terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uma mentalidade fora da realidade

Texto de João Boavida na sequência de outro antes publicado no De Rerum Natura: A universidade nas mãos dos putos.

Certas formas de recepção aos caloiros fazem estragos logo à entrada. Essas formas denotam uma tradição que se compraz em desacreditar o estudo, os professores e o trabalho, desviando para outras lides mesmo os alunos que vinham com bons hábitos do Secundário. É uma mentalidade fora da realidade, que já passou o prazo de validade mas, como os seus promotores o não percebem, continua a sua acção corrosiva.

É óbvio que a Europa está em crise, ou pior, em decadência – vejam-se as greves em França e os motivos por que se fizeram – mas a esta decadência vem juntar-se a desgraçada mistura portuguesa de incultura e da alegre valorização dela.

O que pode esperar um país que partiu tão tarde para a formação da população, com o resto da Europa muito à frente, e que mantém, nas suas tradições académicas, formas de iniciação que desvalorizam o estudo e o trabalho, mais: que as festas contínuas transformam em transtorno?

São hábitos que vêm do tempo em que os universitários eram uma minoria, e a preparação académica, mesmo quando medíocre, dava para as necessidades de um país atrasado, pouco exigente e sem concorrência externa. Hoje, porém, tudo está a mudar.

Com a globalização de economias, conhecimentos, trabalhadores e especialistas, mais a emergência de populações que lutam também por uma vida decente, o formigueiro dos que estudam e trabalham a sério procurando promover-se é imenso por todo o lado.

Ou seja, a preparação dos portugueses é cada vez mais necessária, não só para fazer progredir o país, mas também para garantir profissionais competentes, que se aguentem perante os problemas e a concorrência dos estrangeiros.

Pois bem, as nossas associações académicas ainda não perceberam isso e têm sobre os processos de integração, alienante, dos caloiros, um olhar complacente que não ajuda em nada. É tempo de receber os novos alunos doutra maneira.
João Boavida

8 comentários:

António Daniel disse...

Concordo com o João Boavida, mas uma pergunta urge fazer-se: por que razão acontecem estas praxes (temos que reconhecer que a praxe é um ritual de iniciação existente noutras organizações) e consequentes humilhações, quando acontecem? Será que há algo de primitivo que nos acompanha, bem visível no prazer oriundo do exercício da humilhação? Isto é que seria interessante responder, embora reconheça que não seria o intuito deste post.

Anónimo disse...

"Pois bem, as nossas associações académicas ainda não perceberam isso e têm sobre os processos de integração, alienante, dos caloiros, um olhar complacente que não ajuda em nada. É tempo de receber os novos alunos doutra maneira."

Hoje como ontem as associações académicas servem para arranjar tachos e fazer escola na politica, mas hoje têm outra função, organização de bebedeiras! Servem para organizar festas, nada mais!

Quanto às praxes, os reitores pactuam com as mesmas!

A praxe deixou de ser integração, que o era ainda há cerca de uma década, em que havia umas palermices, umas pinturas, uns rebolares na lama, nada de mais, para depois termos turmas unidas, inter ajuda, amizades que vão durar uma vida, cerimónias, etc, para hoje se tornar uma pouca vergonha, um enxovalhar de crianças por outras não menos crianças, frustradas e ressabiadas que não levaram uns açoites no tempo certo e passam a vida a mostrar o que não são através da humilhação.

Como as praxes estão hoje, proíbam as mesmas, criem uma lei para elas, extingam-nas!

José Batista da Ascenção disse...

Parabéns Prof. João Boavida.

Também a realidade parece estar fora da racionalidade que seria exigível aos nossos alunos universitários.
Se, no ensino secundário, um professor ou um funcionário repreenderem um aluno arriscam-se a levar uma tareia do encarregado de educação, sem poderem reagir...
Porém, se o mesmo aluno entrar numa universidade, ele próprio aceita comportar-se como um indivíduo sem vontade nem princípios, fazendo figuras tristes em público, muitas vezes perante o desprezo daqueles a quem o trabalho (quando o têm) amarga e o rendimento mingua.
Que homens estamos a preparar para amanhã?
São estas pessoas que vão tomar conta dos destinos do país dentro de poucos anos?

Anónimo disse...

Repito:

A nossa universidade
tem a sua tradição,
só que na actualidade
precisa de revisão!

JCN

Anónimo disse...

QUE BOM! Temos um post inteligente, finalmente; nada pedante, simples, critico, interessante e inteligente.
Directo ao assunto sem palavreado.
Artur Campos

Anónimo disse...

"Se, no ensino secundário, um professor ou um funcionário repreenderem um aluno arriscam-se a levar uma tareia do encarregado de educação, sem poderem reagir..." coitadinhos, Sao Francisco de Assis nao sofreu mais que os nossos professores do secundario e basico; coitadinhos, vitimas do horror socratico e da Maria Lurdinhas(Lurdes maldita que maltratas os professores)!
Ja nao ha paciencia...CALEM-SE PREGUIÇOSOS,ACOMODADOS, CHUPISTAS QUE MAMARAM DESDE DO 25 ABRIL NO ESTADO, A SOMBRA DE UMA INCOMPETENCIA GRITANTE DE QUE FOMOS, TODOS, ALVO...LEMBRO-ME DE ALGUMAS PEÇAS QUE IAM, POR EXEMPLO, FUMAR PARA A PORTA DE ENTRADA DA SALA DE AULA, ENQUANTO NOS DEIXAVAM "PENSAR NO EXERCICIO DO QUADRO"...HOJE NAO SERIA POSSIVEL ESTAS MONSTRUOSIDADES DESSA GENTALHA QUE AGORA SE ARMA EM VITIMAS E DEFENSORES DA ESCOLA PUBLICA QUANDO CONTRIBUIRAM PARA A SUA DECADENCIA...PROFESSORES QUE PUNHAM ATESTADO ATRAS DE ATESTADO E PASSAVAMOS SAMANAS SEM AULAS E DEPOIS AS MATERIAS ESTAVAM COMO DADAS E QUAM QUISESSE QUE PAGASSE EXPLICAÇOES...SO DOIS EXEMPLOS ENTRE CENTENAS DE OUTROS IGUAIS E PIORES DE QUE OS ANTIGOS ALUNOS SAO TESTEMUNHA(GERAÇAO QUE TEM MAIS DE 28 ANOS E MENOS DE 50 ANOS)...ARTUR CAMPOS

Anónimo disse...

SAO OS PROFESSORES MAIS NOVOS QUE ESTAO DE FACTO A SOFRER NA PELE AS CONSEQUENCIAS DOS COMPORTAMENTOS DOS COLEGAS, ABUTRES, ACOMODADOS E CHUPISTAS MAIS VELHOS QUE AFUNDARAM A ESCOLA PUBLICA COM A SUA INCOMPETENCIA E AGORA QUEIXA-SE(COITADINHOS QUE NAO AGUENTAM MAIS E TEM DE SE REFORMAR MAIS CEDO!!) NAO AGUENTAM PORQUE AGORA OBRIGAM-NOS A TRABALHAR.
A CLASSE MAIS NOVA DE PROFESSORES DEVIA ERA QUEIXAR-SE DESSES COLEGAS A SOCIEDADE PARA QUE SE COMPREENDA UMA DAS RAIZES DO PROBLEMA DA EDUCAÇAO...ESSA GENTALHA QUE VIVEU A SOMBRA DO ESTADO AGORA QUEIXA-SE DE BARRIGA CHEIA ENQUANTO OS COLEGAS MAIS NOVOS SOFREM E TRABALHAM QUE NEM LOUCOS
ARTUR CAMPOS

José Batista da Ascenção disse...

Senhor Artur Campos:

Lamento que tenha tido tão más experiências dos seus professores do ensino secundário.
Eu e outros tivemos mais sorte.
Tanta, que também eu quis ser um professor do ensino secundário.
Quanto à caracterização que faz de professores mais antigos e mais recentes, é tão falha e infeliz que a suponho muito pouco partilhada pelas pessoas, em particular pelos professores de qualquer idade.
E, tal como o senhor, condeno os abusos que alguns (maus) professores cometeram. E condeno mais ainda quem permitiu continuada e impunemente esses abusos. E condeno igualmente os abusos que continuam a existir, até mesmo por alguns professores que obtiveram boas classificações pelo sistema introduzido pela ex-ministra Lurdes Rodrigues. E não será preciso esperar muitas décadas para se verem e avaliarem bem os efeitos causados na escola pública pelas políticas adoptadas. Isto para quem não os quer ver já...

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