sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O efeito espirro


Destaque para a crónica de J. Pio de Abreu no "Destak":

O bater de asas de uma borboleta pode causar uma tempestade nos antípodas. Esta é a interpretação popular do “efeito borboleta” descrito em 1963 por Edward Lorenz. Dizem os cientistas que a história não é bem esta, mas a ideia foi correndo a ponto de inspirar vários filmes. Os filmes também não são muito rigorosos, mas tudo se desculpa quando, como é o caso, este efeito ocorre nos sistemas caóticos.

Seja ou não assim o efeito borboleta, o certo é que se passa, na actualidade, um fenómeno seme-lhante. É o “efeito espirro”, e descreve-se assim: “O espirro de um ministro das Finanças provoca uma tempestade nos mercados.” Senão, vejamos: um ministro espirrou quando dava uma entrevista ao Financial Times. No dia seguinte, o assunto era divulgado nos jornais de todo o mundo.

Em geral, as notícias diziam que o ministro se deixara contagiar pelo mal irlandês. Alguns, porém, disseram que apenas lhe tinham chegado com a mostarda ao nariz. Correu à boca pequena que se tratava de doença grave, e muitos começaram a profetizar o seu desfalecimento. Houve mesmo quem o visse já cadáver.

Por cá, jornalistas, comentadores, colunistas, economistas de palco, politólogos e representantes de partidos, os costumeiros sequiosos de sangue, regalaram-se com a notícia e festejaram-na. O país, que já estava de quarentena, ficou finalmente caótico. E foi tão grande a incerteza, que os mercados desataram a vender. A tempestade, contudo, virou-se para a Irlanda.

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