Meu artigo no último As Artes entre as Letras (na imagem Goethe):
De facto, a luz
tem aspectos científicos descritos pela matemática, pela física, pela química,
pela biologia, pela geologia e por várias engenharias. Mas a luz está presente nas
nossas vidas graças a óculos e aparelhos que usam raios infravermelhos, microondas,
raios X, etc. (estas formas de radiação não são mais do que diferentes formas de
luz, que usamos no quotidiano, em tudo semelhantes à luz visível excepto no
diferente comprimento de onda). Por outro lado, a luz encontra também
acolhimento em muitas áreas da cultura, como as artes visuais, a fotografia e o
cinema (as duas últimas artes estão inteiramente baseadas em tecnologias da
luz).
Porquê 2015? Normalmente os
anos internacionais, como foi em 2005 o Ano Internacional da Física,
assinalando os cem anos da publicação dos principais trabalhos de
Einstein) coincidem com alguns
aniversários muito significativos na história da ciência e das técnicas. As
Nações Unidas destacaram cinco datas históricas com particular pertinência para
o estudo da luz, que deverão ser celebradas no próximo ano:
§
1015 – Ano em que o
árabe Ibn Al Haytham (conhecido
também pela forma latina Alhazen)
escreveu o primeiro “Livro de Óptica”.
§
1815 – Ano em que o
francês Augustin-Jean Fresnel apresentou a sua teoria sobre a natureza
ondulatória da luz, que desfez na altura uma controvérsia a respeito da luz.
§
1865 – Ano em que o
britânico James Clerk Maxwell publicou a sua teoria de electromagnetismo,
afirmando que a luz eram ondas electromagnéticas (essas celabradas equações de
Maxwell explicam todos os fenómenos eléctricos, magnéticos e ópticos).
§
1915 – Ano em que o
suíço nascido na Alemanha Albert Einstein publicou a teoria da Relatividade
Geral, apresentando a luz no espaço e no tempo: a luz era encurvada nas
proximidades de um corpo com massa rlevada, que deformava o espaço-tempo á sua
volta.
§
1965 – Ano em que os
norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson descobriram a chamada radiação
cósmica de fundo, a luz mais antiga do cosmos que corresponde ao nascimento dos
átomos, quando o Universo tinha cerca de 380.000 anos; e também o ano em que o
norte-americano Charles Kao apresentou a tecnologia da fibra óptica, que hoje
está generalizada para a difusão dos sinais de televisão e Internet.
Para além das
referências históricas, a escolha do tema da luz justifica-se em diversas
dimensões. A ciência da luz deu origem a aplicações com impacto directo na qualidade
de vida em todo o mundo. Essas aplicações são dos maiores motores económicos da
actualidade: basta pensar nos telemóveis, na televisão, na Internet, nos
lasers, etc. São usadas nas comunicações,
na saúde, no ambiente e no sociedade. O tema da luz, ao ligar várias ciências e
ao ligar as ciências à vida, oferece um potencial pedagógico extraordinário: não
se trata de celebrar o ano de uma disciplina isolada, como a física, ou a
astronomia, mas sim, de uma faceta transversal de várias delas, de praticamente
todas elas.
O ano de 2015
constitui uma oportunidade extraordinária para a coordenação internacional de actividades
educativas e para a promoção de novas iniciativas que demonstrem o nosso
conhecimento da luz e as tecnologias revolucionárias que nele assentam, que
ajudam ao desenvolvimento sustentável. Perspectiva-se uma fértil colaboração
entre instituições científicas, entidades educativas, organizações sem fins
lucrativos, empresas privadas, organizações culturais, etc.
Ao contrário do
que aconteceu no Ano Internacional da Física em 2005, Portugal não esteve entre
os países que apresentaram e defenderam a proposta junto das Nações Unidas. Mas
Portugal, que tão boa figura na cena internacional tem feito noutros anos
internacionais, terá um programa nacional de actividades à volta da luz e das
suas aplicações. Uma comissão nacional está já constituída, que integra representantes
da Sociedade Portuguesa de Física (a Sociedade Europeia de Física cujo
Presidente esteve há pouco entre nós, foi o grande promotor mundial da
iniciativa), da Ciência Viva – Agência Nacional para Cultura Científica e
Tecnológica, da representação nacional da UNESCO, da Sociedade Portuguesa de Química, da
Sociedade Portuguesa de Óptica, etc. A Comissão, que já abriu uma página na
Internet ( http://ail2015.org/
), esboçou um programa nacional em quinze pontos, para cuja concretização busca
apoios públicos e privados, e enquadrará quaisquer iniciativas à volta do tema
da luz que mostrem suficiente qualidade. A Comissão assegurará as ligações
internacionais (ver http://www.light2015.org/Home.html~
)
As últimas
palavras do poeta, romancista e dramaturgo alemão Johann Wolfgang von Goethe
foram “Mehr Licht!”, em português “Mais Luz!”. No mundo e em Portugal este pode
bem ser um lema a usar para 2015 – Ano Internacional da Luz.
Sem comentários:
Enviar um comentário