sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Os mercados zombeteiros
Destaque, como é habitual, para a crónica de J. L. Pio Abreu no "Destak" de hoje:
Parece que os mercados andaram a gozar com o nosso Ministro das Finanças. Ele disse que o limite eram os 7% de juros e logo os mercados esticaram a corda até esse limite. E andou o ministro a cortar salários, a reduzir pensões, a retirar abonos, a limpar subsídios e a aumentar impostos para compadecer os mercados, e os mercados, nada. Puseram-se no gozo.
E veio o nosso Presidente pedir para não afrontar os mercados, e vieram os nossos milhentos Nóbeis em economia explicar o comportamento dos mercados, vieram os jornalistas perdoar-lhes as diatribes, vieram os políticos prescrever receitas para os acalmar, até os nossos juízes abriram os olhos para ver os mercados, e nem sequer o Ministério Público os acusou. E os mercados, nada. Gozaram com todos.
A divindade anda desenfreada porque tem amigalhaços poderosos. As bocas da senhora Merkel ajudam imenso e o senhor Sarkozy diz que sim. Ninguém tem culpa dos traumas de infância da senhora Merkel e dos amores do senhor Sarkozy, ambos nas tintas para o poder dos Estados e cada vez mais rendidos à volúpia do Mercado. E o Deus Mercado impera.
O problema é que essa divindade perante a qual ajoelhamos deu agora em gozar connosco. Com isso, desceu do altar e mostrou que é tão humana como a senhora Merkel, o senhor Sarkozy ou o nosso Ministro das Finanças. Mas quando é essa divindade desenfreada, improdutiva e zombeteira que nos governa, é porque algo está podre no Reino da Dinamarca.
J. L. Pio Abreu
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5 comentários:
teremos de passar a "ameaçar" as crianças com um "se não comes a sopa toda, vêm os mercados e levam-te!"
Agiotas, segundo reza a História, sempre houve.
O nosso país é que escusava de se ter posto a jeito.
É exactamente assim que as coisas se passam. A verdade é simples, mas a mente humana adquiriu, nas últimas décadas, um formato no qual já não encaixa a simplicidade. Ninguém parece interessado na evidência de que um sistema económico que não serve a colectividade é inadequado. Pois o nosso sistema económico está moribundo e o facto de o sistema político não agir em consonância com a realidade terá consequências terríveis.
Meus amigos, afinal quem foi que se endividou sem limite? Foram os mercados que nos obrigaram?
Bonita referência "en passant" a Hamlet e o reino da Dinamarca... muito subtil, muito a propósito...
JCSilva
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