foi reivindicada e, felizmente, publicada uma lei que obriga que cada manual se mantenha no mercado por seis anos. Várias entidades mobilizaram-se para fazer recolhas e distribuições, houve quem beneficiasse disso.
Porém, neste ano lectivo, em virtude da recente publicação das Metas curriculares para várias disciplinas, as editoras apresentaram novos manuais e as escolas optam, em geral, pelas versões acabadas de sair.
Nas disciplinas em que o Programa mudou, por exemplo Matemática, enfim, pode compreender-se, a mudança de manuais, mas nas disciplinas onde o Programa se manteve, e a partir dele forem construídas as Metas, não há qualquer justificação para a publicação de novos manuais e para a exigência das escolas.
Neste país à beira de vários abismos, o financeiro é só um deles, talvez pudéssemos, independentemente do nível de decisão em que nos situamos, dar mais atenção ao que se passa à nossa volta.
Maria Helena Damião
1 comentário:
Isso tudo corresponde a um imenso lobby, como tantos outros que imperam no actual sistema! Permitam-me sugerir uma proposta (algo longa, mas ainda assim de leitura suportável, e o conteúdo é interessante), em http://porumnovoensino.blogspot.pt/p/blog-page_27.html, que, entre outras coisas, tambem se refere a essa questão do material escolar (mais para o fim...).
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